Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 25
What can burn for years and years?


Notas iniciais do capítulo

Capítulo longo é longo.



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Tom detestava o seu aniversário. Não só pelo fato de estar um ano mais perto da morte a cada um deles, mas porque aquele não era o seu dia, nunca foi. O garoto cresceu ouvindo as crianças do orfanato considerando os dias de seus aniversários como ‘seus’, mesmo que muitas outras pessoas tivessem nascido no mesmo dia, mas Riddle tinha que dividir o dia 31 de Dezembro não apenas com outras pessoas, mas com um feriado. Quando pequeno, Tom costumava pensar que poderia ser pior, ele podia ter nascido no dia de Natal, mas ele ainda odiava o seu aniversário de qualquer forma.

Odiar o dia 31 de Dezembro era uma das razões pelas quais ele gostava de ficar em Hogwarts no final do ano. Não havia ninguém mais no castelo a não ser ele, os professores e alguns poucos alunos e ninguém nunca se lembrava de seu aniversário. Assim, Tom se permitia passar o dia sozinho, ignorando o fato de estar ficando mais velho.

E era isso que ele fazia naquele dia. Depois de passar o dia inteiro alternando entre dormir – Riddle estava surpreso com o quanto ele estava gostando de dormir nos últimos tempos – e lendo, Tom decidiu que aquele estava sendo um bom dia 31 de Dezembro. Ninguém havia batido na sua porta ainda, ele tinha conseguido ler bastante coisa sobre Rowena Ravenclaw – infelizmente, nada digno de nota – e os cortes em seu braço haviam parado de doer. Era um bom dia, no fim das contas.

Até que o retrato de Fyodor Basmanov entrou batendo os pés na moldura vazia na sala comunal dos monitores, reclamando que havia um casal que não o deixaria em paz até que ele deixasse eles entrarem. Tom não ficou surpreso ao ver que o casal se tratava de Abraxas e Elston.

“Não vou descer,” disse Riddle, assim que ouviu a porta abrir, deixando os dois entrarem.

“Como se a gente não soubesse disso,” disse Abraxas, sorrindo enquanto se aproximava do outro. “Mas se você não desce, nós viemos até você.”

“Realmente não-“ Tom se interrompeu ao finalmente ver a menina Elston, que estava vindo atrás de Malfoy e olhando em volta com curiosidade. Ela estava usando um vestido bonito que nunca conseguiria comprar com os poucos galeões que tinha e o cabelo dela agora estava muito mais curto. “O que diabos você fez com ela, Abraxas?”

“Eu?” O loiro colocou a mão no peito, como se estivesse machucado. “Eu não fiz nada.” Ele andou pela sala, antes de se jogar no sofá ao lado de Tom, suspirando profundamente. “O vestido foi um presente. O cabelo foi arte dela mesma. Ela está bonita, Tom, nem você pode negar isso.”

“Você bebeu algo?” ele perguntou e depois olhou para Elston, que parecia meio desconfortável lá, apesar de parecer querer rir. “Ele bebeu algo?”

“Dois ou três copos de Firewhiskey,” ela falou, sentando-se ao lado de Abraxas. “Ele falou que a festa de Slughorne stava muito sem graça e me trouxe até aqui.”

“Pelo amor de Merlin-“

“É seu aniversário, Tom! Você não pode ficar aqui sozinho,” disse Abraxas,, sacudindo a cabeça. Hermione riu. “Eu trouxe algo.” O sonserino colocou a mão no bolso de suas vestes, tirando dali o que parecia ser um caderno de couro preto. Tom não conseguiu não perceber que os olhos da garota se arregalaram um pouco ao ver o presente de Malfoy. “Aqui. Você sempre fica reclamando que não tem pergaminho suficiente para as suas próprias pesquisas. Então aqui está. E é mais fácil de não perder a papelada.”

Ignorando os olhares esquisitos de Elston, Riddle pegou o livro, correndo os dedos pela capa de couro e o virando para ver o seu nome escrito na parte de trás em letrinhas douradas. Era uma coisinha bonita. O papel era bom e a capa faria com que ele ficasse intacto mesmo depois de inúmeras viagens dentro de sua mala. Ou ele fora comprado no mundo bruxo ou em uma parte mais rica do mundo trouxa, pois Tom nunca conseguiria comprar algo daquele tipo. No orfanato, os únicos que tinham dinheiro o suficiente para algo como aquele caderno eram Alexei e Martha.

