Aos Meus Olhos escrita por Pitty-chan


Capítulo 2
E Eu Esqueci De Dizer Que Te Amava - Parte DOIS


Notas iniciais do capítulo

“Salve-se.” Eu havia implorado dentro do meu subconsciente. E ele tivera que salvar a si mesmo.



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[E Eu Esqueci De Dizer Que Te Amava - Parte Dois]

 

 

É, eu ouvi isso uma vez.

 

A maior diferença entre algo que pode dar errado e algo que não pode dar errado de jeito nenhum, é que quando algo que não pode dar errado de jeito nenhum dá errado, normalmente se torna impossível de se consertar.

 

Foi o que aconteceu naquela vez. Era só uma mísera missão de reconhecimento, nada ali possivelmente tinha como dar errado. Mas... É... A vida tem umas maneiras bizarras de nos apresentar a pessoas importantes.

 

Assim, desse jeito, uma missão que deveria ter sido mole como sentar no pudim tornou-se um completo caos.

 

Observei inquieto enquanto o fogo lambia as frágeis estruturas das casas e tendas, os currais, os animais. Gritos torturados enchiam o ar, tornando-o carregado e difícil de respirar, - fumaça pairava sob as árvores. Como sempre, as vítimas eram grupos nômades que se estabeleciam de região em região durante a passagem das estações.

 

Naquela época ainda havia uma grande xenofobia em relação a povos peregrinos como aquele. Camponeses, pastores de ovelhas, ciganos - povos despatriados eram normalmente vistos como má sorte, e por isso durante a guerra uma visão como aquela era terrivelmente comum. Ninguém queria ter o mau agouro em seu território. E o pior de tudo era que estava muito claro que aqueles cretinos estavam se divertindo com tudo aquilo.

 

Estremeci de raiva. Eu não devia ter sido o escolhido para ficar ali. Não ia me agüentar e uma hora ou outra iria pular lá e acabar com todos eles.

                                  

Foi quando de repente a fumaça se abrandou e uma cena entrou em meu campo de visão. Três crianças.

 

Chutaram a cabeça do menino, e ele afundou o rosto na terra com o impacto. O movimento inconsciente foi de tentar levantar-se, mas não houve efeito. Um novo golpe o fez cair de lado em um ângulo estranho, e à distância eu pude sentir o som de ossos finos de criança se rachando.

 

Pude ouvir o eco do desespero.

 

As duas garotinhas gritaram e se debateram, tentando ajudar o menino, mas foram arrastadas pelo chão uma para cada lado. Uma delas, uma menina também loira de não mais de oito anos, teve uma kunai pressionada no pescoço. A outra foi chutada para o lado do garoto, enquanto um dos homens berrava para ele uma ordem que eu não consegui distinguir.

 

A ordem foi repetida, e um novo chute nas costelas do menino quando ele se recusou. Mais uma ordem, mais uma recusa e mais um chute. Aquilo se repetiu diversas vezes, até que algo foi gritado tão alto que mesmo eu pude ouvir.

 

“Agora ou ela morre!”

 

E jogaram a menina em cima ele, forçando as mãozinhas pequenas do garoto loiro sobre dela. E a verdade havia acabado de arriar minhas calças.

 

Eles queriam que o garotinho tocasse a menina, senão a outra seria morta. A percepção varou a minha mente tão depressa que por pouco eu não caí do galho. Espera um pouco, O QUÊ? Forçar crianças a fazer aquilo umas com as outras?!

 

Uma coisa como aquela era mais errada que dez definições da palavra ‘errado’ juntas.

 

Era um jogo... Um jogo nojento. Os homens eles torturavam e matavam, as mulheres eles estupravam e assassinavam. Eles não queriam forçar adultos a fazerem coisas como aquela uns com os outros, e sim crianças. Macular crianças, que eram inocentes e intocadas.

 

Porque, se por algum milagre sobrevivessem, aquilo as marcaria pelo resto da vida.

