Aviões de Papel escrita por Ju Hayes


Capítulo 3
Extra II: Ele.


Notas iniciais do capítulo

Tanto tempo sem atualizar AdP, mas aqui estou eu, com um extra escrito antes mesmo da história oficial, porque, bem, essa era a história oficial. Deu para entender? LOL. Enfim, foi um pequeno ponto de vista do Edward que vai parecer repetitivo, só para ver as coisas pelo lado dele. Eu não costumo fazer isso, mas achei legal. Sou incoerente, desculpem.



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Extra II,

Ele.

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Narrado por Edward Cullen.

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Hoje, enquanto a chuva cai, penso nela. É involuntário, já que os pingos que caem do céu sempre me fazem lembrar Alice, talvez porque nosso primeiro beijo tenha sido sob o testemunho dela. E também sob o olhar saudoso da árvore a qual usamos de proteção. Ela parecia nervosa com a minha presença — porque estava apaixonada por mim e não sabia como agir, explicou mais tarde. Mexia nervosamente os dedos das mãos, tentava constantemente colocar suas curtas mechas de cabelo castanho-chocolate atrás das orelhas e até mesmo esfregava seu pequeno nariz com a palma da mão direita — gesto de nervosismo que pegara de Isabella, sua meia-irmã. Quando me sentei ao seu lado ela suspirou. Quando toquei em sua mão, para logo depois segurá-la entre as minhas, ela murmurou algo incompreensível. Quando encostei meus lábios nos dela, apenas um roçar inocente, ela apertou com força um de meus braços. E quando nossas línguas se encostaram — a dela tão doce, tinha o hálito com o mesmo sabor de balas de canela –, ela gemeu.

Nosso relacionamento era intenso, era mágico, e eu sempre achei que ela tivesse encontrado a felicidade ao meu lado, assim como eu encontrei a minha junto a ela. Sempre achei que o futuro que me esperava mais a frente fosse o mesmo que esperava por Alice; claro, não teria como esperar o contrário, dividíamos tudo, até os mesmo planejamentos. A impressão que eu possuía era de que ninguém a conhecia melhor do que eu, nem mesmo ela própria. Toda vez que ela gemia o meu nome quando eu a tomava, a certeza de que eu conseguia fazê-la chegar onde ninguém havia conseguido me enchia de desejo. Toda vez que ela estremecia quando eu pegava em sua mão, a certeza de que eu a enfeitiçava me dominava. Toda vez que ela mostrava claros sinais de confusão e constrangimento na minha presença, a certeza de que ela me amava me completava a ponto de eu próprio chegar ao céu. Todavia, todas as certezas que eu tinha não passavam de ilusões. Estavam todas erradas.

Alice nunca havia sido feliz ao meu lado e, se eu soubesse disso, nunca teria feito plano algum de dividir a minha vida com ela. Nunca teria pretendido que ela fosse a mãe dos filhos que eu tanto desejava ter. Nunca teria tido esperanças de ser mais do que eu era, nunca teria a prendido a mim. Agora sim eu sei que não a conhecia, e acho que ninguém jamais a conhecerá e entenderá. Talvez nem mesmo ela saiba o que se passa em sua mente — coração? Isso não, porque dentro do peito de Alice apenas deve existir um órgão morto.

Eu achava que ela me pertencia. Tantas e tantas vezes que ela sussurrava ao meu ouvido "Sou só sua, Edward, só sua". Mas não, ela nunca foi minha. Seu corpo nunca foi meu, já que a tantos outros ela o cedeu. Sua mente nunca pensava em mim quando estávamos longe. Seu sorriso e seu olhar nunca eram dirigidos a mim. Seu coração — este que agora eu julgo nunca ter existido — nunca deu uma sequer batida por mim. Ela nunca me amou.

O vento ruge em meus ouvidos e o silêncio, aquele em que não são permitidas as palavras, é o fator dominante no ambiente. Apenas os meus pensamentos fazem um coro alto e turbulento junto à tempestade. Uma pequena e salgada lágrima — exatamente como um espelho de mim quando ela me deixou: solitário e amargo — escapa de um de meus olhos, sem qualquer autorização.

Alice e eu não tínhamos uma grande história para contar sobre o jeito ao qual nos conhecemos. Não foi nada magnífico para ser contado. Também não foi uma típica história de um amigo que se apaixona pelo outro — esse o qual poderia jurar que o que sentia nada mais era do que algo platônico, mas no fim acaba descobrindo que seu sentimento era sim retribuído. Alice e eu somos primos.

Olhando pela janela vejo as folhas voando sobre o céu, enquanto muitas árvores têm seus galhos arrancados pela forte água que devasta tudo. Todos na nossa família foram contra o nosso namoro. Exceto Isabella, que mesmo que não fosse diretamente de nosso círculo familiar, era a mais querida, sempre fora. Todos eram contra até mesmo a minha amizade com Alice. Pareciam saber que tudo se tornaria o que é agora — mas se sabiam por que então não me avisaram? –, mas ninguém adivinhara que tudo acabaria da forma que acabou. Talvez nem mesmo a pequena e cruel Alice sabia.

O zunido irritante da televisão — que não tem um telespectador, está sozinha — me tira a concentração. Nela o que predomina são reportagens sobre o dilúvio de agora, todos os repórteres em busca de uma grande chance de conseguir um pouco de audiência. Barracos caem a cada nova pesada gota, pessoas sendo arrastadas pelas águas ao quererem salvar seus pertences mais valiosos. Mal sabem elas que ninguém possui nada. Vendo essas casinhas singelas desmoronando consigo rever claramente meu relacionamento com Alice também caindo, pedaço por pedaço. As palavras horríveis e afiadas que ela gritou antes de sair correndo porta afora nunca serão esquecidas, jamais serão perdoadas. "Odeio você, odeio!" Isso fará um eco insistente para sempre com qualquer outro pensamento que eu tenha.

Também estava chovendo aquele dia. Assim como foi a chuva que nos uniu um dia, foi ela também que nos separou. Achava ela, talvez, que possuísse algum direito? Isto é algo que jamais saberei. Um brilhante raio corta o céu neste momento, seguido de um poderoso trovão. Outra pequena gota escorre de meus olhos, talvez querendo acompanhar os pingos que apenas aumentam a cada segundo lá fora. Apenas o começo de um pranto desesperado, o qual não me esforço para impedir; desejo que todo esse sofrimento saia de mim.

Depois daquele fatídico dia nunca mais a vi. Passei a não frequentar mais as reuniões familiares, embora sempre houvesse alguém que insistisse em me dar notícias dela — o que eu fazia? Apenas desligava o telefone. Não gostaria de revê-la, sei que jamais aguentaria sentir novamente seu cheiro de amêndoas, ver o brilho de seus olhos cor-de-âmbar. Sentiria vontade de acariciá-la — sua pele tão clara, como o tom de creme do marfim –, isto era certo. E não era algo justo.

Depois de tanto tempo ainda não se vê o sol, o céu claro acompanhado de suas nuvens branquinhas. É tudo tão impossível de enxergar, assim como o futuro que agora me aguarda. Tudo graças a minha querida e odiada chuva. Porém, eu sei que por trás da escuridão do céu de agora, existe o que eu tanto preciso para reviver.

É nesse momento que a mão dela toca de leve o meu ombro. Viro-me e me deparo com aquele seu cálido e sincero sorriso, esse sim dirigido a mim. Seus olhos do mesmo tom dos da irmã, mas com tantos sentimentos que os diferenciam. Carinho, preocupação, compreensão... amor. Passo meus braços em torno de sua silhueta esbelta e aquecida, em um abraço cheio de desculpas. Não tenho vontade de soltá-la nunca mais.

— Você é a chama que acaba com o inverno, Bella.

Ela não responde, mas eu sei o que ela sente. Passa as mãos por meus cabelos, deposita um beijo casto em meus lábios enquanto roça seu nariz ao meu, repetidas vezes. Com ela eu não preciso de palavras, apenas gestos é o suficiente — palavras só fazem tudo desmoronar.


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Notas finais do capítulo

Quem ainda ler essa história, pode pedir alguma cena que queira ver e pode pedir também em qual personagem quer o ponto de vista. Estou às ordens, rs. Obrigada a todo mundo que comentou, ok? Vocês são sempre um amor. De verdade, não estou puxando o saco. Talvez só um pouquinho, mas enfim. Até o próximo, mwah!