Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 22
Die Walküre




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“Por que você não pode me escutar pelo menos por um segundo!?”

“Porque você é o meu subconsciente sendo idiota!”

Tom odiava o jeito como sua voz ecoava naquele lugar. Na verdade, Tom odiava aquele lugar como um todo. Ele odiava a luz, os móveis bonitos, a atmosfera quase que de sonho e, acima de tudo, ele odiava a única outra pessoa ali além de si mesmo. Sendo honesto, o homem era a principal razão para ele odiar tudo. Se não fosse por seu pai – ou a cópia que seus sonhos criaram dele -, Riddle quase teria gostado daquela sala: ele gostava da organização e da quietude dali, no fim das contas.

“Eu não sou!”

“Então é ainda pior!” disse Tom, rindo alto ao ver como o rosto do trouxa ficou tenso com irritação. “Se você não é o meu subconsciente, então você é um trouxa nojento. Acredite, é muito melhor você ser parte da minha mente, muito mais fácil para eu o tolerar. Caso contrário, eu já o teria matado agora...”

As sobrancelhas do homem se franziram e ele pareceu quase desesperado ali. Riddle teve que se conter para não rir de novo.

“Você não pode matar alguém duas vezes,” o trouxa murmurou, sua voz finalmente perdendo a tonalidade forte de antes.

“Podemos ver isso. O sonho é meu, posso matar quem eu quiser dentro dele,” ele falou, virando-se e andando até a lareira, observando as fotografias ali. “Não posso matá-los de novo, mas posso matar você outra vez.” Ele apontou para uma foto de um casal de jovens noivos, antes de erguer os olhos para ver a mandíbula do homem parecer ficar tensa. “Você deveria aprender a esconder as suas fraquezas, pai. Posso lhe garantir que não era a minha intenção matá-los até você começar a entrar em pânico quando viu a minha varinha. Depois daquilo, foi muito tentador... Machucá-los para machucar você.”

“Tom, por favor...” O homem deu um passo na sua direção, mas ainda parecia que havia algo o segurando. Medo, muito provavelmente. “Eu não peço muito. Só não vá até Hogsmead... Não é como se você fosse lá muito...”

“Para alguém que deixou o filho apodrecendo em um orfanato sujo por tantos anos, sim, você está pedindo muito.” Tom deu de ombros e suspirou, dramaticamente. “Oh, por favor, por favor, por favor... Você gosta de implorar, não? Implorar para não machucar os seus pais, implorar para que eu não o matasse, implorar para que eu não vá até Hogsmead. Estou começando a me irritar isso. Deixe-me pedir um favor,” disse Tom, estalando a língua. “Me deixe em paz. Eu já pedi isso, mas você não parece entender. Volte para o canto escuro da minha mente da onde você saiu e me deixe em paz.”

“Tom...”

O garoto suspirou. Ele estava realmente cansado de todos os ‘Toms’ e ‘por favor’ e os olhares tristes do trouxa. Era incrivelmente irritante e ele estava tentado a puxar a sua varinha e lançar um Cruciatus nele apenas para ver se conseguiria parar com aquelas frescuras e olhos cheios de lágrimas.

“Estou cansado de você e de suas súplicas, Sr. Riddle,” disse Tom, enfiando a mão no bolso e tirando a varinha dali. Um sorriso repuxou o canto de seus l´åbios quando ele viu o rosto do homem ficar mais tenso assim que ele viu o objeto. “Fico me perguntando se repetir o que fiz em 1943 vai fazer meu subconsciente entender que eu não quero você andando para lá e para cá nos meus sonhos.” Ele girou a varinha nos dedos. “Parte dos meus sonhos ou não, sua reação ainda é a mesma. Você sabe que deve ter medo disso. Isso é bom, mostra que não é tão ignorante quanto eu pensava. Você sabe que deve temer magia, sabe que está abaixo disso.” Tom olhou o pai dos pés a cabeça. O trouxa estava prestes a dar um passo para trás; suas mãos estavam tremendo e parecia que estava ao ponto de começar a chorar. Bom, não seria uma surpresa. “Não se preocupe, é só um sonho.” O rapaz sorriu, erguendo a varinha e a apontando para o outro. “Cruci-“

Tom! Pelo amor da Deusa, abra essa porta!”

