Everything About You. escrita por Letícia Aguiar


Capítulo 4
O nascimento de um sentimento




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/225876/chapter/4

Eu poderia ter jogado o dinheiro fora, ter doado, feito explodir e até engolir. Mas alguma coisa me dizia ‘compre um vestido de dar inveja’.

Poxa, parecia que eu estava sobre efeito de algum feitiço. Essa maldita vontade de esquecer a raiva, que está falando mais alto. Essa inútil tentativa de tentar expressar meus sentimentos bagunçados.

Lizzie apareceu extremamente feliz no outro dia, quando nos encontramos no corredor para ir tomar o café da manhã. Estava tão alegre que percebi que ela passou um batom vermelho claro nos lábios. Já sabia por que, mas mesmo assim perguntei.

-Porque essa alegria toda? – falei rindo, enquanto ela prendia o cabelo, deixando uma parte de sua longa franja de fora.

-Remus me convidou para o baile! Mal acredito nisso!

Ela sorriu. Um sorriso que chamou a atenção de alguns colegas da Corvinal e da Sonserina.

Comecei a pensar em como se ela fosse mais vaidosa os garotos dariam mais importância a ela. Eu não sou tão vaidosa assim, mas ela nem no mínimo passava batom.

Um pássaro estranho azul sobrevoou a mesa da Corvinal e pousou no ombro de Lizzie, assim, do nada, com uma carta presa em suas patinhas.

-Que bicho é esse? – perguntei me afastando do estranho animal.

-Uma arara azul – Lizzie respondeu fazendo carinho na cabeça da ave – Minha arara, não é verdade, Kiary?

A ave bicou carinhosamente a mão da dona.

-Essa ave é...?

-Comum na minha terra?É sim. Mas na verdade, está em extinção. Minha mãe na verdade encontrou-a machucada uma vez quando foi passear na floresta Amazônica... Sabe, ela é exploradora, o que é mais fácil quando se é bruxo. Eu tinha três anos.

-Puxa... que legal!

-É... Nem sei como ela chegou aqui... É tão longe a viagem Brasil-Hogwarts...

-O quanto?

-Bem... Muito mesmo – ela respondeu tirando a carta das patinhas de Kiary.

Ela leu rapidamente. No segundo parágrafo, sorriu; mas no terceiro, ficou tão triste que parecia que não haveria mais paz no mundo.

-O que diz?

-Bem, a carta é da minha mãe – ela disse pausadamente – Primeiro, ela disse que tem dinheiro e pode me mandar o vestido que ela usou quando dançou pela primeira vez com meu pai... E depois – ela abaixou os olhos – que minha avó está mal. Pode morrer a qualquer momento.

Kiary bicou carinhosamente a orelha da dona. Apertei o ombro dela.

-Sinto muito.

-Está tudo bem. Ela já está bem velhinha... E morar no meio do mato não facilitaria a vida dela.

-Ela é índia? – perguntei. Soou tão idiota que eu deveria me jogar de uma ponte.

-Bem, de certa forma – Lizzie tentou explicar – A mãe dela era uma trouxa índia. Já o pai dela era um europeu bruxo. Meu pai é um europeu bruxo, na verdade.

-Bem... Pelo menos o vestido...

-Ah sim. É lindo! Vou mandar uma carta para ela confirmando que realmente quero.

-Posso ver a carta?Está em português?

-Ah, sim... Você não vai entender nada – ela respondeu me entregando a carta. Realmente, nada parecia fazer sentido. Só entendi o nome da mãe dela, ‘Ariana’.

Devolvi a carta bem na hora que Dumbledore pedia silêncio. Corri para a mesa da Grifinória, e sentei ao lado de dois garotos gêmeos (que reclamaram por eu ter sentado no meio deles no banco) e tentei ouvir o que o diretor estava dizendo:

-Bom dia, alunos. Tenho um comunicado a fazer. O baile será no penúltimo dia do ano letivo, mas como as preparações serão muitas, é possível que algumas vezes vocês fiquem com aula vaga. Caso isso acontecer, a turma deve se dirigir ao jardim ou o salão comunal e lá ficar até a próxima aula. Os professores terão que ajudar nos preparativos. Obrigado.

