Aos Meus Olhos escrita por Pitty-chan


Capítulo 3
E Eu Esqueci De Dizer Que Te Amava - Parte TRÊS


Notas iniciais do capítulo

Você corria e salvava o dia, e eu corria e te salvava.



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[E Eu Esqueci De Dizer Que Te Amava - Parte Três]


 


 


 


“A vida é uma existência muito frágil.”


 


Foi a primeira coisa que você me disse, aos catorze anos de idade, quando finalmente conseguiu olhar nos meus olhos no campo de batalha.


 


Você tinha catorze anos e estava lutando a tanto tempo que já nem mais se lembrava quanto. Eu tentara mantê-lo fora da guerra o máximo que pudera, mas como você tinha que se mostrar tão promissor... eu tivera que deixá-lo ir. No fim das contas, minha maior lealdade tinha que ser a Konoha, e se eu tivesse que sacrificá-lo por Konoha era assim que devia ser.


 


Por isso, com os pés sobre o campo de batalha você era selvagem, incontrolável e aterrorizado a maior parte do tempo. Matava para salvar, mas a visão da carnificina que causava o deixava doente. Por mais que você lutasse contra aquilo tentando estar sempre um pé à frente da histeria, - ela o deixava doente.


 


Porém, a mão negra de toda a matança que você promovera já estava te alcançando, não importava a sua velocidade. E, assim, naqueles dias você corria o máximo que podia, sem realmente perceber que quando aquilo finalmente te alcançasse... te levaria ao chão com o dobro da força por toda a sua resistência.


 


E a mão negra o agarrou pelas pernas no segundo em que você não suportou mais correr. Talvez, se eu não tivesse estado lá, não sei o que teria acontecido.


 


Porque por eu não ter sido capaz de te proteger era a minha força física contra a sua e a minha voz contra a sua, gritando e te sacudindo pelos braços para que você parasse de rir para o nada. Era eu estapeando aquele pirralho que tinha acabado de chacinar setenta pessoas e que agora ria histericamente, mandando-o calar a boca você está me assustando, seu moleque. Era eu que tinha que afastar todo mundo enquanto você vomitava de cinco em cinco minutos.


 


Porque se fosse por mim eu teria te tratado como uma pipa – te deixaria voar tão alto e tão livre quanto desejasse, mas te tiraria do céu no momento exato em que o vento ficasse violento demais. Apesar de saber que, na verdade, não havia forma que eu pudesse fazer aquilo.


 


“Ei, ei, come devagar!” Eu reclamei, enquanto você tossia engasgado por fazer o ramén no prato desaparecer em um recorde de trinta segundos. Te dei um tapinha nas costas, rindo em seguida quando você já levantava a mão pedindo por mais um. “Calma, a comida não vai fugir!”


 


O atendente do Ichiraku olhou para mim interrogativamente, perguntando se devia mesmo trazer outro prato, e eu balancei a cabeça em afirmação. Você podia ser um pivete de sete anos, mas parecia estar com a fome de três mendigos.


 


(E jamais imaginaria que graças a isso eu me aproveitaria da sua carteira com juros e correção monetária nos anos decorrentes.)


 


“Jiraiya-sensei! Mais!”


 


(Ah, e da do seu filho também.)


 


O segundo prato veio e foi finalizado sem misericórdia, com a mesma velocidade do primeiro. Paguei a conta antes que você tivesse tempo de dizer que queria mais um e levantamos, deixando o restaurante de ramén.


 


“Hizashi disse que não come no Ichiraku porque a comida tem bactérias.” Você falou logo após, brincando de andar só nos buracos do chão. “É verdade, sensei?”


 


“Bactérias?” Eu repeti, arregalando os olhos. Aqueles Hyuuga realmente eram excêntricos, talvez eu devesse cuidar para que você mantivesse distância de amizade com as idéias estranhas deles. “Se fosse assim eu não beberia água. Os peixes transam nela.”


 


“O que é ‘transar’?”


 


Parei, por um instante sem saber o que responder.


 


“Transar... Transar é... É nadar bem rápido, Gaki.”


