Capitulo 3

Fazia tanto tempo que eu não me divertia desse jeito, eu já tava bem tonta, daquele tipo que tudo fica dormente e a cabeça na pára de rodar. É, eu estava oficialmente bêbada. Eu já não agüentava ficar na pista de dança, precisava de um minuto sentada.
Aproveitei que começou a tocar We Are Youg do Fun e fui até o bar beber um pouco de água, afinal eu não queria ir parar no hospital. Cheguei no bar e por sorte tinha um banquinho livre perto do balcão. Eu quase me joguei no banquinho.
- Oi princesa, vai querer o que? o barman perguntou com um olharzinho safado.
- Uma água por favor eu disse meio seca, cortando logo o barato do carinha.
- Tudo bem ele disse se virando pra pegar a garrafinha dentro de um refrigerador atrás dele Saindo uma água no capricho.
- Brigada eu disse com um sorriso irônico nos lábios.
Peguei minha garrafinha e me virei de costas pro balcão, apoiando os cotovelos no mesmo. A minha turma tava muito doida, dançando como se não houvesse amanhã. As vezes eu sentia saudade dessas noites de farra. Mas agora eu tinha outros assuntos pra me focar que nem dava tempo pra pensar nisso.
Eu já tava há uns cinco minutos olhando pro povo na pista de dança, resolvi dar uma olhada ao redor pra ver se achava algum carinha gato, afinal eu não to morta né? Mas em vez de carinha gatinho, eu encontro um grupinho de garotas me fuzilando com os olhos, se olhar matasse, com certeza eu já tinha virado cinzas. Não entendi o porquê daqueles olhares fulminantes.
Percebi que uma cochichou no ouvido da outra que imediatamente olhou pro meu lado. E eu como tava louca pra saber o porquê do despeito daquelas periguetes, acompanhei o olhar da menina e olhei pro lado, foi ai que eu vi.
Ele tava sentado do meu lado, o cabelo liso caindo em sua testa, um sorriso bem cínico nos lábios e os olhos que no escuro não dava pra dizer exatamente que cor eram, mas eu poderia jurar que eram azuis. E por incrível que pareça aqueles olhos estavam fixos em mim. Como eu não sou nenhuma expert na arte da paquera assim que nossos olhares se encontraram eu logo tratei de desviar. Eu não sei o que me deu nessa hora, meu coração acelerou, meu estômago começou a dar voltas e voltas. Minhas mão começaram a suar. Da última vez que eu senti essa sensação deu MERDA. Eu me lasquei, literalmente. Logo tratei de tirar a idéia da minha cabeça.
Não Lizzie, esse carinha é um estranho, e essa é a primeira e última vez que tu vai ver ele, não tem como tu ficar sentindo essas coisas por qualquer estranho que sorrir e dá aquela olhada. Pára já com isso. E pelo visto se tu arrastar a asinha pra ele tu sai daqui numa ambulância ou no rabecão do IML, com direito a primeira página amanhã no jornal GAROTA LINCHADA NA BALADA POR GRUPO DE MENINAS, AS MENINAS ALEGARAM QUE A VITIMA ESTAVA DANDO EM CIMA DO BOY MAGIA DELAS. Por isso Lizzie fica na tua, até porque a noite tá só começando.
Pra não dar muita bandeira, eu dei outra olhada ao redor dessa vez evitando o banquinho do meu lado, que poderia até ser coisa da minha mente fértil, mas acho que conhecia aquele carinha de algum lugar. Percebi uns quatro seguranças perto do balcão. Ainda bem que tinha seguranças por ali.
Umas das meninas do grupinho veio na direção do tal carinha do meu lado e um segurança tratou logo de afastar a mocréia, só depois de sorrir internamente que eu fui me tocar que aqueles seguranças não eram da boate e sim do menino que tava sentado do meu lado. Deveria ser algum filhinho de papai.