Grande coisa. Nada anormal. Engoli as panquecas em poucos minutos, e ainda bem que aparecia mais, ou o estoque iria acabar. Sai correndo para a aula de Transfiguração, mesmo sendo a primeira a se levantar de todos da Grifinória.

Bocejei alto. Era uma noite extremamente fria. Eu acabara de decidir que compraria o vestido para o baile na próxima visita a Hogsmeade. Me levantei.

O salão comunal estava um pouco cheio. Além de mim, havia alguns alunos focados nos estudos perto da lareira e um casal de namorados brigando perto da porta. Meu dever deveria ir lá e acabar com a briga, mas eu estava muito cansada para me levantar, imagina para separar eles.

Coloquei a mão no bolso, apenas para ocupar as mãos. Havia um papel lá. Tirei do bolso, e olhei com dificuldade o papel. Reconheci a caligrafia.

‘Me encontre no dormitório dos garotos, você pode entrar lá. James’.

Como se minhas pernas estivessem preenchidas com chumbo, me encaminhei ao dormitório masculino. Todos os marotos deveriam estar reunidos para assistir eu falando com James.

Mas e daí? Eu não tinha mesmo o que fazer.

Para minha surpresa, o quarto estava vazio. Tirando, claro, um sonolento James, deitado na cama que parecia ser o centro do quarto olhando para cima.

-Você demorou para perceber o bilhete, né? – ele resmungou bocejando, mas não se levantou.

-Como você colocou o bilhete no meu...

-Elfos domésticos. Eles são legais.

-Ah.

Não acredito que até elfos colaboram com James.

-Porque seus amigos não estão aqui? – perguntei, olhando para as camas vazias.

-Remus está provavelmente conversando com Lizzie, Sirius está com Marlene na sala precisa... Prefiro nem comentar o que ele está fazendo agora, na verdade. E Peter está no banheiro. Alguém deu comida estragada para ele.

Ele sorriu para o teto. Se levantou de um pulo e olhou para mim de um jeito que eu poderia ter vomitado meu coração naquele exato momento.

-Porque me chamou aqui?

-Queria conversar.

Ele saiu do quarto. Quando passou por mim, me puxou pela cintura delicadamente. Então, para completar o espetáculo ‘Faça Lily ficar extremamente corada e provavelmente apaixonada’, ele me puxou carinhosamente pela mão e se sentou nas escadas, me fazendo acompanhar ele também.

-Alguém pode nos ver aqui – comentei depois de recuperar o fôlego, o que demorou um pouquinho. Ele olhava para lado, como se nem estivesse percebido que segurava minha mão.

-Ninguém vai nos ver – ele disse finalmente empurrando os óculos mais para perto – e por que a preocupação?

Ele ainda olhava para o lado. Encarei nossas mãos. Meu coração deu um salto mortal.

-O seu problema, Lily – ele falou finalmente olhando para mim – é se preocupar demais. Não se preocupe. Apenas viva o momento.

Engoli a seco. Continuei olhando para nossas mãos. Logo ele voltou a encarar a parede.

-Lizzie está realmente feliz por Remus ter convidado ela para o baile – desconversei.

-Eles formam um casal legal.

-Ela tem uma arara – contei rindo – uma arar azul chamada Kiary.

-Uma arara? –James repetiu, rindo também. Olhou para mim de novo. Finalmente consegui coragem para encarar ele. Não estávamos tão pertos afinal.

-Poderia ser um papagaio – comentei com cara de quem havia pensado muito na resposta.

-Mas o papagaio não falaria português? Tenso...

-É... E o sotaque dela melhorou drasticamente. Agora dá para entender 90% do que ela fala.

-Que bom... E Peter ainda está procurando um par, tem ideia quem poderia ser?

Pensei em Maria. Aquela poderia ser uma boa vingança.

-Eu teria de ser uma marota para aprontar para Maria...

-Ei, não precisa ser uma marota. Apenas de ajuda de um maroto.

Ele sorriu. Seus óculos caíram de novo para a ponta do nariz. Timidamente, empurrei com a mão livre os óculos para a posição certa. Ele acompanhou com os olhos o movimento, ficando vesgo e um pouco engraçado quando terminei.

Senti um aperto carinhoso na mão ocupada. Percebi que ele ainda segurava minha mão, mas não olhei. Fiquei hipnotizada por aqueles olhos castanhos.

