POV Annabeth

Se o clima entre mim e Percy estava tenso? Na verdade, sim. Mas eu pensei que seria pior. Pensei que não conseguiria mais olhar para ele, ou conversar com ele, mas pelo contrário, parecia que eu tinha uma necessidade enorme de conversar, de estar perto dele o tempo todo. Era algo inexplicável.

Estávamos dentro de seus carro em silêncio. Queria ligar o rádio, mas fiquei com medo de alguma música acabaar deixando o momento ainda mais embaraçoso. Queria dizer algo para Percy, algo que o deixasse mais a vontade. Não sabia ao certo se queria falar sobre o que havia acontecido ontem.

– Percy...

– Annie... - falamos os dois ao mesmo tempo.

Olhei para Percy pelo canto do olho e notei que ele fazia o mesmo. Entrelacei minhas mãos. Elas não paravam de se mexer. Talvez assim, elas poderia ficar em um lugar só.

– Annie, sobre ontem... - ele começou, mas não conseguiu terminar a frase.

Percy talvez estivesse querendo pedir desculpas. Talvez, por me ver beijando Luke, teve um ataque de raiva e me beijou. Não sabia ao certo se era isso, mas era o mais provavel.

– Não precisa se desculpar, Percy. Sei que odeia Luke com todas as suas forças, e sei também que não devia ter beijado ele. Acho que no final, sou eu quem tem que se desculpar. - digo encarando meus pés.

Me mantive naquela posição para que Percy não visse o quanto meu rosto estava corado. Eu não sabia porque ele tinha me beijado, mas só sabia que eu havia gostado. E o beijaria de novo caso tivesse uma nova oportunidade. Mordi meu lábio inferior para conter um sorriso bobo.

Percy não havia me respondido, ele apenas encarava a estrada de maneira pensativa. Sempre unia as sobrancelhas quando pensava sobre algo importante. Eu sabia todas as suas manias. Sabia o que ele gostava, sabia o que ele odiava, sabia o que o irritava e o que lhe dava prazer. Na verdade, as vezes penso que o conheço mais do que conheço a mim mesma. Percy continuava sério. Pensei por um minuto o que poderia estar passando por sua cabeça. Queria poder ler seus pensamentos naquele momento.

Quando ele finalmente se mexeu, apenas se virou para mim e sorriu. Aceitei aquilo como um sim. Sorri de volta. Percy voltou seus olhos para a estrada e eu voltei meus pensamentos para noite passada. Sim, eu realmente havia gostado de seu beijo. Sonhei com aquela cena umas duas vezes em minha vida. Ambas foram na época em que nos conhecemos. Eu tive uma pequena queda por Percy naquela época. Mas o que eu sentia por Luke parecia ser mais forte, então acabei fazendo de Percy, meu melhor amigo.

Decidi finalmente ligar o rádio. Para minha sorte, encontrei logo uma música que me agradou.

When I look into your eyes
It's like watching the night sky
Or a beautiful sunrise
Theres so much they hold
And just like them old stars
I see that you've come so far
To be right where you are
How old is your soul?

Cantarolei o primeiro verso. Me lembrei de quando Percy tocava e cantava junto comigo. Senti saudade daqueles dias.

I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love
I'm still looking up

And when you're needing your space
To do some navigating
I'll be here patiently waiting
To see what you find

Sim, era uma música realmente linda. Olhei discretamente para Percy e reparei em como ele ficava bonito olhando para o horizonte. Seus olhos ficavam focados na estrada e ele apenas movia os lábios, cantando a música também.

Cause even the stars, they burn
Some even fall to the earth
We got a lot to learn
God knows we're worth it
No I won't give up

I don't wanna be someone who walks away so easily
I'm here to stay and make the difference that I can make
Our differences they do a lot to teach us how to use
The tools and gifts we've got yeah we got a lot at stake
And in the end, you're still my friend
At least we didn't intend
For us to work we didn't break, we didn't burn
We had to learn how to bend without the world caving in
I had to learn what I've got, and what I'm not
And who I am

O tal Willian morava em um lugar afastado da cidade. Era quase em Long Island, ficava perto da praia. Talvez desse tempo de terminar de ouvir a música até chegármos lá.