 

Os olhos azuis do menino vagaram entre as duas em dilema, em busca de alguém que o dissesse o que fazer, até que de alguma forma se encontraram com os meus. Eu o olhei e você me olhou; e aquela fração de segundo em que nossos olhares se encontraram pareceu durar uma hora.

 

Ali tudo o que consegui decifrar no seu olhar foi uma pergunta.

 

Será que Deus vai nos perdoar pelo que fazemos uns com os outros?

 

Eu não soube responder à sua questão muda e apenas paralisei, desejando que alguém viesse e me dissesse que eu não estaria quebrando nenhum tratado se fosse até lá e te resgatasse. Que ao invés de vomitarem ideais de guerra sobre nossas cabeças quanto a uma paz que nunca chegaria, alguém fizesse alguma coisa. Mas ninguém chegou, ninguém fez nada.

 

Porque vocês não eram importantes. Porque se vocês sangrassem, sangrariam sabendo que ninguém dava a mínima. Porque Konoha nunca sacrificaria aliados de guerra por um grupo de pastores nômades.

 

“Salve-se.” Eu implorei, mas nada aconteceu.

 

E você fechou os olhos e tomou fôlego. E levantou-se muito rápido, sobressaltando os ninjas de Iwa em surpresa e empurrando para o chão o que estava com a kunai sobre o pescoço da menina - que soube um tempo depois ser sua irmã. As duas correram no meio da comoção, mas não foram rápidas o suficiente, e logo atraíram a atenção de outros no acampamento incinerado.

 

Uma saraivada de kunais em cada uma, e ambas caíram mortas no chão. Ao longe um grito de uma mãe pôde ser ouvido, para logo após ser silenciado brutalmente. O jogo havia acabado, agora era a hora do extermínio - os gritos de completo terror puderam ser ouvidos por quilômetros.

 

Porém, antes que eu pudesse piscar agarraram-no pelos cabelos, arrastando-o para dentro de uma casa em chamas e fora do alcance da minha visão.

                                                                  

Naquele momento o ódio transformou-se em vórtice e eu avancei, mandando todos os tratados de Konoha pro inferno abraçar o capeta.

 

Corri no meio do fogo e da destruição, animais enlouquecidos cruzando meu caminho, pessoas apavoradas tentando salvar-se e sendo abatidas. Eu não tinha tempo de ajudá-las, eles matariam aquele menino. Eles matariam você. E apesar de nunca tê-lo visto antes, algo me disse que se eu o salvasse estaria salvando Konoha, e não destruindo-a. E estaria salvando a mim mesmo de uma vida sem significado.

 

Porém, ao contrário do que a minha excelente sorte sugeria, os ninjas de Iwa perceberam a minha presença e foram para cima de mim. Eu girei sobre os calcanhares, enviando jutsus de katon, tentando retardá-los.

 

Aquilo não deu um bom resultado, dado que a área já estava coberta de fogo - o que apenas o intensificou, me barreirando. Praguejei contra minha própria estupidez, perdendo você de vista quando quem quer que o estivesse arrastando sumiu por detrás das labaredas e da cortina de fumaça.

 

Doton: Yomi Numa!

 

Minha raiva gritou, dispersando o jutsu de lama e fazendo com que alguns fossem imobilizados.

 

A duração exata de um minuto se passou enquanto eu lutava, até que por fim despedaçasse todos os inimigos daquele arraial. Ao fim todos estavam mortos. Não apenas os ninjas, mas os civis também.

 

Esperei, desolado, enquanto a poeira baixava e a fumaça subia ao céu. Montanhas de corpos jogados no chão eram coisas diárias na minha vida; estar alguns segundos atrasado era algo que se repetia diversas vezes. Aquilo não devia me comover.

 

Então, por que eu estava morrendo de ódio por ter falhado? Por ter permitido que tanta gente morresse por acordos de território tolos mais uma vez? Mesmo apesar de saber que aquilo ainda aconteceria de novo e de novo e de novo?