“Ahm, obrigado,” ele falou, olhando melhor o caderno outra vez antes de deixá-lo ao seu lado.

“Não sabia que era seu aniversário,” disse Hermione, inclinando-se para a frente para poder vê-lo. “Sem presente. Mas feliz aniversário.”

“Não é algo para se comemorar...”

“Oh, por favor!” Malfoy sacudiu a cabeça, antes de estalar os dedos e fazer uma garrafa cheia de um liquido transparente aparecer em suas mãos. “Um amigo meu me mandou isso lá da Rússia.” O garoto piscou para Tom. “Vodka. Achei que seria uma boa ocasião para abri-la.” Ele estalou os dedos de novo e três copos apareceram em cima da mesinha de centro.

“Deixa que eu faço.” Hermione tirou a garrafa da mão dele e a abriu. “É mais seguro.” Ela serviu a vodka enquanto Abraxas ria.

“Abençoada seja você, Hermione Elston.” Ele riu, pegando um dos copos e tomando um gole e fazendo uma careta antes de se encostar no sofá outra vez, respirando fundo. “É o último dia do ano e nós estamos presos nesse dormitório de merda,” o loiro murmurou, antes de se levantar e se espreguiçar. “Vem, Srta. Elston!” Ele esticou a mão para ela e Tom viu a menina fazer uma careta. “Vamos! Vamos dançar!”

“Não tem música, Malfoy.” Ela sacudiu a cabeça.

“Oh.” Abraxas olhou em volta, pegando sua varinha em seu bolso e acenando com ela para um rádio que havia no canto da sala. Logo uma música animada encheu o lugar. “Pronto, vamos?”

Tom ficou observando, tentando não rir enquanto bebia a vodka e sentia sua garganta queimar com ela, enquanto uma Elston hesitante se levantava, segurando a mão de Malfoy enquanto era guiada para um canto da sala onde não havia mesas ou sofás. A menina parecia um tanto tímida de início, enquanto o sonserino segurava as mãos dela e se mexia de um jeito meio desastrado, mas logo ela estava rindo junto de Abraxas, liderando a dança e deixando que ele a girasse de vez em quando.

“Você é boa, Srta. Elston, você é boa,” disse Abraxas, quando a música acabou, segurando a mão dela e beijando o dorso dos dedos dela. “Se não se importa, tem outra pessoa esperando por uma dança.”

“Claro que não.” A garota piscou e riu. “Vai lá, Riddle.” Ela se sentou ao lado de Tom e empurrou o ombro deste, fazendo-o se levantar. “Ele dança bem.”

“Sério, não...”

“Se divirta uma vez na vida, Tommy!” Malfoy riu, ignorando o olhar irritado do amigo enquanto segurava as mãos deste, guiando-o em uma dança confusa, mas Tom parecia mais desastrado do que ele quando se tratava de dançar. Era quase irritante como aquilo conseguiu arrancar uma risada ou duas de Riddle.

“Olhe só!” Hermione riu. “Vocês dois são bons nisso.”

“Tom é um pouco descoordenado,” disse Abraxas, suspirando e soltando o amigo. “Você é melhor na dança, Hermione.”

“Eu não sou descoordenado,” disse Tom, sentindo o rosto esquentar, apesar de culpar a vodka que bebera. “Você é quem não consegue conduzir uma dança.”

“Será que vocês podem parar de brigar feito um casal de velhos?” perguntou Elston, dando risadinhas, antes de Abraxas se jogar no lugar vazio ao seu lado. Depois de alguns minutos, Tom sentou-se no seu outro lado.

“Algumas pessoas realmente acreditam nisso, não é? Que nós somos um casal de velhos.” O loiro deu de ombros antes de colocar um braço ao redor dos ombros do amigo.

“Por que isso não me surpreende?”

“Porque você é uma menina muito inteligente, Srta. Elston.” Abraxas sorriu e depois inclinou-se na direção de Hermione até que conseguisse dar um beijo rápido nos lábios desta, o que resultou em uma grifinória de olhos arregalados.

