Mar de Lírios escrita por Jajabarnes


Capítulo 16
Mais que Bravos Guerreiros.


Notas iniciais do capítulo

Volteeei! Para quem estava com saudades dos momentos Suspian como eu, eles estão de volta!
Espero que gostem!
Nos vemos nas notas finais.



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Caspian.

Respirei fundo quando Coriakin terminou de falar. Enquanto ele enrolava os dois mapas mágicos, contemplei tudo o que ele falara. Adentramos em uma aventura muito maior do que esperávamos quando deixamos Nárnia. Olhei em volta, essa constatação estava estampada no de todos e no silêncio naquela sala. Sendo pelo bem dos narnianos, e havendo uma chance de resgatar aqueles levados pelo nevoeiro, iríamos até o fim. Coriakin se aproximou de mim trazendo um dos mapas enrolado em mãos.

—Este, Majestade, é seu. - estendeu-me o mapa. – Será de grande valia nesta jornada e um tesouro inestimável para Nárnia.

Peguei o mapa e fiz uma reverência em agradecimento.

—Assim como seu papel em nossa jornada. - disse-lhe.

Coriakin dirigiu-me um sorriso pequeno, mas havia um brilho em seus olhos, como se ele pudesse ver algo além do que qualquer outro ali. Seus olhos pousaram em Susana rapidamente antes de se voltar para mim de novo, porém ela estava distraída demais em pensamentos para notar. O mago reafirmou que éramos seus hóspedes e que estávamos convidados para o jantar e para passarmos a noite ali.

O jantar foi ao ar livre, nos imensos jardins, próximo a praia. Os Tontos também se juntaram a nós e o barulho deles foi encarregado de preencher o silêncio a princípio. O efeito de preocupação que as palavras de Coriakin nos causou demorou um pouco a passar. Foi assim até que um dos Tontos derramou sopa em Eustáquio, melando-o inteiro, e Tarvos soltou uma sonora gargalhada.

Então, pouco a pouco, o momento foi se tornando mais descontraído e relaxante. Fiquei feliz por isso. Com tudo que enfrentaríamos, tranquilidade e amenidades eram coisas das quais os homens precisariam.

Cada uma daquelas vidas estava atada aos meus ombros e sem dúvida, essa era a responsabilidade mais árdua de um rei. Ao mesmo tempo, no entanto, esta responsabilidade é o principal fator de a coroa pousar em minha cabeça. Tomei um gole de vinho. Ergui o olhar para o pôr do sol magnífico que tingia o mar de laranja e banhava a todos com sua luz dourada. Se Aslam havia confiado essa missão a nós, certamente não nos desampararia. Senti a brisa suave tocar meu rosto.

Todos estavam entretidos em conversas tranquilas e divertidas, vez por outra o chão vibrava ecoando um som abafado de batida, cada vez que um Tonto se locomovia. A refeição estava esplêndida, bem diferente do que vínhamos comendo. Coriakin conversava com Susana ao meu lado e, por um tempo, não ouvi mais o que diziam até chamarem minha atenção.

—Caspian? – senti o toque delicado de Susana em meu braço. Baixei os olhos do horizonte para ela, sentindo a atenção de Coriakin sobre mim também.

—Sim?

—Está tudo bem? -Perfeitamente. - sorri-lhe levemente.

—Senhor Coriakin estava comentando sobre os outros fidalgos. – explicou. Quando olhei para o mago, ele sorria jovial.

—Desculpe, o que dizia? – falei a ele. Gentilmente, Coriakin continuou.

—Os seis fidalgos chegaram a esta praia há cerca de sete anos. – explicou. – O navio estava em frangalhos e pelo estado em que os encontrei diria que não comiam haviam muitos dias, estavam exaustos.

—Imagino o que devem ter passado. – comentei.

—O mar não foi gentil com eles. – completou Coriakin. – Consertei seu navio e os abriguei até que se recuperassem. Eles pretendiam partir logo pois lutavam também contra o nevoeiro. Eu os orientei, mas desde que partiram, jamais soube deles novamente.

—Significa que temos perigos bem maiores do que suspeitamos a princípio. – Susana ponderou.

—Talvez maiores ainda, minha senhora.

—Como assim? – uni a sobrancelhas.

—Bem, eles poderiam ter sido amigos em Nárnia, mas quando chegaram aqui não pareciam ser mais do que meros conhecidos unidos por um acaso. – elucidou o mago. – Se desentendiam com frequência, não havia essa... harmonia. – sinalizou para nossa onde todos comiam, riam e conversavam sob a luz das primeiras estrelas.

