POV Percy

Como já era de se esperar, não dormi nem um minuto sequer. Eu mal conseguia fechar os olhos sem imaginar a cena novamente. Cheguei até a pensar que tudo não havia passado de um sonho. Foram tantas vezes que sonhei que a havia beijado, pensei que poderia ter sido novamente um belo sonho. O qual eu não queria acordar.

Mas não, foi real. Eu realmente senti seus lábios nos meus. Estava deitado em minha cama, quando escuto a campainha tocar. Olhei no relógio e vi que ainda não era nem 6h. Achei estranho. Seria um assalto? Claro, assim que eu abrisse a porta os ladrões me diriam: "Por gentileza, poderíamos roubar a sua casa hoje?". Mas de qualquer forma, Contracorrente estava presa em minha perna. Se algo de ruim acontecesse eu apenas sacaria ela e daria uma lição em seja lá quem fosse.

Fui até a porta, sem camisa mesmo. Olhei pelo pequeno buraco e levei um susto. Era Grover. Ele estava com uma cara horrível. Parecia ter sido pisotiado por uma manada de mamutes. Abri a porta e ele disse:

– Percy, aconteceu uma coisa horrível. A pior das tragédias!

Fiquei assustado, afinal o que poderia ser a pior das tragédias? Grover ter mandado para Annie sua lista de garotas que ele já havia dormido? E acredite, não é nem um pouco grande. Ou talvez ele poderia ter lhe mandado alguma coisa pior, algo como os bilhetes que ele e Juníper trocavam. Ah, que ótimo! Era só o que me faltava. Estava prestes a conseguir que Annabeth me dissesse o que sentia e ele faz algo assim.

– Grover, calma. O que foi que você fez? - disse o levando para a sala.

Lá ele se jogou no sofá e ficou fungando. Senti que teria que limpá-lo mais tarde. Afinal, boa parte da meleca de nariz dele deveria ter ficado por lá.

Grover então se sentou e esfregou os olhos.

– Juniper terminou comigo. - ele disse.

Imediatamente senti raiva e alívio ao mesmo tempo. Raiva por ele ter me assustado e eu ter pensado que algo pior tivesse acontecido, algo que estragasse minha relação com Annabeth. Alívio porque não havia sido nada tão sério. Ele e Juníper sempre dão dessas. Dizem que irão terminar mas, não demora nem dois dias, já estão juntos novamente.

– Grover, não é a primeira vez que ela diz isso, vai ver...

– Mas desta vez é verdade! - ele me interrompeu - É que nós tínhamos ido para uma festa hoje, e eu acabei bebendo um pouco. Fomos para o estacionamento para dar uns amassos, mas lá tinha um arbusto de mirtigo muito parecido com um coração. Então eu me declarei para ele, porque achei ele o arbusto mais bonito que já vi. Juníper ficou muito puta, ela disse que desta vez seria para sempre.

Sim, Juníper era uma garota realmente estranha. Estranha para as pessoas mais normais, e completamente normal para Grover. Ela tinha uma tia que era casada com um carvalho. Teve até cerimônia e tudo. Ela era muito ligada à Natureza, então quando Grover se declarou para o arbusto de mirtigo, ela considerou como traição. Mas vindo de Juníper, não garanto que seja para sempre. Provavelmente logo ela vem se desculpar com Grover. Ou vice e versa.

– Hã... Cara, mas você se desculpou? Porque você sabe como a Juníper é. - digo para Grover.

Ele então parou de fungar e sorriu, como se tivesse acabado de ter uma ideia.

– Percy, você é um gênio! Vou me desculpar com ela! Te daria um beijo agora se não fosse tão... você sabe. Sou muito másculo para isso.

Dei risada apenas. Afinal, não queria um beijo de Grover, queria um outro beijo da garota loira de olhos acinzentados que eu beijara na noite anterior.

– Por falar em beijo... - comecei a falar.

Grover então parou por um minuto e ficou me encarando como quem diz: "O que quer dizer com isso?". Cocei a nuca. Era uma mania feia, mas não podia evitar. Sempre fazia isso quando estava envergonhado.

– O que, você, Percy Jackson, não vai me dizer que finalmente tomou coragem e beijou Annabeth? - Grover disse num tom um tanto satíroco.

Apenas assenti. Não havia mais nada para ser falado.

Ao contrário do que eu pensei que aconteceria, Grover começou a gargalhar de uma maneira um tanto escandalosa. Agradeci por morar sozinho. Assim que ele parou de rir, se virou para mim. Acho que só então ele notou que eu realmente estava falando a verdade.

– É sério? - ele perguntou.

– Sim, beijei Annabeth à algumas horas atrás. Tive um surto de ciúmes quando a vi com Luke.

– Puxa, pensei que você viveria esse amor platônico para sempre.

Fiquei feliz em saber que Grover acreditava em mim.

– Sua fé em mim me comove. Mas não me declare, só... beijei. - digo de maneira envergonhada novamente.

Grover revirou os olhos e praguejou algo que eu não entendi. Ele então, me agradeceu pela atenção e saiu rumo a casa de Juníper. Notei que o sol já havia nascido. Talvez fosse uma boa eu chegar mais cedo na casa de Zeus hoje. Alguns dias atrás ele me perguntara o que eu sentia por Annie, eu enrolei e tentei disfarçar, dizendo que só gostava dela como amiga. Mas eu sei que é difícil enganar um ex-investigador. Ele percebeu na hora que eu estava mentindo. Me disse para continuar assim, com calma. A conversa estava boa, mas então Annie chegou e tivemos que parar nossa conversa. Seria bom conversar com ele novamente.

