2 – A irritável,o gentil e a piralha.

Final de Dezembro/ 1999 (sete anos.)

20 de dezembro.

Querido diário.

Hoje completo sete anos.

Queria quê ele estivesse aqui.

Vovô diz quê ele me vê; quê ele se tornou uma estrela,a mais brilhante delas,

a mais bonita também.

Não gosto de estrelas, na verdade.

Mas acostumei-me a olhá-las,a procurar uma que brilhe para mim,só para mim.

Como ele fazia,como eu amava.

Mesmo assim,o queria aqui.

Sorrindo de verdade para mim,me dando um de seus abraços gentis,me fazendo rir.

Como sinto falta de seus abraços gentis!

Quando fecho meus olhos, o vejo perto de mim, e tento acreditar,

que ele realmente está ali.

Não posso me acostumar, não consigo!

. . .

A neblina de um negrejado já profundo se mesclava a uma aura pura de cinza,entre uma alvura tão diferente; entrando sem razões ou motivos naquelas entranhas de um abraço desajeitado.

Os flocos de neve caiam sobre a estrada, sobre a janela da pequenina.

Ela os olhava. Desviando subitamente seus dois pares de cristais olivas para seu novo livro quê ganhara ontem; 25 de dezembro, para todos os propósitos, o dia mais feliz do mundo, o natal; Noel,doces,neve,um felicidade só!

Mas. Ela não via assim.

Em verdade,ninguém da família Freneésvier O’ Matthews e Buitléir se sentia libertado da culpa o suficiente para qualquer sentimento mais alegre.

Nem mesmo uma criança.

Quê não fazia ideia... ou assim,todos imaginam.

Mas,Manuella,contrariava quaisquer questionamentos,era insondável de opiniões e verdades.

Sabia,sim. Não entendia, mas sabia.

Era por isso quê se roia a um luto incompressível como todos os outros.

Mesmo quando ficou com seus avôs;

Ayola e Kian Freneésvier O’ Matthews.

Dois senhores já seguindo a longevidade de seus setenta anos vividos.

Ayola,era dona de um mal humor crônico,quê levava a qualquer um a irritabilidade em questão de horas.

Enquanto,Kian,era de um espírito gentil e calmo,de sorrisos leves e olhares pacientes.

Era exatamente ele que estava sentado em uma cadeira de balanço; os olhos permanentemente fechados em suas pálpebras feitas sob camadas finas de pele,os braços curtos de mãos e dedos murchos e velhacos descansavam na madeira clara.

Embora Ayola,deveria estar em algum canto procurando a mala vermelha de Loyse,sua bendita filha que deveria ter se casado com um lorde inglês em vez de somente um idiota que ela,como grande sabedora de muitas coisas,segundo ela mesma, sabia que iria terminar mal como terminou.

“um problemático idiota!”,pensou,negando com a cabeça enquanto metia todos os pequenos e engomados vestidos de Manuella de qualquer forma dentro dos compartimentos. Tinha cabelos encaracolados de um tom febril de cobre mesmo com proeminências de um cinza no alto de suas têmporas, a lhe mostrar quê a vida passa, tão logo,tão depressa. Em jovem, fora alta,esbelta,arrebatadora de corações igualmente jovens,mas agora,não se passava de uma pequena senhora mal-humorada,de suéter cinza,vestido floreado e sapatos negros de couro surrado.

“Deus meu! Tomará que a pirralha não termine igual! Já existem idiotas o bastante neste mundo. “ grunhiu.

E,então.

A pirralha.

Voltamos para a nossa pequena arruivada.

Aonde estava ela?

Sentada ao chão.

Sim,oras,ao chão.

Ao lado de Kian,na sala de estar.

Brincando de damas,solitária.

Sua mãe,aquela que deveria ter casado com um lorde inglês,sairá a menos de meia-hora o quê para nossa pequena já seria consideravelmente uma eternidade,tampouco imaginava que era neste minuto que velavam o corpo de seu pai; enquanto sua mãe deixava escorrer de seus olhos leitosos e densos as últimas lágrimas feias,de dor,compaixão e saudade,incontrolável,como todo o resto de sua tristeza. Três dias depois,partiram para sempre de Nova Iorque,embaixo de uma crosta nebulosa,escurecida e gélida.

Manuella temeu nunca mais ver a irritável e o gentil.

Sentir-lhes-ia as faltas.