—Acha que podem ter se rendido às suas próprias trevas? – Susana perguntou, ainda olhando para todos.

—Tudo indica que sim. – Coriakin arqueou as sobrancelhas. – Se caíram para si mesmos, cair para os perigos que encontraram seria questão de tempo.

Susana e eu trocamos um olhar. Minha preocupação se refletia no dela, mas ao mesmo tempo certa paz e confiança sopraram à nossa volta.

—Não podemos falhar. – disse ao mago, convicto. – Então lhe garanto que o mesmo não acontecerá conosco.

Coriakin sorriu, pareceu satisfeito com a resposta ou com o que quer que tenha visto.

Fora um jantar muito agradável. Ripchip tentava criar uma amizade (ou ao menos minimizar o estranhamento mútuo entre Eustáquio e Tarvos. O garoto, claro, estava extremamente desconfortável com a situação, ainda mais que a toda hora os Tontos o chamavam de “porco" em um coro quase uníssono. Naquelas horas de jantar, Susana, Coriakin, Drinian e eu conversávamos como velhos amigos. Com toda certeza, Coriakin era muito mais velho do que parecia, mas seu espírito era jovial, alegre e muito bem humorado.

A lua não estava alta quando nos recolhemos. Com tanto tempo em um navio, nenhum de nós cogitou hesitar em aceitar as acomodações de Coriakin. Os homens pareceram extasiados com a ideia de um banho quente e uma cama confortável. De fato haviam muitos cômodos na casa de Coriakin, mas boa parte estava abarrotada de instrumentos de pesquisa, então alguns tiveram que compartilhar aposentos, o que não era nem de longe um problema.

Depois de me certificar de que todos estavam devidamente acomodados, caminhei para o quarto que dividiria com Drinian e Ripchip. Coriakin, que acompanhei durante a distribuição dos quartos, ficara para trás dizendo que logo me alcançaria.

—Senhor. – ouvi sua voz pelo corredor, parando para esperá-lo. – Veja, creio que não teremos muito tempo antes de sua partida amanhã, então – ele estendeu-me uma pequena e adornada caixa de madeira. – Gostaria de lhe entregar isto.

Olhei-o curioso e ele riu levemente.

—Não são feitos de nada muito especial. – explicou. – O trabalho e o saber aplicados para fazê-los valem bem mais que a matéria-prima em si. Creio que saberá a hora certa de usá-los.

Abri a caixa encontrei o par de de metal, elos perfeitos. A surpresa deve ter estampado em meu olhos pois Coriakin riu outra vez.

—Não sei o que dizer. – afirmei, balançando a cabeça. Ele fez um gesto com a mão, dispensando.

—Ora, eu vi muito mais aqui do que bravos guerreiros em uma nobre missão. – confidenciou. – Fico muito feliz por ter achado donos dignos para eles.

Olhei os anéis e tudo que consegui dizer foi:

—Como?

Coriakin arqueou as sobrancelhas.

—Ora, Majestade, com todo respeito, até meus Tontos são capazes de perceber.

Eu ri.

—Acho que tem razão. – respondi. – Obrigado.

Coriakin fez uma reverência despedindo-se e partiu. Olhei os anéis mais uma vez e sorri com um frio na barriga. Guardei-os e segui para meu quarto. O conforto da cama e do banho quente, somados ao cansaço fez o sono logo me envolver, mas não afugentou aquele frio na barriga.

A caixa dos anéis em meu bolso e a folha do livro de feitiços pareciam ter virado pontos de calor contra meu corpo. Recebemos aquela nova oportunidade e eu faria o que pudesse para torná-la a história de uma vida inteira.

Susana.

Na cama ao lado, Eustáquio tinha dificuldade para dormir. Eu podia ouvi-lo rolar sob as cobertas. Girei, apoiando-me no cotovelo.

—Sem sono? – puxei assunto.

Ele, que tinha os olhos fitos no teto, demorou um pouco a falar.

—Só estava pensando como estão as coisas na Inglaterra. – respondeu, surpreendendo-me. Seu tom estava diferente e tive certeza que era um que ele não mostrava para todo mundo. Sorri-lhe, mesmo que não olhasse para mim.

—Não se preocupe. – falei. – O tempo lá passa de forma diferente. Sequer perceberam que não estamos mais lá, e quando voltarmos, não terá passado uma hora, talvez nem um segundo...! – pisquei, ouvindo o que dissera. Eustáquio voltou os olhos para mim.