Tom piscou e, de repente, não estava mais na casa dos Riddle. Ele reconheceu o seu quarto no dormitório dos monitores, assim como reconheceu a voz gritando do outro lado da porta. Abraxas. Abraxas quase derrubando a sua porta. Resmungando, o bruxo levantou-se da cama, sentindo um arrepio correr pela sua coluna. Encolhendo-se um pouco, ele foi até a porta, abrindo-a para ver Malfoy ali.

“ O que?”

“Pensei que tivesse morrido,” disse Abraxas, entrando no quarto. “Já estou batendo faz quinze minutos.”

“E como entrou aqui?” resmungou Tom, coçando a parte de trás do pescoçø.

“Irritei o retrato da entrada,” ele falou, como se fosse óbvio. “Meia hora para convencê-lo de me deixar entrar. Ele desistiu de me segurar ali quando perguntei se Ivan, o Terrível, beijava bem.”

“O que...?”

“Lembra do bruxo que Merrythought falou na aula dela? O amante do Ivan e também o quadro do dormitório dos monitores? Então, eu estava curioso e perguntei. Ele não gostou e decidiu que não queria mais falar comigo.”

Riddle suspirou, forçando-se a não rir.

“E qual a razão para você querer tanto entrar aqui?” perguntou Tom, sentando-se na beirada da cama enquanto via Malfoy andar ao redor do quarto.

“Fim de semana de Hogsmead, meu caro,” disse Abraxas, sorrindo. “E você vai vir hoje. Deixa o estudo de lado por algumas horas e vamos beber Cerveja Amanteigada. Você vai ter tempo de colocar isso em dia no feriado, mas hoje é a última visita antes das férias...”

Riddle gemeu, sacudindo a cabeça. Apesar de achar Hogsmead um lugar interessante, Tom não gostava de visitar a vila, pois ele era sempre aquela pessoa que tinha que se conter para não comprar nada enquanto o resto de seus colegas enchiam os bolsos com doces da Dedos de Mel ou tomando dois, três copos de Cerveja Amanteigada. Ele podia comprar um doce ou outro e uma cerveja, mas ele preferia guardar o seu dinheiro para livros, pergaminhos, penas e tinta na Tomes & Scrolls.

“Preciso terminar a redação de Dumbledore.”

“A redação pode esperar até de noite,” disse o outro sonserino. “Seu corpo, no entanto, precisa de parar um pouco. Estou falando sério agora, Tom, você precisa parar por um momento. Desde o começo do ano, você nunca sai de Hogwarts e não faz nada além de estudar. Você até faltou as reuniões do Clube do Slug! Você nunca falta!”

“Estamos no ano dos NIEMs, Abraxas. Slughorn entende.”

“Como se você precisasse de tudo isso para conseguir uma boa nota,” resmundou Abraxas.

“Preciso me garantir do que ficar choramingando depois de uma nota ruim,” disse Riddle, observando o colega, que agora estava olhando os poucos livros que tinha em sua estante. Havia alguns livros trouxas ali, mas era Malfoy... Tom sempre podia dizer que se interessava por literatura trouxa e Malfoy acreditaria. Enquanto observava Abraxas deslizar os dedos pela espinha de um dos livros, o rapaz franziu o cenho enquanto lembrava-se de seu sonho. O trouxa havia falado para ele não ir até Hogsmead e ele estava fazendo exatamente o que ele queria. Tom fechou os dedos, sentindo suas unhas se enfiarem na pele de sua palma, antes de desviar o olhar de Abraxas. “Mas talvez você esteja certo. Eu talvez precise de algumas horas longe de Transfiguração.”

“O que?” O loiro virou-se e o olhou de olhos arregalados. Malfoy o conhecia o suficiente para saber que não havia esperança de tirá-lo daquele quarto. “Você vem? Sério?”

“Sim.” Tom se levantou, aproximando-se do guarda-roupas e o abrindo para pegar algumas roupas. Ele escolheu com cuidado o uniforme que parecia mais novo. Se alguém prestasse muita atenção, perceberia que aquele não era um uniforme feito por Madame Malkin: o tecido era mais grosseiro, os botões eram um pouco diferente, a cobra sonserina era de um verde um pouco mais escuro... Mas ninguém precisava saber que aquilo era um trabalho feito por Martha e pela Srta. Connick. “Mas não vou ficar muito.”