 


“Aaaaah.”


 


Era natal, e fazia dois anos exatamente que eu havia voltado a Konoha com uma bagagem a mais.


 


Uma bagagem loira, renitente e de grandes olhos azuis.


 


Até hoje não entendo direito o porquê de eu ter feito aquilo. Ainda mais causando o abalo das estruturas do acordo com Iwagakure – que, diga-se de passagem, era tão frágil que parecia ter sido promulgado por uma cúpula de emos.


 


Tsunade, Orochimaru e eu topávamos com órfãos de guerra a cada dois passos; não era como se o meu sensor de doador do criança esperança estivesse ligado durante as missões. Na maioria das vezes nós éramos forçados a deixar nossa compaixão do lado de dentro da vila, já que ela podia ser perigosa como uma mulher em período fértil.


 


Você poderia ter sido a ruína de Konoha.


 


Mas mesmo assim eu o fiz. Apenas para chegar à frente de Sarutobi-sensei e levar um esporro de rank S.


 


A questão era que Konoha estava por um fio. A maioria dos nossos recursos estava acabada, a soma dos danos e das baixas parecia impossível de ser recuperada. Pior do que qualquer guerra que já havia sido combatida, grande parte dos ninjas da folha retornava sendo carregada em pedaços – ou então não voltava de jeito nenhum. Todos os fundos haviam sido levados à exaustão.


 


Por isso, a soma das crianças abandonadas mesmo dentro da vila era absurda. Os pais lutavam a guerra e não voltavam; até os grandes clãs que costumavam acolher crianças órfãs já não tinham capital para aquilo. O orfanato oficial estava lotado até o limite. Não havia mais como acolher ninguém.


 


E, apesar de toda a minha capacidade fabulosa, eu não tinha condição de ficar com um pivete de cinco anos. Este era o problema de ser um discípulo de Hokage: nós éramos requisitados a todo o momento; chegávamos à vila e saíamos outra vez. E, por este fato, você caiu em mais um dos orfanatos improvisados de guerra. No meio da fome e do abandono, no meio do caos e da desordem. No meio da luta.


 


E foi assim até que sua idade o permitisse morar sozinho; anos em que você aprendera que se não comesse rápido o suficiente talvez não conseguiria comer nada mesmo.


 


“Jiraiya-sensei,” Você disse calmamente, atirando mais uma das minhas kunais na árvore. Ela girou no ar, batendo com o cabo em um galho e sendo precipitada para o lado oposto, onde ricocheteou com precisão matemática no tronco de outra árvore e acertou uma tarja explosiva no chão em cheio. “quando você vai virar meu sensei de verdade?” 


 


Mesmo eu às vezes ficava abismado com as coisas que você fazia ainda aos sete anos. Você era o que Sarutobi-sensei chamava de prodígio, gênio, talento indiscutível, e a razão pela qual ele permitira sua entrada em Konoha apesar de tudo. A habilidade para lutar estava na sua combinação genética e fluía dos dedos dos pés até o último fio de cabelo. Era como se você já tivesse aprendido tudo o que um ninja deveria saber em sua vida mesmo antes de nascer, e agora só estivesse exercendo conhecimento. Assim fácil.


 


Por isso, a sua sede de saber mais era exaustiva. Por já saber muito você tinha a curiosidade impagável dos insatisfeitos, e queria sempre mais. Eu me sentia quase como um copo de sake virado até a última gota toda vez que tinha folga o suficiente para tirá-lo do orfanato por uns dias.


 


E foi assim até que não houvesse mais nada que eu soubesse que você já não sabia.


 


“Acabou de entrar na academia, Gaki.” Eu disse, rindo da sua impaciência com os pobres senseis que queriam te ensinar a atirar shuriken quando você já acertava vinte em um mesmo alvo ao mesmo tempo. “Não tenha tanta pressa, pivetes precisam crescer e aparecer antes de querer se aventurar no meu time.”


 


Era pura negação, claro. Você era o moleque mais durão que eu já tinha conhecido; depois de tudo já agüentava qualquer tranco numa boa.


