Eu sabia que Bonnie não ia aceitar muito bem aquilo, ela odiava vampiros, ainda mais depois do que aconteceu com sua mãe.

       - Elena... Você está... Diferente.

       Ainda não tinha me olhado no espelho, mas sabia que estava. Eu me sentia diferente tanto por dentro quanto por aparência. Tentava pensar que eu ainda era uma humana, e eu estava me enganando.

       - É, eu sei. – As janelas do andar de baixo estavam todas fechadas com cortinas grossas e escuras, a lareira estava acesa, o que tornava a sala abafada apesar do tempo mais fresco que fazia.

        Bonnie se dirigiu a Stefan, notei que ela desviava o olhar de meu rosto. Ia ser difícil ela se acostumar comigo assim.

         - Onde está o anel?

         - Demorei um pouco para achar a pedra, mas está aqui.

        Stefan entregou um embrulho a Bonnie e ela o tirou com cuidado. Dentro estava o que parecia ser um anel de prata com uma pedra azul em cima. Era parecida com a dos irmãos, com a diferença que era mais feminina e não tinha o brasão.

        Bonnie o deixou sobre a mesa de centro e se agachou, colocou as mãos estendidas por sobre o anel e começou a falar alguma coisa que eu não entendia. Algum tipo de feitiço. Ela parou de repente e se levantou, trazendo o anel.

        - Aqui...

    Stefan o pegou primeiro e colocou-o delicadamente em meu dedo anular, na mão esquerda. Não disse nada, quis ignorar o significado daquilo.

     Ouvi seu irmão mais velho bufar do outro lado da sala, ele já estava com outro copo de whisky na mão e agora estava de costas olhando para a lareira.

       - Teste. – Stefan me conduziu até uma janela e arrancou as cortinas com força. Estendi uma mão, para que o sol só fizesse contato com meus dedos. Nada aconteceu.

       - Final feliz. – Damon disse com ironia e saiu da sala. Eu não podia deixá-lo ir. Antes a idéia de magoá-lo já me assustava e agora que eu sabia tudo o que ele já tinha dito com sinceridade para mim, mas apagado minha memória... A idéia de viver sem ele, mesmo que seja só como amigo, era insuportável.

     Horas depois, Stefan saiu para buscar mais sangue com Meredith num hospital fora da cidade, já que eu tinha acabado com quase todo o estoque.

      Deixou Damon cuidando de mim, mas era quase como se eu estivesse sozinha. Quando eu puxava assunto, ou ele saia da sala sem dizer uma palavra ou respondia friamente. E eu não sabia qual dessas reações era pior.

    Passei quase a noite inteira no quarto de Stefan, já estava com sede, mesmo não tendo experimentado nenhuma das habilidades dos vampiros.

    Quase todos os noticiários mostravam minha foto e a de Matt, o jornal local já me dava como morta já que não conseguiram encontrar meu corpo. Eu nem queria pensar em como seria quando eu saísse daquela casa, uma nova vida? Ou aparecer misteriosamente na floresta, inventando alguma história maluca?

    Dei um longo suspiro e sai dali, precisava me distrair. Andei pelo corredor em que ficavam os quartos até que ouvi um grito, que logo foi abafado. Corri em direção ao grito, até rápido de mais. Parei na porta do quarto de Damon.

    E lá estava ele amassando uma garota contra a parede, e mordendo seu pescoço. Coloquei a mão no nariz e na boca na hora, mas senti meus caninos crescerem outra vez. Bati contra o corrimão da escada, meus olhos agora ardiam, me imaginei como estava agora.

    Damon tirou a atenção da garota na hora, sua boca estava toda vermelha de sangue e seus olhos quase pretos, ele respirou algumas vezes e seus caninos desapareceram, seus olhos voltaram à cor normal.

    Eu continuava com o nariz tampado, aquele cheiro quase me possuía. Damon se ajoelhou a meu lado e tirou lentamente a mão de meu rosto.

     - Está com fome?

   Fiz que sim com a cabeça.

   Num piscar de olhos a garota também estava a meu lado, Damon puxava a cabeça dela para um lado, o que deixava seu pescoço machucado todo exposto.

     - Não, Damon. – Quase engasguei ao falar, eu trancava minha respiração e tentava ao maximo não olhar para a ferida aberta.

     - Vamos, Elena. Ou vai querer ser igual a meu irmãozinho? Que prefere morrer de fome ao se alimentar. – Ele se agachou com a garota nos braços. – Não vai matá-la, vou te afastar quando você estiver machucando-a de verdade.      

    Eu confiei nele e ainda sem respirar, fui para perto do pescoço da garota, sem pensar mordi com força e comecei a sugar o sangue. Era quente, e delicioso. Diferente do sangue que tinha tomado no hospital.

    Tomei com força até que uma mão me puxou para o lado, eu continuava a lutar para alcançar a garota, mas Damon me manteve firme em seus braços. Ele me girou, para que eu ficasse de frente para ele.

    - Fica calma. – E passou o dedo em meus lábios para tirar o sangue que ainda escorria. – Você conseguiu.

   Senti meus caninos diminuírem e meus olhos pararem de arder. O cheiro de sangue ainda invadia meu nariz, mas Damon mantinha o olhar calmo, ele estava tão perto de mim que eu podia sentir sua respiração em meu rosto.   

    - Elena... Eu ainda te amo.

    - E eu te amo, Damon.

    - Então fuja comigo. Prometo que você não verá Stefan novamente, nada te fará mal.

    - Eu... não posso, Damon.

  - Fique comigo, só hoje à noite. Não vai se arrepender. Vai perceber que não ama o Stefan de verdade, eu sei que não.

  Ele foi se aproximando de mim, mais e mais, até que seus lábios roçaram suavemente nos meus e eu não fiz nada mais do que ficar parada. Damon me deu um leve beijo, e eu correspondi. Senti-o dar um sorriso e logo depois me beijar com mais intensidade.

   E eu não sabia se era porque agora eu ela uma vampira, mas eu pude sentir os mínimos detalhes daquele beijo.