Grace poderia dizer que não tinha medo de nada. Não ficava nervosa ao encontrar algum monstro... Lutava com espada completamente bem, sabia enfrentar qualquer tipo de mago, e mesmo se perdesse, jamais iria desistir por um motivo tão idiota como medo.

            Mas... É claro, havia apenas uma coisa de que tinha medo.

            Sua professora e “mãe” adotiva, Jane.

            Ela não era uma mulher adorável que encontrara uma garotinha e resolvera adota-la para trazê-la felicidades e amor para o resto de suas vidas...

            Jane apenas procurava por alguma criança para poder colocar para trabalhar na loja onde o primo trabalhava como açougueiro e ferreiro. Era para ser algo fácil, em sua opinião. Mas quando viu Grace e o irmão, resolvera que eles poderiam ser mais do que simples atendentes de uma loja.

            E então, aceitou treina-los.

            Não era a história mais bonita do mundo, mas a maga do ferro não ligava a mínima para contos e finais felizes... Então estava tudo de boa.

Mas que se lembrasse... A parte sobre Okky ainda não havia sido dito para Jane... A garota resolvera não comentar nada, às vezes, ficar calada poderia ser algo muito bom para fazer.

            A cidade em que moravam anos atrás, ainda continuava a mesma... Que tédio... Podia ter aparecido algum parque de diversões ou algo assim... Ou uma montanha russa. Grace sempre adorou montanhas russas. Mas não havia nada de diferente para se ver. Isso foi chato.

E ao contrário do que muita gente pensava, Jane vivia em uma casa no meio da cidade, como várias outras. Não queria que ninguém desconfiasse que fosse uma maga, então vivia no centro, um estilo de casa que ficava exatamente do lado a outras, como se não houvesse nada de estranho. Mas também não havia nenhuma guilda naquele lugar... Isso acabou tornando Grace à única criança a querer ser maga quando crescesse.

            Quando tocou a campainha, a garota ficou nervosa de que recebesse alguma reclamação ou soco... Mas talvez nada disso acontecesse de verdade, e se por acaso fosse recebida por beijos e abraços que morriam de saudade dela?

            Bem, não.

- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTA FAZENDO?! – gritou a tal professora, Jane, uma mulher de mais de oitenta ou noventa anos, solteira, baixa, de cabelos pretos (pintados) e olhos azuis (que para Grace eram mais vermelhos). – Eu tinha mandado você para uma missão para ir ao mercado da esquina comprar leite... E você demora mais de SEIS ANOS?!

            A maga do ferro tinha se esquecido daquele pequeno detalhe.

            - Hã... – dizia ela depois de se recuperar do soco que recebera. – Desculpas? Eu acho... 

- HUNF! Espero que tenha pelo menos comprado um leite decente... Qual marca você trouxe? – O lado bom de Jane era que como disse antes, ela era velha e havia perdido os sentidos á muito tempo.

            -... Esqueci...

            - COMO ASSIM ESQUECEU?!

            Grace podia sentir a morte se aproximando cada vez mais.

            - Hã... Eu não fui comprar leite...

            - O QUE?!

            - Eu... Meio que... Hã... Queria... Ser forte... E bem...

            - O que você fez garota?

            Ela estava quase dizendo a verdade, mas mudou de ideia no ultimo segundo, não queria deixar as coisas para Okky depois.

            - Comprei Brócolis. – E tirou da mochila uma sacola cheia do vegetal que havia comprado antes de ir para a missão. A maga do ferro não admitia, mas gostava bastante disso.

            - Brócolis?! Hunf... Até que estou precisando de alguns... Pode entrar. Onde está seu irmão?

            - Comprando cenoura, pode ser que demore mais um pouco...

            - Mercados estão realmente cada vez mais longe de casa...

            - A fila está sempre grande também... E os produtos não são lá grande coisa... Sabe que eu sempre quis o melhor para a senhora. 

- Você tem razão... Realmente não devem fazer mais leite como antigamente. Na minha época, quando eu tinha sua idade, minha mãe trazia leite todo dia do mercado ao lado... Não era ruim, no final das contas...

            Grace estava tão feliz pelo fato de sua professora já estar velha a ponto de não querer mais sair de casa para ir ao mercado.

            A casa de Jane era bem normal, janelas, portas, paredes, chão... Uma sala com fotos de retrato dela e de mais ninguém, já que só morava com seu primo.

            - Grace? – perguntou outra pessoa que estava dentro da casa, que era de fato, o primo de sua professora, que era também bem mais novo, Tinha entre 30 e 40 anos. E provavelmente sabia que o leite do mercado era suficientemente bom. – Onde você estava?

            - Hã... – disse ela colocando a mochila no sofá da sala e se sentando nele colocando os pés na mesa. – Comprando leite.

            - Em mim isso não vai cair. – replicou ele. – Cadê o Okky?

            - Comprando cenouras. Realmente, George, você é muito chato sabia? Ele volta algum dia. Mesmo assim, não posso ficar mais muito tempo aqui, tenho certeza que Jane adora Iogurtes e...

Logo recebe outro soco na cara.

            - ESSES BRÓCOLIS É HORRIVEL GAROTA! SE LEVANTE DAÍ! TEMOS QUE TREINAR!

            - Mas...

            - Sem, mas! – disse a velha. – Seis anos para se comprar um leite e ainda quer moleza?! Vamos já para a floresta derrubar algumas árvores e colocar a culpa na indústria de reciclagem aqui do lado. Sem parar!

            - Mas acabei de chegar! – reclamou ela que havia até caído do sofá. – Me de alguns minutos e...

            - VAMOS LOGO! – disse Jane fazendo a garota levantar e começar a correr em direção á floresta. – Argh! Como quer ser forte desse jeito? Não confia em meu treinamento?

            - Não se preocupe com isso Jane. – avisa George. – Se ela voltou é porque percebeu que treinar aqui é melhor que conseguir magia de qualquer outra maneira.

            - Do que está falando? Você também deveria treinar. Dou poucos dias até essa garota já estar pronta para te derrotar, seu velhote. Ou duvida do meu treinamento?

            - Não, claro que não. Você assusta qualquer um.

            - ótimo. – resmungou. – Argh... Só queria saber por que a garota mentiu sobre o irmão dela... Okky sabe que eu odeio cenouras...

            George resolveu não comentar, apenas se retirou de fininho da casa, antes que também fosse obrigado a treinar. Ainda havia outras coisas a serem feitas por ali, para começar.