“Pelo menos você vai!” Abraxas riu, indo até o amigo e lhe dando um tapinha amigável no ombro, antes de ir até a porta. “Canopus e Atlas já estão lá embaixo. Acho que vamos indo para eles não ficarem reclamando... Te vejo no Três Vassouras?”

“Certo.”

Riddle suspirou quando o outro saiu de seu quarto. Ele não queria ir. Ele precisava terminar a redação de Dumbledore e ler os papéis sobre os usos do sangue de salamandra que Slughorn lhe passara. Mas ele também não queria ficar e dar ao seu subconsciente aquela satisfação de tê-lo convencido de algo. O rapaz olhou o uniforme em suas mãos, sentindo uma sensação estranha de frio em seu estômago. Ele odiava aquilo, mas ignorou, antes de ir se arrumar.

***

“Preciso comprar algo para os meus pais,” disse Minerva enquanto elas desciam a rua principal de Hogsmead. “Papai gosta de doces da Dedos de Mel, então acho que vou levar alguns para ele, mas minha mãe...”

“Você vai achar algo para ela.” Hermione sorriu para a menina ao seu lado, antes de puxar a capa para mais perto de seu corpo. A aproximação do feriado de fim do ano fez com que ela percebesse o quão rápido o tempo estava passando. E aquilo a assustou ainda mais. Talvez fosse a única razão para ter ido até Hogsmead naquele dia: tentar se distrair um pouco.

“Oh, queria que você pudesse passar o fim do ano conosco. Robert e Malcom iriam adorar ter visitas, mas meu pai gosta de passar as festas só com a família.” McGonagall suspirou. “Mas você vai gostar de Hogwarts no feriado. Já viu como está lindo toda decorada para o Natal? E dizem que Slughorn dá umas festas muito boas de fim de ano, melhores que o Clube do Slug.”

“Clube do Slug?” perguntou Hermione, tentando soar convincente.

“É um grupinho de alunos que o Professor Slughorn escolhe todo o ano: alunos com boas notas, cujos pais são amigos dele, com futuros promissores... Estou nele, mas quase nunca vou nos encontros. A maioria dos outros membros são sonserinos e não são sonserinos legais como Dorea e Irina.”

“Riddle está lá?”

“Está brincando? Riddle é a jóia mais brilhante de Slughorn!” Ela riu alto. “Mas ouvi dizer que ele parou de ir nos encontros esse ano. Talvez sejam os NIEMs. Riddle pode não ser confiável, mas ele sabe o que é importante quando se trata do colégio. Oh, e Riddle sempre fica aqui nos feriados, então você vai ter boa companhia.”

Hermione revirou os olhos logo antes de ouvir alguém as chamando. Virando-se, ela viu um menino mais novo correndo até elas. Ele tinha cabelos escuros, olhos azuis escuros e um rosto sardento. Minerva suspirou enquanto ele se aproximava.

“Oi, Malcolm,” disse McGonagall. “Esse é meu irmão, Malcolm. Malcolm, essa é Hermione. Ela é nova em Hogwarts.”

“Ouvi falar dela.” O garoto olhou-a dos pés a cabeça, arrumando o cachecol da Corvinal em volta de seu pescoço. “Minnie, você precisa ajudar eu e Robert a achar um presente para mamãe e papai. Nós achamos um jogo de xadrez muito bom para o papai, mas não temos dinheiro suficiente...”

“Não acho que ele vá querer um xadrez bruxo, Malcolm,” sussurrou Minerva, inclinando-se para ficar mais perto do irmão. “Você sabe que ele não gosta muito disso.”

“Mas ele gosta de xadrez. E nós podemos tirar os encantamentos de qualquer forma.” O corvinal encolheu os ombros, antes de segurar a mão da irmã. “Por favor, Minnie!”

McGonagall suspirou, olhando para Malcolm, e então sorriu para ele.

“Certo, certo.” Ela olhou a amiga outra vez, sorrindo de leve. “Hermione, você pode ir procurando Charlus no Três Vassouras. Ele e Septimus já devem estar lá. Diga que já chego.”

A garota observou Minerva se afastar, praticamente sendo arrastada pelo irmão. Hermione não pôde não sorrir. Era estranho ver sua futura professora não agindo como a mulher severa que ela conhecia, mas ainda havia um resquício da Professora McGonagall ali e a garota sempre se sentia bem ao ver isso.