—Acha mesmo que voltaremos?

Hesitei em responder. Era o que eu mais temia.

—Bem. – comecei. – Em nenhuma das vezes que viemos, ficamos para sempre, apesar de desejarmos muito.

Foi como uma rachadura em meu peito. Ter que partir me assombrava. Eustáquio ponderou sobre minhas palavras e perdeu-se em pensamentos. Resolvi mudar de assunto.

—Como eles estão? Eustáquio olhou-me.

—Estavam bem. – respondeu tranquilamente, mas sem abandonar completamente o tom de deboche. – Ficam o tempo todo falando “Pedro isso, Susana aquilo".

Sorri de leve e voltei a deitar, deixando-o com seus pensamentos. Virei para o lado, de frente para a janela que revelava o céu estrelado.

Também sinto muito a falta de vocês.

[...]

Como o pôr-do-sol, o amanhecer naquela ilha era magnífico. O sol mal começara a raiar e já estávamos de pé, nos preparando para partir. Deixamos a casa de Coriakin após o dejejum. Os marinheiros iam e vinham carregando sacos e mais sacos de mantimentos, presentes de nosso anfitrião.

—Quando resgatarem a todos terão muitas bocas para alimentar. – dissera simplesmente enquanto caminhávamos para a praia.

—Não sei como podemos recompensá-lo. – disse Caspian, que levava um saco de grãos em um dos ombros. Olhei para Coriakin por cima do cesto de frutas e hortaliças que carregava; o mago naturalmente lançou:

—Voltem vivos e prometam parar aqui no caminho para casa. Adoro receber visitas.

—Está prometido. – Caspian riu.

—Será um prazer cumprir essa promessa. – concordei.

Saímos do jardim impecável para a praia. A movimentação ali chamou minha atenção. Os Tontos estavam reunidos ouvindo Ripchip que tentava levá-los para a água. Hesitavam e recuavam, mas pareciam curiosos. Quando alcançamos o bote com suprimentos, o primeiro a ceder se aproximava da água, encorajado por Rip. Pouco depois, outros seguiam e logo descobriram que podiam boiar sobre os pés enormes. A partir daí foi um alvoroço só. Mais afastado, Eustáquio os observava com olhos curiosos e braços cruzados.

—Está aí uma coisa inusitada. – comentou com seus botões, sem me ver chegando.

—Algo me diz que ainda teremos muitas coisas inusitadas pelo caminho. – Ele se sobressaltou ao me ouvir, e fiando as mãos nos bolsos em seguida.

—A única coisa que eu queria era um cônsul britânico. – resmungou. Rolei os olhos.

—Eustáquio. – chamei, continuando apenas quando ele me olhou. – Pode procurar por este mundo inteiro e não encontrará um cônsul britânico. Ainda não percebeu isso?

Ele empertigou-se, mas nada retrucou. Lá pelas sete da manhã quando todos os tontos já deslizavam pelo mar, até competindo entre si; os botes que nos levariam para o navio retornaram à praia. Despedimo-nos de Coriakin reafirmando uma segunda visita a sua casa. Os Tontos, agora habilidosos, acompanharam o Peregrino até a entrada da baía. Aos poucos, a Ilha de Coriakin foi ficando para trás e o mar aberto surgia diante de nós.

Havia uma expectativa em encontrarmos a estrela azul radiante no céu quando findou o dia, mas não aconteceu. Após o jantar, quase todos se encontravam sob o convés para jogos de tabuleiro, ou simplesmente para conversar. Aproveitei a quietude para admirar a noite de um dos pontos mais altos, pouco visto por quem estivesse no convés.

O mar sereno que o Peregrino percorria era escuro como o céu noturno. Este, por sua vez, estendia-se até o horizonte como um tapete de estrelas indescritível. A brisa agitava meus cabelos e a fechei o casaco que trouxera. Como também era de Caspian, estava enorme, mas cumpria muito bem seu papel protegendo-me da noite fria.

Podia ouvir o som dos marinheiros, distante, e além disso, silêncio. Bem no horizonte se aproximava uma nuvem escura, mas nada que atrapalhasse a noite belíssima. Meus irmãos teriam adorado essa aventura. Respirei fundo, debruçando-me na beirada do navio. O silêncio seguiu por mais alguns minutos até que ouvi passos de aproximando.

—Está um pouco frio para ficar aqui fora, não? – Caspian dissera, fazendo-me olhá-lo. Tinha um sorriso de lado enquanto se aproximava, vestia um casaco também e seu cabelo estava solto. Sorri de leve.

—Posso lhe dizer o mesmo, majestade. – disse. Ele sorriu largo, parando ao meu lado na beirada.

—Lhe caiu muito bem. – comentou, olhando o casaco. Sorri, desviando o rosto para o horizonte tentando disfarçar o rubor.

—É bom saber disso, por que este, em especial, acho que não vou devolver. – confessei.

Caspian sorriu de novo fazendo um arrepio subir por minhas costas. Ele moveu o olhar para a noite por alguns segundos e o acompanhei. O som suave do mar e os leves rangidos do Peregrino eram os únicos a serem ouvidos por algum tempo. Ousei espiar Caspian pelo canto do olho, ele permanecia quieto contemplando o céu. O sorriso de antes deu lugar a um olhar pensativo, suas mãos estavam mergulhadas em seus bolsos.

Se quisesse, não havia necessidade de dizer qualquer coisa. Apenas estar em sua companhia já aquecia meu coração e até seu silêncio fazia-me amá-lo mais. Caspian era alguém com quem eu não hesitaria em passar toda minha vida. Mas exatamente por isso, magoá-lo era algo fora de questão. Eu precisava manter os pés no chão por mais que meu coração clamasse para que não.

—É uma das noites mais belas que já vi. – ele comentou de repente, ainda olhando o céu. Precisei de alguns segundos para responder.

—Devo concordar. – disse. – Mesmo em Nárnia, não vi nenhuma como essa.

Dessa vez, senti os olhos de Caspian sobre mim. Não resisti e retribui seu olhar. O brilho que encontrei em seus olhos me fez perder o fôlego, a contemplação em seu rosto fez meu coração disparar. Caspian retirou as mãos dos bolsos e se aproximou ao ponto de eu precisar erguer o rosto para olhá-lo nos olhos. Sua presença ocupou toda minha visão, a brisa agitava nossos fios e roupas. Acomodei uma mecha atrás da orelha e senti o toque de Caspian na outra mão.

—Não sei o que fiz para merecer mais tempo com você. – ele sussurrou, o olhar preso no meu.

A pele de sua mão estava fria quando entrelaçou seus dedos aos meus, firme. Com a mão livre, Caspian tocou minha face exposta ao vento. Aproximou seu rosto até beijar sem pressa próximo ao canto dos lábios. O toque quente do beijo contra minha pele fria devido o vento, fez-me estremecer. Sua palma tocou minha face e seus dedos mergulharam em meus cabelos, Caspian estava tão próximo que a ponta de seu nariz tocou o meu, nossa respiração era uma só. O vento trazia seu perfume para mim enquanto ele falou, a voz baixa e rouca, o sotaque tão característico.

—Farei o que for preciso para que não acabe outra vez.

Manteve nossas mãos entrelaçadas ao nosso lado quando colou seus lábios aos meus, um beijo calmo, casto, mas intenso pelo selo de sua promessa. Retribuí de todo coração, e interrompi, afastando-me o suficiente para falar, sem sequer abrir os olhos.

—Caspian – chamei, um breve sussurro. – Eu amo você.

O senti sorrir, e Caspian levou seus lábios de volta aos meus. Conduzi a mão livre para sua nuca, trazendo-o para mais perto. Foi como se uma corrente elétrica percorresse todo meu corpo. O vento soprou mais forte. Aprofundamos o beijo por breves segundos, até sentirmos respingos de água. Caspian interrompeu o beijo e olhou para o horizonte. Aquela nuvem de chuva estava mais próxima e duas gotas caíram em meu rosto.

Ele voltou-se para mim novamente com aquele sorriso lateral, deu-me um breve terceiro beijo e disse que era hora de entrar. Seguimos para o convés onde a agitação por causa da chuva começava, Caspian despediu-se de mim, só então soltando minha mão. Logo ele se juntou aos outros e eu retornei a cabine ainda sentindo seu toque entre meus dedos, o coração acelerado, mas, acima de tudo, sentia sua promessa impressa em cada gesto.


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Notas finais do capítulo

Que tal? Eu já estava com saudades desses dois juntinhos! Esse capítulo demorou um pouco mais para sair pq me envolvi com um desafio de Dabbles e passei a última semana focada no projeto. É de Nárnia, bem curtinha e gostei muito do resultado! Se quiserem dar uma olhadinha, esse é o link:

https://fanfiction.com.br/historia/794731/Poeira_e_Ouro/

Comentários são muito bem vindos aqui e lá! Haha

Até o próximo capítulo!
Beijos.



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