Garasu No Namida escrita por MayonakaTV


Capítulo 3
II- Strangeness and charm




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– É... Seu? – Questionou o mais alto com certa timidez.


Esbaforido, Kaya só pôde concordar em um breve movimento de cabeça. Recompondo-se da momentânea falta de ar, retomou a postura ereta e pôde por fim apreciar da devida maneira o salvador de seu projeto.


[ Kaya’s POV ]


Apenas olhando, eu não saberia dizer quantos anos tinha.


Um rosto severo e inflexível... A julgar por sua postura, devia ter uma bela de uma conta bancária! Sem contar que estava elegantemente vestido, tal qual um nobre de séculos distantes. Ele parecia um... Ceifeiro de almas. Mas eu duvidei de que gostasse de ficar levando almas para o além-túmulo. Também não acho que a morte use batom.


Seus olhos passeavam pelas frases soltas no papel como olhos de um gavião procurando por uma presa. Eram firmes, intensos como os de alguém que sabia o que estava lendo e, por um segundo, pude ver o reflexo de minha letra naquelas esferas azuladas. O sutil movimento destas me deixava claro que ele não apenas lia as frases imbecis que eu havia escrito. Ele as lia seguindo cada contorno de minha horrível caligrafia.


Interpretava o autor e a obra da mesma maneira que eu tentava fazer naquele momento.

[ / Kaya’s POV ]


– É lindo.


– É... – Concordou Kaya, perdido na beleza andrógina do desconhecido.


Entendido do que o outro quis dizer, o mais alto lhe estendeu o papel, recurvando os lábios em um semi-sorriso desajeitado quase imperceptível.


– Eu falava do que escreveu aqui.


– Ah...! Desculpa! – Afobou-se o jovem reavendo seu rascunho, finalmente despertando de seus devaneios.


– Qual o seu nome?


– Kas-- – Interrompeu-se bruscamente, achando que poderia ser perigoso sair dando seu nome completo a um estranho de banco de praça. – Err, Kaya.


– Que nome comprido – Respondeu-lhe prontamente o outro, fazendo-lhe uma pequena mesura. – Sou Mana.


Kaya acabou por rir ao ver que o homem fizera o mesmo que ele, escondendo sua verdadeira identidade. Ele não parecia mais tão perigoso assim. Pelo menos não enquanto mantivessem aquele clima.


– Tem talento para escrever, Kaya-san.


– Ainda não está terminada...


– Acredito que vá ficar ainda mais bonita depois de pronta. Sinto que gostarei de ler.


Honras e honras num primeiro encontro? Um belíssimo começo para Kaya que se calou, tanto por modéstia quanto por não ter ideia do que dizer em resposta. Abriu a boca na intenção de dizer qualquer banalidade que não matasse o assunto antes que este começasse, mas um barulho semelhante a um ronco o interrompeu.


– O que foi isso...?


– Foi meu estômago. Estava arrumando minhas coisas e não comi nada ainda... – Justificou-se o menor em meio a um riso bobo, coçando a nuca claramente desajeitado.


A atitude do menor acarretou no curvar do tórax magro à frente, somado ao novo arquear de um das finas sobrancelhas.


– Posso lhe pagar um jantar?


– Olha, eu acho melhor não, vou acabar dando prejuízo e-- – Caminhando para trás na pressa de afastar-se da sensação de incômodo que aquele olhar lhe causava, Kaya não notou uma bolinha de tênis atrás de si, pisando em falso sobre a mesma e acabando por cair sentado. – Aw!


Hizaki vivia lhe dizendo que era naturalmente desastrado, e ele não discordava. O estranho foi que, ao invés de ouvir risos como já estava acostumado, deparou-se com a mão direita de Mana sendo estendida em seu auxílio. Levantou o rosto em intenção de fitá-lo e sentiu-se corar diante do pequeno sorriso torto que moldava os lábios finos, perdendo-se no par de oceanos azuis que adornavam os olhos do outro até a voz grossa – porém extremamente macia – despertá-lo pela segunda vez ao dia.


– Duvido que consiga comer mais do que eu, Kaya-san.


– Podemos tirar a prova... – Sugeriu o jovem, levando a palma de encontro à que lhe era oferecida. – Mas você paga a sua parte, e eu pago a minha, pode ser?


Mana concordou com um breve movimento de cabeça enquanto apertava com cautela aquela mão delicada, ajudando o rapaz a se levantar.





– Salada de manga? – Indagou Kaya, estranhando o pedido feito pelo outro.


– Eu gosto. Mas você não tem muita moral para comentar. Pediu salada grega – Apontou o prato do mais novo com o garfo.


– Ora, estou apenas começando!


– Então, Kaya-san – Começou Mana, espetando um dos pedaços de manga no prato e levando-a até a boca, sem notar o olhar minucioso de Kaya sobre cada um de seus movimentos. – Como me dizia no caminho, você se mudou para cá por que quer ser cantor?


