Não sei onde estávamos só tenho certeza que afundávamos e bem depressa. Minhas forças de manter a enorme bolha de ar já se esgotavam, foi como se alguém tivesse aberto uma enorme descarga de forças no meu peito. Tentei entrar em contato com alguns animais marinho, mais nada, devíamos estar em um local muito poluído. Pensei em Annabeth, meus amigos que estavam dentro do ônibus, todas essas pessoas inocentes.

__ Me desculpem – sussurrei

Desmaiei logo em seguida. Não me lembro de nada, achei que realmente estava morrendo.

***

__ Percy! – chamaram com urgência – Acorda! Percy!

Eu estava zonzo demais para saber quem me chamava, tentei mexer os braços, mas parecia que tinham sido esmagados por uma tonelada de tijolos, assim como as pernas. Pude sentir minha roupa molhada grudada no meu corpo e o calor de alguém encostado no meu peito.

__ Será que ele morreu? – perguntou uma garota
__ NÃO! ELE NÃO PODE ESTAR MORTO DEPOIS DE SALVAR TODOS NÓS – respondeu outra agressivamente

Annabeth! Pensei. Isso era bom, estava começando a recobrar a consciência, senti meus pulmões se enchendo de ar e a voz grave de um garoto exclamou.

__ Acho que ele não morreu – disse ele feliz
__Ah Percy - disse Annabeth me abraçando

Um calor percorreu meu corpo. Consegui abrir os olhos, um mar de cabelos ondulados cor de areia estavam no meu rosto, ergui o braço com dificuldade e encostei no ombro de Annabeth. Ela se virou para mim, colocou as duas mãos no meu rosto e me encheu de beijos, beijos molhados, ela estava chorando.

__ Achamos estava morto seu Cabeça-de- Alga – disse ela com a voz embargada
__ Foi mal – respondi, minha voz estava terrível
__ Foi péssimo cara, já ia te dar uns choques pra ver se você voltava – disse Jason

Dois braços se enfiaram debaixo dos meus, fui erguido com facilidade por Jason. Ele me carregou até um banco – muito duro por sinal – deu-me uma garrafa com néctar e o delicioso gosto de biscoito invadiu minha boca. Já me senti bem revigorado. Piper, Annabeth e Jason estavam bem secos, ao contrario de mim, estava parecendo um cachorro de rua em dia de chuva – inclusive no cheiro.

__ O que aconteceu? – perguntei
__ Você salvou todos dentro do ônibus – disse Piper
__ Mais como? Eu só me lembro do ônibus ter caído com tudo no mar, de ter tentado salvar todos vocês e de desmaiar
__ Bom, quando acordamos, Arco-Íris e seus amigos estavam imundos, mas pelo que entendi pelos gestos estranhos que ele fazia, tinha sido chamado por você e subido carregando o ônibus, ai quando vimos você estava caído na beirada da praia, fedendo e desmaiado
__ Como o ônibus caiu no mar? – perguntou Jason
__ Eu não sei, quando resolvi levantar pra dar uma andada no corredor, o motorista estava caído em cima do volante, olhei pelo para-brisa e estávamos voando.

Annabeth andava de um lado para o outro pensando, Piper sentou-se do meu lado, me entregou uma toalha e me contava como fez para persuadir os mortais. Jason estava tentando descobrir onde estávamos.

__ Talvez tenha sido Zeus tentando te derrubar – disse Annabeth
__ Ei! – reclamou Jason – Meu pai não iria tentar me matar
__ Mais é estranho Jason, como o ônibus ia voar assim do nada? Hera talvez? Ela não gosta muito de mim, talvez esteja tentando me matar – disse ela
__ Hera não é ruim Annabeth, ela pediu nossa ajuda lembra?
__ Só pediu porque estava presa na mão de um gigante que iria consumir sua força até que desaparecesse, o que não seria má ideia – ela olhou para os lados – espero que não tenha vacas por aqui
__ Annabeth... Não brinque com os deuses – a lembrei – Acho que devemos continuar a viagem, não temos todo o tempo do mundo, o Olimpo esta um caos.
__ Isso mesmo, mas acho que você deve trocar de roupa, seu cheiro esta muito desagradável Percy – disse Annabeth sorrindo
__ Ah obrigado – respondi constrangido

Piper me jogou uma mochila com algumas peças de roupa, ela disse que pediu ajuda a mãe para resolver esse problema. Procurei um canto onde não tinha ninguém, o que eu achei? Um pequeno arbusto. Tirei a camisa e tive a ousadia de cheirá-la estava realmente cheirando muito mal. Olhei as roupas que Piper tinha arrumado para mim, uma camisa preta com as escritas “Sou um garoto da onda”, uma bermuda de pescador parecida com a que meu pai usava e uns All Stars novos. O pessoal estava sentando me esperando, cheguei perto deles.

__ Sou um garoto da onda? – perguntou Annabeth em um tom de deboche
__ Caiu super bem em você Percy – disse Piper

Annabeth a fuzilou por uma fração de segundos

__ Vamos? – perguntei
__ Vamos, já estamos atrasados – Jason me jogou uma mochila – Pra você menino da onda.
__ Tiraram o dia para me zoar foi? Eu salvei vocês, não se esqueçam disso – resmunguei
__ Então vamos Aquamen – disse Annabeth

Andamos até a estrada, eu não tinha reparado, mas a praia estava vazia desde a hora que eu acordei, ainda bem. Se eu me lembro das coordenadas que vieram na minha cabeça assim que o ônibus caiu no mar estávamos em San Andreas.

__ Jason, conseguiu descobrir onde estamos?- perguntou Piper
__ San Andreas – respondi
__ Como você sabe?
__ Quando Percy esta no mar ele se localiza facilmente – explicou Annabeth – O Monte não esta longe, se conseguíssemos um lugar pra descansar
__ Seu pai não mora por aqui? – indagou Jason
__ Mora...
__ Então vamos pra lá – disse ele
__ Meu pai esta viajando, foi para Roma estudar sua nova tese, não tem ninguém lá em casa
__ Melhor ainda, assim se chamarmos a atenção de algum monstro não machucamos ninguém da sua casa – eu disse
__ Bem... Como quiserem – disse indiferente

Depois de horas esperando um ônibus ou uma carona sequer uma senhora teve a bondade de parar e nos levar até a casa de Annabeth. O sol já se punha no horizonte, nem parece que tínhamos saído do Acampamento faz dois dias, eu estava precisando de um bom banho e quem sabe de um enorme hambúrguer. Ficamos alguns bons quilômetros em silêncio, as luzes da cidade já podiam ser vistas, eu me sentia desconfortável naquele carro minúsculo, nós quatro nos acomodamos no banco de trás, não queríamos arriscar, semideuses nunca eram bem tratados e quando eram na maioria das vezes, as pessoas bondosas eram monstros querendo nos comer.

__ Sei quem são vocês – disse a senhora

Entreolhamo-nos. O que eu disse? Senhoras boas demais são perigosas.

__ Não sei do que a senhora esta falando – disse Annabeth
__ A filha de Atena me poupe, seu namoradinho filho de Poseidon ai é a cara do pai, e os olhos dessa menina são como os de Afrodite, além do poder que emana desse jovem loiro, filho de Zeus – ela deu um longo suspiro – Não se preocupem, não sou nenhum monstro nem nada
__ Bem... Porque esta nos ajudando? – perguntou Jason
__ Hermes, ele me mandou aqui
__ Por quê? – perguntei
__ As minhas entregas não estão chegando para Hefesto, ele disse que transformaria Hermes em uma estátua de bronze se ele não resolvesse isso logo – ela deu de ombro
__ E o que a senhora faz?
__ Você já ouviu falar nas coisas que Hefesto faz para pegar Afrodite com Ares não é mesmo? Pois então, eu ofereço alguns atrativos para ele. Hefesto é um homem tão bom, Afrodite não o merece, culpa dela, eu ter essa aparência – ela resmungou com um rancor nítido na voz
__ Como assim? – perguntou Piper
__ A sua querida mãezinha fez com que eu me apaixonasse por Zeus para se vingar de Hera. Depois que Hera descobriu que eu e Zeus tínhamos um “caso” me amaldiçoou a ter essa aparência – ela olhou Jason pelo espelho – esse garoto filho de Zeus é tão lindo quanto o pai.

Ela deu uma piscadela para Jason, o rosto dele ficou tão vermelho quanto às bandeiras do chalé de Ares. Permanecemos o resto do caminho em silêncio. Pensei no que essa senhora havia nos dito, ela tinha sido apenas um objeto na mão dos deuses, como um objeto de vingança descartável, fiquei muito desconfortável com a situação.

__ Chegamos – disse Annabeth

A casa esta como eu me lembrava, não muito grande, com janelas e portas de madeira, uma casa tradicional americana. Descemos do carro apertado, todos se espreguiçaram, Jason foi ajudar Piper com as mochilas no porta-malas e Annabeth foi tentar achar uma chave reserva, não havia trago a sua. A velha senhora me chamou com um aceno de mão, fiquei meio receoso mais acabei indo.

__ Você tem o coração nobre meu rapaz, diferente de qualquer um dentro desse carro – ela olhou para os lados – Prepare-se, tempos ruins estão por vir, coisas que você nunca imaginou irão acontecer, então tome cuidado, especialmente com alguém próximo a você.

Eu ia perguntar o que ela queria dizer com isso, mas ela arrancou o carro antes de qualquer contestação. Entrei na casa de Annabeth, que agora não tinha mais cheiro de cookies recém-saídos do forno e nem brinquedos espalhados pela casa, os únicos que vieram nos receber foram os dois gatos da família.
Colocamos as mochilas no canto da sala, Annabeth fez sinal para nos acomodarmos, a noite já tinha caído e todos estavam famintos.

__ Vou ver se tem alguma coisa para nós comermos na cozinha – disse ela – Ah e Piper, o banheiro fica no segundo andar a direita, as toalhas estão no balcão, sinta-se em casa.
__ Obrigada – disse Piper
__ Espere ai, vou te ajudar Annie – eu disse

Fui atrás dela e deixei Jason esparramado no sofá acariciando os dois gatos. Sentei-me na cadeira e fiquei a observando. Annabeth vasculhava cada canto do armário retirando alguns pães, catchup, mostarda, picles e algumas outras coisas de fazer hambúrguer.

__ Não sabia que você cozinhava – eu disse
__ E não cozinho – ela ajeitou uma frigideira no fogão – Aprendi a fazer sanduiches, se é que você chama isso de cozinhar.

Ela de uma gargalhada, o que me fez abrir um sorriso. Eu era completamente apaixonado por essa garota, cada movimento que ela fazia, o simples gesto de tirar o cabelo do rosto e coloca-lo atrás da orelha, me fazia entender que eu não suportaria mais ficar sem Annabeth. Imagino se quando eu vi minha vida inteira passar diante dos meus olhos, essa minha vida tenha sido com ela, aposto que sim.
Levantei-me e a abracei por trás. O cheiro de limão sempre presente em seus cabelos me acalmava, dei uma leve mordida em seu pescoço o que a fez todos os pelos loiros de seu braço de eriçarem. Ela se pôs de frente para mim com um sorriso no rosto, retribui o sorriso e desliguei o fogão. A peguei no colo e a sentei na mesa fiquei entre suas pernas, beijava seu pescoço seguindo com leves mordidas, os seus braços percorriam minhas costas, assim como eu ela estava com a respiração ofegante, desfiz o seu rabo de cavalo e os cabelos loiros desceram por seu rosto a deixando ainda mais bonita, nossos lábios se encontraram em um beijo intenso. Deixei minhas mãos livres percorrendo suas costas e coxas.

__ Percy – me chamou em um sussurro
__ Percy! – chamou com mais urgência.

Ignorei-a e continuei como estava. Ela colocou os dois pés no meu peito e me empurrou para longe, cai sentado no chão da cozinha.

__ Ei, qual é a sua? – perguntei aborrecido

Ela apontou para porta, seu rosto estava mais vermelho que um tomate. Olhei.

__ Piper... – resmunguei
__ Desculpa interromper, mas... Temos um probleminha – disse ela sem jeito.