“Ele faz isso o tempo todo,” disse Riddle.

“Não com você. Eu prezo a minha vida.”

“Ele anda por ai beijando as pessoas?” a garota perguntou, arqueando uma sobrancelha. “Oh, ou você simplesmente não gosta de beijar cobras?”

Malfoy virou-se para olhar o outro bruxo, encarando-o por um bom tempo antes de repetir o que havia feito com Hermione: um beijo rápido nos lábios do outro, que também resultou em um Tom de olhos arregalados.

“Ele é mais quentinho que uma cobra, Srta. Elston. E cobras não ficam coradas,” ele falou, quase cantarolando as palavras, enquanto cutucava a bochecha de Tom, usando o outro braço para trazê-lo mais para perto de si.

Riddle respirou fundo ao sentir o lado do corpo do outro sonseirno contra si. Abraxas era o tipo de pessoa que necessitava de contato físico, mas sabia que era melhor não fazer aquilo com Tom. Talvez fosse o efeito do álcool em sua cabeça, mas o rapaz estava quase odiando o fato de que aquele contato estava sendo quase confortável. O abraço de Malfoy – era um abraço? – era quente e confortável, mas talvez fosse só a vodka russa.

“Não vai mais beber?” perguntou Malfoy, indicando o último copo que ainda estava cheio, o de Hermione.

“Acho melhor ter alguém sóbrio aqui.”

“Não estamos bêbados! Bom... Tom não está. Tom vai estar bêbado quando começar a recitar poesia, até lá ele tem completo controle sobre si mesmo.”

***

Hogwarts era um lugar lindo. Grande, mágico e lindo eram as três palavaras que Tom usava para descrever o castelo. Desde as estátuas até os tetos encantados, das escadas que se mexiam até os labirintos de passagens secretas, tudo era fascinante, mas o que ele mais gostava eram os quadros que se mexiam. Eles eram incrivelmente interessantes, apesar de que eles faziam com que ele se perguntasse de que tipo de arte ele gostava mais: as pinturas mágicas que se mexiam e falavam ou as trouxas, estáticas? Apesar de interessantes, Tom não podia deixar de pensar que o fato de as pinturas se mexerem apagava um pouco da identidade do artista por detrás delas, deixando apenas a identidade de quem ou o que era representado... E, como alguém que cresceu ao lado de uma artista, ele sabia muito bem que o toque do pintor era uma coisa muito importante para a arte.

Mas ele gostava dos quadros de qualquer jeito, pois elas tinham muitas histórias para contar. Oh, e também porque elas podiam vê-lo e ouvi-lo. Helena explicara que era pelo fato deles também serem coisas penduradas entre a vida e a morte, naquela vida falsa criada pela magia. A magia os prendia ali, já que eles eram apenas sombras da vida, e permitia que eles se comunicassem.

Não que Tom falasse muito com os quadros. Ele ainda se sentia perdido no castelo e evitava falar com outros fantasmas ou pinturas, ficando perto de Helena sempre que podia. Exceto quando ela ia atrás de Peeves, naqueles momentos ele se permitia ficar vagando pelo castelo, descobrindo novos lugares e coisas que o faziam ficar ainda mais fascinado.

Naquele dia, por exemplo, ele esbarrara em quatro retratos que lhe chamaram a atenção. Ou talvez eles esbarraram nele, já que ele não estava prestando a menor atenção quando ouviu uma voz o chamando. Quando se virou, viu um homem de cabelos e barba vermelhos o chamando.

“Nunca o vi por aqui,” disse o homem ruivo, coçando a barba e estreitando os olhos para ele. “E quase todo mundo no castelo vem nos ver.”

“A maioria são crianças que fogem de nós antes de podermos falar...” disse outro homem com rosto magro, cabelos escuros e olhos verdes.

“Por favor, Salazar,” disse outro retrato, uma mulher com uma expressão gentil. “Você e Row os assustam.”

“Eu não assusto meus alunos.” Dessa vez foi outra mulher que falou, antes de erguer os olhos dos pergaminhos que tinha em mãos para olhar Tom. Ela tinha um rosto sério e cabelos longos e escuros, mas quando olhou o homem, a expressão de seriedade pareceu tremer um pouco em seu rosto. Sobre a sua cabeça havia uma tiara delicada que faria Mary Riddle passar dias tentando desenhá-la. “Você não é um bruxo...”