 


“Então, quando eu me formar vou ficar no time do sensei?”


 


“Vamos ver, Gaki. Vamos ver.”


 


“Promete?”


 


“Não posso prometer nada. Mas acho que sim.”


 


Ao ouvir aquilo você lançou uma última kunai, que fez o mesmo trajeto, fincando-se no chão por entre o buraco do punho da anterior. Outro lance bizarro. E sorriu, me obrigando a levantar e a brincar de subir em árvores, esquecendo da guerra que comia o céu do lado de fora. E olhando para você sorrindo eu só imaginava...


 


Quando foi que as pessoas haviam esquecido como ser felizes por razões simples, daquele jeito?


 


Era estranho para mim observar você crescer. Porque do outro lado dos portões da vila era como se nada mudasse; sempre a mesma guerra que abalava a terra e destruía as pessoas. Mas você mudava. E se tornava cada vez mais inteligente, forte, e capaz.


 


E eu já tinha certeza naquela época que você poderia mudar o mundo shinobi se vivesse o bastante.


 


Time Jiraiya.


 


“Minatooo, páraaaa.” Hiroshi reclamou, vindo atrás de mim. “Jiraiya-sensei, ele está fazendo experimentos com chakra de novo!”


 


A guerra acabara finalmente, deixando a vila aos trapos através de novos acordos de paz. Nova fina esperança de que tudo fosse ficar quieto por tempo o suficiente para que pudéssemos reaprender a respirar.


 


Agora a maior parte das minhas missões envolvia resgates e escolta de pessoas com três pirralhos ao meu encalço, contra todas as apostas de Tsunade de que eu jamais conseguiria lidar com um bando de crianças. Bom, mas você sabe muito bem como Tsunade é com apostas...


 


“Experimentos com chakra?” Eu repeti impassível, ao contrário das expectativas de Hiroshi. Reita - o outro garoto da equipe - apenas gemeu, desanimado. “O que ele está inventando agora?”


 


Você se formara na academia ninja aos dez anos, o primeiro da turma todos os semestres consecutivos. Por ser o mais novo do time era o que mais me enlouquecia, colocando os outros dois também de cabelos em pé com seus experimentos de ninjutsu. Naquela época já dominava katon, fuuton e raiton, já experimentava fuuinjutsus, já usava kuchiyose de sapos.


 


E aos doze anos já era eu que estava aprendendo com você, e não o contrário.


 


“Ele disse que está criando um jutsu.” Reita me contou, ainda desanimado. “Rasen...algo.”


 


“Rasenalgo?”


 


“Não. Rasen...algo.”


 


Eu o olhei. Afastado alguns metros no campo de treinamento eu conseguia ver a nuvem de chakra ao seu redor, concentrando-se e espiralando às suas mãos. Franzi o cenho. O que era aquilo? Cheguei mais perto.


 


“Minato, que diabos é isso?”


 


Mas foi um segundo de falta de concentração que o chakra ficou revoltoso, espiralando sem controle e se dispersando. Ao fim não havia mais nada, e você me enviou um olhar teatral, lançando as mãos para o alto e jogando-se no chão. Eu sorri da dramaticidade da cena.


 


Mal sabíamos nós que no futuro a sua persistência bizarra faria aquilo resultar no Rasengan.


 


“Por que nunca dá certo?” Você resmungou de lá do chão. “A teoria parece tão fácil.”


 


“Teoria e prática são coisas diferentes.” Reita disse, se aproximando ao lado de Hiroshi, que te ofereceu o cantil de água. “Teoria é quando todo mundo sabe o porquê, mas nada dá certo. Prática é quando tudo dá certo, mas ninguém sabe o porquê.” Ele continuou, bocejando. “Quando colocamos juntos teoria e prática nada dá certo e ninguém sabe o porquê.”


 


“Isso não é animador, Rei.”


 


“Mas é a realidade, Tanpopo-chan.”


 


Você murmurou algo incoerente por causa do apelido, bebendo parte do cantil e virando o resto da água na grama.


 


“AH!” Hiroshi gritou do nada, apontando. Todos nós olhamos na sua direção, que, com o susto, parara o movimento no ar. “DE NOVO!”


 


“O que foi, Hiro?”



“Ele acaba de desperdiçar água outra vez!” E arrancou o cantil da sua mão, checando se havia algo dentro. “Jogou todo o resto no chão de novo!”


 


Era assim a maior parte do tempo. Você fazendo algo que não devia, Hiroshi arrancando os cabelos e Reita bocejando desanimado.


 


“É só água, Hiro.” Reita disse, os olhos mais retos do que nunca. “E não ouro líquido.”


 


“Água é um recurso natural não-renovável, seus imbecis!”


 


“Na verdade é renovável, sim, Hir-...” Você já ia rebater, quando eu separei a briga inútil, entrando no meio. A sorte de Hiroshi era que ‘Tanpopo-chan’ era uma criança relativamente calma. Se você tivesse a personalidade de Naruto ele provavelmente teria tido muitos anos a menos.


 


Por Amaterasu... Haja paciência. Talvez Tsunade estivesse certa.


 


A bem da verdade, o seu problema não era vontade de desperdiçar bens naturais ou nada do gênero. O que eu percebera era que todas as vezes que você via algo acabando, ou se destruindo, ou morrendo, - algo na sua memória era ativado e você não suportava o pensamento daquilo acontecer. E, assim, muitas coisas suas eram jogadas fora antes que chegassem ao fim; como caixas de leite pela metade, frascos de shampoo, kunais trincadas...


 


O que levara a termos uma conversinha bem especial após um chilique fenomenal que você tivera aos pés de Sunagakure, por causa de um mero comentário alheio. Desde então aquela fobia parecia estar mais controlada, mas voltava em coisas pequenas, como jogar fora a água do cantil ao invés de terminar de beber.


 


“Você não toma jeito, Tanpopo. Um dia o Hiro vai ter um aneurisma de tanto gritar por sua caus-...”


 


O garoto não conseguiu terminar a frase, dado que um falcão-sacre cruzou os céus, nos dando um rasante. Aquilo era um mau sinal que todos nós já havíamos aprendido a reconhecer. Falcões-sacre só eram usados para alertar Konoha de algo muito ruim...


 


Mais uma guerra começando.


 


Todos os pelotões em fila. O time Jiraiya, assim como todos os times compostos de chuunins, foi dividido e separado em rankings de qualificação. Todos os ninjas de catorze anos para cima estavam automaticamente convocados para a guerra, sem que tivessem ou não escolha.


 


Nós nos separamos.


 


Era véspera de Natal do Quadragésimo Terceiro Ano do Dragão quando eu me encontrara novamente no Time Sarutobi, ao lado de Tsunade e Orochimaru. A guerra nos comia vivos mais uma vez, e tudo em que eu conseguia pensar era se aquilo não acabaria nunca mais.


 


O barulho das explosões nos ouvidos. O som da destruição inesgotável. O silêncio dos cadáveres.


 


O silêncio que nunca foi escrito.


 


Apesar de toda a força que o conselho de guerra da vila fizera para que eu o alistasse junto aos seus colegas de time, eu sabia que você não estava preparado. Eles só ouviam falar do garoto-prodígio de Jiraiya. Todos só ouviam falar da sua capacidade absurda de destruição, mas poucos sabiam de onde você vinha. Poucos sabiam o que você tinha passado. Você ficou em Konoha...


 


E eu não pude fazer nada por Reita e Hiroshi.


 


“Jiraiya-sensei... você tem medo de alguma coisa?”


 


“Não sei, Gaki.”


 


Mentira. Nós sempre sabemos do que temos medo.


 


Não foi até receber uma mensagem no meio do sangue e do cheiro de morte que eu percebi como era diferente ser um shinobi e ser um sensei. Meus dois alunos, dois dos melhores recém-promovidos chuunins da Vila da Folha, haviam voltado mortos em uma semana. Eles haviam sido despedaçados pelo inimigo, e um deles voltara a Konoha em um balde.


 


Um balde.


 


“Jiraiya-sensei... você tem medo de alguma coisa?”