Ainda sorrindo, Hermione começou a passear pela rua principal do vilarejo. Ela queria dar uma olhada nas lojas para achar presentes para Minerva, Septimus e Charlus antes de encontrar com eles no Três Vassouras. Ela começou na Tomes & Scrolls e passou por várias outras lojas, mas todas eram muito caras para a sua condição como órfã, antes de alcançar a Dedos de Mel. Lá, Hermione comprou diversos doces para os amigos – e se surpreendeu ao ver que os doces ali eram bem diferentes dos de sua época, apesar de os sapos de chocolate, Feijõezinhos e bolos de caldeirão ainda estarem lá – e, depois de um tempo, saiu da loja com três pequenas caixas de doces.

Para a surpresa de Hermione, ela estava se sentindo estranhamente bem nos últimos dias. Sua varinha a estava obedecendo; a Amortentia estava ficando boa e Malfoy não tinha explodido nada ainda; Riddle estava se mostrando mais quieto do que esperava ao mesmo tempo que Abraxas se mostrava mais falante, mas não de um jeito ruim. Era bom se sentir relaxada por enquanto, pois sabia que tudo iria piorar quando os alunos deixassem o castelo para o final de ano. Uma vez sem ninguém em volta, ela voltaria a ficar sem ter o que fazer e, consequentemente, iria começar a sentir falta de seus amigos e de seus pais.

Tentando ignorar esses pensamentos, Hermione sacudiu a cabeça, apertando mais as caixas de doces contra si enquanto olhava melhor a vila. Ela poderia acreditar que estava na sua época original se não fossem os rostos diferentes que via pela rua. Em 1997, ela veria Pansy Parkinson conversando com Blaise Zabini perto do Três Vassouras e não Walburga Black e Wilde Rosier. Ela veria Colin Creevey caminhando pelo caminho que levava, futuramente, para a Casa dos Gritos para tirar fotos, e não Tom Riddle...

Hermione estreitou os olhos. Por que Riddle estava ali, de qualquer forma? Não era como se a Casa dos Gritos já estivesse ali para que pudesse ser observada pelos alunos. E, mesmo se estivesse, Riddle não iria ficar interessado por um casebre antigo... A única coisa fora dos limites da vila era a floresta coberta de neve. ‘Não ouse ir atrás dele,’ disse uma voz em sua cabeça. ‘Não brinque de detetive como Harry faz. Volte para o Três Vassouras e beba uma cerveja amanteigada.’

A garota mordeu o próprio lábio, antes de ir na direção de Riddle, lentamente. Sete anos ao lado de Harry foram uma influência terrível nela.

***

Apesar de odiar admitir isso, Tom sabia que devia ter ficado no castelo naquele dia. Estava frio e ventava muito e, se isso não fosse suficiente, ele sabia que havia algo muito errado quando viu seu pai o observando de perto do fim da rua principal de Hogsmead. Sim, seu pai trouxa. O pai trouxa que deveria estar morto estava ali no meio de uma vila bruxa, observando-o com uma expressão séria demais no rosto. Ou talvez fosse alguém parecido demais com ele. De qualquer jeito, aquilo o deixava desconfortável e fazia com que ele sentisse aquela raiva irritante começar a crescer dentro de si. Tom sabia que não devia deixar a irritação bagunçar os seus pensamentos, mas tudo o que fez no momento foi pegar a varinha e seguir o homem, que havia lhe dado as costas e começado a se afastar do centro de Hogsmead. Seria possível que ainda havia algum outro Riddle vivo? Mas, mesmo se fosse um Riddle – o rosto do homem era suficiente para Tom acreditar naquela possibilidade -, como ele poderia estar em Hogsmead? Poderia ele ser um bruxo? Não, claro que não! Os Riddle eram o tipo mais ordinário e sem graça de trouxas.

A cada passo que dava, mais e mais idéias apareciam em sua cabeça; e a cada nova idéia, sua raiva crescia mais e mais. Riddle nem percebeu o quanto se afastara da vila quando finalmente parou. Ele estreitou os olhos, encarando o homem que agora se virara para olhá-lo. Era o rosto de seu pai, mas, ao mesmo tempo, havia algo diferente ali. Tom Riddle Sr. tinha uma expressão mais suave e mais assustada em seu rosto, enquanto aquele homem tinha uma expressão mais severa. Ele parecia mais contido e forte do que seu pai.

