Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 45
Wit beyond measure is man's greatest treasure


Notas iniciais do capítulo

Feliz Páscoa para quem comemora (;



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A primeira reação de Hermione foi virar-se para olhar o fantasma da Torre da Corvinal em uma tentativa de ver se ela sabia o que estava acontecendo. Helena, no entanto, alternava entre olhar a garota e o homem, não parecendo surpresa, mas curiosa. O mesmo brilho que a bruxa via nos olhos de Ollivander, aquele brilho cheio de fascínio e sede de conhecimento, iluminava os olhos claros de Ravenclaw.

“Acho que deviam aproveitar o pouco tempo que resta,” disse Helena, lentamente. “Voldemort estipulou um prazo até a meia noite. Aproveitem esse tempo.”

Lançando um último olhar cheio de expectativa na direção de Hermione, o fantasma flutuou ao longo do corredor, parando ao lado do homem por um momento e o encarando de tal forma que fazia parecer que uma conversa silenciosa era travada ali. Quando Helena Ravenclaw finalmente sumiu de vista, o bruxo ficou encarando o nada por um longo momento, antes de acenar para a garota e começar a andar.

Sem ter como responder, Granger apenas o seguiu. Apressando o passo para conseguir acompanhá-lo, a garota atravessou vários corredores e escadas, encontrando alunos de olhos arregalados sendo evacuados com a ajuda de professores ou monitores. Ela só notou aonde estavam indo quando entraram no corredor do segundo andar, mas não falou nada enquanto entrava no banheiro feminino e ouvia o homem murmurar um feitiço contra a porta.

“Quem é você?” perguntou Hermione, apertando a varinha entre os dedos e a erguendo, apontando-a diretamente para o rosto impassível do bruxo, que apenas arqueou uma sobrancelha.

“Abaixe a varinha, Hermione,” ele falou, como se não estivesse sendo ameaçado, antes de se recostar contra uma das pias.

O banheiro estava, como sempre, vazio. Pela janela, o brilho dos feitiços protetores que estavam sendo colocados ao redor do castelo iluminava o aposento, fazendo as pedras do chão e a porcelana das pias brilharem em cores diferentes. O homem, encostado contra a pia e com o rosto abaixado, pensativo, tinha parte de suas feições escondidas na sombra, mas metade de seu rosto ainda era iluminada pelos feitiços do lado de fora: o nariz reto, a boca fina, a pele pálida com algumas sardas, as sobrancelhas escuras franzidas, as rugas ao redor dos olhos azuis claros.

“O que você quer?” a garota insistiu, ainda com a mão erguida. “Precisamos ir ajudar. Você ouviu Voldemort-“

“E você ouviu Helena, não?” O homem respirou fundo e deu as costas para ela, olhando o próprio reflexo no espelho.

Parada no meio do banheiro feminino do segundo andar, Hermione Granger observou aquele estranho por alguns longos minutos. Havia alguma coisa no silêncio que a fazia não deixar um feitiço sair de sua varinha e o atingir, alguma coisa na forma como os ombros do desconhecido se arqueavam enquanto ele se apoiava na louça da pia e como sua cabeça pendia, os cabelos escuros se desprendendo do penteado em alguns pontos. Ela viu, pelo reflexo, como ele respirou fundo e engoliu em seco, fechando os olhos e franzindo o cenho, como se estivesse se concentrando.

Onde ela já havia visto aquilo?

Outra noite escura, dentro de um quarto iluminado apenas pelo brilho amarelado das lamparinas de Londres, lhe veio à mente. Naquela ocasião, não havia pias nas quais se escorar, mas ela se lembrava dos ombros de um rapaz se arqueando da mesma forma, tensos, enquanto os olhos dele eram fechados com força como se ele tentasse esquecer alguma coisa. Ela se lembrava da forma como os nós das articulações dos dedos daquele garoto ficavam esbranquiçados enquanto ele apertava os próprios joelhos à medida que colocava para fora confissões e mais confissões, da mesma forma que as articulações daquele bruxo se destacavam quando ele segurava a borda da pia.