Tudo que Riddle podia imaginar era que aqueles eram os fundadores de Hogwarts. Helena havia lhe contado sobre eles, apesar de ter focado em sua mãe e Helga Hufflepuff. Mas Tom imediatamente reconheceu Rowena Ravenclaw ali, apesar de achar que o diadema entregava o jogo. Se aquela era Ravenclaw, a outra mulher era Hufflepuff. Quanto aos homens, o que se chamava Salazar só podia ser Salazar Slytherin – de novo, a cobra que ele tinha enroscada em seus dedos ajudava a descobrir isso – e o outro, Godric Gryffindor.

“Então?” Slytherin pigarreou.

“Ahm, não, não sou bruxo,” respondeu Riddle em voz baixa logo antes de uma menina vestindo uma capa preta e azul entrar correndo no corredor onde se encontrava, atravessando-o direto. O homem fez uma careta ao ver a aluna continuar o seu caminho sem nem ao menos notá-lo.

“Um trouxa?” Salazar falou, franzindo o cenho enquanto se inclinava para a frente, como se quisesse sair de sua moldura. “Um trouxa dentro de Hogwarts? O que está acontecendo com essa escola? Pensei que isso fosse um lugar para ficar protegido dessa gente.”

“Nós já tivemos um trouxa aqui dentro, Sal,” disse Hufflepuff, antes de pressionar os lábios um contra o outro e olhar Rowena.

“Ele era uma exceção. Uma exceção que não deveria ter existido, na minha opinião, mas...” murmurou Salazar, estreitando os olhos. “Você, senhor, não é bem vindo aqui.”

“Eu sei,” murmurou Tom. “Estou tentando não incomodar ninguém. Helena é a única-“

“Helena?” Se fosse possível, Ravenclaw teria saído de sua moldura, logo antes de notar a sua reação, limpar a garganta e voltar a ficar séria, ou ao menos tentar. Ela parecia quase preocupada. “Helena Ravenclaw?”

“Sim.” Tom inclinou a cabeça um pouco para o lado enquanto via a bruxa fechar os dedos com força ao redor de um pingente que tinha em sua corrente.

“Como pode ver, Salazar, ele está acompanhado da minha filha. Eu confio no julgamento dela quanto a quem ela aceita ao seu redor,” disse Ravenclaw, endireitando as costas e respirando fundo. “Qual o seu nome?”

“Tom Riddle.”

“Tom...?” Rowena repetiu baixinho, quase como se perdesse um pouco do ar.

“Tom Riddle?” murmurou Helga, olhando para a outra mulher outra vez. “Eu já ouvi esse nome antes.”

“O jovenzinho que descobriu que o aluno que estava se passando por herdeiro de Salazar,” respondeu Godric.

“O jovem que descobriu que um dos seus leões estava se passando por meu herdeiro para poder criar bichos estranhos debaixo da cama,” completou Salazar.

“Oh, isso é adorável!” Hufflepuff sorriu largo. “Digo... Você estar na sua situação não é ador´åvel, mas o fato de estar em Hogwarts é.”

“Claro que é adorável, Helga,” disse Slytherin enquanto um sorriso frouxo aparecia em seus lábios. “É adorável ter um trouxa em um lugar que foi feito para nos proteger de gente que quer nos matar... Essa gente sendo, bem, trouxas.”

“Salazar.”

“Oh, Helga... Pelo menos ele está morto.” O bruxo deu de ombros, olhando para Tom outra vez. “E ele não parece muito ameaçador, mesmo se estivesse vivo. Nós sempre tivemos sorte com os trouxas que recebemos aqui.” Ele respirou fundo. “Os dois foram coisinhas assustadas... Deveria ter achado um lugar melhor para passar a sua morte se você tem medo de magia. Na verdade, é muito azar acabar como fantasma quando se tem medo de magia. Ser um fantasma é estar em contato com magia. Que sorte você tem, homem-“

“Salazar.” Dessa vez fora Rowena quem chamara a atenção do bruxo. Ela o encarava séria e com os lábios pressionados um contra o outro com força.

