Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 36
Riddles and Doubts


Notas iniciais do capítulo

Eu... realmente não sei o que é esse capítulo.



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Hermione ainda não sabia por que diabos ela estava naquela aula de Advinhação. No começo do ano, quando Dorea lhe dissera sobre o fato da Professora Pesty também estudar magia relacionada aos sonhos, aquilo lhe parecera uma boa ideia... Agora, parecia perda de tempo. Talvez fosse porque ela já havia entendido o básico de como os sonhos com Harry funcionavam, ou talvez porque, naquela altura, ela já sabia mais ou menos o que teria de fazer para voltar ao seu tempo. A cortina de mistério havia sido levantada e a sua situação estava mais clara, não havia mais a necessidade de confiar em métodos completamente duvidosos para conseguir ajuda.

Pelo menos, o que deixava a garota mais calma, era o fato de que aquelas aulas eram diferentes do que ela esperava de uma aula com Sybill Trelawney sobre adivinhação pelos sonhos. Ao invés de passarem o tempo inteiro fazendo diários de sonhos para seus colegas tentarem adivinhar, a Professora Pesty passava as aulas explicando sobre os diferentes tipos de divinações que podiam ser feitas através dos sonhos. Naquele momento, a mulher discorria sobre visões proféticas ou algo parecido.

Poucas pessoas pareciam realmente interessadas, entre elas, Dorea e Riddle. A garota se mantinha com os cotovelos apoiados na mesa e o queixo sendo segurado pelas mãos, os olhos brilhando enquanto ouvia a professora. Tom, por outro lado, não demonstrava nenhuma mudança na postura, mantinha-se sentado reto na cadeira, mas seus olhos não desviavam da bruxa em segundo algum, seguindo-a pela sala de aula. Hermione sentiu um arrepio passar pelo seu corpo ao notar o interesse extremo dele: aquele olhar devia ser o mesmo de Voldemort quando o bruxo ouviu a profecia que falava da criança que um dia poderia derrotá-lo.

“O mais interessante das profecias ou sonhos proféticos, no entanto,” a professora falou, parando na frente do quadro negro e acenando a varinha. Um pedaço de giz se ergueu no ar e desenhou uma linha que se bifurcou e foi formando outras diversas linhas que iam se separando cada vez mais. “É que ela nem sempre acontece.”

“Mas se é uma profecia,” disse um garoto corvinal. “Não é algo que vai acontecer independente de tudo?”

“Nem sempre. Uma profecia pode ser ignorada, principalmente quando se trata de algo em relação à pessoas, mas é da natureza humana das atenção demais a essas coisas, logo, elas acabam acontecendo porque permitimos isso,” a bruxa explicou. “Pensem nas profecias mais como um aviso do que como uma sentença.”

“Então se eu sonhar que vou ser atingida por um raio... posso evitar isso se decidir não sair pra fora durante uma chuva?” perguntou Dorea.

“Esse é o caminho, Srta. Black, mas o que você descreveu foi um sonho profético. Alguém pode me dizer a diferença?”

“Um sonho profético é quando a pessoa sonha com algo que vai acontecer,” disse Riddle, depois de erguer a mão para chamar a atenção da professora. “Uma profecia é quando alguma magia de divinação, o que muita gente chama de oráculo, usa o corpo de um bruxo ou bruxa para expor a sua predição.”

“Isso não faz sentido,” Hermione murmurou, abaixando a cabeça para olhar as próprias mãos sobre a mesa.

“Na verdade, Srta. Elston, faz.” A voz da mulher fez a grifinória pular na cadeira, erguendo o rosto e encontrando o sorriso da professora, que agora apontava para o quadro, onde o desenho das linhas divididas estava. “Se você pensar que o tempo não é algo linear e que o universo pode ir se dividindo a cada decisão tomada... Visões e profecias nada mais seriam que a capacidade de olhar dentro de um futuro que pode ou não ser aquele para o qual a sua linha do tempo irá seguir.”

A garota franziu o cenho. Lá estava aquela conversa sobre diferentes linhas do tempo outra vez, mas agora em um contexto completamente diferente.

“E o que faz um bruxo ou bruxa ter esse dom?” Riddle perguntou, chamando a atenção da mulher outra vez.