“O que você está fazendo aqui?” Riddle sibilou, sentindo um arrepio correr pelas suas costas quando ele viu os lábios do homem se esticarem em um sorriso. “Não está satisfeito em me perturbar dentro da minha cabeça?”

“Mas ele está na sua cabeça, querido.”

Os olhos de Tom se arregalaram ao ver a figura de seu pai desaparecer em um piscar de olhos assim que outra voz ecoou atrás de si. E, assim que Tom Riddle Sr. desapareceu, pelo menos quatro figuras encapuzadas apareceram ao redor dele.

“O que...?” Riddle virou-se e sentiu o coração pular uma batida. Havia uma mulher parada a alguns metros dele. Ela tinha cabelos curtos e loiros, olhos azuis e um rosto forte e bonito que parecia familiar.

“Brunhild Jaeger,” murmurou Tom, apertando mais a varinha entre os dedos. “A Valquíria de Grindelwald.”

“Muito bom, Sr. Riddle!” O sorriso dela aumentou enquanto ela se aproximava. “Dez pontos para a Sonserina pelo seu conhecimento de assuntos relativos a guerra. Mas ainda assim... Cinco pontos da Sonserina pela sua falta de controle sobre a sua mente.”

“O que foi aquilo?” Ele apontou para o lugar onde vira seu pai.

“Uma ilusão. Foi um pouco difícil entrar na sua mente para fazer você vê-lo, mas acho que fiz um bom trabalho. Assim que o viu, suas defesas ficaram tão abaladas que consegui até esconder todos nós de sua visão quando chegou aqui.” Os outros riram baixo e Riddle sentiu outro arrepio. Ele olhou em volta, sentindo-se idiota por ter se afastado tanto de Hogsmead. “O papai é um ponto fraco, não é?”

“O que você quer?” Ele olhou em volta outra vez, vendo outro bruxo tirar o capuz. Tom reconheceu o rosto dele também. Não se lembrava do nome exatamente, mas lembrava de ter visto aquele sorriso torto e expressão zombeteira no Profeta Diário uma vez. Ele havia se envolvido no ataque de um grupo de refugiados franceses em Liverpool.

“Não é o que eu quero. É o que o meu mestre quer. Você chamou a atenção dele, Sr. Riddle,” disse a Valquíria. “Você e sua inteligência e seu sangue sujo.”

“Meu sangue não é sujo,” Tom sibilou por entre os dentes.

“Seu pai era um trouxa. Ele era sujo e a sujeira dele corre nas suas veias também,” ela falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. “Mas você tem sorte. Lord Grindelwald sabe reconhecer algo brilhante quando o vê. E ele está disposto a passar por cima do pequeno detalhe do seu pai se você aceitar se juntar a ele...”

O rapaz a encarou por um momento, antes de uma risada irromper de sua boca. Ela realmente achava que ele iria acreditar em algo tão idiota quanto aquilo? E, mesmo se fosse verdade, ele nunca se juntaria a alguém que estivesse perdendo. Porque era o que Grindelwald estava fazendo: indo para o fundo do poço e levando com ele todos os seus aliados.

“Me desculpe!” ele conseguiu falar, por entre os resquícios de sua risada. “Eu não queria... Oh Deus, me desculpe, mas você precisará dizer ao seu mestre que tenho que recusar esta oferta tão generosa.” Riddle respirou fundo, antes de ouvir um dos homens ao seu redor resmungar algo em outra língua e erguer a varinha para ele. Com um movimento rápido da própria vrinha, Tom conseguiu mandar o homem voando para longe, fazendo com que ele batesse em uma árvore e caísse sobre o chão coberto de neve. “Sério?”

A mulher o encarou, antes de suspirar. Antes que Tom pudesse ao menos pensar, algo o atingiu no peito e, logo, ele estava caído no chão com uma dor horrível em seu peito. Ele ouviu a voz da Valquíria falando com os outros e, então, outra voz apareceu ali. Ele reconheceu a voz e não sabia se devia agradecer a Deus ou amaldiçoá-lo.

“Fique longe dele!” Hermione Elston era realmente uma grifinória: sem cabeça e impulsiva. E ele pensava que ela era um pouco melhor que os outros, mas não, lá estava ela, presa na mesma armadilha que ele, apontando a sua varinha para uma das bruxas mais perigosas da Europa.

Brunhild nem se preocupou em ouvir a garota. Ela continuou se aproximando de Riddle e ele continuou a encarando quando ouviu os outros homens atirando feitiços em Hermione. Ele só podia ter esperança de que ela não fosse ser morta.