“Eu deveria ir-“ Riddle começou a falar, mas se interrompeu quando outra pessoa entrou no corredor e, de novo, o atravessou sem ver. O homem encolheu os ombros, apesar de não sentir nada, antes de se virar para ver o jovem que havia passado por ele fazer a mesma coisa, como se tivesse sentido um arrepio.

“Minha tia diz que nós atravessamos a morte quando sentimos esses arrepios esquisitos,” disse outro rapaz que acompanhava aquele que o atravessara. Ele tinha cabelos loiros e usava vestes bonitas.

“Sentimos isso quando atravessamos fantasmas,” disse a garota que os acompanhava. Ela e o loiro pareciam ter saído de uma festa a julgar pelas suas roupas.

“Sua tia é louca, Brax,” disse o outro jovem e a única coisa que Tom queria poder fazer era sumir ou morrer de verdade. Aquela sensação, aquela necessidade de desaparecer, surgia sempre que via seu filho. Não importava se apenas o via por alguns segundos ou se passava a noite observando-o em seu dormitório, aquele sentimento de culpa e vergonha sempre tomava conta de si e fazia com que ele quisesse sumir do mundo. “E como pode ver, Elston, não tem nenhum fantasma por aqui.”

“Ele sentiu você.” Foi a voz de Rowena que o tirou de seus pensamentos. A mulher tinha os olhos fixos nele e eles pareciam brilhar com uma curiosidade que já havia visto nos olhos de seu pai. “Ele não deveria, mas ele sentiu. Sua magia não é forte o suficiente para isso...”

“O garoto é filho dele. A magia dele foi passada para o rapaz, por isso-“

“Helena não podia sentir o pai dela, Salazar,” Ravenclaw o interrompeu e o bruxo pareceu não entender direito o que ela havia falado. “Mais alguém sabe...?”

“Eu realmente preciso ir, Srta. Ravenclaw,” disse Tom. Era horrível perceber que até morto aquele sentimento de nervosimo horrível parecia assombrá-lo, aquela agonia que sentia quando achava que estava acuado. “Me desculpe, eu não posso ajudá-la... Você deveria perguntar a Helena. Ela é uma bruxa, ela entende tudo isso melhor do que eu.”

“Você o assustou, Sal!” Helga sussurrou.

“Não é minha culpa que o trouxa tem menos coragem que um verme!”

“Salazar, por favor,” sibilou Ravenclaw, estreitando os olhos para o outro fundador, antes de voltar a olhar o homem. “Pode me responder uma pergunta antes de ir, Sr. Riddle?” Tom respirou fundo – ou teria feito isso se estivesse vivo – e concordou com a cabeça. “Sou maior que Deus e pior que o demônio. Os pobres me têm, os ricos precisam de mim e, se você me comer, você irá morrer. Quem sou eu?”

O homem inclinou a cabeça para o lado. Um dos fundadores de Hogwarts havia acabado de impedir que ele se retirasse para lhe fazer uma adivinha? Era isso mesmo?”

“Não sou nada,” ele responder quase que automaticamente.

“Eu corro quente e frio; eu pareço azul, mas sou vermelho. O que sou eu?” perguntou Ravenclaw outra vez.

“Quente e frio... Parece azul, mas é vermelho... Sangue.”

“Faça uma.”

“Me desculpe?”

“Faça uma. Pergunte uma para mim.”

“Oh, por favor,” resmungou Slytherin.

“Quieto, Salazar,” disse Gryffindor, que ficara em silêncio até agora.

Tom olhou em volta, tentando achar Helena por perto, mas não vendo nada. Olhando para os retratos outra vez, o homem tentou lembrar-se de uma adivinha, mas tudo parecia sumir de sua cabeça naquele momento.

“Esta coisa todas as coisas devora: pássaros, animais, árvores e flores. Rilha ferro, morde aço. Transforma pedras duras em farinha; chacina reis, arruína cidades, e derruba montanhas,” ele recitou a adivinha que lhe viera em mente, lembrando-se de um de seus livros.

Ravenclaw franziu o cenho e moveu os lábios como se repetindo a charada para si mesma. Ela ficou desse jeito por um minuto ou dois, antes de seus olhos brilharem com satisfação e os cantos de seus lábios se curvarem em um sorriso.