Quando o homem voltou a abrir os olhos, encontrando os seus pelo reflexo do espelho, Hermione sentiu-se ficar boquiaberta, paralisada, como se seus pés tivessem se fundido ao chão de pedra. Ela reconhecia aqueles olhos claros que pareciam puxar as pessoas para o fundo deles até que elas estivessem completamente afundadas ali. No entanto, os olhos azuis que ela conhecera não eram rodeados por pregas na pele, as quais agora se tornavam mais evidentes quando um sorriso quase presunçoso repuxou os lábios do homem.

“Abraxas dizia que você era a mais rápida entre nós,” o bruxo falou, ainda sem virar-se para ela. “Black dizia que você era a bruxa mais inteligente da sua idade.”

“Qual... Qual Black?” perguntou Hermione, surpresa de conseguir encontrar a própria voz.

“Sirius.” O homem encolheu os ombros. “Um dos poucos Black suportáveis depois de Alphard e Dorea.”

A garota continuou o observando, sentindo o nome dele subir pela sua garganta, implorando para sair. O medo, porém, era maior e a fazia cerrar os dentes, impedindo aquele som curto e simples de escapar por entre os seus lábios.

“Voldemort...”

“Está lá fora, pronto para fazer merda, como sempre.” O bruxo bufou e sacudiu a cabeça, finalmente se virando e a encarando de frente. Hermione sentiu um nó se formar em sua garganta.

“Como...?”

“Como ele chegou nesse ponto? Muita magia negra mal feita, horcruxes e derrotas bestas,” ele explicou. “Mas você já conhece toda a história.”

“Pare com isso!” A bruxa surpreendeu-se ao notar que havia gritado. “Como é que você pode estar lá fora e aqui dentro ao mesmo tempo? Como... Como é que você e Voldemort...?”

“Em primeiro lugar, Hermione, não estou lá e cá ao mesmo tempo. Isso é impossível.” Mais um suspiro pesado. “Voldemort está lá fora com seus Comensais, pronto para atacar Hogwarts caso seu amigo não se entregue. Eu, por outro lado, estou aqui dentro, tentando ter uma conversa como uma velha amiga.”

“Você é Voldemort,” ela falou por entre os dentes.

“É ai que você se engana, minha cara.” O sorriso que repuxou os lábios dele era uma mistura de brincadeira com satisfação. “Quem é Lord Voldemort?”

“Tom Riddle.” Ela sentiu os olhos arderem ao pronunciar o nome. “Você.”

O sorriso brincalhão perdeu um pouco do brilho, tornando-se um tanto triste.

“Dumbledore disse que seria melhor assim, sabe? Fazia mais sentido que Tom Riddle ficasse conhecido como Lord Voldemort.” O homem olhou o espelho outra vez, seu rosto aparecendo iluminado pela metade no reflexo. “Um jovem prodígio com uma história trágica de crescer em um orfanato, abandonado pelo pai trouxa. Pouca gente realmente conhecia essa identidade por trás do Lorde das Trevas durante a primeira guerra, sabe? Foi Potter quem a expôs, depois de ouvir sobre Tom de Dumbledore.”

Hermione franziu o cenho, observando enquanto o outro esticava a mão para tocar o registro de uma das pias.

“Não sei qual foi a razão exata para Albus fazer isso, sabe? Acho que era mais fácil para fazer o garoto se sentir... necessário. Dois mestiços, dois órfãos, duas crianças que encontraram uma casa em Hogwarts,” o homem continuou explicando. “Pelo que conheci de Harry Potter, vi que ele tem facilidade de se colocar no lugar dos outros. Potter acha que entende Riddle e essa compreensão faz com que ele acredite ainda mais na maldita profecia. É mais fácil convencer um jovem de que ele precisa ser sacrificado se ele acha que há uma força maior ditando o destino de todos.”

“Mas uma das coisas que conviver com Helena e meu pai me ensinou foi que profecias são tudo menos confiáveis,” ele falou e soltou uma risada fraquinha. “Divinação é uma arte subjetiva e sujeita a mudanças, por isso é tão fascinante, Hermione. Uma profecia só terá o efeito desejado se você acreditar nela. Se Voldemort nunca tivesse dado ouvidos à profecia de Sibyll Trelawney, ele nunca teria marcado Harry Potter como seu igual e nunca se colocaria nessa situação. Da mesma forma, se Harry Potter não acreditar que é O Escolhido, a profecia nunca terá o efeito desejado.” O bruxo ficou em silêncio por alguns segundos, pressionando os lábios um contra o outro, antes de voltar a falar: “Isso é mais confuso do que eu imaginei... Faz mais sentido na minha cabeça.”