Eu já tinha descansado bastante, resolvi voltar pra pista de dança, bem na hora que tava tocando Where have you been da Rihana. Eu costumava assistir o clipe dessa música em casa com a Vick e nós duas sabíamos a coreografia de cor. Me controlei pra não dançar igual a Rihana, ia ser muito esquisito fazer aquela dançinha do calma periquita que ela faz quase no final do clipe.
De vez em quando eu dava umas olhadinhas lá pro balcão onde o menino do olhos lindos estava. Ele passava pouco tempo sentado, a maioria do tempo ele ficava dançando, sempre com meninas diferentes, outras vezes tinha outro menino com ele, um loirinho gatinho também. Eles faziam umas danças engraçadas, pareciam duas crianças, assim como eu e Vick em casa.
Olhei pro relógio já ia dar 5:00h e o DJ falou lá do palco.
- E essa minha gente guerreira é a saideira ele colocou pra tocar uma música brasileira bem conhecida ultimamente por aqui Essa é pro povo que agüentou até agora. É hora de pegar meu povo.
E começou a tocar um remix de Ai Se Eu Te Pego do Michel Teló.
Eu não gosto muito de escutar esse tipo de música, quanto mais dançar, mas como eu já não era eu, comecei a dançar e por incrível que pareça cantar.
A Karen já tava toda descabelada, a maquiagem parecendo remake do Thriller do MJ e descalça. O resto da turma já não se agüentava em pé. E eu como sempre fui a mais elétrica tava a todo vapor.
Percebi que Menino do Balcão (é, vou chamar ele assim, nem vou saber mesmo o nome dele) tava me olhando e o amigo loirinho dele também. Meso bêbada do jeito que eu tava eu não pude deixar de ficar vermelha feito um tomate, eu quase nunca faço isso na frente de muita gente. Mas a noite só ficou nisso, naquela troca de olhares.
Depois que a musica acabou nós saímos e a maioria tava se apoiando um num outro e eu por conseqüência tava com Karen apoiada em mim. Me despedi do resto da turma e sai quase arrastando a baixinha pra rua. Peguei um táxi e fui pra casa. Quando o táxi parou na porta do prédio eu tive que pedir ajuda pro taxista pra tirar a anãzinha de dentro.
- Me deixa dormir bixa insuportável ela resmungou.
- Só depois do banho sua pinguça eu disse controlando a risada.
- Pera ai, eu esqueci minha pochete dentro do táxi ela disse com cara de choro Ela é muito importante pra mim.
- Sua amada pochete tá aqui comigo lerda veia mostrei a pochete pra ela.
- Ai que alívio ela apoiou a cabeça no meu ombro.
Agora era prova de fogo. Duas bêbadas tentando chegar no oitavo andar. A cena era impagável.
Cheguei na porta do meu apê procurei a chave no bolso interno da jaqueta que tava enrolada no meu punho. Depois de muita dificuldade consegui enfiar a chave no buraquinho da fechadura. Entramos e levei logo a Karen pro banheiro do quarto de hóspedes, liguei o chuveiro, tentada a colocar a água mais gelada possivel , mas ai ia ser muita maldade da minha parte, a bixinha poderia ate adoecer. Coloquei ela debaixo do chuveiro e fui te meu quarto pegar uma roupa seca pra baixinha.
Depois que a Anã de Jardim tomou banho e já tava sequinha eu coloquei ela na cama e fui tomar o meu banho. Eu não parava de pensar no Menino do Balcão, quem ele era pra ter tantos seguranças ao seu redor e porque aquelas meninas queriam me matar com os olhos.
Sai do banho coloquei uma roupa quentinha, tava fazendo um friozinho tão bom, nada exagerado como nos outros dias. Fui até a cozinha preparar um café bem forte tomar logo um Tylenol, a minha cabeça já tava começando a doer. Antes de ir pra cama passei pelo quarto da Vick e a vi dormindo como um anjinho que com certeza ela não era.
Depois disso fui pra minha cama ainda pensando no tal carinha. Dormir na esperança de esquecer esse tal Menino do Balcão, afinal eu estava bêbada e na maioria das vezes eu não lembro o que aconteceu na noite anterior. Me agarrei nessa possibilidade.