I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love
I'm still looking up
I'm still looking up

I won't give up on us
God knows I'm tough, he knows
We got a lot to learn
God knows we're worth it

I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love
I'm still looking up

Assim que a música terminou, olhei novamente para Percy. Estava começando a se tornar inevitável não olhar para ele. Ele me olhou de volta e seus olhos me fitaram surpresos. Ele pareceu não acreditar que eu o estava olhando. Senti meu rosto corar e me virei para encarar a vista da janela. Árvores, pequenos animais, e até alguns humanos, vi de tudo durante a viagem.

Mas então o carro parou, e fui tirada de meus devaneios. Tínhamos parado em frente a uma casa rústica, porém muito bem feita. Tinha uma pequena varanda na frente, com uma cadeira de madeira já quase esverdeado por causa do tempo que ficara ali. Era feita de madeira maciça, deduzi. Assim como a porta e as janelas. Ao seu lado não havia nada além de árvores e todos os tipos de plantas. Não havia barulho de carros, nem poluição, seria um bom lugar para morar.

Percy desceu do carro e eu desci logo atrás dele. Subimos a pequena escada que levava a varanda e peguei a foto de Thalia e a foto do tal Willian para que pudéssemos identificá-lo. Percy bateu na porta duas vezes. Esperamos um tempo e logo um moço de cabelos loiros, mas não tão claros como os meus abriu a porta. Ele tinha olhos castanhos e uma boca perfeitamente desenhada. Parecia ter perdido horas em uma academia durante seus anos passados. Era o mesmo moço da foto que estava em minhas mãos.

Ele me estudou primeiro, e logo em seguida voltou seu olhar para Percy. Fiquei corada com o jeito como ele olhava para mim.

– Willian McCarter? - Percy se adiantou.

O moço então enrijeceu, ele ficou sério e ficou encarando Percy por um tempo. Só conseguíamos ver um de seus braços. Pensei que no outro poderia haver uma faca, ou um rifle. Apesar de prazeroso, devia ser difícil morar ali sozinho.

– Sim, sou eu. Em que posso ajudá-los? - ele disse voltando novamente o olhar para mim. Senti que deveria responder.

– Meu nome é Annabeth e este é Percy, estamos investigando a morte de Thalia Grace Olimpius, e soubémos que o senhor foi um amigo íntimo dela. Queríamos apenas lhe fazer algumas perguntas. - digo mostrando minha identidade. Percy fez o mesmo.

Ele deu risada e abriu por completo a porta. Usava uma camisa de flanela xadrezada com as mangas dobradas, revelando seus braços incrivelmente fortes. Apesar de ser completamente anti-social e antipática, eu ainda sei quando tenho um homem bonito em minha frente. E no caso de agora, não era apenas um, eram dois.

– Eu vi nos noticiários. Mas saibam que Thalia e eu nunca fomos íntimos. Fizemos a mesma faculdade, isto é certo. Porém, me formei em Música, já ela estudava Teatro. Eu a via vez ou outra. Nunca lhe dirigi mais do que um "oi". Mesmo assim, ficarei feliz em responder as perguntas que me fizerem. - Willian disse olhando para mim. Ele não desviou os olhos de mim nem por um minuto. Percy pareceu ficar encomodado com isso.

Willian então nos fez um gesto para que entrássemos e o fizemos. Sua sala, assim como a casa, era rústica. Um sofá velho ficava no meio em frente a uma pequena TV. Notei algumas peles no chão e várias armas de caça pela casa. Grover teria um ataque se visse aquele lugar. Nos sentamos no sofá e Percy fez questão de se sentar bem próximo a mim. Agradeci a ele mentalmente. Willian puxou uma cadeira velha e se sentou perto. Percy decidiu começar.

– O senhor nos disse que não tinha muito contato com Thalia, certo? Mas se lembra ao menos se ela tinha namorado? Porque só estamos aqui hoje porque seu pai, Zeus, nos disse que ela tinha um namorado chamado Willian. Pensamos que poderia ser você.