“É o tempo,” ela declarou e, então, acenou com a mão para ele perguntar outra coisa.

“O que cresce sem a chuva?”

“Uma pedra.” O sorriso de Rowena se alargou e, antes que ela pudesse pedir, ele já perguntava outra charada:

“O que queima e nunca acaba?” ele perguntou, e acrescentou: “O que pode lamentar, chorar sem lágrimas?”

“Fogomaldito pode queimar e nunca acabar,” disse Godric, sorrindo triunfante.

“Ele é um trouxa, Godric, não conhece Fogomaldito,” disse Ravenclaw. “Amor. Amor pode queimar e nunca acabar. Quanto ao que chora sem lágrimas... O que lamenta, chora sem lágrimas... O coração!”

“Exato,” murmurou Riddle, permitindo a si mesmo sorrir pequeno para a mulher.

“Oh, ai está você! Estava lhe procurando por toda-“ Tom ouviu a voz conhecida de Helena Ravenclaw e virou-se para ver o fantasma flutuando na outra ponta do corredor, o rosto dela ficando um pouco mais tenso ao ver os retratos na parede. Ele ergueu o olhar para ver Slytherin voltar a falar com a cobra que agora se enroscava em seus ombros, Helga e Godric começarem a falar entre si e o rosto de Rowena ficar um pouco tenso também, antes de ela pigarrear e deixar a sua moldura. “Você a conheceu.”

“É só o retrato dela.”

“É ai que você se engana,” disse a Dama Cinzenta enquanto ele se aproximava dela. “Sim, é um retrato, mas não apenas um retrato. Lembra do Chapéu Seletor? Ele tem a essência dos fundadores, é por isso que ele consegue selecionar os alunos para as casas. A magia deles está naquele chapéu; logo, parte deles está lá. Um objeto encantado sempre terá parte do bruxo ou bruxa nele. Às vezes os quadros tem a essência dos bruxos que eles representam,” ela explicou, enquanto passavam na frente de um quadro com um cavaleiro baixinho sentado em cima de um pônei gordo no meio de um campo de flores. A garota apontou para ele. “Sir Cadogan é um exemplo de uma pintura ‘sem alma’. Ele foi pintado depois da morte do Sir Cadogan original... Os fundadores foram pintados enquanto eles ainda viviam e foram eles quem encantaram seus quadros.”

“Então é como se eu estivesse falando com Rowena Ravenclaw?” perguntou Riddle.

“Sim. O retrato tem as memórias dela, os sentimentos dela. É ela, presa em uma moldura.”

“Parece um tanto triste.”

A Dama Cinzenta riu baixinho sacudindo a cabeça e fazendo o seu cabelo flutuar ao redor de sua cabeça, antes de abrir a boca outra vez:

“E não somos todos um tanto tristes? Quadros e fantasmas. No fundo, somos apenas almas azaradas que acabaram presas onde não deviam estar.”

***

A Torre de Astronomia estava gelada, mas a vista dos terrenos era bonita o suficiente para fazer com que os três ignorassem o frio, apesar de que Tom achava que a falta de frio talvez se devesse à vodka. De qualquer forma, ele estava agora sentado no chão da torre, brincando com os próprios dedos enquanto ouvia Abraxas recitar ‘O Captain, my Captain’ alto, gesticulando feito um louco enquanto andava para lá e para cá. Hermione parecia simplesmente entretida demais para questionar qualquer coisa depois que ouviu o próprio Riddle ficar repetindo ‘A Flauta-Vértebra’ com as palavras se enroscando em sua língua e tropeçando em seus dentes de vez em quando.

“Agora é a sua vez,” disse Abraxas, quando voltou a se sentar ao lado deles.

“Não. Eu não sou como vocês, não sei nada de cabeça,” disse Hermione.

“Nada nadinha?” Malfoy fez um biquinho enquanto olhava a garota.

“Nada nadinha.”

“Então fica nos devendo isso,” disse Tom, rindo baixo.