“Ninguém sabe, Sr. Riddle,” ela explicou, encolhendo os ombros. “Algumas famílias passam o dom da profecia de pais para filhos, outros de avós para netos. De vez em quando, um vidente aparece no meio de uma família que nunca demonstrou a menor aptidão para a Divinação.”

“E os sonhos ou visões podem ter alguma relação com profecias? Quero dizer, alguém pode ter essas visões sem fazer profecias e vice-versa?”

“É possível, mas é bem comum um vidente capaz de criar profecias também ter o dom das visões. Nessas situações, antes de uma profecia ser feita, é comum o bruxo ou bruxa ter uma série de visões... Já vi uma bruxa passando por isso, não é muito agradável,” a Professora Pesty falou. “Eles perdem o controle da magia e podem se perder dentro das próprias visões. No final, normalmente colocam pra fora alguma profecia que, na maioria das vezes, está ligada à alguma visão que teve durante esse surto.”

Hermione virou o rosto para olhar o rapaz. Tom tinha os olhos levemente estreitados e, pela primeira vez na aula, não prestava atenção na professora. Ele parecia completamente perdido em seus pensamentos e aquilo a fez se perguntar o quão relevante todo aquele assunto de divinação era para ele.

***

“Por que Riddle gosta tanto de Adivinhação?”

Abraxas virou-se para olhar a garota sentada um pouco atrás de si, nas margens do Lago Negro. O clima fresco da primavera permitia que eles ficassem nos gramados sem se preocuparem com o frio, o céu azul de vez em quando se mostrava por entre as nuvens e as árvores voltavam a ficar verdes com novas folhas. Aparentemente, a leve mudança na temperatura também fazia com que a Lula Gigante ficasse mais exibida e era por isso que Malfoy a levara até ali naquele dia.

“Tom gosta de coisas estranhas,” o loiro falou, encolhendo os ombros e voltando a olhar o lago. “Quero dizer, a Amortentia dele tinha cheiro de roupa de cama recém lavada.”

A garota riu, sacudindo a cabeça.

“É sério. Como alguém que parece tão lógico pode gostar de algo tão... sem fundamentos?”

“Achei que estivesse cursando Adivinhação.”

“Estou e é exatamente por isso que fico cada vez mais convencida de que é um campo bem instável da magia,” a grifinória explicou. “Me surpreende ele gostar disso.”

“Tom é chegado em magias meio duvidosas.” Abraxas respirou fundo, soltando o ar com calma, antes de ir se sentar ao lado da menina. “Ele gosta também de tentar controlar tudo. Se pensarmos em Adivinhação como uma forma de ter um pequeno controle sobre o futuro, então faz sentido ele gostar.”

“É verdade...”

Hermione suspirou, virando o rosto para olhar o sonserino. Era estranho pensar que aquele rapaz se tornaria o pai de Lucius Malfoy. De vez em quando ela se pegava tentando encontrar algo parecido entre os dois: os cabelos loiros eram óbvios, apesar de Abraxas mantê-los curtos; os olhos cinzentos também, muito parecidos com os de Draco, mas o restante do rosto daquele garoto parecia mais jovial e leve que o de Lucius e Draco. Havia aquele pequeno sorriso que quase sempre repuxava os seus lábios e um brilho diferente no olhar que ela nunca vira nos Malfoy que conhecera no futuro.

“Como você está com... com o Tom?” ele perguntou, finalmente quebrando o silêncio e mordendo o lábio inferior por um segundo.

“Eu com Tom?” a grifinória murmurou, inclinando a cabeça para o lado.

“Ele parou de agir esquisito?” Malfoy perguntou e riu. “Ele se soltou perto de você?”

“Ah, bom... Acho que sim, pelo menos um pouco.” Hermione corou ao perceber que o outro agora a olhava com um sorrisinho na boca. “O que foi?”

“É tão engraçado pensar no Tom assim, não é?” Abraxas riu. “Ele é sempre tão sério, mas, de repente, se permitiu algo tão...” a voz do rapaz sumiu aos poucos.

“Tão humano?” ela sugeriu.

“Exatamente.”