“Você está querendo me dizer que...” Hermione começou a falar em um sussurro. “Voldemort e Tom Riddle não são a mesma pessoa?”

“Quem sou eu, Hermione?”

A garota o encarou. Agora, tudo parecia fazer muito sentido. Ela realmente conhecia aquele rosto, apesar de envelhecido. Ela iria reconhecer aqueles olhos em qualquer lugar e aquele sorriso convencido que a irritava tanto. A bruxa também não iria se confundir ao ver aquela expressão magoada que tentava ser escondida por detrás de uma máscara de confiança. Ela conhecia aquele homem, por mais insano que isso soasse aos seus ouvidos.

“Tom... Tom Riddle.”

“Então Tom Riddle e Lord Voldemort não são a mesma pessoa,” ele falou, sorrindo fraco. “Não mais, pelo menos.”

Hermione sentiu a cabeça girar. O cansaço havia sumido por alguns minutos, mas agora toda a confusão que tomava conta de sua cabeça parecia intensificar as dores e a exaustão física outra vez. Ela queria acreditar no que aquele homem dizia, mas não tinha a menor ideia de se podia... Ainda sentindo como se não estivesse realmente ali, com todo os arredores parecendo estranhos e distantes, a bruxa cambaleou até o lado do bruxo, apoiando-se na pia e olhando-se no espelho. O rosto que a encarou de volta era o de uma Hermione cansada e machucada, com os olhos inchados pelo choro e os cabelos curtos bagunçados e sujos. Olhando a imagem, ela se perguntou quem realmente era aquela garota: Hermione Granger ou Hermione Elston? E qual era a diferença entre elas? Quando foi que Granger virara Elston? E como Elston voltaria a ser Granger?

“Eu quero acreditar,” ela sussurrou, vendo algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto. “Mas não faz sentido.”

“Faz se você entender o que houve,” o bruxo falou, também virando-se para o espelho.

“E o que foi que aconteceu?”

***

Tom Riddle não sabia se estava fascinado ou aterrorizado pela joia que tinha nas mãos.

A peça era de uma delicadeza indiscutível, feita em metal prateado moldado em arabescos delicados que formavam uma circunferência. De cada lado, duas pequenas correntes com pequeninas pedras pendiam: algumas pedras pareciam ser safiras enquanto outras eram de um belo azul opaco, algo que o lembrava de lápis lazulis. No centro, uma safira estava presa no metal, entre o que pareciam asas, e uma lápis lazuli pendia abaixo desta. Nas hastes, o lema de Rowena Ravenclaw aparecia esculpido em pequeninas letras: O espírito sem limites é o maior tesouro do homem.

O diadema emanava magia. Delicada e forte ao mesmo tempo, ela fluía do metal para os seus dedos, enroscando-se em si como se pedisse para ser usada. Tom se perguntava se um objeto inanimado podia sentir falta do contato humano depois de tantos anos abandonado dentro de uma árvore, no meio de uma floresta qualquer.

“É ele mesmo?”

O bruxo ergueu o rosto, finalmente tirando os olhos da peça, para encontrar Antonin Dolohov parado logo na sua frente. O homem estava agasalhado, parecendo ainda maior sob as camadas de vestes de inverno, e o observava com cuidado, mantendo uma certa distância.

“É,” o bruxo respondeu, deslizando os dedos pelos entalhes no metal e sentindo a magia formigar em sua pele, que agora estava gelada por conta do frio.

“O que vai fazer agora?”

Riddle não desviou o olhar dessa vez. Continuou encarando a safira, vendo a luz ser refletida nas diversas facetas da pedra, enquanto sentia um arrepio atravessar os seus ombros. É claro que seu pai iria segui-lo até a Albânia e é claro que ele estaria ali, olhando por sobre o seu ombro para ver o famoso diadema que levara Helena à morte.

“Primeiro, vamos descansar,” ele falou, suspirando enquanto puxava o saco de tecido que havia enfeitiçado com dezenas de feitiços protetores.

“Como quiser.”

O russo lhe estendeu a mão, ajudando-o a se levantar do tronco onde havia sentado. O puxão da aparatação fez a floresta albanesa coberta de neve sumir e, segundos depois, um quarto simples e também frio surgir ao redor deles. Dolohov, sem fazer cerimônia, soltou o seu braço e foi até a porta, desfazendo os feitiços protetores.

“Estarei no meu quarto ou no bar caso precise de algo,” o homem falou, abrindo a porta e saindo.

Quando se viu sozinho outra vez, Riddle sentou-se na cama, que soltou um rangido, e apalpou o saco que agora continha o diadema. Ele sabia que devia estar sorrindo, devia estar satisfeito, mas aquela viagem se mostrara uma grande mistura de coisas reações inesperadas.

Depois de dois anos trabalhando na Borgin & Burke’s, Tom Ridddle finalmente juntara dinheiro suficiente para financiar a sua viagem. A princípio, o objetivo era encontrar o diadema perdido de Ravenclaw, a peça sobre a qual ele conseguira informações por meio de Helena, mas logo as coisas se degeneraram e a Albânia se tornou apenas o ponto final. O rapaz havia passado por todos os lugares possíveis: França, Alemanha, Holanda, Itália, Grécia, União Soviética... Em cada país, enchia pelo menos um caderno com anotações sobre magia, principalmente magia negra, o que fez com que ele a entendesse de uma forma diferente.

Na Noruega, ele encontrara bruxos que usavam magia que podia ser considerada negra para se comunicar com deuses. Na Holanda, poções e ervas suspeitas viravam formas de alcançar o plano das profecias. Na Grécia, bruxas compactuavam com criaturas das trevas para conseguirem proteção. Na Itália, bruxos usavam necromancia para reviver plantas e fazer florescer as mais belas flores. Na Rússia, quando encontrou com Dolohov, um bruxo que emanava magia negra e gentileza lhe contara sobre as desvantagens de viver milhares de anos. A magia negra, aos seus olhos, tornou-se mais algo subjetivo do que algo concreto, e aquilo o fascinava ainda mais: até que ponto a magia selvagem e movida por emoções era considerada boa? A partir de que ponto ela se tornava sombria? Até que ponto ele, Tom Riddle, ainda poderia ser considerado uma pessoa boa, apesar de toda a magia negra com a qual trabalhava?

Essa última pergunta o surpreendeu quando surgiu em sua mente. Em uma carta, Abraxas lhe disse que era bom que ele estivesse pensando sobre isso, então Riddle continuou a trazer tal discussão à tona.

Abraxas. Era estranho estar longe do amigo, depois de passarem aqueles dois anos mais juntos do que nunca. Desde o sumiço de Hermione, Malfoy não parecia querer deixá-lo sozinho em momento algum e, apesar de se odiar por isso, Tom secretamente agradecia por essa atitude. Mais de uma vez sentiu o ódio surgir dentro de si, sentiu a vontade de se deixar levar pela sensação boa que era ter poder e ser admirado, mas Abraxas estava sempre lá, lembrando-o do que já havia acontecido e do que poderia acontecer. Ele nunca soube, no entanto, quando foi que o conforto proporcionado pelo loiro se tornara suficiente.

Mas então, os Malfoy decidiram que era hora do mais jovem herdeiro se casar e começar a própria família. Tom sabia que aquele dia chegaria, assim como Abraxas, e tudo o que fez foi avisar que já havia juntado dinheiro suficiente para a sua viagem e partiria assim que pudesse. Para a sua surpresa, não houve uma briga, mas sim uma noite de silêncio e um sentimento de perda inevitável enquanto sentia os dedos do outro traçarem as sardas em seus ombros.

“Você sabe que sempre vou fazer o que você precisar,” Brax repetira isso diversas vezes. “Delphine já desconfia, assim como desconfio que ela não vai largar mão do italiano bonitão que conheceu na Riviera há alguns anos.”

As cartas de Malfoy continuaram chegando, da mesma forma que as cartas de Riddle não pararam de ser entregues por corujas diferentes na mansão em Wiltshire e na casa de Hornsea. Dolohov, que o encontrara já quase no final de suas viagens, achava graça na dedicação dos dois em escrever aquelas cartas.

