JPN Pride escrita por Thata-chan


Capítulo 4
Happy Birthday!


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora ;A;



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-Quer cozinhar? –Ela perguntou.

-Mas eu não quero incendiar a cozinha de novo. –Disse com um olhar vago.

-Eu sei cozinhar. –Pausou. –Enquanto não vamos para Hiroshima... Por que não nos divertimos?

Ele demorou um pouco pra entender, mas logo que se tocou, esboçou um sorriso enorme e brilhante daquela criança de oito anos que se escondia em seu interior.

Chegando à cozinha a pequena vestiu um avental e colocou um em Miyavi também.

-Vamos fazer um bolo, sim?

-Claro! –E levantou as panelas que segurava pra cima batendo na parede.

Os dois emitiram um longo “hurr” por causa do ruído ensurdecedor.

-Desculpe.

Em seguida ela pegou uma tigela, farinha, ovos e todos os ingredientes necessários para tal. Separou uma forma e um pouco de margarina para que o tatuado untasse.

-Você vai fazer o seguinte. –Arrancou um pedaço de guardanapo. –Você vai pegar este pedaço e passar na margarina desse jeito. –Disse pousando o pedaço de papel e deslizando-o pelo material oleoso até que ficasse do jeito desejado.

-Tá, tá! Me deixe fazer, vamos! –Disse ansioso.

 Pegou um pedaço de guardanapo, deslizou-o pela margarina e começou a passar em cima da forma, como se estivesse pintando uma tela.

-Ótimo, enquanto você faz isso eu preparo a massa.

Tudo parecia ocorrer como o planejado. O atrapalhado fazia o que fosse de menos perigoso enquanto a criança de quatorze anos mexia com a parte pesada e o fogo.

Algo irônico, não acha?

Estava tudo bem. Até agora.

Alguns minutos se passaram desde que o tatuado assumira o trabalho de untar a forma.

Akane se propunha a misturar a massa e os ingredientes.

-Está bom assim?

E mostrara a forma. Havia feito tudo como dito, untado-a com a proporção certa... Mas havia mais margarina em si mesmo do que na dita cuja forma!

-Mas o que diabos... ?! Você está todo sujo! Vá se limpar!

-Mas eu quero misturar a massa! Deixe-me fazer isso, por favor! –Implorou com uma expressão pidona e infantil.

-Ah... Tudo bem. Pelo amor de Deus, não suje a cozinha! Ela já sofreu o suficiente por hoje. Eu vou pegar um pano para você se limpar. Está no banheiro de cima, certo?

-Sim, pode ir lá!

A criança corria ao cômodo enquanto Ishihara encarava a massa cremosa.

-Você acha que pode, não é mesmo? –Arqueou as sobrancelhas. –Acha que eu sou inferior a você, não é?

A massa continuava paralisada, como qualquer massa de bolo faria.

-Você vai ver!!! –E explodiu em determinação, pegando a colher de pau e mexendo a massa até que por algum motivo se cansasse.

Seus braços tatuados mexiam na massa com certa velocidade e atenção que...


-Mas o que você fez?!? –Akane adentrou a cozinha com um pano e parecia surpresa ao notar o que havia acontecido.

Ele estava mais sujo do que antes. Seu rosto mostrava inúmeras manchas de uma massa de tom bege, assim como as paredes.

-Eu... Me empolguei demais. Acho que foi isso. –Deu uma risada, envergonhado.

-Não é possível... Você é um desastrado!! Eu não posso sair desta cozinha por um minuto que você consegue sujá-la de tal maneira... ! –Tirou o casaco verde-musgo que usava e o deixou no kotatsu da sala. Vestia uma camiseta branca. Recolocou o avental.

-Desculpe!

-Ah... tudo bem. Bom, vamos continuar, sim? Ainda dá pra adicionar algumas coisas e aumentar a massa. Você vai pegar esse pano e limpar a si mesmo. Depois limpe as paredes!

Tudo estava tranquilo novamente. Akane não se deixou levar pela expressão apelativa de Miyavi e proibiu-o de tocar nos ingredientes ou no fogão.

Após alguns minutos de “paz”, a massa estava finalmente pronta para ser levada ao forno. O momento crítico da situação.

Após colocar a forma dentro do fogão ela se virou para ele, o encarando firmemente.

-Não. Mexa. Nisso. De. Maneira. Alguma. –Disse pausadamente. –Entendeu?

-Entendido!


Deveria esperar alguns –muitos- minutos. Akane subiu as escadas para o segundo andar. Ela deveria procurar por algo.

Ishihara se sentou no piso da cozinha em frente ao fogão e começou a fitá-lo.

Parecia uma completa criança.

E a cozinha continuava suja.


~x~x~x~x~x

-Miyavi, o que você... –Disse adentrando na cozinha, perplexa com o que estava vendo. – O que você está fazendo aí?

-Estou... querendo ver como o bolo cresce. –E sorriu.

Ela parou por um momento e observou o jovem. Sorriu de uma forma tão simpática que ela mesma se assustou por um momento.

Aquele “cara” estava se tornando um belo pilar.

Ele sorria, chorava, fazia de tudo pela garota, por mais infantil que parecesse. Era gentil, animado e carismático.

A partir daquele dia, seus laços estavam se tornando maiores. Ela havia mais intimidade com o tocador de Shamisen e começou a considerá-lo um irmão.

Irmão?

Ela sabia que aquele dia era importante.

Subiu para o quarto novamente a procura de algo e em meio a algumas coisas que havia no armário, achou um cartão de aniversário com tais palavras:

“O vento pode soprar,

pode soprar,

e se ele morrer,

ele nunca vai voltar.

Mas o som,

ele pode soar,

quanto mais soar,

mais as pessoas vão notar.

Continue com o seu sonho,

você vai conseguir,

porque a sua família está aqui,

e vai te apoiar até o fim.

Você nunca vai saber

o quão importante você é

para simples, mas humildes pessoas

que te apoiam em todas as situações.

Nós te amamos.”

O papel cartão parecia velho. Havia dois nomes assinados, ambos com o nome “Ishihara”. E em baixo, a data... “Quatorze de Setembro de mil novecentos e trinta e seis”.

Era o aniversário do tatuado, mas... Por que ele não havia contado?

Não se sentia contente com isso? Ele estaria se sentindo mal por envelhecer? Mas não há como brigar com o tempo!

Seus pais... estariam vivos?

A foto no cartão estava empoeirada. Era um conjunto de quatro pessoas. Um homem de aparência coreana, forte e alto, acompanhado de uma moça delicada e jovem. Ambos vestidos com seus respectivos kimonos e Yukatas. Um pouco abaixo, duas crianças sorridentes, travessas e com pouca idade. Um garoto alto e magricela, de cabelo liso e bagunçado mostrando os dentes... E ao lado, uma garota delicada e gentil de cabelos castanhos medianos. Sorridente.

Deveria ser sua família. Ele tinha uma irmã? E ela, estaria ela viva?

-Está tudo bem aí, Akane? –Disse Miyavi encostado no batente do quarto em que ela estava.

Escondeu rapidamente o cartão, secou as lágrimas e respondeu um breve “sim”.

-Fiquei preocupado, estava demorando demais. –Pausou e analisou seu rosto, inspirando de um jeito peculiar. –Por que não verifica se o bolo está pronto?

Passou as mãos sobre o cabelo e o rosto. Levantou e dirigiu-se ao primeiro andar para verificar o bolo.

Miyavi seguiu atrás com um ponto de interrogação em mente.

Chegando à cozinha, ambos se dispuseram a frente do forno. Puseram-se a olhar a massa estufada e dourada. Aquilo parecia crescer e crescer sem ter algum limite, mas de alguma maneira parecia natural.

-Parece que daqui a pouco fica pronto.

-Ahn –Mostrou indignação. –Sério? Mas... Pensei que estava pronto!

-Paciência Miyavi, logo isso ficará pronto. –Virou-se para o armário. –Por que você não me ajuda a preparar a mesa? –Disse ela.

-Ah, tudo bem. Onde estão os panos?

Ela parou.

-Pensando bem... Vá comprar algumas bebidas, sim?

-Tudo bem! –E ao completar ele se dirigiu para a saída. –Vê se não explode a cozinha, está bem?

-Olha quem fala!

E alguns segundos depois a criança estaria sozinha em casa.

O que fazer para o tatuado? Ela não teria ideias nem material o suficiente para fazer uma festa. E ela nem conhecia a vizinhança.

Então como fazer algo especial e mesmo assim transmitir a mensagem que queria transmitir?

Ela não sabia.

Mas bem, talvez ela não precisasse muito, Ishihara não era um cara muito esnobe e sabia prezar muito bem as coisas simples da vida.

Ainda assim... Uma dúvida se mantinha em sua mente. O bolo seria suficiente, não é?

Aquilo não precisaria ser mais discutido. Ela havia tido uma ideia naquele exato momento.

Continuou observando o bolo por mais alguns segundos e pôs-se a correr para o quarto, com pressa, para preparar a surpresa ao tatuado.

Apanhou alguns cobertores e a carta que havia achado. Desceu para a sala e arrumou o kotatsu. Colocou dois pratos, uma bandeja e talheres.

Próximo à parede ela colocou o cobertor dobrado e outra bandeja em cima. Acendeu duas velas e as colocou na bandeja de um modo simétrico. E por fim, colocou a velha carta de aniversário no meio da prataria. 

Sentia-se um pouco culpada, mas feliz de alguma maneira.

Deu uma olhada novamente no bolo que assava na cozinha e acabou retirando-o do forno cuidadosamente. Colocou-o no kotatsu e procurou por alguma vela perdida dentre as gavetas dali.

O jovem havia voltado.

-Cheguei, Akane! –Disse tirando os sapatos na entrada do Machiya e segurando as bebidas.

Por um milésimo de segundo seu nervosismo foi aparente. Correu à cozinha e lavou as mãos, logo em seguida tirando seu avental e vestindo seu casaco verde-musgo que havia jogado em qualquer lugar depois de arrumar o kotatsu.

Ele adentrou a sala com um olhar perplexo. Diria estupefato.

Ela apenas permaneceu em pé, com um olhar baixo e o rosto corado.

-... Parabéns.

Foi instantâneo.

Os orbes caramelados de Takamasa instantaneamente se mergulharam em lágrimas. Sua emoção era totalmente visível.

O silêncio cobriu aquele lugar como um manto pesado, porém delicado.

-... Parabéns Miya- Não lhe deu tempo de pronunciar as últimas silabas.

O tatuado já estava a envolvendo em seus longos e finos braços com todo o amor do mundo. Afagava seu cabelo com um carinho que não havia palavras com a qual se explicar. Ele parecia proteger a garota como se fosse sua própria filha.

Ela também parecia se emocionar. Seus orbes pareciam encharcados de lágrimas cristalinas que insistiam em demonstrar toda a gratidão que possuía.

-Ishi-... –Ela não conseguia completar sua frase. Ishihara estava a abraçando muito forte.

-Akane... Obrigada, irmãzinha. –Ele a apertou pela última vez e por fim a soltou.

-... Obrigada! –Disse Akane que em seguida o agarrou de novo.

Enfim, este último abraço só havia durado poucos, mas valiosos segundos.

Após uma timidez por parte de ambos, Akane resolveu explicar o que havia feito:

-Aqui está uma carta que eu achei no quarto em que estava. Não sei de quem se trata, mas me emocionou completamente. Minha suspeita é que seja de seus pais. –Pausou. – Então é por isso que eu a coloquei.

Se Miyavi não estivesse completamente emocionado aquela altura, agora ele estaria. O cartão parecia uma alavanca de emoção para o tatuado que chorava cada vez mais. Ele lia e relia aquelas palavras de seus pais... Aquelas sentenças tão imersas em sentimento... Aquelas linhas que representavam vidas...

Não sabemos se seus pais estariam vivos.

Não haveríamos de saber também.

Ele segurava trêmulo o papel cartão com uma foto estampada em tal com a foto da família. Não havia palavras. Aquilo mostrava todo seu amor.

-Desculpe... –Ela chorava também.

-Não se preocupe. –Disse secando suas lágrimas. – Eu estava procurando por isso há algum tempo.

Ambos sentaram-se ajoelhados em frente àquelas velas e ao cartão.

Ele parecia paralisado, fitando aquele cartão.

Akane apenas observava, em constante insegurança sobre os sentimentos do tatuado.

O dia escurecera. As estrelas pareciam se esconder naquela noite e as nuvens tomavam seu lugar. Uma atmosfera nítida e refrescante, porém pesada deitava sobre a presença daqueles que moravam ali.

Por fim, Miyavi pronunciou:

-Posso provar esse bolo?

-É claro! –Levantou com toda a alegria que sentia naquele momento.

Ela cortou um pedaço e ofereceu ao jovem.

Poucos segundos se passaram para que Takamasa houvesse provado daquele manjar dos deuses.

-Isto está... –Procurava lá no fundo de sua alma alguma palavra que descrevesse a sensação que sentia... – Estupendo...!

Ela caiu em risadas.

Ambos passaram alguns minutos degustando das habilidades culinárias de ambos (ou apenas de Akane? Porque cá entre nós, Miyavi apenas tumultuou a cozinha...) e logo após se sentiam abatidos pela sensação tentadora e reconfortante de sono.

-Vamos dormir, pequena. –E passou a mão sobre sua cabeça enquanto levantava.

Akane assoprou as velas, pegou o cobertor e subiu as escadas logo atrás do maior. A pequena se dirigiu ao quarto de hóspedes enquanto Ishihara continuava para seu quarto.

Alguns minutos se passavam.

Poucos minutos?

Alguns segundos? Não, muitos segundos.

-Venha dormir ao meu lado, pequena. –Disse Miyavi com a cabeça entre a entrada do quarto da garota.

Ela se levantou e arrastou o cobertor como uma longa e vistosa saia.

A noite sorria.

Irmãos? Pai e filha?

Ninguém sabia.

Mas nós sabíamos que a partir dali aquele laço não iria se romper tão facilmente.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!



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