“Você ajuda ele a ser assim,” Hermione falou, sorrindo enquanto apoiava a mão sobre a do sonserino. “É um feito e tanto.”

“Acho que serei o primeiro Malfoy a ser reconhecido por ajudar alguém a ser mais humano.” A mão do rapaz se virou sob a sua até que ele estivesse com os dedos entrelaçados nos dela. “E você também ajuda, sabia? Acho que você me ajuda a me deixar levar.”

“Faço você esquecer que é um puro-sangue que supostamente sai por ai pregando supremacia bruxa?” ela murmurou, arqueando uma sobrancelha, mas ainda sorrindo.

“Talvez.” Malfoy riu. “Não sei explicar, mas me sinto seguro falando dessas coisas com você, Hermione. Eu nunca tinha falado pra ninguém sobre... Você sabe. Sobre Tom. Ai aquela noite na floresta aconteceu e foi ótimo. Era pra ser uma brincadeira, uma descontração para fazer o Tommy parar de pensar em toda a merda que aconteceu, mas foi muito bom. E eu consegui falar disso com você depois e... Ajudou.”

Hermione apertou de leve a mão dele, antes de ver Abraxas rir de novo e inclinar-se na sua direção. O beijo em sua testa foi leve e doce, algo completamente diferente do que ela podia esperar de um Malfoy.

“Que bom que estou ajudando de alguma forma,” ela murmurou.

“E eu espero que nós possamos te ajudar também.” O loiro franziu o cenho por um momento e riu. “Isso é lá coisa que um Malfoy fala? Olhe só o que está fazendo comigo!”

“Estou te tornando uma boa pessoa!” Hermione riu e encostou a cabeça no ombro do garoto, sentindo-o balançar com uma risada também. “Mas acho que sim, vocês também estão me ajudando.”

Era estranho pensar que Tom Riddle e Abraxas Malfoy pudessem estar ajudando em algo, mas a grifinória não podia negar isso. Ela gostava de ficar perto deles agora, gostava de trocar conversas alheias, além de beijos e abraços. Era surreal, claro, mas Hermione não sabia se qualquer tipo de sentimento devia ter uma explicação precisa... Estar com os dois sonserinos era diferente de estar com Harry e Ron, mas era bom e, nos últimos tempos, era algo que a confortava. Quando ela acordava no meio da noite e percebia que estava sozinha, lembrava-se que podia ir até eles nem que fosse para se distrair com um beijo ou uma piada.

Claro, havia Minerva e Charlus e Dorea... Mas não era a mesma coisa. Todos eram gentis e a aceitaram de braços abertos no seu grupo de amigos, mas não havia aquela intimidade engraçada que havia se desenvolvido entre ela, Tom e Abraxas. Hermione adorava trocar ideias com McGonagall ou ouvir Potter e Black conversando, mas eles não faziam o seu coração acelerar com um abraço ou um toque.

“Abe?”

Malfoy virou-se rapidamente, fazendo a bruxa se afastar e se virar também. Avery e Lestrange estavam parados a alguns passos deles, observando-os com calma. Apesar do seu instinto que dizia para tomar cuidado com qualquer pessoa com aqueles sobrenomes, Hermione não se sentiu ameaçada de imediato... Ela se sentiu levemente desconfortável, mas os meninos não pareciam estar ali procurando briga.

“Hey.” Abraxas sorriu, levantando-se e indo na direção dos dois. “O que foi? Se for sobre o Quadribol, já reservei o campo para essa sexta-”

“Queríamos falar com você,” disse Canopus, olhando de esguelha para a garota. “Sabe, sem Riddle por perto.”

“Bom, eu tenho que voltar pro castelo,” Hermione murmurou, levantando-se do chão e batendo nas próprias vestes para tirar a poeira. “Tenho que fazer um texto sobre profecias para Adivinhação.” Ela sorriu, tentando não demonstrar desdém. “Até depois, rapazes.”

A bruxa se afastou até passar por uma das poucas árvores que cercavam o lago. Uma vez ali, tirou a varinha do bolso e apontou-a para si mesma, murmurando um feitiço de desilusão e sentindo o gelado da magia escorrer pelo seu corpo. Quando ergueu a mão novamente, não a enxergava mais, apesar de conseguir ver uma leve ondulação no ar por onde se movimentava. Não era tão bom quanto a Capa da Invisibilidade, mas esta estava guardada no dormitório e, infelizmente, a curiosidade estava falando mais alto.