Willian riu por um minuto e depois disse:

– Primeiro, me chame de Will. Segundo, não lembro ao certo se Thalia teve um namorado chamado Willian. Ela não era uma garota que gostava de relacionamentos sérios. Era muito bonita, e inteligênte, então sempre teve todos os caras a seus pés. As vezes estava com loiro, em outro dia, era um moreno, nunca a vi com namorado de fato. A não ser que esse tal namorado não fosse a encontrar na faculdade. Não sei dizer ao certo...

Escutei para palavra que ele dizia com cuidado. Poderíamos muito bem estar diante do assassino. Ou ele poderia ser apenas mais um inocênte. Olhei para Percy pedindo permissão para falar, ele assentiu.

– Então, Will, nunca mais a viu depois que terminaram a faculdade? - pergunto cruzando as pernas.

Notei que ele as encarou descaradamente. Me senti constrangida mais uma vez.

– Não me lembro ao certo. E saiba que lembro muito bem de quando encontro uma bela garota por aí. - Will disse me lançando um sorriso maroto.

Imediatamente, semicerrei os olhos. Não gostava de homens tão assanhados assim.

– Vou fingir que não escutei isso. Agora, se não se importa, teremos que colher parte de seu material genético, caso for preciso fazer algum teste.

Will apenas assentiu, pensando que eu colheria sua saliva. Engano dele. Percy se levantou e segurou sua mandíbula com um pouco de força. Olhei vitoriosamente para ambos. Assim que Percy voltou para meu lado, achei que já havíamos feito tudo o que era possível.

– Então, acho que é só. Caso nós encontremos novas informações, voltaremos a entrar em contato. - digo me levantando. Percy fez o mesmo.

– Têm certeza que já vão? Eu poderia mostrar o resto da casa, minhas caças, até mesmo uma torta de maçã que acabei de assar. - Will disse.

Fiquei surpresa ao saber que ele cozinhava. Mas não me deixei levar por suas palavras. Eu sabia que ele não queria apenas mostrar, principalmente para mim, sua casa.

– Nós agradecemos, mas precisamos mesmo ir. - Percy disse saindo na minha frente. O fraguejei mentalmente.

Fui andar até ele, mas fui impedida assim que um braço forte agarrou minha cintura.

– Poderia vir até aqui me visitar mais vezes. - Will sussurrou em meu ouvido.

Me livrei de seus braços e lhe disse:

– Acho que não daria certo, afinal sou a fiél a meu namorado. - aquilo saiu sem pensar. Somente depois parei para pensar no que havia acabado de dizer.

– Ah! claro... Me desculpe por... isso. Caso eu me lembre de alguma coisa eu poderia ligar se me deixar seu número. - Will disse ficando ligeiramente vermelho.

Lhe entreguei um cartão com meu celular e o número do escritório onde Percy e eu trabalhávamos. Mas ultimamente não estavamos indo lá com frequencia. Dirigi um último sorrisso a ele e sai pela porta. Percy já se encontrava no carro com uma cara emburrada.

Abri a porta do carro e entrei.

– Parece que ele ficou interessado por você. - Percy disse ligando o carro.

– Pior para ele. De mim, não vai conseguir nada. - eu disse colocando o cinto de segurança.

Tive a leve impressão de ter visto Percy sorrir. O caminho de volta fora silêncioso.

Pensei um pouco em como havia mentido para Will mais cedo. Disse a ele que Percy era meu namorado, mas fora apenas isso. Eu não queria Will. Não desejei seus lábios, nem seu corpo. Meu coração acelerou assim que me dei conta que só desejava um homem. E este, estava sentado ao meu lado, dirigindo seu bom e velho Camaro preto.

No final, achei que este Willian poderia não ser o culpado. Apesar de não haver evidências apontando este fato, também não haviam evidências dizendo que ele era o culpado. Era isso o que estava nos faltando: provas.

Parei por um minuto e pensei. Encontramos vários fios de cabelos na casa de Thalia, certo? Então um daqueles fios, provalvelmente, poderia pertencer a seu namorado misterioso. Mas tinham tantos... Parecia que ainda íamos ter muito trabalho pela frente.

Olhei para Percy com um sorriso sugestivo. Sabia exatamente o que fazer assim que chegássemos na casa de Zeus.