E agora, com o diadema de Rowena Ravenclaw em mãos, Tom Riddle decidiu que não iria escrever uma carta para avisar de sua conquista. Não, iria voltar para a Inglaterra o mais rápido possível e mostrar a joia para Abraxas pessoalmente. Tal decisão lhe era quase cômica, pois, quando garoto, nunca havia pensado que a maior satisfação que fosse ter seria ver o rosto de Malfoy ao saber do diadema.

Ele iria voltar logo, mas, antes, precisava dormir. Não apenas por conta do cansaço, mas porque precisava conversar.

Tom não sabia se com o passar dos anos, ele havia aprendido a relaxar a mente com mais facilidade ou seu pai havia aprendido a se fazer presente com mais intensidade. Agora, mal o sono turvava a sua visão e o homem já conseguia sentir a presença do trouxa com mais nitidez, até se ver seja lá aonde ele queria que ele fosse.

Naquela noite, quando abriu os olhos, deparou-se com a floresta na qual havia encontrado o diadema. Tom Riddle Sr. estava sentado no mesmo tronco onde ele havia se apoiado algumas horas antes, encarando a árvore na qual Helena havia escondido o diadema de sua mãe, mil anos antes.

“O que achou?”

“É lindo,” o homem falou, sem tirar os olhos da árvore. “O diadema é lindo. Não esperava nada diferente de Rowena.”

O jovem riu, sacudindo a cabeça. Parte de si achava engraçado como o trouxa se referia à fundadora de Hogwarts como se a conhecesse há muito tempo. Outra parte tinha um pouco de medo dessa intimidade que parecia existir entre eles.

“E a Albânia?” o homem perguntou.

“É linda também, o Reino das Águias,” disse Riddle, encolhendo os ombros enquanto olhava em volta. “Mas é um pouco triste estar aqui, não?”

“O que quer dizer?”

“Quero dizer que foi aqui que Helena foi morta,” ele explicou, olhando em volta com aqueles olhos azuis que, de vez em quando, assustavam Tom. Eles pareciam ver mais coisa do que realmente havia. “Ela... Ela ainda está por aqui em algum lugar.”

“Você acha?” perguntou Tom, franzindo o cenho enquanto se aproximava do homem.

“Eu sei.”

O jovem observou o outro por alguns segundos. Riddle estava calado e olhava em volta como se estivesse tentando absorver o máximo do lugar... Não, como se estivesse procurando alguma coisa. Helena. Ele estava procurando Helena ou qualquer resquício do que um dia fora Helena Ravenclaw.

“Onde?”

“Ela disse que um bruxo que morava no topo da montanha a encontrou e a enterrou,” o homem explicou, suspirando fraquinho. “Se procurar com calma, ainda irá encontrá-lo.”

“Como vou encontrar alguém que enterrou uma garota há mil anos?” Tom perguntou.

“Você encontrou um bruxo que vive há séculos quando estava na Rússia,” disse Riddle, sorrindo de lado. Ele ficara extremamente interessado naquele tal feiticeiro que começara a falar sobre a vida eterna e, desde então, Tom se perguntava se o homem sabia de algo que ele próprio desconhecia. “Magia é bela, mas complicada.”

“Disse o trouxa que até alguns anos atrás, morria de medo de magia.” O bruxo revirou os olhos, mas se aproximou e encostou-se contra a árvore onde antes estava escondido o diadema.

“Os últimos doze anos me fizeram aprender a gostar dela.” O mais velho riu, sacudindo a cabeça, antes de voltar a observá-lo em silêncio, com o sorriso ainda em seus lábios. Riddle nunca sabia se ele devia ou não temer aquela expressão, pois ela sempre indicava que seu pai estava procurando por algo e ele não tinha certeza de que gostava de ter algum sentimento ou dúvida descobertos apenas pelo olhar de um trouxa.

“O que foi?” o bruxo finalmente perguntou, depois de um ou dois minutos de silêncio. O vento começava a assoviar por entre as árvores, mas, surpreendentemente, não sentia o frio.

“Você mudou nesses últimos anos,” disse Tom Sr., sorrindo um pouco mais. “É... Bom ver isso. Quero dizer, antes, se você tivesse encontrado o diadema de Rowena, não teria pensado duas vezes antes de ir atrás de alguém para fazer uma horcrux.”

O jovem nunca soube exatamente como o outro havia juntado os pedaços de informação que conseguia pegar de conversas e sonhos, juntando-os e descobrindo sobre as horcruxes. Para ser sincero, Riddle não sabia o nome da magia, mas descrevera uma horcrux com uma precisão incrível, usando como exemplo um conto de fadas russo sobre um rei que havia arrancado a própria morte e a escondido dentro de um ovo. Ele ainda se lembrava como o homem contou aquela história sem pretensão alguma e, ao final desta, perguntou se era aquilo que ele pretendia fazer também com a própria morte.

“Era mais fácil antes,” o mais jovem falou, encolhendo os ombros. “Pelo menos eu sabia o que fazer.”

“Você pode devolvê-lo à Hogwarts, que é o lugar dele...”

“Eu sei disso, mas...” Tom suspirou, abaixando a cabeça e esfregando os olhos. “O que fazer com o diadema é mais fácil do que o resto.”

Mais longos segundos de silêncio, durante os quais o mais novo não teve coragem de erguer o olhar. Preferia se entreter com a neve que se acumulava aos seus pés.

“Talvez... Talvez eu precise lhe contar uma coisa.”

E então ele lhe contou sobre Hermione. Sobre como um fantasma trouxa conseguia passar despercebido pela maior parte das pessoas e como isso podia ser uma maldição e uma benção ao mesmo tempo. Sobre como, mesmo em vida, ele aprendera a usar o próprio silêncio para prestar atenção nos arredores e como isso lhe trouxera diversas informações interessantes.

Em morte, Tom Riddle Sr. conhecera Hermione Elston quando a viu andando pelo castelo de Hogwarts, volte meia vendo-a discutindo com o filho, as discussões que se tornaram menos hostis até virarem conversas amigáveis e até carinhosas. Ele gostava dela, da mesma forma que gostava de Abraxas: os dois, de acordo com o homem, conseguiam alcançar algo em Tom que ninguém mais conseguia, algo bom.

Mas, assim como o filho, a menina parecia esconder algo. A curiosidade, ele disse, também era um traço um tanto traiçoeiro dos Riddle e, por conta disso, ele não resistiu ao impulso de seguir Elston em algumas visitas à Hogsmead.

“Apenas uma delas teve algo diferente,” o homem falou, desviando o olhar e parecendo muito entretido na neve aos seus pés, a qual ele empurrava para formar um montinho branco e gelado. “Ela e o fabricante de varinhas ficaram falando sobre o tempo.”

Era estranho ouvir um trouxa lhe explicando sobre magias extremamente complexas, mas Tom Sr. não parecia se preocupar com isso: ele falou sobre magias do tempo, sobre o que Garrick Ollivander (Hermione o conhecia antes de ir trabalhar no Beco?) havia explicado à garota, sobre vira-tempos e pessoas que viajavam no tempo através da magia para se encontrar com suas almas gêmeas. Helena o havia ajudado com algumas coisas, ele dissera, lhe explicando coisas que ele não entendia sobre a magia e tentando criar teorias sobre toda aquela bagunça.

No entanto, o mais importante era bem mais simples que todas as teorias que um trouxa e uma bruxa morta haviam criado sobre magias temporais: Hermione Elston era uma viajante no tempo e, durante todo o seu tempo ali, ela estava tentando achar uma forma de voltar para casa.

“No final, ela ficou confusa,” disse Riddle, apesar de o filho já não estar prestando tanta atenção. Sua cabeça estava uma bagunça, tomada por perguntas. “Ela realmente gostava de vocês.”

“P-Por que ela foi?” Tom conseguiu fazer a pergunta sair de sua boca.

O rosto do homem à sua frente fora o suficiente para ele entender a razão da garota. Ele fora a razão da partida de Hermione. Ele e o assassinato daquele médico trouxa. Ele e todas as confissões.

“Ela me conhecia,” ele respondeu a própria pergunta, sentindo os olhos arderem e se odiando por isso. Ouviu o barulho do trouxa se levantando, mas abaixou o rosto e manteve-se assim. “Voldemort. Abraxas disse que ela sabia sobre isso, mas não tínhamos certeza de como...”