“Sim, temos que cobrar isso dela um dia, Tommy.” O loiro riu, antes de se esticar para encostar as costas na parede. “Aliás... Tommy, lembra que me pediu para ver as coisas sobre Ravenclaw? Ah, Tom tem uma queda pela Dama Cinzenta, sabia disso?”

“Não tenho!”

“Tem sim! Ele está sempre atrás da Dama e ela realmente gosta dele. Não posso julgá-lo nisso, Tommy. A Srta. Ravenclaw parece ter sido uma moça muito bonita quando viva. Mas então!” O loiro pigarreou. “Voltando ao assunto... Achei um camarada que estuda a vida de Ravenclaw, mas ele não quis me emprestar as pesquisas... Ainda não publicou e tudo mais. Meu pai conhece a família dele e consegui falar com ele por coruja.” Malfoy se ajeitou um pouco melhor. “O marido dela, o marido de Rowena Ravenclaw e pai da Dama Cinzenta, era um trouxa. O nome dele... O nome dele era – oh, merda, eu sempre esqueço -... Didymus! Didymus Ravenclaw, se não me engano. Bom, é como aparece na maioria dos documentos históricos, principalmente do antigo Conselho Mágico. Mas é um nome falso-“

“Rowena Ravenclaw casou com um trouxa?” perguntou Hermione, franzindo o cenho. “E a Dama Cinzenta é filha dela? Isso não está em Hogwarts, Uma História.”

“Claro que não. Aquele livro é uma versão resumida da história de Hogwarts. Tommy amava aquele livro quando mais novo, não é?”

“É bom para você aprender sobre o castelo, mas não sobre a história dos fundadores. Na verdade, não dá pra confiar muito em nada em relação a eles,” disse Riddle. “Nenhum livro é muito fiel a realidade. Eles todos mistificam demais a história.”

“Ainda não acredito que Ravenclaw se casou com um homem trouxa,” disse Elston, cruzando os braços em frente ao peito. “Há duas representações mais comuns dela: uma bruxa que parece mais uma princesa e que só se casaria com um puro-sangue nobre – ou pelo menos um mestiço – ou uma mulher que não se preocuparia em se casar. Sem contar que Hogwarts começou como um abrigo para proteger bruxos e bruxas jovens de serem perseguidos por trouxas. Por que eles colocariam um trouxa dentro do castelo?”

“Não é você que é a defensora dos nascidos trouxas, mestiços, elfos-domésticos e coisas desse tipo?” perguntou Tom, fazendo uma careta.

“Eu consigo entender que naquela época as coisas eram diferentes. Eu estudei História da Magia, Riddle, sei que trouxas na época dos fundadores eram tão ignorantes quanto alguns bruxos conseguem ser hoje em dia. A diferença é que eles evoluíram disso enquanto alguns bruxos continuaram na mesma coisa,” ela respondeu, empinando o nariz. “Durante a fundação de Hogwarts, já havia algumas caças as bruxas, por isso não entendo a razão de trazerem um trouxa para o castelo.”

“É por isso que Ravenclaw mudou o nome dele,” disse Malfoy. “Era mais fácil para os alunos e todo o resto aceitar um aborto do que um trouxa. E um nome trouxa como o que ele tinha junto com a falta de magia deixava tudo muito na cara.”

“O que houve com ele?”

“O que acontece com todo mundo, Srta. Elston: ele morreu. O cara viveu uma vida boa aqui no castelo e morreu antes de Rowena e Helena. Oh, eu preciso falar de novo com o Sr. Wright e ver se ele tem mais detalhes dessas coisas.” O rapaz virou-se para Riddle. “Olha só as coisas que faço por você.”

Malfoy respirou fundo e encostou-se na parede. Tom fez a mesma coisa. Para ele, ainda parecia uma razão um tanto boba para Helena ajudar um trouxa morto desconhecido, mas sabe-se lá o que se passava na cabeça da garota. Ela disse que conhecia outra pessoa que havia ficado presa naquela mesma situação... Talvez fosse o pai dela? Aquilo explicaria algumas coisas, mas... Não, ainda não fazia sentido. Seu pai e Ravenclaw podiam compartilhar do mesmo status de sangue, mas para um homem casar-se com Rowena Ravenclaw ele deveria ser um grande homem, trouxa ou não. E seu pai não era nada disso.

