-“ E estamos mais uma vez ao ar com a GC Rádio!” – A voz de Lupus foi ouvida pelos corredores – “ Como sabem, tivemos uma festa sensacional... Ou não, já que eu não fui convidado. Doce inveja, doce concorrência, doce gostinho de saber que alguém tem medo de mim!”.

Revirei os olhos. Lupus adorava comentários desnecessários na rádio, principalmente os que falavam mal de mim. Ele era realmente muito infantil, não conseguia entender como ele conseguia ser tão popular.

Mas hoje, não conseguia me irritar com isso. Depois da festa, não consegui dormir direito. Com certeza havia olheiras profundas por debaixo do corretivo facial, e se você observasse bem, a maquiagem estava um pouco imperfeita.

-“ E é claro que não posso esquecer as ligações!” – Ele continuou. Sim, a radio tinha um telefone, onde mandavam mensagens de um jeito anônimo para as pessoas – “ E a mensagem de hoje é uma que eu simplesmente amei!”

- Lá vamos nós... – Disse Rey revirando os olhos – Ele vai escolher mais uma frase pervertida para o dia.

Assenti e voltei a dar atenção para as minhas unhas, da qual estava pintando enquanto matava o primeiro tempo de aula.

-“ Esta é para Amy Sistina, do Segundo ano” – Tirei a atenção das unhas e me pus a escutar. Uma mensagem para mim? – “E a mensagem é: Olá vadia rosada. Tome cuidado com as escadas hoje, dizem ter mãos invisíveis por lá.”.

- O que diabos isso significa? – Disse Lire com a expressão confusa – Que idiota, Lin riria se estivesse aqui.

- Pois é. Pena que ela ficou mal depois de beber tanto... – Falei, e voltei a pintar minhas unhas despreocupadamente.

Despreocupadamente? Há há.

Vadia rosada. A única pessoa que já minha me chamado de vadia rosada foi L. Mas, o que as escadas têm de mais? Não consigo lembrar nada...

-x-

Eu estava andando sozinha pelos corredores da escola. As aulas já haviam acabado, porém eu teria que prestar uma semana de serviço comunitário para a escola – Eu acho que se chama assim – Por eu ter terminado de pinta as unhas na aula de matemática. Elena realmente não entende que pessoas bonitas não podem esperar para ficarem lindas!

Subi as escadas que levavam para o terraço, que era onde eu deveria começar, teria que tirar toda a caca de pombo. Eca!!

Passei a mão pelo corrimão, mas parei ao ver a pequena pichação de um L que havia ao seu fim. No mesmo instante, visões passaram pela minha cabeça...

- Você viu aquela idiota da Elesis? Ela tentou desafiar a Amy na frente da turma – Riu Lin enquanto saiamos de uma aula no segundo andar.

- Ela disse que ia jogar um elemento químico em meu cabelo! Garota louca – Revirei os olhos.

- Você não devia ter mentido sobre ter transado com o Sieghart, ele é namorado dela... – Comentou Lire. Ela era tão boazinha. Tinha muito a aprender.

-Lire, ela derrubou aquela gosma nojenta em mim, eu tinha que dar o troco – Falei despreocupadamente enquanto ajeitava as mechas rosadas de meu cabelo – Bem garotas, até mais.

Acenei de leve para elas, que seguiram para o segundo andar, enquanto eu continuei descendo as escadas para o primeiro. Parei um pouco antes da pilastra que sustentava a escada, pois comecei a ouvir um choro bem baixinho.

Andei mais um pouco, e botei minha cabeça um pouco visível, não o suficiente para a pessoa perceber minha presença. Vi a ruiva que havia me ameaçado. Ela estava andando lentamente pelas escadas, enquanto chorava, com as mãos por cima dos olhos.

- É sempre bom olhar por onde anda ruiva... – Falei com um sorriso irônico.

Andei lentamente, e quando Elesis ia se virar, empurrei suas costas com minhas delicadas mãos e voltei rapidamente para trás da pilastra.

Um Grito.

Silencio.

Voltei a andar despreocupadamente, como se tivesse chegado ali agora, mas parei ao ver o que tinha acontecido.

Ao pé da escada, estava Elesis e outra pessoa. Haviam vários objetos derrubados e uma caixa de papelão. Mas a minha atenção estava voltada para a ruiva. Ela estava...

- Ah! Olá Amy – Uma voz disse atrás de mim.

Virei-me e pude ver que a pessoa que me chamará era uma ruiva de olhos vermelhos que me olhava com um sorriso. Mas sempre que ela passava a minha atenção ia para sua cadeira de rodas.

- Oi Elesis, precisa de ajuda para subir? – Perguntei gentilmente, a culpa perfurando meu peito. Que bom que ela estudava no turno da tarde...

- Não precisa, a minha aula é no primeiro andar, mas obrigada – Ela sorriu mais uma vez, e seguiu seu caminho, enquanto girava as rodas da cadeira.

Olhei novamente para o L pichado no corrimão da escada. Minha boca no mesmo instante ficou seca.

- Elesis! – Gritou Sieghart quando a viu sendo levada pela ambulância – O que aconteceu?

- Eu não sei bem... Eu estava passando carregando o material do pessoal de artes – Falou Ronan com dificuldade, devido ao nervosismo – Eu só ouvi um grito, e ela caiu em cima de mim.

- Se foi só isso, por que os médicos disseram que era tão grave?! – Sieg estava quase a ponto de chorar.

- Quando ela caiu... – Ronan hesitou, mas logo continuou com a voz um pouco vacilante – Ela caiu bem em cima da caixa... E havia uma tesoura. A tesoura meio que... Perfurou-a...

Sieg não deixou o menino continuar e saiu correndo dali. O vi pedir um taxi, provavelmente para ir ao hospital.

Dois dias se passaram, e os alunos receberam a noticia de que Elesis havia ficado paraplégica.

E a culpa... Era minha.

“Tome cuidado com as escadas hoje, dizem ter mãos invisíveis por lá.”

Merda. Um já foi. Só posso rezar para L não contar a ninguém.