Hermione saiu de trás da árvore e se aproximou com cuidado dos garotos. Lestrange gesticulava enquanto falava com o loiro, que parecia entediado com o rumo da conversa.

“Vocês não tem coisa pra estudar para os NIEMs?” perguntou Abraxas, deixando a cabeça pender para o lado. “Acho que o melhor a fazer, no momento, é esperar. Não acho que Tom vá desistir de tudo, mas também acho que até o final do semestre-“

“Você sabe que não importa mais o que ele quer,” disse Atlas, torcendo o nariz. “Depois do que ele fez, Riddle não mereceria nem estar na Sonserina.”

“Tom não é o primeiro mestiço da casa.”

“Mas é o primeiro que nos manipulou com uma mentira,” Lestrange rosnou baixinho. “Você lembra de tudo o que ele falava, não lembra, Abe? Ele nos menosprezava e, no fundo, ele sempre foi menos do que nós-“

“Atlas, acho que você não sabe muito bem o que está falando,” Malfoy falou, endireitando a postura e parecendo sério. “Tom é poderoso, todos nós sabemos disso. Ele ser mestiço não influencia em nada dos planos dele.”

“E ficar rolando pelos cantos com uma sangue-ruim?” Avery perguntou, estreitando os olhos.

“Ah, pelo amos de Cernunnos.” O loiro revirou os olhos. “Vocês não podem estar falando sério. Atlas, você tem noção de que tudo o que discutimos em reuniões foi ideia de Tom? Vocês nunca teriam saído do estágio de reclamar da vida se ele não tivesse colocado vocês para sentar e escutar.”

“Sentar e escutar um mestiço falando sobre como os sangue-puros mereciam poder!” Canopus riu. “Um mestiço que nos humilhava e não escondia o quanto nos desprezava.”

“Você realmente acha que consegue fazer por conta própria qualquer plano dos quais Tom nos informou?” perguntou Abraxas com a voz debochada enquanto olhava de um para o outro.

“E você acha que Riddle vai conseguir fazer qualquer coisa depois que sair de Hogwarts? Ninguém vai querer um mentiroso-“

“Vai ficar difícil para todos nós arrumarmos emprego, não é, Atlas?” perguntou Malfoy.

Hermione segurou a respiração ao ver os olhos de Avery brilharem de uma forma diferente. Ele estava irritado e era possível ver que o rapaz estava tentando imitar as ações de Riddle naquela situação. Mas, tentando se passar por um personagem ou não, Atlas Avery estava muito irritado quando se aproximou do loiro, deixando o outro colega para trás.

“Mas vai ser muito mais difícil de contratarem um mestiço que vai pra cama com um bruxo sangue-puro só pra ter algum dinheiro reservado, não é?” Atlas murmurou tão perto do ouvido de Malfoy que apenas ele e Hermione conseguiam ouvir. “Ou... Já imaginou o que fariam caso descobrissem que Tom está longe de ser o garoto bom e educado que ele diz ser? O que fariam se descobrissem que ele pode estar envolvido com um assassinato?” O sonserino riu baixo. “Um contato em Londres me disse que tem como chegar à alguém que andou investigando a morte de um certo Tom Riddle.”

O rosto de Abraxas estava tão branco quanto uma folha de papel e os olhos, arregalados. Ele mantinha a mandíbula travada enquanto olhava o colega, quando este se afastou com um sorriso no rosto, apenas o suficiente para poder olhá-lo nos olhos.. Lestrange, alguns passos atrás, observava os dois com o cenho franzido.

“Você está delirando, Atlas,” disse Malfoy com a voz fraca. “O que você disse não faz sentido algum.”

“Ah, claro, porque Riddle correu para o seu colo porque te ama.” Avery sacudiu a cabeça e voltou a murmurar perto do ouvido do sonserino. Hermione viu os dedos do loiro se fecharem com força. “E teria sido bem conveniente, não? O parente trouxa morre, não sobra ninguém para mostrar que ele tinha sangue trouxa.”