“Cada coisa que você descobre depois de tantos anos nesse colégio.” Malfoy suspirou. “Nunca que eu iria pensar que o marido de Rowena Ravenclaw era um trouxa... Muito menos que ele seu xará, Tommy.”

“O que?”

“Didymus Ravenclaw era, na realidade, Thomas Ravenclaw... Que na verdade era só Thomas, sem sobrenome algum. Ele pegou o sobrenome de Rowena.” O rapaz respirou fundo, dando um tapinha no ombro do amigo. “Sempre tem um Tom na jogada.”


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo é enorme e tem algumas muitas coisas para explicar:

1) O CAPTAIN, MY CAPTAIN é um poema do Walt Whitman que, por mim, é o poema do Abraxas e ponto. Eu nunca achei uma tradução dele, mas vale a pena dar uma olhada nela em inglês, que pode ser encontrada no Google sem problemas.

2) A FLAUTA-VÉRTEBRA do Vladimir Maiakovsky é, pra mim, o poema dos Riddle. Foi escrito originalmente em russo e o que te de tradução até hoje em português é só o prólogo (acho que tem uns pedaços do resto perdidos por ai, mas eu não confio se não souber quem traduziu) e também dá pra achar fácil no Google. Ele é lindo e maravilhoso e asgasd Maiakvsoky, meu bby lindo.

3) DIDYMUS/THOMAS RAVENCLAW: tem tanta, mas tanta coisa para falar desse homem que eu vou deixar para falar em uma outra fic... Eu escrevi uma fic só sobre ele, uma oneshot (meio longa), mas que logo vou postar, vou tentar postar ainda hoje, então se vocês verem outra fic minha sendo postada hoje e ela tiver a Rowena como personagem, por favor, leiam porque é parte do plot de Koly, ok? Lá vai ter - se não na fic, mas nas notas - explicações para quem ele era, porque ele estava em Hogwarts, qual a relação dele com o Tom Sr, a razão do nome que escolheram para ele depois, etc. [EDIT 2016: minha fic 'A Águia e a Raposa' é exatamente sobre Thomas e Rowena Ravenclaw, é uma long, caso queiram dar uma olhada]

3) AS CHARADAS DO TOM:

a) "“Esta coisa todas as coisas devora: pássaros, animais, árvores e flores. Rilha ferro, morde aço. Transforma pedras duras em farinha; chacina reis, arruína cidades, e derruba montanhas" - O Hobbit, J.R.R. Tolkien, foi publicado em 1939, Tom Riddle Sr. leu e era quase um fanboy de Tolkien, do tipo que saberia fazer um Smaug perfeito na sua frente sem precisar olhar o livro porque ele tem as falas decoradas na cabeça.

b) "O que cresce sem chuva? O que queima e nunca acaba? O que pode lamentar, chorar sem lágrimas?" - isso é parte de uma música hebraica-russa chamada Tumbalalaika que vocês deveriam ouvir porque é linda. Ela conta a história de rapaz que cria charadas para fazer para uma moça para ver se ela é digna de se casar com ele e ela, toda fuck yeah, acerta todas e ainda chama ele de 'garoto tolo'. Sério, ouçam, é linda demais.


4) SEMPRE TEM UM TOM NA JOGADA: uma vez eu falei isso pra uma amiga, porque eu tava de boa lendo O Grande Gatsby e BROTA um Tom lá no meio. Sempre tem um Tom. Sempre.

Eu acho que ia colocar mais coisa, mas eu acabei de ler uma fic da Thams (OI, THAMS, EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ LENDO ISSO AQUI) e estou emocionalmente abalada. Vão lá ler as coisas dela, são lindsa (brassclaw aqui no Nyah). Mas vou lá arrumar a fic sobre o pai da Helena Ravenclaw pra postar daqui a pouco...



Ah, acho que o próximo capítulo vai demorar mais porque ele ainda não está nem escrito. Até aqui eles já estavam escritos, só precisavam da tradução. Muito obrigado quem deixou reviews até agora e, por favor, digam o que acharam, sim?

Feliz 2014 para vocês.
Vou ali chorar um pouco porque meus feels ainda estão abalados (sua culpa, Thams, sua culpa... Sua e desses dois personagens from hell).