O bruxo sentiu a mão do outro em seu ombro e fungou baixinho. O abraço que se seguiu fez Tom rir fraco ao pensar que, nos últimos quinze anos, o único contato físico que tivera fora com um fantasma, apenas enquanto dormia. Aquilo era deprimente.

“O que eu faço?” Tom murmurou, o rosto escondido no ombro do outro. Sentia-se uma criança ali, apesar de já estar quase alcançando a idade com a qual o pai morrera.

“Como alguém que, bom, foi morto por Voldemort, eu pediria para que você... repensasse esse futuro,” o homem falou enquanto seus dedos afagavam os cabelos do outro. “Mas eu acho que você já repensou isso. Como disse, Lord Voldemort teria transformado o diadema em uma horcrux, não?”

No entanto, ele sabia que Lord Voldemort não deixara de existir. Não em si... Tom Riddle, de alguma forma, conseguira controlar aquele lado de sua pessoa que tinha sede de poder e ânsia pela vida eterna. Às vezes ele emergia, mas era mais fácil empurrá-lo para o canto agora. Porém, os sussurros carregando o nome que ele criara a partir do nome trouxa que lhe fora dado continuavam. Voldemort continuava aparecendo aqui e ali, em fofocas e rumores, murmurado na surdina por bruxos fascinados ou aterrorizados. Fora por isso que Dolohov o encontrara, para ter certeza do que estava ouvindo.

Aquele Lorde das Trevas, ele explicara ao russo, não era ele. Voldemort havia sido o seu passado, mas não sabia se podia dizer que ele era o seu presente ou se ele viria a ser o seu futuro. Ele aprendera a aceitar Tom Riddle, o rapaz com sangue trouxa e mágico misturados, com medo de ser abandonado e de morrer. Ele entendera que Abraxas amara Tom e que Tom sentia a mesma coisa por Abraxas. Voldemort não sentia nada disso, ele era controlado por ódio e medo, e o jovem não sabia se estava pronto para abdicar de sentimentos que, antes, lhe pareciam tão inúteis.

“Você acha que foi a vinda de Hermione que mudou isso?”

“Acho que ela teve, sim, um papel importante em fazê-lo ver as coisas de outra forma,” disse Riddle Sr.

“Mas ela ter vindo significa que ela ainda precisará de uma razão para vir no futuro. Voldemort precisará existir para ela e ela continuará achando que ele é Tom Riddle,” o mais novo falou, afastando-se do pai e franzindo o cenho.

“E sabemos que esse Voldemort está tentando se passar por você,” o trouxa falou, sorrindo de lado. “Porque ele o odeia, mas sabe a influência que Tom Riddle tinha. Ele faria qualquer coisa se pensasse que é algo que você faria.”

“Está sugerindo que devo induzi-lo a seguir os meus passos? Quero dizer, os passos do plano que eu tinha.”

Apesar de passar muito tempo com o homem, Tom ainda tinha uma pequena resistência em ver-se como filho dele. Riddle sempre dizia que ele se parecia muito com o seu pai, Thomas, e o mais novo acabara absorvendo essa informação. Naquele momento, no entanto, o bruxo conseguiu ver um pouco de si no sorriso satisfeito e no brilho animado naqueles olhos azuis.

“Exatamente.”


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Notas finais do capítulo

Assim... toda essa confusão faz muito sentido /na minha cabeça/ e eu estou me batendo muito para conseguir fazer sentido fora dela hahhaha. Espero que eu consiga e que não fique muito sem noção quando terminar. Só peço para manterem a mente aberta e aceitarem que viagem no tempo é uma pira muito louca.

Sobre esse 'bruxo que mora no topo da montanha' que supostamente enterrou a Helena, eu tenho mais coisas escritas sobre ele em uma fic exclusiva da menina Ravenclaw que eu quero postar um dia, mas caso queiram dar uma olhada, procurem sobre o Monte Tomorr, perto da cidade albanesa de Berat, e a figura folclórica/mitológica do Tomor/En/Baba Tomor no folclore da Albânia, um gigante que é considerado o pai de todos os deuses e humanos e que é casado com a Mãe Natureza e é sempre acompanhado por duas águias e o vento. A Albânia também é chamada de 'Reino das Águias' e esse animal é muito importante em todo o folclore deles.

Como sempre, espero que tenham gostado e digam o que estão achando (: