Tiffany’s PDV

– Você ainda a ama? – Jessica insistiu.

Eu não quero a amar, eu não gosto de ainda estar sentindo algo tão profundo assim por alguém que me feriu. Penso que já deveria ter esquecido todo o ocorrido, mas a ferida foi tão intensa e dolorosa que acabou me cegando.
Eu fui embora da Coréia sem ouvir uma explicação de TaeYeon. Eu sentiria remorso se não fosse pelo fato de ter visto com meus próprios olhos aquilo tudo. Sei que magoei outras pessoas quando decidi voltar para meu país natal, mas eu não me preocupei com isso na época, afinal, eu estava magoada e como disse, essa dor me cegou.

– Não… - Respondi baixo depois de rápidos segundos analisando como eu deveria responder – TaeYeon é apenas passado para mim.
Resolvi mentir mais uma vez. A minha vida já era uma mentira.

Eu voltei para ter a oportunidade de recomeçar, mas as vozes do passado me perseguiram. Ainda existem tais fantasmas que teimam em me apavorar e me fazem lembrar de momentos que eu quero esquecer.
Ao menos eu queria esquecer.
Ah… Eu sou a contradição em pessoa.

– Por que você continua mentindo pra mim? – Jessica disse e senti que ela estava magoada. Me mantive quieta – Tiffany, você realmente acha que eu não te conheço? Eu sei quando está mentindo. Posso ser lerda às vezes, mas eu sei quando alguém diz a verdade.
– Mas é qu-

Cortei minha fala quando vi TaeYeon passar pela sala indo em direção a porta.
– TaeYeon! – Jessica gritou seu nome e ela nem ao menos se virou, se retirando do apartamento.

O que deu nela? Me levantei com a intenção de ir atrás de TaeYeon, mas Jessica segurou em meu braço.
– Não vou deixar você fazer isso – Ela me repreendeu.
– Ela desmaiou há poucas horas atrás, não podemos a deixar sair por ai sozinha – Tentei me soltar de seus braços outra vez, mas foi em vão.
– Você se preocupa com ela – Jessica me olhou com sua expressão bem séria. Ela se levantou e me encarou – Você ainda a ama?
– Jessie, eu preci-
– Stephanie Hwang, eu não vou deixar você sair daqui. Seja lá o que aconteceu entre vocês duas, eu realmente não me importo, mas não quero ver você machucada e nem quero que machuque aquela garota – Abaixei minha cabeça e passei a ouvir as palavras de Jessica atentamente – Se você está dizendo que não a ama mais, tudo bem, eu vou tentar acreditar em você, mas é por ela ser apenas passado em sua vida, que não vou deixar que vá atrás dela.

Respirei fundo, fechando meus olhos por breves segundos. Jessica consegue ser tão firme em seus argumentos que pode fazer qualquer pessoa mudar de ideia no mesmo instante. Acho que foi por isso que me tornei amiga dela. Por ser sincera e honesta comigo.
– Então? – Jessica esperava por uma resposta e pareceu decepcionada quando me larguei no sofá, mordendo meu lábio inferior. Ela continuou em pé, me olhando por mais alguns instantes antes de continuar – Eu realmente espero que você esteja ciente de suas escolhas e que não se arrependa mais tarde.

Yuri's PDV

– Me ligue para me informar sobre TaeYeon – HyoYeon disse.
– Pode deixar – Dei um leve sorriso e nos despedimos, cada uma entrando em seu carro.

Não demoramos muito para pegar algumas coisas de TaeYeon, pois estavam realmente bem arrumadas e organizadas. Fiquei feliz em saber que não vou morar com uma bagunceira.

Dei partida e liguei o rádio em uma estação qualquer, batendo meus dedos no volante conforme a batida da música. Decidi não me apressar e passei a dirigir tranquilamente, aproveitando esse tempo para pensar, coisa que não estou tendo tempo para fazer. A primeira coisa que me veio à cabeça foi Jessica. É sempre Jessica.
É incrível como tem várias pessoas querendo ficar comigo e logo a que mais quero e desejo não está nem ai pra mim. E não estou me gabando, porque não estou bem nessa história. Se eu estivesse bem eu estaria ao lado dela.

Dirigi por apenas cinco minutos, aos quais passaram voando sem eu perceber. Eu estava no piloto automático e nem sei como vim para onde estou agora.
Parei no sinal e deitei minha cabeça ao volante, batendo minha testa contra ele várias vezes.

– O que fazer? – Murmurei comigo mesma, apertando meus olhos e me forçando a pensar em algo que resolvesse de vez essa minha paixão incontrolável. Era impossível tirar essa princesa fria de meus pensamentos.

Deitei minha cabeça pra trás e passei a olhar para as pessoas na rua. Vi pessoas apressadas falando em seus celulares, outras riam feito loucas sentadas no banco da praça. Vi um casal andando de mãos dadas e tomando sorvete alegremente. Suspirei. Passei meus olhos pelos cachorros que corriam atrás dos pombos e vi também TaeYeon. Vi quem?!
– Tae-Taeyeon?

Cerrei meus olhos forçando minha vista para ter certeza de que eu estava vendo certo. Aquele ser jogado no banco da praça é ela? É nisso que dá esquecer de colocar as lentes.
Eu dei um jeito de sair da pista e estacionei o carro de qualquer forma, descendo correndo.
Fui aumentando os passos e praguejando contra Tiffany. Como deixou essa criança sair de lá assim? Ela vai ver só quando eu chegar em casa.
Bufei, soltando ar pelas narinas.

– TaeYeon? – A chamei assim que cheguei mais perto. Ela levantou seu olhar devagar até mim.
– Yu…Yuri – Ela sussurrou com dificuldade e eu segurei em sua mão, cuja tremia de um jeito que me deixou realmente assustada.
– Como você veio parar aqui? Oh Dear God, você está queimando!

Pousei a palma de minha mão em sua testa e só faltava sair fumaça de TaeYeon! Ela já passou de 39 graus faz tempo. Tirei a mochila de suas costas, a ajeitando em meus ombros. Eu estava ficando nervosa com o jeito que ela olhava pra mim. Era tão doloroso olhar diretamente pra eles.

– Está sentindo dor? – Perguntei tirando o cabelo de seus olhos e a ajudando a sentar de forma correta. Ela negou com a cabeça levemente – Vou te levar para o médico, ok? – TaeYeon arregalou os olhos. A dor em seus olhos se transformou em medo. Pensei que era só no tamanho que ela se assemelhava com uma criança.
– Yu… N-não – Ela sussurrou, tentando apertar minha mão, sem sucesso. Percebi que ela passara a tremer ainda mais e eu não sabia que isso era possível. Respirei fundo para manter a calma e um pouco de paz tomou conta de mim.
– Eu preciso te levar, Tae – A olhei esperando que ela confiasse em mim. É a segunda vez no dia que ela passa mal e eu não posso simplesmente fazer nada.
– Por… Po-por favor…

Aish, esses olhos, ela pode conseguir o que quiser com eles.
Peguei TaeYeon no colo, ajeitando ela em meus braços.
– Ok, TaeYeon-ah. Não vamos pro hospital, não se preocupe.
Ela fechou os olhos, se apertando em mim. Essa criança pesa como um velho gordo, Deus!

Depois que a peguei no colo, é óbvio que passei a fazer tudo com certa dificuldade. Andar foi uma destas coisas. Acho que vou conversar com ela sobre uma dieta que fiz um tempo atrás. A temperatura do corpo de TaeYeon junto a minha estava me deixando desconfortável.
Demorei um tempo para conseguir abrir a porta do carro, coloquei-a sentada, ajeitei seu cinto e bati a porta calmamente. Em minha mente havia apenas uma coisa: raiva de Tiffany. Tudo bem que não iria durar muito tempo até eu ver aquele eyesmile que derrete meu coração, mas ela vai ouvir e muito!

Não precisei dirigir muito porque estávamos a apenas alguns quarteirões de distância. Quando cheguei, pedi ajuda ao porteiro de meu prédio que foi extremamente gentil comigo. Entrei no elevador com TaeYeon ainda desacordada em meus braços.
Respirei fundo tentando manter a calma e não explodir em cima das outras. Quando o elevador abriu, saí calmamente e bati na porta de meu apartamento com o pé. Ao abrir a porta, Jessica mudou seu sorriso para uma cara de espanto em poucos segundos.

– Yul… O que aconteceu? – Ela perguntou, dando espaço para minha entrada.
Vi Tiffany aparecer atrás de Jessica, seus olhos se abrindo mais a cada milésimo.
– TaeTae! – Ela exclamou, mantendo seus olhos em cima da mais velha por pouco tempo, antes de abaixar seu olhar, envergonhada.

TaeTae? Bufei e caminhei até meu quarto, deixando TaeYeon deitada. Respirei fundo para não perder a compostura e saí do quarto como um furacão. Apenas parei de frente a elas e cruzei os braços. Eu sabia que isso as faria falar.

– Não nos olhe assim, foi ela quem decidiu sair daqui sem dar explicações – Jessica se pronunciou. Ignorei seu comentário e me voltei para Tiffany, que mantinha sua cabeça baixa.
– Desculpe, Yul
– Você tem noção do perigo que ela estava correndo lá fora? – Cheguei um pouco mais perto, o que a fez olhar para mim – Como você deixa a menina sair assim? Você estava lá quando ela desmaiou, não estava?
– Eu não sou babá de ninguém, Yuri
Revirei meus olhos. Logo após, mordi meu lábio para conter ásperas palavras.
– Você realmente perdeu o juízo, Stephanie
– Você nem a conhece! Para quê tanta preocupação assim, huh? – Tiffany levantou os braços expressando seu desentendimento - Vai ficar velha cedo.
– E isso importa? Você não sabe o que é caridade? Quem em sã consciência deixaria uma pessoa doente sair por ai sozinha? – Elevei meu tom de voz e não a deixei me interromper -Eu só pedi um favor para você: cuidar de TaeYeon - Bati minhas mãos em minhas coxas e vi os olhos de Tiffany lacrimejarem – O quão difícil é isso? Você deixou TaeYeon sair e a encontrei largada na praça, quase inconsciente, por sua culpa!
– Yuri… - Jessica chamou meu nome. Ignorei.
– Tiffany, por que a deixou sair? Por que não teve a capacidade de manter TaeYeon dentro desse apart-
– Yuri! – Jessica gritou, me empurrando.
– O que foi?! – Gritei ainda mais alto. Senti meu rosto queimar.
Tiffany correu para dentro do banheiro, batendo a porta com toda sua força.

– O que deu em você hoje? – Jessie me olhou em desaprovação. Virei meu rosto e puxei ar.
Agora ela quer saber o que está acontecendo? Agora ela quer que eu dê satisfação?

Eu sei que exagerei nos gritos, mas eu não consegui deixar essa passar. Se tivesse acontecido algo a TaeYeon eu nunca me perdoaria. Tiffany não é assim, ela tem compaixão, ela é prestativa.

Sentei no sofá, tampando meu rosto com as mãos. Passei a balançar meu corpo de leve, mostrando meu nervosismo. Pode parecer banal, mas meu nível de estresse está tão elevado, que minhas atitudes estão até mesmo incompreensíveis para mim.
Eu não gosto de gritar e muito menos de discutir.
Eu jogo toda a culpa pra cima de Jessica, é ela quem está me deixando assim. Maluca!

– Yuri…
– …
– Kwon Yuri!
Ao ouvir seu tom de voz, elevei meu olhar até ela. Senti um arrepio tremer todo meu corpo quando olhei para seu semblante. Por que precisava ser tão linda? Desviei meu olhar e ela percebeu.
– Me desculpe por mais cedo, ok? Eu não queria ter dito aquilo
– Tudo bem, Jessica – Forcei um sorriso e ela me olhou séria.
– Não. Não está tudo bem – Jessica se sentou ao meu lado e segurou em minha mão. Meu corpo gelou. Meu coração acelerou e eu não sabia o que era o ar – Você não está bem. Eu não estou bem por saber que você não está bem. Yuri, olha pra mim – Senti seus dedos gelados tocarem meu rosto e o virar levemente até a encarar – Eu quero ver você bem, eu sinto falta de você feliz. Daquele Yuri que trocava de namorada a cada mês, que ia para todas as festas comigo, que me fazia rir, que fazia piadas sem graça a todo momento. Da Yuri que nunca gritava e tomava conta de mim.
– Jessica, eu preciso falar com a Tiffany… - Tentei me levantar, mas ela me puxou.

Eu não queria ouvir aquilo tudo outra vez.

– Tiffany vai ficar bem – Ela apertou mais minha mão, me fazendo respirar fundo, pois sabia que ela ia continuar falando – Se preocupe com você agora, com a sua felicidade. Isso é possível?
– Em partes – Respondi automaticamente. Jessica me olhou espantada.
– O que?
– Eu estou em partes feliz, por ter você em minha vida, Sica – Ela abriu a boca, mas a cortei – Minha vez de falar, ok? – Ela concordou com a cabeça. Tomei ar e um pouco de coragem para continuar. Eu precisava desabafar, aqueles gritos foram um pontapé para essa conversa – Eu te amo e você sabe disso. Acho que todos sabem disso, não é? Eu quero te ver feliz, mas eu sinto muito, eu não posso voltar a ser a Yuri que eu era. Eu percebi que não valia a pena eu ter todas se eu não poderia ter quem eu realmente queria. Percebi que não adianta eu manter a calma se eu não colocar pra fora tudo que estou sentindo. Percebi que tenho que ser forte e seguir em frente, lutar. Se… Se você não quer nada comigo, eu não vou mais forçar, eu juro, mas isso não quer dizer que vou desistir de você.

Jessica abaixou a cabeça, com suas bochechas corando. Sorri.
– Eu te amo, Jung. E eu não estou brincando com você, eu nunca brincaria com você.
– Eu não sei o que dizer. É… Eu só não quero te ver triste, Yuri.
– Não estou triste, eu tenho a melhor amiga do mundo, porque motivo eu estaria infeliz? – Ela sorriu pra mim.
– Eu nem sou uma amiga tão boa assim.
– Estava falando de Tiffany – Respondi séria e ela me deu um tapa no braço, fazendo um bico fofo. Ri de sua reação e a abracei por puro instinto – É brincadeira – A apertei ainda mais contra mim. Fechei meus olhos e me concentrei apenas em ouvir seus batimentos cardíacos.

– Eu te amo, Kwon.

Sorri ao ouvir tais palavras, mas não foi um sorriso totalmente feliz. Porque eu sei e ela sabe, que o que ela sente por mim não passa de amizade. Esse amor não era o que eu realmente queria que ela sentisse por mim.

Meu telefone tocou, fazendo nos separar. Jessica se levantou e avisou que iria falar com Tiffany. Peguei o celular de meu bolso e atendi sem demora assim que vi quem era.
– Ei HyoYeon
– Como TaeYeon está?
– Boa noite pra você também, eu estou bem, obrigada por perguntar – Respondi, fazendo HyoYeon bufar
– Não estou interessada em você, player – Ela riu.
– Então está interessada na pequena, huh? Isso é pedofilia, Dona Kim.
– Idiota…
Nós duas rimos e ela me lembrou de sua pergunta. Contei tudo que tinha acontecido desde quando nos separamos na faculdade e HyoYeon ficou ansiosa.

– Eu estou indo praí!!
– Você não precisa vir, eu sei cuidar del… HyoYeon?

Tirei meu celular da orelha, percebendo que ela tinha desligado. Como é educada!

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