 

Ao contrário dos outros eu já não me lembrava direito de como era antes da guerra. Tudo da qual eu me lembrava era de um pôr-do-sol calmo e de pássaros cantando, e aquilo não me pareceu algo pela qual valesse à pena matar.

 

Por isso, minha única e infundada esperança era que um menino de cinco anos estivesse vivo em algum lugar daquele acampamento devastado.

 

Andei por entre os corpos sem compreender de onde vinha aquela expectativa ingênua e sem sentido. Não tinha como você estar vivo, eles haviam matado a todos sob a qual pousaram os olhos. Como uma verdadeira purgação.

 

E por quê? Não fazia sentido. Nada daquilo fazia o mínimo sentido. Assim, naquele momento, exatamente naquele momento, a essência da guerra me arrasou.

 

Chequei dentro de cada uma das casas às cinzas, encontrando apenas cadáveres de pessoas mutiladas e carbonizadas. A expressão do terror, da angústia... ela estava presente nos rostos desfigurados de todos os que ainda possuíam as cabeças grudadas aos pescoços. Algumas delas estavam espalhadas pelo caminho, abertas como melancias explodidas. Havia sangue em todo lugar.

 

“Estamos mortos?” Perguntei para o ar, agachando perto do corpo esfacelado de uma mulher que segurava um bebê, também morto. Retirei uma mecha de cabelo ensopada de sangue de seu rosto, encarando seus olhos vazios. “Já estamos todos mortos. Eu acho que já é hora de parar, você não concorda?”

 

Não obtive resposta.

 

O cadáver não me disse nada.

 

Levantei, saindo daquele lugar cambaleante e tropeçando nos meus próprios pés, algo comprimindo minha garganta com uma força sobre-humana. Eu não sabia o que era aquele algo, - ou melhor, eu sabia, mas não valia à pena reconhecê-lo. Quando você o ignora ainda pode fingir que ele não existe, nunca existiu e nunca vai existir.

 

Meu último tropeço me levou até a última casa, onde a porta estava estraçalhada aos pedaços. Segurei no umbral para me apoiar e espiei do lado de dentro, certo de que teria a mesma visão de todas as outras.

 

E em parte eu tive.

 

Só em parte.

 

Porque no meio do monte de cadáveres de sempre, estirado no chão e coberto de sangue dos pés à cabeça, estava um menino loiro de imensos olhos azuis me encarando. Olhando de verdade, e não apenas com o olhar morto na minha direção.

 

Eu ofeguei em choque e incrédulo, entrando no cômodo destruído e parando no portal de madeira, esperando que ele começasse a gritar e a chorar e a implorar por sua vida. Ou ao menos que esboçasse algum tipo de reação de surpresa, terror ou receio. Mas não aconteceu nada, ele apenas virou o rosto para o lado oposto.

 

Olhei ao redor. Entre os cadáveres haviam alguns camponeses, mas a grande maioria era de ninjas de Iwa... Quem os havia matado? Quem tinha te salvado no meu lugar?

 

Observei os ferimentos mortais que eles tinham, e logo vi que todos haviam sido mortos com golpes certeiros na garganta ou nos olhos, exatamente como nós – ninjas de elite - éramos treinados para matar quando o inimigo estava em grande quantidade. Havia de ser assim, golpes certeiros em áreas fatais, para que a produtividade fosse aproveitada no mínimo de tempo possível. Um ninja contra vários, eliminação rápida e eficaz.

 

Rendimento maximizado.

 

Mas camponeses como aqueles não tinham como ser treinados para promover aquela carnificina. Não havia nenhuma maneira de que alguém ali tivesse treinamento de combate o suficiente para que pudesse fazer aquilo. Nenhum deles ao menos postava uma arma nas mãos. Apenas… Apenas…

 

Apenas o menino?