“Você não vai me matar,” ele falou assim que ela parou ao seu lado. “Você não vai me matar tão perto de Hogwarts.”

“Nós já matamos debaixo do nariz do Ministério, Sr. Riddle.” Ela sorriu e Tom decidiu que ela ficava ainda mais assustadora daquele ângulo. “Mas você está certo: não vou te matar.” A bruxa ajoelhou-se ao lado dele, colocando uma mão sobre o peito dele e o pressionando contra o chão. Riddle conseguia sentir a magia dela escapando dos dedos da mulher e o imobilizando ali. “Estamos muito interessados em um jovenzinho que tem a capacidade de matar o próprio pai,” ela sussurrou e os olhos de Tom se arregalaram. “Magia deixa assinaturas, Sr. Riddle, e qualquer um pode seguir um desses traços desde que saiba o que procura. O seu Ministério estava procurando um louco que odiava trouxa e logo encontraram Morfin Gaunt. Nós estávamos procurando por um bruxo brilhante que acreditava que trouxas são inferiores. Nós estávamos procurando por Lord Voldemort.”

Tom sentiu sua respiração falhar, mas forçou a si mesmo a não se entregar. Ele respirou fundo e franziu o cenho.

“Não tenho idéia do que está falando,” ele falou, tentando soar confuso. “Nunca conheci o meu pai. Ele deixou minha mãe antes que eu nascesse.”

“Ivan Karkaroff nos contou sobre Lord Voldemort depois de uma sessão de tortura muito interessante. Seja lá quem contou para ele sobre esse Bruxo das Trevas, deixou escapar que ele e Tom Riddle eram a mesma pessoa.” Riddle mordeu a parte interna das bochechas. Ele iria matar Lestrange... Não, matar não, claro, mas ele iria fazer com que seu colega ficasse morrendo de medo de sequer falar o seu nome. “Nós já havíamos ouvido falar sobre você. Seu Professor Slughorn não consegue calara boca sobre seus alunos favoritos. Ele fala disso para todos e ele o idolatra!” A Valquíria riu alto e o som de sua risada pareceu se misturar ao som dos feitiços ao fundo. “Lord Grindelwald não pode deixar outro Lorde das Trevas se erguer, ainda mais um Lorde das Trevas que é um sangue-ruim. Mas ele pode ter Lord Voldemort ao seu lado, entende?”

“Entendo,” Tom sussurrou, percebendo que, apesar de a magia da mulher prender seu torso no chão, seus braços ainda estavam livres. Mas, como eu disse, não tenho o menor interesse nessa parceria.” Assim que terminou de falar, o garoto moveu sua mão direita, imitando os movimentos que teria feito caso tivesse a varinha em mãos. Um feitiço roxo atingiu a bruxa no peito, empurrando-a para longe de si. Ela caiu a um metro dele e Riddle se levantou, correndo para onde vira sua varinha cair na neve. Uma vez que a apanhou, virou-se para olhar Hermione.

A grifinória conseguira dar ao seu oponente – o homem com o sorriso torto – um corte feio no rosto, mas agora estava sendo segurada por outro bruxo. A garota tentava chutar os homens, mas logo parou quando o Sorriso Torto estapeou-a no rosto, gritando algo em outra língua. Tom ergueu a varinha, apontando-a para o bruxo, mas antes que fizesse algo, alguma coisa atingiu-o nas costas e ele caiu no chão, gritando.

Riddle sentiu como se todo o seu corpo estivesse em chamas. Se tivesse um pouco mais de consciência no momento, ele teria lembrado o nome de todos os nervos pelos quais aquela sensação horrível passava. Ele podia ouvir Hermione gritando ao fundo, mas a voz dela ficou abafada pelos gritos que escapavam de sua própria boca e ecoavam em seus ouvidos.

“Agora, Sr. Riddle, pare com isso.” A voz de Brunhild foi seguida de um cutucão no lado de seu corpo, fazendo com que ele se contorcesse de dor. “Sua amiga está sendo mais obediente que o senhor.”

Ele ouviu um dos outros bruxos chamando e virou-se para ver Sorriso Torto segurando Hermione – um de seus braços estava ao redor do pescoço dela e sua varinha, apontada para este – enquanto outro bruxo segurava o braço esquerdo dela, com a manga da camisa rasgada. Ele não sabia o que deveria ver ali, mas a Valquíria pareceu gostar do que viu, pois seu rosto ficou radiante de curiosidade enquanto se aproximava da menina.

“Isso é lindo, querida,” ela falou, seus dedos correndo pela pele do antebraço de Elston. “Que idéia mais original!” Brunhild ficou em silêncio por um momento, antes de colocar a varinha no coldre em seu cinto. Hermione pareceu notar algo, pois logo começou a gritar quando a bruxa virou-se para Tom.

E então a Valquíria estava nele outra vez. A magia e o peso dela seguravam o seu corpo contra o chão enquanto ela se sentava sobre a sua cintura; a mão forte da mulher segurar o seu pulso esquerdo, forçando-o contra o chão. O garoto tentou usar a outra mão para afastá-la, mas logo sentiu seu outro braço ser preso no chão com magia também. Tom conseguia sentir sua própria magia fervilhar dentro de si, mas seu pânico fez com que fosse impossível para que ele a moldasse, deixando-o completamente inútil ali. Ele a olhou outra vez, vendo a bruxa tirar uma pequena adaga de dentro e seu casaco pesado. Aquela visão fez com que ele entrasse mais em pânico enquanto ele tentava ordenar sua magia a fazer algo, fazendo com que Riddle ignorasse completamente o feitiço que ela murmurou contra a lâmina, antes de colocá-la sob a sua manga, cortando o tecido até o seu cotovelo.

“Shh, não se preocupe, Sr. Riddle,” murmurou Brunhild, abaixando-se como se quisesse ver melhor o antebraço dele. “Não vou matá-lo. É só para lembrá-lo de quem você é... Oh, e também para você se lembrar de nós, claro. Você vai olhar isso e pensar na nossa proposta de novo.”

A Valquíria sorriu inocentemente, antes de colocar a ponta da adaga em sua pele, arrastando-a pelo seu antebraço. A maldição Cruciatus era horrível, sim, mas aquilo era agonizante. Era uma forma tão simples de machucar, tão trouxa, e ainda assim ele não podia fazer nada para escapar daquela queimação em sua pele. Além disso, o fato de ele ter sido submetido a uma maldição da tortura há poucos minutos deve ter ajudado a aumentar a sensibilidade de sua pele, fazendo com que aquilo doesse ainda mais. E ele estava gritando de novo – Tom tentava evitar aquilo, mas sua voz simplesmente escapava de sua garganta – e ele podia sentir traços quentes e molhados de lágrimas descendo pelos lados de seu rosto. Ele devia estar parecendo incrivelmente patético.

Depois do que pareceu uma eternidade, Brunhild afastou a adaga. Riddle virou o rosto, um tanto hesitante, e sentiu seu estômago embrulhar ao ver seu antebraço coberto de sangue. A mulher passou a mão por cima do machucado, limpando o sangue um pouco, e fazendo com que ele pudesse ver a forma dos cortes. E ele sentiu tudo dentro de si girar ainda mais ao entender a palavra marcada em sua pele.

“Só para você não esquecer o sangue-ruim que é.” A bruxa sorriu outra vez, antes de se abaixar e beijar de leve o corte, como uma mãe faria com a criança machucada. “E, como eu disse-“

Antes que ela pudesse continuar, outra voz ecoou ao redor deles. Riddle estava ocupado demais tentando organizar a própria cabeça para prestar atenção em quem era, mas logo o peso de Brunhild sumiu de cima de si e ele conseguiu rolar de barriga para baixo, antes de se ajoelhar e olhar em volta a procura de sua varinha. O rapaz pressionou o antebraço contra o seu abdômen tentando parar o sangramento, xingando alto enquanto ainda soluçava e gemia de dor, ainda sentindo um arrepio irritante passar por suas costas. Tom olhou para cima e viu Hermione no chão, procurando a sua varinha e... Aquela era Dorea Black? Sim... E a pequena Dorea Black havia acabado de apagar um homem adulto com uma boa maldição. E, logo atrás dela, Slughorn se aproximava correndo, junto de Merrythought e... A Srta. Marwick? É. Os professores gritavam para as duas sonserinas saírem dali.