Avery finalmente se afastou, dando alguns passos para trás e indo até Canopus de novo.

“Mas, como você disse... No momento, os NIEMs são mais importante.” Atlas encolheu os ombros, batendo de leve no braço do outro sonserino para que eles começassem a se afastar. “É melhor conversarmos quando o ano letivo acabar, vai dar mais tempo para pensarmos em tudo o que aconteceu. Te vejo depois, Abe.”

Malfoy ficou estático enquanto observava os colegas se afastarem. Hermione pôde ver os olhos dele brilhando, marejados, e as mãos tremendo. Ela só não sabia se o que o perturbava mais era a ameaça à Tom ou a acusação de que Riddle estava se aproveitando dele.

“Abraxas?” ela chamou baixinho e viu o garoto sobressaltar-se, olhando em volta com os olhos arregalados. “Oh, merda.”

Ela ergueu a varinha outra vez, retirando o feitiço de desilusão. Malfoy a encarou primeiro confuso e, depois, parecendo irritado.

“O que diabos você estava fazendo?” ele perguntou, franzindo as sobrancelhas. “Você estava... Você estava nos espionando?”

“Eu quis saber o que eles estavam tramando,” a bruxa explicou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. “Desde que descobriram que Tom é um mestiço, eles ficam o olhando de um jeito estranho-“

“Você ouviu tudo?” o rapaz perguntou e a garota viu a mão dele ir até o bolso da calça.

“Expelliarmus!” ela falou assim que viu a ponta da varinha para fora do bolso. O objeto voou da mão do sonserino. “Não ouse.”

“Hermione-“

“Sim, eu ouvi tudo.” A garota respirou fundo. Para ela, aquilo não era informação nova. Ela sabia que Tom Riddle já havia começado a reunir alguns seguidores ainda em Hogwarts, ela sabia que ele havia matado o próprio pai e... bom, ela estava lá quando Riddle beijou Malfoy a primeira vez. “Não, não vou correr até Dumbledore ou qualquer outra pessoa para contar o que ouvi.”

“Você não entende...”

“Entendo. Riddle juntou um grupo de meninos com sangue puro, encheu-os de ideias sobre como bruxos são melhores que trouxas e como nascidos trouxas são inferiores aos sangue-puros, deu-lhes um ideal e prometeu poder assim que ele se tornasse... mais do que Tom Riddle,” Hermione começou a falar, parando por um momento para morder o lábio inferior e desviando o olhar. Como ela iria explicar todo aquele conhecimento? Não tinha ideia. “Quanto ao que ele falou da morte de um outro Tom Riddle... Não tenho ideia do que se trata, mas acho que Tom não é louco o suficiente para arriscar qualquer coisa assim.”

Abraxas continuou observando-a em silêncio, antes de se sentar no chão outra vez, abaixando a cabeça e enfiando os dedos nos cabelos loiros e bem penteados. A garota suspirou, ajoelhando-se ao lado de e passando um braço ao redor de seus ombros.

“Não acho que Tom tenha ficado por perto por conta do seu dinheiro,” ela murmurou, afagando as costas dele. “Sei que conheço vocês a pouco tempo, mas não é segredo que ele confia em você, Abraxas. Merlin, quando Tom está com você, ele... ele fica relaxado. E eu não estava brincando quando disse que você o torna mais humano: ele se permite ser humano quando está na sua presença.”

“Tom é ótimo em fingir, Hermione...” o rapaz murmurou, sua voz saindo um pouco esganiçada.

“Eu sei disso, mas ele não consegue fingir o que eu vi naquela clareira,” ela continuou. “Ele olhava para você de um jeito diferente. Tom é um rapaz reservado, não? Ele fica sem jeito com qualquer intimidade, eu percebi isso, ele ficou assim comigo... Mas com você ele simplesmente fecha os olhos e vai. Riddle realmente não é muito bom com essas coisas de sentimento, mas acredito que esse seja o jeito dele de falar que... ama você. Como disse outro dia: se ele é capaz de amar, você é a pessoa que ele ama.”

O loiro permaneceu com a cabeça abaixada por mais alguns minutos, apenas recebendo o carinho nas costas e respirando fundo. Hermione queria poder ir atrás de Riddle naquele segundo e exigir que ele mostrasse para Malfoy que o amava. Não era justo aquele rapaz sofrer daquele jeito.