 


Você poderia ter cinqüenta anos e a experiência do Sábio dos Seis Caminhos, mas eu não iria deixá-lo pisar no campo de batalha jamais. Eu estava certo disso.


 


“Não sei, Gaki.”


 


Jamais, está me ouvindo?


 


“Não sei.”


 


Mas... Não pude fazer nada.


 


Tsunade, Orochimaru e eu havíamos nos separado no marco zero por pedidos expressos do Hokage. Ela fora ao noroeste em direção indefinida, e Orochimaru à borda de Kaminari. Eu não fazia idéia de para onde estava indo, - não importava, nós não tínhamos mais aliados. A minha missão era matar quem quer que portasse uma arma e não estivesse com um hitaiate de Konoha. Assim simples.


 


Assim desumano.


 


Assim shinobi.


 


Ah, mas era véspera de Natal. Você tinha completado catorze anos há três meses, e a única carta que eu recebera era que um comboio  havia te levado para fora da vila, assim como a todos os outros garotos e garotas da sua idade. Não era um dia muito feliz para mim, mas nenhum deles era ultimamente, afinal.


 


Já estava chovendo há três dias quando o encontrei. Nossa companhia estava encurralada enquanto eu tentava desesperadamente manter todos vivos, até que de repente um kuchiyose gigantesco surgira, e um raio dourado como uma descarga elétrica percorrera todo o campo de batalha.


 


Pessoas caindo, morrendo, sendo despedaçadas no ar - uma visão puramente grotesca.


 


Por outro lado aquilo parecia um presente dos deuses, já que nós estivéramos espremidos em uma trincheira por cinco dias e precisávamos sair... algo que mesmo eu havia quebrado a cabeça para tentar, mas não havia conseguido. Quinze contra cento e doze não trazia probabilidades muito boas, e o que quer que aquele fenômeno da natureza fosse, estava mudando as chances para nós.


 


Houve um período de calma, uma pausa em que ninguém sabia o que fazer, e então alguém deu o sinal para... lutar. Eu pulei para a batalha.


 


Em um segundo já estava colocando três no chão. Houve um som esfarelador de ossos no ar quando o raio dourado passou rapidamente por mim, e eu juntei chakra o suficiente para invocar Gamaken. A morte negra se alastrava pelo campo à minha frente, e lancei um jato de fogo ao inimigo mais próximo... Até ouvir alguém gritar ‘ei, olhem, é um dos SANNIN!’.


 


Todo mundo parecia querer um pedaço dos Sannin agora.


 


Havia algo a ser dito sobre o pedaço de madeira aleatório que eu encontrara no chão, especialmente após ele explodir a cabeça de um como se ela fosse um melão maduro. Com meu chakra acabando e kunais arruinadas, eu tinha que usar o que quer que estivesse ao meu alcance como arma, com apenas o mínimo de energia para reforçar os ataques. Era o suficiente para matar.


 


O kuchiyose me gastara muito chakra, mas valera à pena. Pessoas caiam e gritavam enquanto Gamaken passava, morte perfeita e brutal. Anunciada.


 


Por inteiros quinze minutos não houve nada além de sangue, luta, gritos alucinados e chacina em todo o arredor. E de repente havia acabado. Quem quer... o que quer que tivesse aparecido havia massacrado a grande maioria dos inimigos.


 


‘O que’, eu descobri logo após, era um garoto - cabelo dourado empapado de sangue, olhos arregalados em completo choque.


 


Engoli em seco ao perceber que o kuchiyose que havia acabado de desaparecer era ninguém menos que Gamabunta, o temperamental rei dos sapos. E o cabelo loiro pertencia a ninguém menos que você.


 


Um de nós se aproximou para parabenizá-lo pelo feito, mas seus olhos estavam totalmente presos à carnificina ao seu redor. Você sorriu, e o sorriso não era o sorriso feliz que eu estava acostumado a ver. Eu conhecia aquele olhar. Aquele era o olhar de ‘pelo amor de Deus, me ajude, estou prestes a enlouquecer’, e todo mundo ao redor iria ser pego na sua avalanche. Comecei a me mover. Não iria deixar outra criança se tornar matadora de aliados. Não iria deixar você se tornar um assassino de amigos.


 


E foi então que um som saiu de sua boca, e me levou certo tempo até que eu percebesse que era uma risada. Uma gargalhada terrível - aguda, longa e histérica. Ela saía da sua garganta em gritos e continuava e continuava.


 


Todos se assustaram, começando a olhá-lo fixamente, e eu estaquei no lugar onde estava. Alguns andaram para trás, paralisando também. Muitos ninjas insanos tinham passe livre para se alistar para a guerra, especialmente se eles eram capazes de fazer o que você tinha acabado de fazer.


 


Ninguém se moveu.


 


Todos continuaram no mesmo lugar, hesitando, com medo de interromper a sua risada, com medo que você fosse em direção a eles, - insano ou não. Minha mente paralisada me fez ouvir a mais dois gritos até permitir que eu começasse a me mover de novo.


 


“Pára com isso!” Minha mão foi veloz contra o seu rosto, atingindo mais a sua boca do que sua bochecha. “Pára agora!” Sua cabeça virou violentamente para o lado, e eu o sacudi pelos braços até que você me olhasse com aqueles imensos olhos azuis.


 


Você estava se tremendo todo, em evidente exaustão de chakra. Depois de um mês de guerra qualquer um ficava intimamente familiar com todos os sinais de exaustão, e você estava mostrando toneladas deles.


 


Puxei-o pelo colarinho, arrastando-o em direção à trincheira, pensando em sedá-lo de uma forma ou de outra até que você se acalmasse, quando...


 


“A vida é uma existência muito frágil.” Você disse lentamente, me olhando de novo com aquele primeiro olhar cheio de emoção, mas com emoção nenhuma. Exatamente o mesmo olhar daquele dia, naquele acampamento incinerado. “Jiraiya-sensei... você tem medo de alguma coisa?”


 


Eu parei de arrastá-lo, ajoelhando à sua frente sem saber o que responder. Porque eu sabia muito bem do que eu tinha medo.


 


“Não sei, Gaki.”


 


E vomitou a noite inteira.


 


Algum tempo depois você se acostumara com as chacinas, claro. Sua mente era forte. Sua resistência era forte. Mas, acima de tudo, a sua vontade de prevalescer. A mão negra não podia mais alcançar a velocidade do Relâmpago Dourado de Konoha... temido dos pés ao último fio de cabelo dourado e empapado de sangue.


 


Você corria e salvava o dia, e eu corria e te salvava.


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Notas finais do capítulo

Yo! o/

*leva ovadas*

Me desculpem a demora para atualizar essa fic! T____T Eu já devia ter postado há muito tempo, mas não tive um segundo de paz ultimamente. xDDD

Ok, sem mais enrolações, o próximo capítulo é a última parte do Jiraiya. Alguém pode virar e dizer 'Mas, peraí, cê não acha que isso tá muito resumido, tia?'. Sim. Mas digamos que esta seria apenas a síntese de alguns acontecimentos que formaram o Minato aos olhos de cada um dos narradores.

Como exemplo, peguem os evangelhos da Bíblia. Cada um deles conta a mesma história, só que à olhos diferentes. Alguns deles dão mais atenção a certos fatos do que outros, e existem partes só citadas em um dos livros. Vai ser assim nessa fic também.

Sendo assim, partes em que o envolvimento é maior com o personagem-narrador vão ser melhor abordadas quando ele narrar, ok?

Hm... Bom... Eu não gosto muito dessa parte. Quando escrevi o capítulo do Jiraiya, esta foi uma das partes que eu mais editei (continuamente). Espero que vocês não a tenham odiado...

PS: "Tanpopo" significa "Dente-de-leão", o nome de uma flor amarela. Sempre que eu olho pra ela nos meus livros de paisagismo me lembro do Minato. xD Igualzinho!

Please, deixem reviews! ToT E, se puderem, deem uma olhada na outra fic que estou postando aqui, "Himitsu"! [/merchan]