True Self escrita por Pepê Nunes


Capítulo 2
A queda




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Quatro de abril de 2012 - Manhã


A sineta do colégio anunciava o intervalo, Miyako se levantou, mas o professor de literatura, o Sakibara-Sensei, pediu para que todos voltassem aos seus lugares.


– Por favor, fiquem sentados. O que eu tenho a dizer é de grande importância para todos vocês da classe 3 do nono ano. Algum de vocês não sabe dos boatos sobre a calamidade?


Todos os alunos ficaram em silêncio. Sem dúvida todos ouviram falar sobre a maldição que pairava sobre aquela turma. Alguns acreditavam, outros não, mas ninguém nunca comentava a respeito durante o período de aula. Depois do ocorrido ano passado, Miyako certamente acreditava na possibilidade de estar envolvida com uma situação cada vez mais perigosa.


– Eu peço a quem não está ciente da veracidade desta lenda, que pense melhor no decorrer dos próximos dias. A calamidade já começou.


A turma ficou tensa, logo começaram murmúrios e uma série de perguntas foram feitas ao professor, todas ao mesmo tempo.


– Um de cada vez, por favor!


– Quem foi a primeira vítima?- Perguntou uma aluna de cabelos curtos e loiros, sentada na primeira fileira, em frente ao professor.


– Foi Sawada Yukimaru. Ele seria colega de vocês, mas está desaparecido desde segunda, quando começaram as aulas.


– Então, quer dizer que temos um aluno extra? - Foi a vez de um menino alto e bronzeado que sentava próximo a uma janela.


O professor negou, o que bastou para calar os alunos, que começaram a encarar uns aos outros, alguns com desconfiança e medo, outros descrentes. Sakibara-Sensei tornou a falar:


– Faz quatro anos que venho ajudando a turma 3 do nono ano a superar a calamidade. Como vocês devem lembrar, no dia da cerimônia, no último domingo, foi tirada uma foto da turma reunida...E... Era sempre através da primeira foto que, com ajuda da minha esposa... Eu sabia quem era o aluno extra.


– E então Sensei?


– Quem é o aluno extra?


– Aparentemente não há um aluno extra... Mas...


– Então como a calamidade começou?


– Existe algum funcionário extra?


– Não, os números estão em perfeita ordem. Eu... Sinto muito classe, mas dessa vez não sei como ajudá-los. Os métodos de prevenção foram anulados desde o primeiro dia, com o desaparecimento do Sawada-San...


– Será feito um comitê de contramedidas, suponho... - foi uma aluna com cabelos longos e castanhos, no fundo da sala, com um tom de voz dominador.


– Sim, será. Eu... Peço perdão por ter exposto as coisas tão de repente. Eu costumava evitar tocar neste assunto, às vezes até desmentia, mas, dessa vez... Achei que seria injusto não comunicar a vocês sobre o risco que estão correndo. - O professor pigarreou uma vez, deu um longo suspiro e tornou a falar: - Decidiremos agora quem fará parte do comitê de contramedidas. Alguém quer se candidatar?


Houve um momento de expectativa. A primeira a levantar a mão foi a menina de cabelos castanhos.


– Meu nome é Imadori Suzume e eu quero participar do comitê.


– Eu me chamo Usami Takahiro e também gostaria.- Disse um garoto de óculos, com os cabelos escuros penteados para trás. - Sakurada Toshiko também quer. - Aquela garota de cabelos curtos e loiros confirmou.


– Mais alguém? - Perguntou o professor.


– ...Eu... - disse, timidamente, Miyako.


– Qual o seu nome?


– Kakeru Miyako...


Todos os olhares se voltaram para ela. Era um nome famoso, que apareceu frequentemente nos jornais regionais do último trimestre do ano anterior. Ela havia sido testemunha e suspeita de duas mortes envolvendo rituais de ocultismo, mas foi provada inocente. Ela havia sido uma garota popular na escola anterior, agora era uma menina solitária, com profundas olheiras e cabelo constantemente cobrindo seu rosto.


– Ok, está fechado o grupo, mas toda a classe deve saber que é de extrema importância que cada um colabore da forma que puder. Como professor regente, estarei sempre disposto a auxiliá-los. Estão liberados para o intervalo, mas o comitê, por favor, permaneça na sala.


Miyako continuou sentada, observando os próprios pés enquanto seus colegas se retiravam da sala. Depois disso, Sakibara chamou os quatro alunos para se aproximarem. Começaram então as discussões a respeito da calamidade. Só surgiam dúvidas, a situação atual era pura incerteza. Miyako permaneceu calada, até que Suzume indagou:


– Você tem alguma sugestão, garota?


– Eu... Acho que são os vultos...


– Vultos? - Perguntou Takahiro. - Você quer dizer espíritos?


A garota tímida assentiu. O professor ficou pessoalmente interessado no assunto.


– Você os vê ? - Em resposta, a garota assentiu novamente. - Como eles são?


– Eles são brancos ou cinzas, geralmente... Mas... - Ela baixou o tom de voz, olhando nervosa por sobre o ombro. - Tem um, nessa sala, que é escuro como uma sombra.


– Será que é o espírito de Misaki? - Manifestou-se a voz doce de Toshiko, visivelmente assustada. Miyako fez que não sabia.


– Você pode falar com este vulto? - Foi a vez do Sakibara- Sensei


– Não, mas...


– Mas?


Nesse momento, a porta é aberta com um estrondo. O aluno bronzeado entrou na sala ofegante, parecendo assustado. Ele correu até o professor e segurou sua mão, puxando- o enquanto falava:


– Sensei! Uma coisa muito horrível aconteceu! Uma colega caiu do terraço! Tipo, estávamos todos lá e ela estava escorada na cerca que quebrou do nada! Acho q-q-que ela morreu!


Quatro de abril de 2012 - Tarde


O sol estava se pondo, e Miyako estava voltando para o colégio para a primeira reunião do comitê de contramedidas. Estava a uma quadra da escola quando Kuroshin sussurrou em seu ouvido.


- Eu sou o aluno extra!


- Não seja estúpido, Kuroshin! Você já está morto!


- Mas o aluno extra É o morto!


- Bom, mas é uma pessoa que aparentemente está viva.


- É, mas eu tenho ocupado o lugar do aluno que morreu, o outro pareceu descontente...


- Ele é como você, Kuroshin?


- Não, ele é uma criança estúpida, como você.


- ...


- E ele foi vítima de um acidente. Ele ainda está neste plano por causa do chamado de seus antigos amigos, que não o deixaram descansar em paz.


- Tem como devolver a paz a ele?


- Duvido que ele a queira.


- Por quê?


- Ele agora é uma entidade poderosa... Todo ano se alimenta das almas dos que morrem nesta classe. Como relatado nos boatos, ele é até mesmo capaz de controlar o espaço tempo e atormentar outra alma que estava à procura da paz , trancando-a com ele neste plano. Só que de forma... "material".


- Existe uma razão para isso?


- Egoísmo.


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