“Avery está procurando qualquer motivo para se vingar de Tom,” a bruxa falou, finalmente vendo o outro erguer o rosto e a olhar com os olhos vermelhos de choro. “Ele não gostou nada de ter sido enganado e agora vai tentar machucar Tom, mas... ele sabe que não tem chances indo brigar cara a cara.”

“Então ele tenta tirar todos de perto dele,” murmurou Abraxas, esfregando o rosto com a mão.

“Ele sabe o quanto vocês dois são próximos. Quero dizer, vocês dividiram o mesmo dormitório por anos! E ele sabe que você é o único do seu grupinho que ficou do lado dele...”

Hermione ergueu a mão para limpar uma trilha molhada deixada por uma lágrima no rosto do loiro e sorriu ao vê-lo fungar baixinho.

“Você sempre soube que ele não gostava de trouxas, não é?” perguntou Malfoy e ela apenas assentiu. “Por que você ainda fica perto de nós?”

“Porque... Vocês estão me mostrando que são mais do que apenas bruxos obcecados por pureza do sangue,” a garota murmurou, sentindo um leve aperto no peito. “Não vou dizer que não me dói de vez em quando. Lembro dos meus pais e dos meus amigos que perdi por conta de um pensamento parecido com esse, mas... Eu olho pra você e vejo o herdeiro de uma das famílias puras mais influentes do mundo bruxo, mas que também é uma pessoa gentil e com um certo fascínio por coisas trouxas. Olho para Tom e vejo um bruxo com ódio da situação na qual ele cresceu e com um rancor enorme por um pai trouxa que nunca o tirou desse lugar, mas que também é vulnerável e que sofre, mas acaba se deixando levar da forma errada por esse sofrimento. Eu vejo... dois rapazes que têm a chance de serem ótimos para o mundo bruxo e eu ficaria muito feliz de saber que, de alguma forma, eu os ajudei a fazerem algum bem.”

Abraxas piscou uma, duas, três vezes, boquiaberto, enquanto a olhava. Ele desviou o olhar para o lago por um momento e, depois, voltou a virar o rosto para ela.

“Eu podia beijar você nesse exato minuto, Srta. Elston,” disse Malfoy com a voz ainda um pouco embargada. “Só você para ver algum tipo de esperança em duas coisas fodidas como eu e Tom.”

A bruxa riu e aproximou-se dele, beijando-lhe os lábios rapidamente e fazendo com que ele risse também.

***

A aula de Aritmancia havia sido complicada. Os números e cálculos ainda rodavam em sua cabeça quando Tom entrou no banheiro dos monitores. Era um tanto raro para ele usar o lugar, já que um bom banho de chuveiro ou na banheira do dormitório já estava de bom tamanho para ele (era água quente e sabonetes cheirosos, muito diferente da escassa água fria do orfanato), mas, naquela noite, ele queria apenas se afundar na água e esperar que seus ombros relaxassem um pouco.

As últimas semanas haviam passado de uma forma esquisita. Elas pareciam se arrastar e, ao mesmo tempo, passar rápido demais. Alguns dias quase sumiam da memória do rapaz, como se ele tivesse feito tudo tão automaticamente que nem se lembrava daquelas horas... O que ele mais se lembrava eram os momentos que passava com Abraxas ou Hermione. Por sorte, os dois não haviam mais tentado levá-lo para alguma reunião com os grifinórios, mas havia finais de tarde em que os três passavam sentados à beira do lago ou em alguma sala vazia apenas conversando ou esperando o tempo passar.

Malfoy estava cada vez mais próximo, sentindo-se mais confortável em simplesmente se encostar em Tom quando se sentavam muito perto ou segurar-lhe a mão quando ficavam em silêncio. Elston também se aproximava, apesar de ser mais cautelosa. Ela agora conversava com mais naturalidade, contava sobre seus pais e amigos de antes da guerra, falava de seu gato (Bichento. Quem dava um nome desses para o pobre animal?) e de magia. Certa vez, enquanto Abraxas contava sobre uma de suas viagens à França, a grifinória pareceu estar tão confortável que se deitou com a cabeça no colo do loiro. Outro dia, enquanto faziam uma redação de Feitiços na biblioteca, ela havia lambido o próprio polegar e usado aquilo para limpar uma mancha de tinta no rosto de Tom. Eram coisas simples que surpreendiam o rapaz, sempre tão acostumado a ter uma certa distância o separando dos outros.

