Mais uma vez, andei por aqueles corredores sinuosos e
traiçoeiros. Medelaine andava a minha frente, balançando seus cabelos agora
soltos. Pude reparar que a raiz de seus cabelos era mais escura. Será que ela
havia pintado? Não me surpreenderia...

Finalmente paramos na frente de uma porta de madeira
grandiosa. O cheiro de comida impregnava meu nariz e fazia minha boca encher-se
d’água.

–Preste bastante atenção. – ela disse, tirando-me de meus
devaneios. – O almoço é a única hora em que o meu marido esta aqui. Por isso não dê uma de pobretona e estrague
tudo. Senão, adeus acordo.

Dito isso, ela escancarou
a porta e adentrou o salão.

–Claro, megera. – sussurrei, seguindo-a.

Uma longa mesa estendia-se no centro daquele lugar. Estava
preenchida por vários tipos de comidas, algumas das quais nunca tinha visto.
Avistei Daniel quase que na ponta da mesa. Seus olhos cintilavam para mim, vá
saber o porque.

Ele levantou e puxou a cadeira ao seu lado para eu poder
sentar. Assenti com a cabeça, e me sentei.

–Oh! Vocês ficam lindos juntos! – falou Madeleine, abrindo
um enorme sorriso. – Vou ir recepcionar seu pai. Já volto.

Ela caminhou rapidamente até a porta e sumiu pela mesma.
Olhei para Daniel, ao ponto de ve-lo revirando os olhos.

–Você fica estranho quando faz isso. – falei.

–Desculpe, mas... enfim... – ele disse simplesmente. – Você esta
fantástica!

–Obrigado. – falei, corando. – Sem querer me intrometer, mas
o almoço é sempre assim?

–Sim, sempre. Geralmente é o único horário em que meu pai
esta em casa.

–Ele não dorme aqui?

–Sim, mas ele chega muito tarde. Quando chega cedo, temos
também um jantar especial.

–Nossa. Geralmente, a minha refeição especial é o café da
manhã, quando estou na escola.

–Você não almoça ou janta?

–Não exatamente. Geralmente não temos condições para...
isso. – disse, indicando as comidas a minha frente.

–Entendo. Mas, sei que vocês ainda vão poder.

–Rezo todos os dias para isso...

Nisso, a porta se escancarou, revelando um homem gordo e
alto com uma megera pendurada nele.

–... estava morrendo de saudades. Não vi você saindo hoje! A
que horas você saiu, amor? – choramingava Madeleine, enquanto desgarrava-se do
Sr. Aslani e sentava-se na cadeira ao seu lado.

–No mesmo horário de sempre, querida. Acho que você dormiu
demais. – ele disse, abrindo um sorriso.

Logo, o Sr. Aslani virou-se para Daniel e esbravejou:

–Daniel, meu filho, como foi a aula hoje? Temos alguma... –
ele pousou o olhar sobre mim. – Hum, que é essa adorável garota?

–Pai, essa é Mel Smart, uma amiga da escola. – falou Daniel,
indicando-me a ele.

–É um enorme prazer conhece-la, Mel.

–O prazer é todo meu, Sr. Aslani. – falei, abrindo um
simpático sorriso.

–Bom, já que temos uma convidada especial, é melhor
começarmos a almoçar logo, certo? – falou o Sr. Aslani, referindo-se aos
empregados.

Rapidamente, de cada lado meu, apareceu um empregado,
esticando os braços e erguendo as tampas das badejas a minha frente. Frango ou
carne, arroz ou macarrão, feijão preto ou um diferente feijão marrom. Vários
eram os sabores a minha frente. Resolvi comer um pouco de cada coisa, equilibrando
meu apetite.

–Então, qual é o motivo de recebermos a adorável Mel em
nossa casa? – perguntou o Sr. Aslani, engolindo sua comida.

–Um trabalho da escola. – falou Daniel.

–Só pelo trabalho da escola, Daniel? – provocou Madeleine.

Ergui a cabeça e olhei com o canto dos olhos para Daniel.
Sabia que nós dois estávamos corando.

–Sim, mamãe. Só pelo trabalho. – ele disse, calmamente.

Voltei a comer, ignorando a nova conversa entre eles. De
tudo, o que eu mais gostei foi aquele gosto inesquecível da lasanha. Logo,
trocaram os pratos do almoço pelos pratos das sobremesas. A que mais me atraiu
foi uma barra marrom dividida em quadrados. Servi-me dela e quando experimentei
ouvi anjos cantando em meus ouvidos.

–Isso é chocolate. – sussurrou Daniel. – Em minha opinião,
umas das melhores invenções do mundo.

Sorri para ele, e este retribuiu.

[...]

Gastamos exatas 01h30min no almoço. Ao final, a mesa estava
vazia, somente preenchida por taças com água.

–Então, está satisfeita, Mel? – perguntou o Sr. Aslani. – Se
quiser, adiantamos o chá das cinco.

–Não será necessário, Senhor. Obrigado. – disse, abrindo um
sorriso.

–Ótimo. Então, - ele disse, olhando no relógio. – está na
minha hora.

–Já? – perguntou Daniel.

–Sim meu filho. Mas, talvez hoje eu volte mais cedo.

–Certo.

–Bom, adeus Madeleine, adeus Daniel e até logo Mel.

–Até logo, Senhor. – falei, sorrindo.

Ele levantou-se e seguiu pela porta, sumindo.

–Então, vão trabalhar agora? – perguntou Madeleine.

–Pode ser? – Daniel perguntou a mim.

–Claro. – disse, levantando-me junto com eles. – Só vou
trocar de roupa.

–Ok. – ouvi Daniel falar, enquanto seguia até a porta.