Troquei de roupa e comi um pedaço de pizza amanhecida que devia estar em cima da mesa a mais de uma semana. Mas o gosto não estava tão ruim. Só torci para não me infectar com nenhum fungo. Peguei as chaves de meu carro e dirigi até a casa de Zeus. Os portões estavam fechados, afinal eu não havia avisado que chegaria cedo. Parei o carro na frente e fui conversar com o porteiro. Disse que era um empregado de Zeus e que estava trabalhando no caso de Thalia. Na mesma hora, aquele velho senhor me deixou entrar.

Entrei e fui direto para a casa dos fundos. Não me preocupei nem em ver se Zeus já havia acordado. Corri para os fundos e fui até o escritório secreto. Assim que abri a porta, me deparei com Zeus sentado em sua escrivaninha mexendo em alguns papéis.

– Bom dia. - eu disse entrando e fechando a porta.

– Bom dia. Parece que não dormiu muito, não é, Percy?

Como eu já havia dito, é difícil enganar um ex-investigador. Entrei e dei uma olhada nos papéis. Tinham vários rostos com os nomes embaixo deles. Todos tinham o mesmo nome: Willian. Tínhamos que começar com algum suspeito, e o tal namorado de Thalia parecia ser o mais indicado. Zeus e Hera nunca o viram, não sabiam nem sei sobrenome.

– Acha que foi o namorado de Thalia que a matou? - perguntei.

Zeus não disse nada, apenas continuou folhando os rosto. Tinham de todos os tipos, brancos, negros, loiros, ruivos...

– Peguei esta pasta com o Serviço Secreto. São todos os "Willian" entre 20 e 30 anos que vivem em Nova Iorque. Mas temos que encarar que há mais opções. Como por exemplo, ele pode ser mais velho, pode morar em outro lugar, "Willian" pode não ser seu verdadeiro nome... Mas temos que começar por algum lugar, certo? - Zeus disse pegando mais uma caixa cheia de papéis. "Mais 'Willian's" pensei.

Zeus abriu a caixa e notei que os rostos eram diferentes dos da outra pilha. Pareciam mais amargurados, e mais malvados do que os outros.

– Estes são os "Willian" que já foram presos. É uma quantidade menor, talvez pudéssemos começar daqui.

Assenti. Zeus estava mesmo muito empenhado em encontrar o homem, ou mulher, que matou Thalia. Ele era seu pai, então não poderia culpá-lo. Apenas continuei arrumando os papéis quando alguém abre a porta de sopetão. Me virei rapidamente e vi Annabeth. Seus olhos pareciam cansados. Deduzi que, assim como eu, ela não dormira bem a noite. Seu cabelos estava preso com um rabo de cavalo, o que destacava seus olhos. Ela entrou e olhou para mim. Pensei que ela talvez nunca mais quissesse falar comigo depois de ontem, mas ela disse apenas:

– Bom dia, Percy.

Sorri para ela e disse:

– Bom dia, Annie.

Zeus assistia a cena em silêncio. Ele provalmente já deduzira o que possivelmente havia acontecido.

– Parece que você também não dormiu muito bem, Annabeth. - Zeus disse olhando para ela e em seguida olhou para mim.

Senti meu rosto corar, e notei que Annie também ficara vermelha. Mas ela disfarçou e vou até meu encontro. Analisou por um minuto as folhas e disse:

– Por qual "Willian" iremos começar?

Continuei folheando os papéis, até que encontrei algo curioso.

– Em qual faculdade Thalia se formou mesmo, Zeus? - perguntei.

– Universidade de Artes Cênicas de Nova Iorque, por que? - Zeus respondeu.

Peguei o "Willian" que havia me deixado curioso e mostrei para Zeus.

– Parece que este "Willian" se formou na mesma faculdade que Thalia.

Seu nome era Willian McCarter, 24 anos. Se formara na Universidade de Artes Cênicas de Nova Iorque a dois anos. Exatamente como Thalia.

Zeus arqueou as sobrancelhas e continuou encarando a foto. Ele pareceu interessado. Me devolveu a foto e disse:

– Seria bom investigar. Por que vocês dois não vão conversar com este "Willian"? Vou tentar descobrir mais alguma coisa.

Olhei constrangido para Annie. Zeus fizera aquilo de propósito, apenas para me deixar sozinho com Annie. Agora cabia a mim aproveitar a oportunidade ou não.

Assenti e peguei as chaves do carro. Não queria que Annabeth fosse pensando que aquilo era uma obrigação. Então, assim que ela saiu pela porta atrás de mim, lhe disse:

– Annie, vou entender se não quiser ir. Se quiser ficar e ajudar Zeus...

– Eu vou com você, Percy. Quero conversar com esse tal Willian. - ela me interrompeu.

Por um minuto, fiquei com pena desse Willian caso ele fosse o culpado. Mulheres são muito assustadoras quando querem, principalmente Annabeth.

Então nós seguimos, em silêncio, até chegar na casa do tal Willian.