Meus Imortais escrita por Rafa


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Obriga pelos reviews *_*
PS: Ju, vlw por dizer que cor é vermelho :)
Gente, a estória é o seguinte, vou contar a história da ah, o cap. está a baixo.



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De repente a ideia lhe pareceu péssima. Aquele não era o quarto de seus pais pra onde ela corria quando não tinha sono ou sentia medo. Embalada por eles, ouvia estórias até pegar no sono. Não eram estórias de príncipes e princesas, foram raras as vezes que seus pais lhe contaram uma desse tipo. Zoe sempre gostou de ouvir sobre os amigos de Las Vegas, como seus pais chamava-os.


Claro que aquele não era o quarto de seus pais. Se fosse, na porta teria um desenho feito de giz de cera - como levou bronca por isso -, e ela não estaria parada do lado de fora, já estaria de baixo da coberta abraçada aos dois.


Engraçado, seus pais nunca pintaram a porta.


– Ainda acordada? - Morgan apareceu de repente fazendo com que Zoe levasse um susto.


– Uhum, - colocou os braços para trás escondendo o caderno que tinha nas mãos - não consigo dormir...


– Então somos duas. - Comia uma barra de cereal, percebeu que Zoe olhava. - Você não comeu nada desde... Quando foi a última vez que comeu?


Zoe apenas balançou os ombros.


– Está com fome?


– Um pouquinho.


– Venha, vou preparar alguma coisa pra você.


Morgan segurou Zoe pela mão e seguiram até a cozinha.


– Cereal. Aveia. Pão integral. - Vasculhava o armário em busca de algum alimento comestível por criança. - Sucrilho?


Zoe que estava sentada a mesa assentiu com a cabeça.


– Droga. Estamos sem leite... Hãm...gosta de nutella?


– Sim.


– Pão integral com Nutella, tudo bem pra você? - Disse meio sem graça.


– Aham.


Morgan levou as coisas até a mesa. Passou Nutella em duas fatias de pão e pôs em um prato, empurrou até a frente de Zoe.


– Limonada ou café?


– Tem chá ?


– Fica pronto em um minuto.


Foi até o fogão preparar a bebida enquanto Zoe comia o pão. Até que pra uma criança ela não era fresca. Sorte a sua por isso.


– Você gosta de chá ? -Estava virada para o fogão.


– Gosto.


– E do que mais você gosta? - Despejou o pozinho na água morna.


– Dos Muppets.


– Eles são uns bobos. - Disse no automático, claro que um adulto não gosta dos Muppets.


– Eu sei.


– Você não falou muito desde que chegou aqui... - sentou-se a mesa e encheu duas xícaras entregando uma a Zoe - Eu também gosto. Nas chamadas de vídeo você era tão falante...


– É. - Soprava as bolinhas no chá.


– Então, eu estive pensando... por que não me diz mais sobre você?


– O que?


–Sei lá, qualquer coisa. Qual é sua cor preferida ?


– Amarelo.


– Ah, a cor dos raios de sol. Legal, todo mundo gosta de amarelo, é uma cor fofinha. E qual é sua comida preferida?


– Não precisa fazer isso tia Morgan.


– Isso... ?


– Se esforçar tanto.


Morgan levou o chá até a boca. Soprou o líquido antes de beber.


– Por que perdeu o sono?


– Eu não sei, ele ficava me olhando. - Pegou o caderno que estava em seu colo e depositou sobre a mesa. - Eu queria ler ele logo.


– E porque não lê já que quer tanto?


– Acha que eu devo?


Demorou um pouco até obter resposta.


– Acho. É o que você quer não é? Talvez a hora certa seja o tamanho da sua vontade de lê-lo.


– Talvez...


Zoe fitou o caderno laranja por um longo tempo, sequer piscava os olhos. Finalmente teve coragem de abri-lo. No verso da capa tinha uma dedicatória:


Para minha irmã Sara.


De seu amigo, Greg.


E logo abaixo tinha outra:


Para a melhor filha do mundo.


Com amor, mamãe.


Zoe passou os dedinhos em cima das letra de sua mãe. Lembrou-se de quando tinha a mão guiada por ela enquanto segurava o lápis. O nome de seu pai foi a primeira palavra que aprendeu a escrever.


– Tia Morgan... você pode... ? - Empurrou o caderno para a frente.


– Tem certeza?


Zoe apenas balançou a cabeça.


Morgan leu as dedicatórias em voz baixa antes de iniciar a leitura.



–Fazia frio naquela época do ano. Lá fora o vento gélido soprava contra as janelas fazendo um barulho assustador. Dentro do quarto as luzes estavam apagadas. A porta foi travada com uma cadeira para que ninguém que estivesse do lado de fora consegui-se abri-la.


A menina de cabelos negros e dentes graciosamente separados escondia-se em baixo da cama e mesmo no escuro mantinha os olhos abertos, talvez estivesse assustada de mais para pensar em fecha-los. Ela abria-os bem forte, com a mesma força que segurava a mão de seu ursinho Mad, que ganhara no ano anterior como prêmio da pescaria de um parque que visitou a cidade.


Não tinha medo de bicho papão ou bruxas voando em vassouras de palha. Tinha medo dos gritos que vinha dos outros cômodos da casa. Eram gritos de pavor. Uma luz muito fraca entrava pela fresta da porta. As vezes a garota conseguia ver quando alguém passava em frente, e logo depois passava outra pessoa. Era sempre assim, um passo seguido de outro e junto com eles os gritos e barulho de objetos caindo.


Seu nome é Sara Sidle.


Ela apertava tão forte a mão de seu ursinho que a qualquer hora iria descostura-la. Mas ele não se importava, também tinha medo.


– Abre Sara ! - O pai dela gritava por seu nome e socava a porta com força. Ele gritava e girava a fechadura em uma tentativa inútil de abri-la


As sombras dos passos estavam agitadas. Ela sabia que eles estavam travando uma batalha. Por algumas vezes os passos de sua mãe sumiam, certamente ela era empurrada para longe dali. Mas logo depois apareciam novamente.


– Abre essa porta sua peste! - o pai dela esbravejava - Quando eu entrar ai vou dar um lição em você, porca imunda!


– Deixe-a em paz - a mãe de Sara gritava.


– Ele não vai conseguir entrar aqui. Não tenha medo, está tudo bem. -Disse em um sussurro enquanto tentava esboçar um sorriso para o seu amigo de pelúcia.


Na verdade estava tentando acalmar a sí mesma, mas sua aparente confiança era tanta que não admitiria isso nem a própria sombra. Foi forçada a isso. Para sobreviver naquela casa onde todos só se preocupavam em manter o estoque de cerveja e antiimflamatórios suficientes para a semana, teve de aprender a ser forte mesmo que por dentro estivesse dilacerada.


Os socos e chutes contra a porta ficavam cada vez mais fortes. A cada soco um lágrima caia de seus olhos. Não havia nada que pudesse fazer. Os gritos de sua mãe entravam em seus ouvidos como espadas afiadas.


Talvez se ela emitisse algum som o barulho vindo do outro lado da porta ficasse em segundo plano. Então o ursinho poderia acreditar que estivesse tudo bem de verdade.


"Você não está sozinho


Juntos nós ficaremos de pé


Estarei ao seu lado


Você sabe que segurarei sua mão."




Os passos sumiram. Um barulho de vidro em pedaços. Os gritos sesaram.


O silêncio repentino era reconfortante mas ela continuou a cantar. Tinham medo de sair lá fora. Cantava a mesma canção repetidas vezes, não se cansava ou não estava com a cabeça boa para pensar em um repertório novo.


Quando teve coragem o suficiente para abrir a porta ouviu os soluços. Ela conhecia bem aquele barulho. Depois dos palavrões aquele era o som que mais ouvia-se naquela casa.


O cheiro forte de bebida misturado com cigarro invadiu seu nariz fazendo-a sentir vontade de tossir.


Depois de seus olhos acostumarem-se com a mudança de claridade ela pôde ver sua mãe chorando em um canto da sala abraçada ás próprias pernas. Suas roupas estavam rasgadas e seu cabelo caia sobre o rosto. Tragava o cigarro que tinha nas mãos como se fosse um copo d'agua em um dia de sol escaldante. Perto dela descansava uma faca coberta de vermelho.


Sara foi aproximando-se cuidadosamente enquanto apertava Mad nos braços. Quando estava bem próxima sentiu seus pés molhados. Olhou para baixo e reconheceu o líquido transparente derramado no chão. Tudo o que conseguiu pensar foi no quão bravo seu pai ficaria com toda aquela bebida sendo desperdiçada, sequer notou que pisava em cacos de vidro.


Seus olhos foram seguindo o caminho que o líquido traçava pelo chão da sala, em um certo ponto sua transparencia deu lugar a uma cor viva. Uma cor primária como diziam os professores da escola.


Nesse mesmo ponto seus olhos viram o homem caído no chão, foi então que ela soltou o ar que nem sabia estar segurando.


Seu pai tinha sangue por todo o corpo e próximo a ele poças vermelhas se formavam. Estava morto.


Mad teve sorte por ter os olhos de botão tapados antes que pudesse registrar alguma imagem.




– Desculpe-me tia Morgan. - O chão ao seus pés estava sujo de vômito.


– Zoe! Oh meu Deus... eu não deveria... você está bem? Não, é claro que não está.


– Tudo bem. - A ânsia veio outra vez. Zoe correu até o banheiro seguida por Morgan.


Debruçou-se no vaso. O barulho que o vômito provocava misturava-se com os som do choro. Talvez a idéia de ler aquela história, pelo menos a parte ruim, não foi uma boa ideia.


Mas começar uma história pulando a primeira parte não faz muito sentido.


Os pais dela estavam mortos, nada fazia sentido naquele momento.


Morgan segurava o cabelo de Zoe evitando que caísse sobre o rosto. Não demorou muito para que aquele cheiro misturado com a cor marrom do chá lhe provocasse náuseas também. Estava grávida, sentia enjoo por muito menos.


A reação de seu corpo foi inevitável.


Sentados no chão observavam a coisa de cor marrom sujando o banheiro. Mesmo que quisessem era difícil não olhar, sentiam o gosto daquilo em suas bocas.


– Amanhã... nós vamos... - Morgan passava a mão na boca. - sair pra comprar comida de criança.



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Notas finais do capítulo

Entenderam como vai ser?
Espero não ter decepcionado.