-Posso aprontar nosso plano amanhã. Maria não iria ficar muito triste, ficaria? – ele perguntou tentando se fazer de ingênuo.

-Claro que não. Peter seria um ótimo par para ela. Combinam perfeitamente.

Ele olhou para o chão e sorriu. Fiz o mesmo que ele.

-Me desculpa – ele sussurrou ainda olhando para o chão – por todos esses anos em que incomodei você e Ranhoso? Eu só queria sua atenção...

-James... – suspirei – Sim. Eu te desculpo. Mas com uma condição.

-O que você quiser! – ele falou nervoso olhando para mim.

-Faça desse baile, o melhor de nossas vidas.

Ele sorriu aliviado. Eu queria ler a mente dele para saber se ele estava esperando que eu o fizesse lamber um vaso sanitário.

-Pode deixar comigo, Lily.

Novamente, meu coração resolveu sambar (já dizia Lizzie) no meu peito. Em poucos minutos de conversa, James havia se aproximado bastante de mim. Nossos rostos estavam separados por menos de 10 centímetros. Olhei para o teto. Quase engasguei com o que vi.

Não era o teto. Bem, era o teto sim. Mas parecia pintado com uma tinta que deveria se chamar ‘ar livre ao pé da letra’.  Parecia realmente o céu noturno. Estrelas, nuvens e até a Lua pareciam ter escapado para dentro da escola.

-Você fez isso? – perguntei apontando para o teto.

-Sim – ele falou orgulhoso – gostou?

-É lindo!

-É um feitiço extremamente difícil, mas eu posso te ensinar.

-Eu agradeceria.

Me deitei nos degraus. Continuei olhando para o teto. Era magnífico. James me encarou por alguns segundos e se deitou ao me lado. Olhou para o teto.

Ficamos em silencio por alguns minutos. Reconheci algumas constelações. A escada estava fria, mas valia o preço. Percebi James chegar mais perto de mim.

-Está frio, né? – ele falou de propósito.

-Muito.

-Você sabe que eu realmente gosto de você, Lily...?

-Obvio que eu sei James – respondi ironicamente.

-E você, gosta de mim?

Olhei para ele. Ele parecia aqueles cachorrinhos sem dono, mas bilhões de vezes mais fofo e eu não me casaria com um cão.

-Você ainda tem duvida?

Apertei forte a mão dele. Meu coração batia tão forte que eu mal conseguia respirar.

Eu acabara de confessar que gostava dele! Ok... Respira Lily... Respira...

-Você pode ficar aqui quanto tempo quiser – ele falou baixinho – eu espantei os garotos da Grifinória de um jeito que deixarem eles ocupados por um bom tempo.

Fiquei receosa quando a essa distração. Mas esqueci. Nada poderia atrapalhar aquele momento.

Ficamos mais um bom tempo olhando para o magnífico teto em silencio. Acho que mais de meia hora. Eu tinha tantas coisas para dizer, e ao mesmo tempo, poucas palavras para expressar...

Eu poderia passar a noite ali, olhando as estrelas com James. Mas tentei me conformar em me levantar e ir dormir no quentinho e solitário dormitório feminino.

-Preciso ir, James – avisei.

Ele pareceu ter acordado de um transe. Esfregou os olhos.

-Já? – perguntou triste.

-Ah, James – falei ficando deprimida – teremos mais tempo juntos.

A palavra ‘juntos’ pareceu ser um energético para ele. Ele me ajudou a levantar, e desfez o feitiço do teto. Achei triste ver as estrelas e a escuridão infinita sendo preenchida por mármore. Ele me levou pela mão até as escadas, o Maximo que ele poderia ir, e fez algo que fez meu coração pular forte em meu peito: beijou minha mão.

Respirei fundo. Não havia ninguém no salão comunal, mas fiquei olhando para os lados para ver se não havia ninguém ali.

-Boa noite, Lily – ele falou largando minha mão. Parecia que todo o conforto e calor havia se desvairado quando ele me soltou. E como um Lindo príncipe, foi para seu dormitório. Me olhou mais uma vez antes de desaparecer no corredor, fazendo meu coração querer pular para fora do meu peito.

Ei, eu acho que estou começando a gostar dele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!