Uma das poucas coisas da qual tenho certeza nesse mundo é que: Todos mentem.

Dizer que nunca mentiu em sua vida já o faz corromper sua alma mais um pouco com esse pecado.

O problema é que às vezes escondemos coisas que não devem ser escondidas...

Mas caso seja necessário, minta. E quando o fizer, minta mais uma vez.

Já o fez?

Então seja bem vindo ao meu mundo pecador. Aqui somos todos iguais. Aqui somos todos...

Humanos.

-x-x-

- Amy! A festa vai ser mesmo na sua casa, certo? – A morena de cabelos prateados perguntou pela milésima vez.

- Lin, pergunte isso mais uma vez e nunca mais lhe empresto meu brilho labial – Ameacei, enquanto terminava de comer meu sanduíche de queijo branco.

Ela bufou, mas ficou calada até o fim do intervalo. Também estava ansiosa pela festa, mas não era por isso que ia ficar irritando as pessoas por ai. Pff, mas é claro que não perguntaria, afinal, a casa seria na minha casa – ou melhor, mansão – como na maioria das vezes, pois minha popularidade na Grand Chase Academy era inigualável.

- Então... – Lin voltou a falar quando estávamos voltando do intervalo – Que gatos convidou?

- Isso não é obvio? Só os do clube de esportes.

- Mas o Lupus não é do clube de esportes... – Comentou Lin cabisbaixa. Pelo visto ainda não esquecera esse idiota, mesmo depois daquele lindo fora que ela levou...

- Amiga, esqueça o garoto do rádio! Eu fiz questão de chamar o Lass para você – Sorri para ela, que logo retribuiu – Sempre existe alguém melhor, pois o velho tem que ser deixado de lado um dia.

Após isso, eu e Lin continuamos conversando até o fim das aulas. Assim que o sinal tocou, nos juntamos a Lire e Rey, pois tínhamos combinado de nos arrumarmos na minha casa antes da festa começar.

Devo comentar que ficamos lindas? Obvio que sim! Mas quem liga para as outras? Eu apenas tinha olhos para o lindo espelho com a moldura feita de cristais. Se elas estavam lindas, é claro que eu estava divina. Mas meros mortais não merecem saber como estava.

- Tente não roubar toda a atenção – Brincou Lire, enquanto terminava de se maquiar.

- Impossível – Riu Rey – Amy e Jin são o casal mais perfeito da escola. Se sozinhos já são o centro das atenções, imagine juntos?

Dei um pequeno sorriso. Ia fazer um comentário humilde, algo do tipo “Meninas, vocês são mais bonitas que eu, não digam isso” ou coisa do tipo, mas Lin deu um sorriso sarcástico que só eu consegui ver e pôs-se a falar.

- Sinceramente, acho que a popularidade de Lupus também é bem grande. Você sabe que muitas pessoas não vieram porque você não o convidou. Certo Amy?

- Eu sei bem disso Lin – Dei um sorriso falso e me segurei, pois tinha vontade de estrangular aquela vadia – Vou ir receber os convidados. Fiquem prontas logo!

Sai rapidamente do quarto e desmanchei o sorriso no mesmo momento. Lin, por mais que seja minha amiga, deixava clara a inveja que sentia de mim. E como se isso não fosse o suficiente, gostava de alfinetar meu orgulho comentando sobre Lupus. Essa garota é bipolar, ora doce, ora amarga!

Tive que parar meu acesso de raiva quando ouvi a campainha tocar. Desci as escadas rapidamente e ajeitei meus cabelos presos em duas marias-chiquinhas cacheadas. Parei em frente à porta e ensaiei um sorriso, para enfim abri-la.

 - Olá Amy... Eu trouxe alguns amigos a mais, algum problema? – Perguntou Jin, com o típico ar de mauricinho.

- Mais pessoas? Problema nenhum, isso é ótimo – Respondi puxando Jin para dentro. Olhei para os lado, procurando um lugar para sentarmos, mas as pessoas já haviam tomado conta da sala. Dei um sorriso de canto e voltei meu olhar para Jin – Vamos para um lugar mais calmo? Aqui esta cheio demais...

-x-x-

Eram altas horas da madrugada. Com certeza  minhas amigas já haviam ido embora, mas ainda havia pessoas dormindo jogadas pelo chão de alguns cômodos. Minha cabeça latejava, pois havia bebido demais, e também haviam peças de roupa pelo chão – Inclusive as minhas, mas eu continuava de roupa intima – devido ao Strip Poker que jogamos.

Recolhi meus pertences e fui cambaleando até meu quarto. Parei em frente a porta e me agachei para procurar a chave embaixo do tapete, pois havia trancado meu quarto para o caso de alguém querer ficar a sós ali, e eu não queria minha cama importada da França suja.

Destranquei o quarto e andei em direção a minha cama, me jogando na mesma. Tateei o criado mudo em busca do meu diário, pois tinha que escrever tudo antes que eu esquecesse – Sim, eu tenho diário, algo contra?

Franzi o cenho ao sentir no local do diário um objeto retangular e frio, que estava a vibrar. Peguei-o e abri os olhos, que havia fechado por um tempo. Pude ver meu celular, que indicava 05:00 na tela, junto com o aviso de que eu havia recebido uma nova mensagem. Até hoje me arrependo de tê-la aberto.

“Bom dia vadia rosada. Sentiu falta de algo que tem capa de couro e é recheados de segredos?”

Arregalei os olhos e sentei na cama rapidamente. Como não podia fazer mais nada, respondi a mensagem. Talvez conseguisse descobrir algo... Ou não.

“Quem é você?”

Enviei a mensagem. Olhei mais uma vez para o criado mudo, procurando o diário. Não podia ter o perdido... Ou podia?

O celular vibrou novamente. Uma nova mensagem tinha chegado, da qual abri imediatamente.

“Sou a pessoa que pode revelar tudo o que você mais teme, mas pode me chamar de... L”.

Sim pessoas, e foi assim que o meu pesadelo começou.

Foi assim que descobri o preço que ia pagar por meus pecados...