“Você é um vermezinho chato e chorão, não é?” Tom ergueu o rosto para ver Sorriso Torto parado na sua frente. Brunhild duelava com Merrythought – e ali ele pode entender a razão da Profesora Merrythgouth ser tão boa com Defesas -, mas o homem não pareceu prestar muita atenção no que acontecia a sua volta. Seus olhos brilhavam com nojo enquanto ele olhava Tom. “Brunhild deveria ter cortado a sua língua fora ao invés de ficar desenhando no seu braço.”

E, antes que pudesse fazer algo, Riddle sentiu algo muito pesado bater em seu queixo. Sua visão clareou com o impacto e tudo a sua volta pareceu desaparecer. O duelo entre a Valquíria e Merrythought não estava mais ali, os feitiços explodindo por todos os lados, os gritos de Hermione, tudo sumiu e tudo o que ele podia ver era uma luz muito forte que veio junto com o som de seus dentes batendo uns contra os outros dentro de sua boca.

Quando sua visão voltou ao normal, Sorriso Torto já não estava mais perto de si e sim jogado no chão. Riddle passou a língua pela parte interna da boca, entrando em pânico ao sentir pequenos fragmentos duros ali dentro: dentes, dentes quebrados... Dentes quebrados no meio do gosto metálico de sangue. O garoto empurrou os pedacinhos de dentes para a frente da boca, cuspindo-os em sua mão e percebendo o quão difícil estava sendo para abrir a boca. Ele repetu isso até sentir que todos os pedaços sumiram de dentro de sua boca e então passou a língua pelos dentes. Os que haviam quebrado estavam no fundo da boca, o que era bom, mas ele também podia sentir como se a gengiva no lado direito da boca estivesse estranha, como se o osso debaixo desta tivesse movido.

“Tom, meu garoto!” Riddle sentiu alguém segurando os seus ombros logo antes de uma mão erguer o seu rosto. “Oh, pelas barbas de Merlin! Está tudo bem, meu garoto!” Slughorn, claro. Slughorn entrando em pânico enquanto tentava ajudá-lo.

“A Val-Valquíria-“ Tom gaguejou, olhando em volta. Merrythought estava cuidando de Hermione e o Professor Toulson estava chegando no lugar.

“Ela já se foi, Tom, não se preocupe.” O bruxo mais velho olhou em volta, acenando para Merrythought. Riddle tocou o próprio queixo, sentindo sangue escorrendo dali para o pescoço. “Não se preocupe. O Curandeiro Octavian vai cuidar disso, Tom. Foi só um chute.”

Um chute! Aquele homem estúpido o chutada e quebrara boa parte dos seus dentes e abrira um corte e seu queixo!

“Oh,” ele ouviu Merrythought gemer baixinho ao se aproximar de si. “Shh, acalme-se, Sr. Riddle, nós vamos cuidar de você.”

A mão da professora alcançou o seu ombro e logo uma onda de calma tomou conta de seu corpo, fazendo a sua visão escurecer e o som ao seu redor desaparecer.

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Notas finais do capítulo

Antes de tudo, o que eu sempre falo: desculpa pela demora! Fim de semestre e afins... Quanto a esse capítulo: eu realmente adoro ele. A partir dele que entra na parte que eu realmente queria ver na história. Ele meio que nasceu de duas coisas 1) minha vontade de ver o Tom tendo que enfrentar o fato de ser um mestiço e 2) minha frustração comigo mesmo durante os 28 dias do ano passado nos quais eu permaneci com a boca fechada por uma contenção de ferro depois de ter quebrado a mandíbula de um jeito muito idiota. Eu queria muito descrever como foi isso, quebrar a mandíbula e por que não usar o Tommy? Essa já é a segunda descrição disso que faço esse ano, a primeira foi no RPG de Harry Potter do qual eu participo, mas o sortudo lá foi o Tom Riddle Sr, que é com quem eu jogo.

Ah, e não sei se falei antes, mas a Brunhild nasceu na minha cabeça depois de ficar ouvindo no repeat The Ride of the Valkyries, do Wagner. E o desenho ali foi só um negócio rápido que eu fiz para ver as roupas de cada personagem feminina de Koly, está ai é a Valquíria.

Anyway, espero que tenham gostado. Muito obrigado todo mundo que deixou review e/ou recomendações até agora, eu fico sorrindo feito idiota o dia inteiro com essas coisas, e digam o que acharam, ok? (((:

Bom, eu não sei se vou conseguir postar de novo até o ano que vem, então, se isso não rolar, um feliz natal e ótimo ano novo para todos vocês!