O que havia acontecido na Floresta Proibida não havia se repetido. De vez em quando Malfoy roubava um beijo de um ou de outro quando estavam juntos. Em mais de uma ocasião uma sessão de estudos acabou em beijos um tanto acanhados com Hermione e ele já havia perdido a conta de quantas vezes Abraxas o havia provocado com beijos um tanto ousados demais em algum corredor ou saleta vazia. A lembrança da clareira, no entanto, ainda era vívida em sua memória e ainda o assustava um pouco.

E tal lembrança voltou à sua mente enquanto Riddle estava perdido entre as bolhas de sabão, dentro da água quente da enorme banheira dos monitores. Apoiando a cabeça na borda da banheira, o rapaz sentiu um arrepio atravessar o seu corpo ao lembrar-se dos dentes de Abraxas em seu pescoço, mordiscando de leve a sua pele por entre os beijos. A sensação dos lábios de Hermione sobre os seus também lhe vieram à mente: macios e mornos e delicados, um pouco hesitantes.

Tom sentiu o rosto esquentar ao perceber que as meras memórias dos dois o estavam fazendo dar graças a Deus de estar dentro de uma banheira e não no meio de uma aula. Afundou mais um pouco no meio das bolhas, percebendo sua respiração um pouco mais ofegante enquanto fechava os olhos e pendia a cabeça um pouco para trás. Chegava a ser engraçado, se ele tivesse cabeça para pensar, como ele parecia estar mais sensível até mesmo ao toque de seus próprios dedos.

O rapaz tentava puxar cada vez mais sensações da memória: a respiração de Abraxas contra a sua pele, os beijos acanhados no canto da biblioteca com Hermione, os dedos do loiro brincando com os fios de cabelo em sua nuca, o peito da garota sob o seu rosto, subindo e descendo enquanto ele saía de um sono induzido por uma poção, o jeito como Malfoy o via... Cada pequeno detalhe dessas lembranças faziam a sua respiração ter mais dificuldade de entrar e sair de seus pulmões até fazê-lo prender o ar por um momento, apenas um gemido escapando de sua boca e ecoando um pouco pelo banheiro vazio.

O ar voltou a circular e seus ombros pareceram, sim, ter relaxado, assim como todo o resto do corpo. Riddle empurrou-se um pouco para cima, saindo do meio das bolhas e apoiando a cabeça na borda da banheira outra vez, deliciando-se com o ar frio. Não tardou até sentir o rosto esquentar de novo, engolindo em seco e xingando baixinho ao notar o que havia feito. Não que aquilo fosse algum tipo de novidade, mas era diferente (e novo) pensar em uma pessoa específica naqueles momentos.

Tom riu e sacudiu a cabeça. O que diabos estava acontecendo com ele?


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Notas finais do capítulo

Queria pedir desculpas pelo capítulo bem filler. Tinha algumas cenas que eu queria colocar e não estava conseguindo encaixar em nenhum lugar, então elas acabaram aqui... Esse capítulo se passa ali pelo final de Abril, aliás. Essa última parte eu realmente espero que não tenha parecido gratuito demais? Eu fico pensando em como o Tom encararia tudo isso, tanto em relação aos sentimentos quanto em relação à mudanças do próprio corpo e tals, porque né... ok, ele tem 18 anos, mas ele se distanciou de tudo e qualquer contato até agora (o maior crush dele era um fantasma!). Sei lá, pra mim é algo curioso de ser explorado, apesar de não saber se consegui explorar isso bem (eu acredito que essa cena não seja considerada hentai, né? se for, me avisem porque ai eu retiro ela e coloco só no meu tumblr mesmo e deixo o link, porque não quero ter que elevar a classificação da história pra +18) (ok eu achei melhor mudar para 16+, que eu achei que já estava)

Bom, espero que tenham gostado apesar de ser um capítulo meio estranho. Digam o que acharam (: