Abri a porta de entrada da casa e entrei de olhos fechados, tomada pelo medo, quando ouço algo se quebrando bem atrás de mim.

- O que você ta fazendo aqui? O que eu te falei sobre não ver a sua cara mais de UMA vez por dia? – Exclama Jayda com nojo na voz.

-Jayda... – Sussurrei com medo.

- CALA A BOCA! – gritou ela fora do normal fazendo com que eu me assustasse e desse um passo para traz batendo na estante de fotos da família, que óbvio, não me inclui.

Com a força do impacto na estante, caíram alguns porta-retratos e um deles era da mamãe, engoli em seco já sabendo o que me esperava. Jayda estava de olhos arregalados, incrédula com o fato que acabara de acontecer, e tenho certeza que na cabeça dela, fiz tudo de propósito.

- O que.você.fez? – perguntou ela pausadamente, como se TENTASSE controlar a raiva que emanava até do seu olhar, me fazendo estremecer.

- M-me desc-culpa Jayda, F-foi sem querer, eu juro, me perdoa, e-eu não queri... – Ela me interrompeu bruscamente.

- VOCÊ FEZ DE PROPÓSITO PIRRALHA IMBECIL, EU SEI DISSO! EU ODEIO VOCÊ, ODEIO. – ela gritou totalmente descontrolada e eu já estava chorando, com o medo tomando conta e tremendo muito.

- Que gritaria é essa Jayda? – pergunta meu pai descendo as escadas – mas o que é isso? – ele perguntou olhando para os cacos de vidro espalhados pelo chão.

- FOI ESSA INÚTIL, ELA DERRUBOU TUDO DE PROPÓSITO, PORQUE NICOLLY? NÃO É O SUFICIENTE TIRÁ-LA DE NÓS? QUER TAMBÉM TIRAR AS LEMBRAMÇAS?

Aquilo realmente me atingiu em cheio, não que nunca tivessem me falado coisas do tipo mas...todas as vezes, dói como se fosse a primeira vez. Quando alguém te culpa pela morte de outra pessoa por 17 ANOS, com o passar do tempo e das ofensas, você percebe que é a verdade, e eu sei que sou culpada, se eu não tivesse nascido não traria tanta tristeza para essa família.

- Já chega Jayda! – meu pai a interrompeu antes que ela começasse a mais uma vez falar o quanto eu sou inútil, coisas de família sabe. Então, ele suspirou pesado, como se estivesse se controlando, ou pensando muito seriamente, fecho o olhos esperando por um carão ou uma tapa, mas ele apenas falou com um leve, muito leve, pesar na voz.

- Arrume suas coisas Nicolly, você vai para a Inglaterra, amanhã mesmo. – ele falou como se estivesse cansado.

- Mas...- percebi que não era um bom momento para descordar de Jorge, não com essa situação. – ok!

Acho que devem estar pensando “ por causa de uma foto você foi expulsa? Tudo bem que te culpam pela morte da sua mãe, mas, porque só agora?” Ou coisa parecida certo? Bem, em minha opinião de “narradora personagem”, acho que Jorge se cansou de tudo, tudo digo, olhar pra mim e lembrar-se Amy e pior, lembrar que foi culpa minha a morte dela, e ele simplesmente achou um motivo qualquer para me mandar embora. O surto de Jayda só ajudou, não que ele fosse um pai carinhoso, mas se importava MUITO com ela, e com os seus caprichos de menina dondoca.

Sem falar mais nada, subi para o meu quarto e chorei silenciosamente, como se tivesse medo de que ouvissem e que não queria me render a chorar por isso. Eu deveria estar acostumada com isso, e pela primeira numa “discussão” Jorge não me bateu, acho até que sua punição foi um tanto quanto, boa, de certo modo. Tentando espantar os pensamentos deprimentes, coloquei meu Up All Night pra tocar baixinho, afinal, chega de brigas por hoje, certo?

Depois de arrumar tudo fui tomar banho, me despi e parei na frente do espelho, GORDA.

Tenho um complexo ENORME com o meu corpo, poucas pessoas sabem, mas eu me corto, sei que é um ato estupidamente estúpido ( wtf? ) mas não consigo parar, é como se eu me punisse por ser um monstro diante da minha família, como se brigasse comigo mesma por não ser bonita como Jayda e mamãe. O mínimo que posso fazer é ouvir e aguentar calada e depois me punir, sozinha.

Entrei no box e liguei o chuveiro tendo um pequeno espasmo ao sentir aquela água extremamente gelada escorrer pelo meu corpo. Olhei para meus pulsos e coxas e vi as consequências das constantes humilhações, cicatrizes velhas e um tanto quanto profundas, outras, até que recentes. Peguei a lâmina e passei-a lentamente pela minha coxa, como se tivesse medo da minha própria ação. Senti um alívio enorme ao ver todo aquele sangue misturado com água no box. Eu já me encontrava sentada no chão com a cabeça encostada na parede, sentindo como se o desgosto e o ódio de mim mesma, estivesse indo embora pelo ralo, com água e sangue.

Sai do box, me enxuguei corretamente e dei um jeito com que minha perna parasse de sangrar.

Coloquei essa roupa http://www.polyvore.com/sleep_darling/set?id=49388677  e deitei.

Será que eu encontraria com eles lá? Será que eu vou ter  a chance de ver o sorriso do Harry? De ver o cabelo impecável de Zayn? De ouvir as piadas de Louis? De receber ordens de Liam? E de partilhar a minha fome extra com Niall?

E foi com esses pensamentos que cai dormi profundamente.