Uma palavra para resumir como foi meu resto de tarde? Tédio. Tentei ler, mas não tinha um livro que prestasse dentro de casa. A maioria de meus livros estavam com Percy, e ele ainda não tinha me devolvido. Tentei escutar música, mas parecia que nenhuma me agradava. Tentei até limpar a casa, mas desisti assim que varri a sala.

Deitei no sofá após comer um miojo e fiquei olhando para o nada. Não sei ao certo sobre o que estava pensando, só sabia que minha cabeça estava longe. Sem perceber, adormeci no sofá mesmo.

Não tive sonhos, apenas um fundo preto e calmo que me deixava cada vez mais confortável no sofá.Pensei em ir buscar meu cobertor, mas estava com muita preguiça para isso. Não movi um músculo sequer, fiquei apenas deitada.

Estava tão confortável e longe, que quase não escutei a campainha tocar. Ela tocou uma vez, tocou duas, na terceira vez decidi levantar. Devia estar toda descabelada e com a cara amassada, mas não me importei, fui até a porta daquele jeito mesmo.

Abri a porta e torci para que não fosse Luke. Me surpreendi ao ver Percy parado do lado de fora.

– Percy? O que está fazendo aqui tão cedo? - eu lhe disse arrumando um pouco meus cabelos.

Ele riu e me mostrou seu relógio. Já eram mais de 6h, eu dormira a tarde toda.

– Então, Bela Adormecida, eu senti que você iria atrasar e vim mais cedo. Ainda bem, porque senão você ainda estaria dormindo. - ele disse tentando, de uma maneira péssima, segurar a risada.

– É, felizmente eu tenho você, Percy. - eu disse sentindo meu rosto ficar vermelho.

Percy corou um pouco e encarou o chão por um minuto. Achei melhor ir lavar o rosto e trocar de roupa.

Deixei Percy na sala e corri para meu quarto. Joguei a água gelada em meu rosto e penteei o cabelo. Tirei aquela roupa amassada e vesti uma blusa azul-marinho de mangas longas e uma sapatilha vermelha. Normalmente eu só usava tênis, mas teriam mais parentes na casa de minha mãe, então achei melhor ir um pouco mais arrumada. Passei um gloss e fui para a sala encontrar Percy. Quando cheguei lá, o vi com um velho porta-retrato nas mãos.

Aquela foto fora a primeira que nós tiramos juntos. Era meu aniversário de 15 anos, mas eu não fiz festa, apenas convidei ele e minhas primas para comerem um bolo comigo, em minha casa. Fora uma noite incrível. Na foto, ele passara a mão por sobre meus ombros e sorria de um jeito encantador. Eu estava meio sem graça por tirar uma foto daquele jeito, mas também tinha um enorme sorriso em meu rosto.

Ao notar que eu estava ali, voltou o porta-retrato em seu lugar e se virou para mim, dizendo:

– Vamos?

Assenti e caminhamos em direção a seu camaro preto. "Estava na hora de eu comprar um carro" pensei, me senti mal por Percy ter que me levar para todos os lugares.

O caminho não foi tão silêncioso como eu pensei que seria. Percy e eu fomos rindo e se lembrando de tudo o que passamos juntos desde que nos conhecemos. Teve uma vez que, sem querer, sua prima esqueceu de avisá-lo que o shampoo estava com tonalizante, e ele tomou banho sem saber. Ao sair, estava com o cabelo todo esverdeado. Foi então que eu comecei a chamá-lo de Cabeça de Alga. Ele me chama de Sabidinha porque. mesmo estando no 1° ano, eu já lia livros de Direito.

Não demorou muito, chefamos no Brooklin. A minha antiga casa não mudara muito. Continuava com os mesmos tons pastéis e a velha sacada. Foi uma nostalgia imensa. Passei por tanta coisa naquela casa... e agora, quase 6 anos depois de sair dali, estou de volta.

Percy e eu descemos do carro e entramos em minha antiga casa. Na sala, avistei minha mãe e sua irmã Afrodite conversando. Minha tia era a mais nova das irmãs, mas foi a primeira a ter filhos. Drew era a mais velha, tinha 25 anos e estava casada com um cara rico, eles se mudaram para Paris no final do ano passado. A mais nova se chamava Piper, e era totalmente o oposto de Drew. Ela tinha os cabelos cortados de um jeito diferente, todo bagunçado. Estava fazendo um curso para se tornar cabeleireira. Tinha 20 anos e era muito chegada comigo.

Não demorou muito a vi sentada na cozinha com Jason, seu namorado. Ao me ver, veio correndo para me dar um abraço. Retribui a abraçando ainda mais apertadamente.

– Annie, quanto tempo que eu não te vejo. Você não mudou nada. - Piper disse mexendo no meu cabelo.

Eu ri.

– Obrigada Piper, e você também não mudou.

Rimos e fui apresentar Piper para Percy. Apesar de sermos amigos a um bom tempo, ele nunca conhecera muito bem minha família. Apresentei ela, Jason, e logo minha mãe veio nos comprimentar. Ela fez questão de me enxer de beijos. Era um tanto constrangedor, mas fazer o que?

O jantar foi excelênte, mamãe fez lasanha. Enquanto Piper e eu enxugávamos a louça da janta, notei que Percy brincava com Matt e Bob, meus primos, filhos de Deméter, minha outra tia. Era lindo o modo como eles se davam bem. Percy tinha um dom com crianças, ele as entendia, brincava com elas, as deixava calmas... enquanto eu, não podia me aproximar de um bebê sem fazê-lo chorar. A mulher que se casasse com ele seria uma mulher de sorte.

Parei por um minuto para pensar que, talvez, homens como Percy estivessem em extinção. Ele era amigo, engraçado, companheiro, bonito... Espere, bonito? Pensei isso mesmo? Odeio admitir, mas Percy era realmente um cara bonito. E quando sorria então... não dava nem para comentar. Meu coração acelerou um pouco. O que estava acontecendo comigo? Eu ainda encarava Percy brincando com meus primos, mas quando seus olhos encontraram os meus, senti um arrepio na espinha. O que em despertou foi o barulho do prato que estava em minhas mãos estourar no chão.

– Annie! - Piper gritou com o susto.

Eu me senti com a temperatura elevada. Estava vermelha, só torcia para ninguém notar isso. Me abaixei e comecei a pegar os cacos do chão.

– Annie, tudo bem? - Piper disse se abaixando até mim.

– Estou, eu só... o prato escapou. - eu disse juntando os cacos e jogando os pedaços maiores no lixo.

Piper veio até mim e me puxou para a o corredor, depois fomos até o quarto de minha mãe. Não entendi o que ela pretendia.

– Pode me contar tudo. Anda, desembucha, Annabeth. - ela me disse cruzando os braços.

A encarei confusa, não sabia aonde ela queria chegar.

– Como assim, Piper? Não tenho nada para contar.

Ela me encarava ainda mais séria. Então pareceu desistir de ficar de pé e se sentou na cama que ficava bem ao centro do quarto. Me sentei ao seu lado.

– Annie, somos mais do que primas, somos amigas, certo? - Piper disse - Não quer mesmo conversar sobre... seus sentimentos?

– Sentimentos? Piper, você não está insinuando que... - comecei a falar, mas minha voz falhou assim que entendi o que ela queria dizer.

– Não estou insinuando nada, eu vi. Vi como você olhava para Percy, e vi também como ele olhava para você.

Senti meu rosto corar radicalmente. Eu olhar para Percy? Percy olhar para mim? Aquilo era ridículo. Nós dois... não, nunca. Meu coração acelerou do nada, novamente. Não sabia o que dizer a Piper, queria argumentar, mas eu simplesmente não conseguia. Travei e não conseguia me destravar.

Olhei para o relógio e vi que já estava um tanto tarde.

– Nossa, já está tarde. Percy e eu temos que ir... Quem sabe outro dia nós conversamos mais.... Adeus. - eu disse e sai do quarto.

Corri para a sala e vi que Percy ainda brincava com os gêmeos. Quando ele me viu entrando, entendeu que estava na hora de ir. Fui até minha mãe e lhe dei um abraço. Piper entrou na sala logo depois, ela me olhava como quem diz "Temos muito o que conversar".

– Espero que venha me fazer outra visita logo, filha. - minha mãe disse me tirando daquele pequeno transe.

– Claro, mãe. Mas tudo depende do trabalho.

Minha mãe revirou os olhos. Eu sabia que ela não aprovava totalmente a ideia de eu seguir a carreira de meu pai. Me despedi de minhas tias e Percy e eu voltamos para casa.

Minha cabeça martelava um pouco, eu não conseguia esquecer as palavras de Piper "Vi como você olhava para Percy, e vi também como ele olhava para você", será que era mesmo possível? Depois de tanto tempo juntos... não, definitivamente não. Percy era meu amigo, meu único amigo, eu não poderia.... Tentei afastar aqueles pensamentos, mas nada adiantava. Tentei até pensar em Luke, mas foi uma tentativa falha.

Talvez eu só estivesse um tanto encantada com a atitude de Percy com meus primos. Talvez fosse só isso. Talvez. Estremeci ao pensar nessa possibilidade. Ele nunca olharia para mim com outros olhos. Eu sempre fora sua irmãzinha, nada mais.

O tempo parece voar quando nossas mentes estão ocupadas. Não demorou muito, já estava em frente a minha casa.

– O jantar foi ótimo - ele disse.

Sorri e lhe dei um beijo no rosto. Mas, acidentalmente, o beijo foi no canto de sua boca. Meu coração acelerou quando meus lábios tocaram os seus, ainda que tivesse sido apenas uma pequena parte. Senti que meu rosto deveria estar mais vermelho do que um pimentão. E Percy também estava vermelho. Seu olhar revelava uma mistura de surpresa e susto.

– Hãn... nos vemos amanhã. - eu disse e sai de seu carro.

Não olhei para trás. Não queria que Percy visse como eu estava vermelha. Quase não consegui abrir a porta, minhas mãos tremiam muito. Quando abri, me deparei com mais um surpresa: outro bilhete. O mesmo papel, a mesma letra, apenas um texto diferente:

"Não há palavras, para te decifrar. Seus olhos, essas curvas, é como se você fosse de outro mundo. Você anda em minha direção, oh Deus isso é tão frustrante. Então porque eu desapareço quando você se aproxima, isso faz com que eu me sinta tão pequeno. Porque eu passo de meus limites, quase sempre. É como se eu não tivesse nem uma chance.

Se eu pudesse ser seu super homem, eu te levaria às estrelas e voltaria. Porque toda vez que você toca minhas mãos, você sente meu poder correr em suas veias. Mas tudo o que posso é escrever essa canção, e te dizer que eu não sou tão forte. Porque não sou super homem, espero que goste de mim como sou.

Torço pra que um dia goste mim, Annabeth

Assinado: o cara apaixonado"

Me peguei sorrindo feito boba ao ler aquilo. Como poderia? Primeiro me pego olhando para Percy de um jeito... que eu não olharia novamente, agora fico sorrindo ao ler esse bilhete, o que estava acontecendo comigo?