 

Em sua mãozinha direita ele segurava uma kunai de Iwagakure com a lâmina e o punho cobertos de sangue. A arma, apesar de ser um instrumento leve e de fácil manuseio para um adulto, parecia grande demais e desproporcional para aquela mão tão pequena. Ela parecia ameaçadora. Ela parecia… como se fosse dar cabo da alma do menino a qualquer momento.


Foi então que lavado pelo horror a constatação final me pegou pelos tornozelos, me nocauteando. Ninguém havia salvado aquele menino.

 

“Salve-se.” Eu havia implorado dentro do meu subconsciente. E ele tivera que salvar a si mesmo.

 

Após o que me pareceram ser horas o garoto virou-se de novo em minha direção, e mais uma vez eu olhei dentro daqueles olhos cristalinos, que não carregavam nenhum sentimento. O menino me olhou de volta com nenhuma emoção cruzando seu rosto. Apenas me encarou com aqueles olhos que lavraram minha alma, como se estivesse me inspecionando, procurando de alguma forma saber se podia confiar em mim.

 

Assim, sem conseguir retirar os olhos dos dele, eu apenas o olhei de volta tentando descobrir o que ele estava pensando. A razão pela qual ele estava me encarando com aqueles imensos olhos azuis que deveriam ser capazes de dizer tudo, mas que naquele momento não diziam uma palavra sequer.

 

Avancei.

 

Passos curtos na sua direção. Ele não se moveu um milímetro, apenas permaneceu lá deitado no meio do sangue sem expressão e segurando a kunai como se não tivesse a mínima consciência do que fizera. Destacado da realidade. Como se não fizesse idéia, não compreendesse, não soubesse, que aquelas pessoas que derrubara jamais iriam se levantar de novo. E a pior verdade era que talvez ele não soubesse mesmo…

 

Agachei ao seu lado repetindo o ato que fizera com o cadáver da mulher, e retirei uma mecha loira que estava colada na testa dele, ensopada de sangue. Como reflexo ele fechou os olhos, apenas para abri-los de novo e me encarar de perto. Eu me perguntei se agora ele iria chorar, mas... Não.

 

Sem que eu esperasse sua mão se moveu, empunhando a kunai com força o suficiente para deixar as pontas dos dedos brancas, apontando-a para mim. Ele não tremia, ele não tinha nenhuma sensação emotiva. E aquilo estava ainda tão mais errado que me deu vontade de vomitar.

 

O que a guerra fazia com as crianças? Forçá-las a assistir monstruosidades e a empunhar armas e lutar por suas vidas? Transformá-las em máquinas, em anomalias, em demônios...?

 

Qual era o efeito de uma barbárie em uma alma tão jovem? No fim das contas aquilo não era o mesmo que assassinar sem matar?

 

“Menino, está tudo bem...” Eu disse em um tom suave, como se não pudesse falar nem um pouco mais alto. Afundei o dedo indicador na ponta da kunai forçando-a para baixo e ele arregalou os olhos, pela primeira vez mostrando algum tipo de emoção. “Menino, você não precisa lutar mais. Já pode chorar agora.”

 

Suas sobrancelhas se contraíram, seus lábios se fecharam em uma linha fina, seus olhos se encheram d’água. A kunai escorregou por entre seus dedos pequenos e caiu com um baque metálico na poça de sangue, fazendo com que espirrasse de encontro ao rosto dele.

 

E ele começou a chorar.

 

Um choro tão torturado e tão aterrorizado que por um momento eu pensei ter me partido ao meio.

 

Sem que eu percebesse, no segundo seguinte eu já estava com ele no colo, totalmente tomado pelo poderoso instinto paternal gravado na minha seqüência genética por gerações. Eu segurei aquele menino nos braços tão junto a mim que o contato me fez sentir o batimento acelerado de seu coração, as ondas de terror vindo em tremores. Eu senti a sua dor, o seu sofrimento... Eu senti seu coração quebrar dentro do peito.

 

E ao contrário do que eu jamais havia pensado na vida, ali me veio a urgência de fazer aquilo parar de alguma forma. Como se pudesse de alguma maneira transferir a dor dele para o meu coração e transformá-la em algo bonito. Mas não havia nada bonito ao nosso redor, apenas o cheiro da guerra curvando-se sobre nossas cabeças... E a dor daquele menino, que mesmo eu não podia derrotar. A sua dor. Eu só pude permanecer ali durante as horas seguintes, esperando que por algum milagre você também pudesse sobreviver ao passado.

 

Demorou um total de sete horas até que Tsunade finalmente chegasse.

 

Ela esquadrinhou o que restava daquela casa com o olhar, sobressaltando-se quando seus olhos se encontraram comigo ainda segurando aquela figurinha loira e coberta de sangue no colo, que agora dormia em paz.

 

“Jiraiya? O q-...?!” Fiz sinal para que ela abaixasse a voz. “O que está fazendo aq-…?! O que houv-…?! O que diabo-…?!” Interrompeu as próprias perguntas várias vezes, até sentar-se ao meu lado frustrada, passando uma mão pelo rosto. “Quem é a criança?”

 

“Não sei.” Respondi honestamente. “Filho de um dos defuntos lá fora. Pena que se sairmos perguntando quem é o pai dificilmente um deles vai se pronunciar.”

 

Tsunade ignorou a minha patética tentativa de piada, estudando-o.

 

“Está vivo?”

 

“Está.” Eu disse, ajeitando-o nos meus braços que já estavam ficando dormentes. “Mas provavelmente com alguns ossos fissurados. Aqui, tome.” Ela o pegou no colo, usando um de seus jutsus de cura enquanto o silêncio reinava no meio dos cadáveres. “E então?”

 

“O que?”

 

“O território.” Eu disse, olhando para o chão. “Você olhou no mapa do outro quadrante, não? Este território é nosso?”

 

Ela levou algum tempo para produzir a resposta, a luz verde do chakra iluminando seu rosto sujo de sangue. Com a outra mão retirou um papel dobrado de dentro do bolso, passando-o para mim. Nossos olhares se cruzaram em seriedade, e eu soube a resposta antes que ela dissesse.


“Não. Estas terras são do País da Terra, Jiraiya, e você não apenas ultrapassou as barreiras, mas chacinou seus ninjas dentro da jurisdição deles.” Desviou o olhar novamente. “Sabe o que isso quer dizer?”

 

“Que nós estamos muito ferrados?”

 

Uma sombra escureceu a pouca luz que vinha do buraco da porta estraçalhada. A voz que chegou em seguida veio em um tom zombeteiro e sibilante.

 

“Eleve isso ao infinito e talvez teremos uma vaga idéia.”

 

“Orochimaru.” Nós reconhecemos, e ele moveu-se de modo a entrar, chutando alguns cadáveres no caminho. “Como diabos conseguiu chegar aqui tão rápido?”

 

“Encontrei um time da ANBU no caminho que passou minhas informações.” Respondeu simplesmente, dando de ombros, apenas para deixar o olhar cair sobre você e um sorriso bizarro surgir no rosto. “Quem é o garoto?”

 

Na manhã seguinte estávamos na estrada de novo, partindo para Konoha. Ao que parecia os rumores que ninjas do País do Fogo haviam assassinado uma vila inteira na borda do País da Terra estavam fervilhando tanto que nós tivemos que abater uma dose considerável de inimigos. Você permanecia agarrado às minhas costas como um filhote de macaco, sem dizer uma única palavra, apenas olhando ao redor com seus olhos muito azuis.

 

As paredes do patético castelo de areia do tratado entre Iwa e Konoha finalmente haviam ruído. Uma mensagem vinda da vila através de um falcão dissera que a guerra havia alcançado o ápice agora que tínhamos novos inimigos declarados. O cerco havia fechado. Todos os ninjas com missões diplomáticas dentro de Iwagakure haviam sido mortos.

 

Alcançamos a metade do caminho, parando para descansar.

 

“O que vamos fazer com ele?” Tsunade perguntou, pegando uma garrafa de água e a dando em suas mãos. Você olhou da garrafa para ela, como se não soubesse o que fazer com aquilo. “Não podemos levar uma criança para Konoha no meio de uma guerra.”

 

“Eu não sei, não tinha pensado nisso.” Respondi, pegando a garrafa das suas mãos e abrindo a tampa. Levei ela até a sua boca, derramando um pouco. Você tossiu, se engasgando, mas entendendo que ela servia para beber. “Você não acha que algum clã o adotaria?”

 

“Impossível, as coisas estão muito difíceis para todos.”

 

Orochimaru fez um som de sarcasmo.

 

“Por que não o matamos de uma vez?” Ele disse sorrindo ironicamente, fazendo com que você redirecionasse o olhar acima da garrafa de água a ele. “Essas crianças órfãs de guerra não possuem nada além de sofrimento e dor esperando por elas. Seria um favor acabar com a vida desse garoto.”

 

“Acabar...?”

 

Todos nós olhamos em choque em direção à pequena voz que havia dito aquela palavra. Era a primeira vez que você dizia alguma coisa. Tsunade se refez do susto antes de mim, e enviou um olhar de reprovação ao nosso companheiro de time.

 

“Enlouqueceu, Orochimaru? Nós vamos deixar ele em uma vila civil próxima.”

 

“E torcer para que ela não seja atacada dentro de alguns dias?”

 

“Melhor do que sua excelente idéia de misericórdia quanto a matar uma criança à sangue frio!”

 

“Não a menos que v-...”

 

“Eu vou ficar com ele.”

 

Minha frase interrompeu a discussão, outra sessão de choque cruzando nosso acampamento. Peguei a garrafa de água entornando um pouco sobre a sua cabeça e limpando o sangue do seu rosto. Você olhou de mim para os outros, sem entender.

 

“O que está dizendo, Jira-...!”

 

“Vou ficar com ele.” Sorri o tipo de sorriso que faria qualquer pessoa repensar duas vezes sua própria sanidade. “Vou levá-lo pra Konoha como um dos meus genins.”

 

Orochimaru olhou de você para mim, se jogando para trás em uma gargalhada debochada. Tsunade, por sua vez, começou a procurar um termômetro em sua bolsa para checar minha temperatura, visto que eu só poderia estar profundamente delirante.

 

“Um... um genin...” Ele disse no meio de risada histérica. “Genin... Esse pivete mal tem idade para entrar na academia, quanto mais para ser um genin.”

 

“Isso não é o mais importante!” Ela colocou um dedo em minha cara. “Uma criança criada por você não sobreviveria uma semana!”

 

“Ah, vocês são muito críticos.” Eu me agachei na sua frente, pegando-o no colo. Instintivamente você se agarrou ao meu pescoço. “Olha só, nós não somos parecidos pra caramba?”

 

“Jiraiya...”

 

Mas quem disse que alguém conseguia contrariar uma das minhas idéias fantásticas – e diga-se de passagem, absurdas? Acertou se você disse ninguém. É. Você soube disso um pouco mais tarde, não, Minato?

 

“Qual é o seu nome, menino?” Eu perguntei mais uma vez sem receber resposta. Por que você não me falava nada? Aquilo estava ficando chato.

 

“Qual é o seu nome?” Tsunade repetiu a pergunta de forma suave, dado que toda vez que alguém se dirigia a você, você se agarrava no meu pescoço com força o suficiente para estrangular um camelo. “Nós precisamos te apresentar ao Sandaime-sama, senão não poderá entrar em Konoha.”

 

Um minuto de silêncio se passou, Orochimaru preparando-se para rir de nossa falha de comunicação mais uma vez, quando...

 

“Namikaze.” Foi a resposta que veio, seguida de um sorriso tão lindo que faria a Hello Kitty se esconder de vergonha. “Namikaze Minato.”

 

Nossa chegada à vila foi mais corrida que eu pensava. Colocamos os pés adentro e recebemos uma nova missão de cara, fazendo com que eu nem ao menos tivesse tempo de apresentá-lo à Sarutobi-sensei. A saída foi procurar algum lugar onde eu pudesse te deixar até o dia seguinte, quando voltasse... E foi esta a razão de eu me encontrar nos portões da propriedade Hyuuga.

 

“Hachirou!”

 

Acenei para meu velho amigo da bunke, que por coincidência estava tomando conta dos gêmeos herdeiros. Para a minha sorte ele tinha um alto grau de tolerância, e disse que poderia olhar você também, já que já estava de babá até segunda ordem.

 

Você olhou timidamente para o par de meninos de olhos brancos, aproximando-se. Não foi sem tempo que já estavam brincando como se se conhecessem há cento e dez anos.

 

“Ah, ele fala com todo mundo mas não fala comigo?”

 

Hachirou sorriu, olhando para os três pequenos.

 

“As crianças se entendem de formas sobrenaturais. Olhe só, se conhecem há cinco minutos, mas já estão brincando.”

 

Lembrei de algo que Sarutobi-sensei disse sobre quando dava aulas na academia:

 

“Crianças são assim mesmo. Nunca se viram e sempre se amaram.”

 

Mas logo a paz se perdeu em redemoinho, dado que gritos de briga vieram de onde vocês estavam brincando. Olhei para a cena, - você estava puxando o cabelo de um dos gêmeos enquanto o outro o dava um soco certeiro no nariz.

 

“HIZASHI!” Hachirou gritou para o gêmeo selvagem, que agora estava prestes a descer o sarrafo em você por puxar o cabelo de seu aniki. O bunke pegou o garoto, afastando-o alguns metros, enquanto Hiashi - o outro gêmeo - apenas permaneceu no chão abrindo o berreiro. “Hizashi, o que estava fazendo com o menino?!”

 

“Ele puxou o cabelo do Nii-sama!”

 

“Minato?” Eu o peguei no colo também, separando os dois e enviando um olhar estressado à Hachirou, antes de redirecioná-lo para a figurinha loira nos meus braços. “Você está...? Ah. Está sangrando.”

 

Você piscou ao ver o sangue nas pontas de seus dedos. Tinha tocado seu nariz após o soco, e sua mão viera molhada e grudenta com o conhecido cheiro metálico.

 

“Sangue? Isso... isso quer dizer… Que eu vou morrer?”

 

Ao ouvir isso o menino Hyuuga empalideceu mais ainda, se fosse possível. Hizashi se contorceu nos braços do ninja da bunke até conseguir escapar, e se apressou para o seu lado.


“Me desculpe, Minato! Desculpa! Eu não queria te matar! Eu sinto muito...”

 

Hizashi o envolveu em um abraço, e ambos começaram a chorar em uníssono.

 

Alto.


“Ah, pelo amor de Amaterasu...” Eu exclamei, na falta de palavras melhores, sem saber que aquele era só o começo... Pois ali começava a lenda de Namikaze Minato, o futuro Yondaime Hokage, o Kiiroi Senkou.

 

O Relâmpago Dourado de Konoha.

 

 

 

 

 

 

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Notas finais do capítulo

So much for a short chapter... xD Desculpem pelo tamanho desse, mas eu já escrevi essa história praticamente toda, mas não sabia onde cortar o capítulo. Ah, eu amo escrever sobre crianças! *o* Minato-chan! (agarra)

Me desculpem se esse capítulo ficou confuso! Me perguntem que eu explico, gente, sem problemas! E eu prometo que só faltam mais dois capítulos pra acabar a parte do Jiraiya!

Agradeço por lerem, e por favor, deixem um review com o que estão achando até aqui!