– É... – Respondeu Kaya sem ao menos identificar o que lhe fora questionado.


– Kaya-san, está prestando atenção?


– Ah, desculpe! Acho que só estou cansado da mudança! – Tentou disfarçar a distração, sem sucesso. – O que dizia?


– Perguntei sobre seu sonho de ser cantor.


– É exatamente como lhe contei no caminho pra cá – Respondeu ele deixando as lentes passearem pelo ambiente luxuoso do restaurante, encantado com o brilho dos talheres e as conversas animadas nas mesas alheias. Voltou sua atenção ao próprio prato, beliscando um tomate que em poucos segundos seria graciosamente comido. – Venho sonhando com isso desde que era garoto, vim tentar a sorte na capital. Acredito que ainda vou encontrar um grande produtor.


Sua atenção foi logo atraída pelo bonito garçom que lhe trazia um grande copo de suco de laranja. Reparou no uniforme vinho do rapaz que, ao se afastar, misturou-se com rapidez aos vários outros rapazes trajando a mesma vestimenta. Os frequentadores, todos muitíssimo bem vestidos e deixando claro que eram de um “nível mais elevado”. O local, não muito distante da praça onde antes se encontrava, havia sido sugerido por Mana. “Eu sabia que ele era rico”, pensou consigo mesmo, deixando escapar um suspiro de admiração. “Olha só pra isso aqui”.


Um segundo e sua atenção foi novamente captada por Mana levando mais um pedaço de manga aos lábios tingidos pelo batom escuro. Aquele homem tinha um quê de imponência que até mesmo um ato tão simples quanto comer uma salada exótica o tornava ainda mais atraente. Mana, tendo uma noção errada do que possivelmente estaria atraindo tanto o olhar do moreno, tornou a espetar uma manga em meio às folhas, estendendo-a em direção ao outro.


– Quer...?


Kaya, curioso, imediatamente assentiu, abrindo a boca e esperando para ser alimentado. O garfo contendo o pedaço da fruta fora aproximado de si e os lábios se fecharam em torno dele, motivando o baixar das pálpebras e o escapar de um gemido de aprovação enquanto mastigava. A tal salada de manga de Mana não era tão ruim quanto parecia.


“Distraído, de sorriso fácil e gosta de receber comida na boca. Que pessoa divertida.”


– Mas e você, Mana-san? O que faz da vida? – Perguntou Kaya tentando dar um prosseguimento comum à conversa.


– Trabalho com-- – O dito fora cortado pelo alerta de mensagem do celular tirado às pressas do bolso do casaco. O olhar decaiu para o horário no visor, arrancando de Mana um murmúrio de desagrado. Afastando a cadeira, levantou-se, tirando do outro bolso dinheiro suficiente para pagar as saladas de ambos e ainda dar uma considerável gorjeta ao atendente. Deixou as notas abaixo de seu prato.


– Peço que me perdoe, mas está tarde e eu preciso ir.


– Mas...


Deu as costas a um Kaya perplexo, que mal teve tempo de se despedir da maneira que queria. Mana já havia atravessado o salão e encontrava-se com a mão na belíssima maçaneta da porta do local.


– Tchau... – Disse para si mesmo de cabeça baixa, visivelmente entristecido. No fim das contas, tudo o que sabia sobre aquele Mana era que ele tinha o estranho costume de pagar um jantar a desconhecidos e gostava de salada de manga.


Antes que se retirasse do estabelecimento, Mana parou frente à porta, voltando a cabeça sobre o ombro na direção da mesa onde o moreno havia ficado.


– Manabu Satou – Disse ele em alto e bom som, de modo que todos no restaurante pararam de falar.


A princípio, Kaya não entendeu. Em seus olhos estampava-se a dúvida facilmente identificada pelo outro que, repuxando o canto dos lábios em mais um de seus semi-sorrisos, completou:


– É o meu nome.


Antes que saísse de uma vez do local, pôde ouvir o afastar da cadeira e uma exclamação empolgada:


– Kasei Tatsuya!


Não se deu ao trabalho de virar-se. Saiu depressa, misturando-se com a escuridão da rua e desaparecendo no virar da primeira esquina.


– Kaya... – Murmurou para si mesmo, abrindo um sorriso simplista.


Mal podia esperar para vê-lo de novo. Sentiu-se culpado pela maneira descortês com a qual o deixara sozinho, mas trabalho era trabalho e mais tarde daria um jeito de compensar “o rapaz dos olhos de sol nascente”. Tornou a pegar o celular no bolso a fim de ler a maldita mensagem que o tirara daquele momento tão prazeroso.


“Venha rápido para o escritório. Não podemos acertar os detalhes do próximo show sem a presença do produtor.”


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Notas finais do capítulo

Essas saladas são simbólicas e. rs ♥



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