POV Sungyeol

Estava tudo tão pacifico quanto antigamente... O ar que colidia com as minhas faces era o mesmo, o cheiro de natureza, a paisagem, e até mesmo o sentimento que aquele lugar trazia. Continuava o mesmo. Ainda me lembro de quando eu e L costumavamos brincar aqui quando eramos pequenos.

L costumava ficar sentado debaixo de uma sombra de árvore não muito distânte de onde eu estava agora, sempre com seus olhos fechados e aproveitando a calmaria do lugar. Tinhamos 10 anos e foi como nos conhecemos. Alguns garotos mais velhos começaram a fazer piada de L, apenas porque o garoto ficava quieto todas as vezes que vinha para o parque. Os mais velhos diziam que ele estava doente e que logo iria morrer, ou que não tinha casa e vinha dormir em baixo de uma árvore. Dia após dia, L tinha que suportar os valentões do parque. Um dia me sentei perto dele e participei da sua sessão de relaxamento diária. Quando os valentões vieram, disseram que ele havia achado um namorado para morar com ele debaixo daquela árvore, referindo-se a mim. L me olhou primeiramente com um olhar fatal, como se eu tivesse feito o pior erro da minha vida, mas logo depois que os garotos foram embora, seu olhar mudou para um mais amigável e voltou a se sentar ao meu lado. Falou que nunca houve alguém para brincar com ele e por isso passava a maioria do tempo descansando. Senti pena... Afinal, eu tinha amigos com quem brincava todos os finais de semana. 

Suspirei e me levantei para estender a mão para ele. Sorri e disse que brincaria com ele e que o apresentaria para mais 5 amigos meus. Ele sorriu, e meu coração começou a doer. Quando menos percebi, ele estava de pé olhando para mim com a cabeça pendida ao lado. Eu sorri desajeitado e o levei correndo para meu "ponto de encontro" com os outros garotos. Howon, Sunggyu e Sungjong estavam lá, faltavam apenas Dongwoo e Woohyun. 

"Pessoal! Esse aqui é o..."

"L," o garoto respondeu por mim. "Me chamem de L." 

L sorriu para todos, que sorriram de volta e o convidaram para participar do jogo de cartas que estavam jogando. Me infiltrei no jogo também, apesar de não gostar muito desse tipo de jogo. Após todas as cartas estarem separadas e embaralhadas para todos, chegaram Woohyun e Dongwoo com dois sacos de guloseimas. Meus olhos brilharam ao ver tantos doces em minha frente e tenho certeza que fui o primeiro a tocar naquele saco. Peguei todos os doces que conseguia com minhas mãos e boca. Oras, quando se trata de doces sou egoísta! L riu de mim e aposto que a cena estava mesmo engraçada. Um choding cheio de doces nas duas mãos e boca devia ser a coisa mais engraçada que L já tinha visto, pelo jeito que estava rindo. Aquilo fez meu coração doer ainda mais... Nunca senti tanto prazer em fazer alguém rir. 

Olhei ao redor para me desfazer daquela memória, mas acabei achando outra chave para abrir uma gaveta cheia de imagens de minha adolecência. Aqueles dois bancos...

L e eu costumávamos sentar naqueles bancos para estudar, principalmente matemática, uma matéria que só L dominava. Ele gostava muito e dizia que queria ser um fotografo. Não sei se era ignorância minha, mas eu não via como as duas coisas se encaixavam. Tinhamos 15 anos e aqueles valentões haviam ficado mais fortes... Continuavam a dizer que éramos namorados e que estávamos tendo nosso encontro romântico com números de decoração ao invés de velas, pois nem para isso tinhamos dinheiro. L dizia para não prestar atenção, mas minha vontade de bater naqueles garotos que se diziam valentões era maior. Por isso me meti na minha primeira briga, o que não foi uma ideia muito inteligente. Saí com o olho roxo e vários hematomas nos braços. Mas me lembro que havia valido a pena apanhar tão feio para receber tantos carinhos de L. Foram as 3 semanas mais sufocantes que já tive, no bom sentido. Meu coração doía ainda mais com cada toque na minha testa para ver se eu estava com febre, com os beijos de boa noite em minha bochecha, e com os abraços quentes e aconchegantes. 

Nada mais havia para se olhar, certo? Aquele lugar era repleto de memórias nossas e eu apenas não entendia o porquê de eu estar lá, logo hoje... Infelizmente, olhei para a direita e vi uma árvore que marcava meu amor por ele... Pelo L.

Como fazíamos desde os 10 anos, estávamos encostados em uma árvore aleatória, aproveitando a calmaria e o cheiro de natureza do lugar. Tinhamos 19 anos. Ambos de olhos fechados enquanto respirávamos profundamente. Mas de repente, senti os dedos gelados de L em minha mão, tentando entrelaçá-os com os meus. Eu permiti enquanto sorria e mantinha meus olhos fechados.

"Vamos namorar."

L só precisou daquelas duas palavras para me fazer acreditar que eu realmente podia cair de cabeça no coração que eu costumava crer que era frio. De fato ele parecia diferente, L estava mais atencioso. Mais preocupado, mais... Interessado em mim. Não precisou de muito para ele entender que eu também queria e para sentir seus lábios nos meus em um beijo calmo e lento, assim como o lugar que compartilhávamos desde os 10 anos. 

Mas foi só questão de tempo para que os valentões chegassem e estragasse com a nossa alegria ao rir da nossa cara. L não ligou e apenas sorriu para eles antes de me beijar novamente, na frente deles. Desta vez o beijo era de um ritmo mais acelerado, com mais vontade e eu apenas segui seus passos. Os valentões, surpreendentemente para mim, foram embora nos deixando em nosso beijo quente e cheio de luxúria. L chegou a me deitar no gramado e deixar beijos em meu pescoço que me assombram até hoje, mas parou para sorrir para mim. Mas todos aqueles toques e sorrisos novos apenas doíam em meu coração, pois querendo ou não, algum dia eu iria ter que deixá-lo ir. 

L sentou novamente e pegou uma pedra pontuda no chão. Levou ao tronco da árvore e escreveu "MS + SY = MY." Claro que mais ninguém iria entender, além de nós dois. L nunca falou sobre seu nome verdadeiro, que era MyungSoo. Por isso MyungSoo + SungYeol = MyungYeol. 

Eu precisava parar de me lembrar das coisas assim... Logo aquela dor vai voltar e eu não vou mais conseguir levantar e ir para casa. Mas era inevitável, certo? Minha vida se passou por aqui... E eu tinha saudades disso. De quando eu o envolvia em meus braços e dizia o quanto o amava... De quando sorriamos um para o outro, de quando trocávamos beijos... Não quero lembrar da noite em que L terminou com toda a nossa alegria, dizendo que estava com medo e que não aguentava mais ser meu namorado. Tudo bem mencionar, mas não quero lembrar daquela cena... É dolorosa demais para mim. Mas digamos que nosso relacionamento durou pouco e aqui estou eu, após 2 anos. 

- Já é noite... - Pensei em voz alta. - Acho melhor voltar...

Me levantei e dei uma ultima olhada para o céu que há tanto tempo não ficava estrelado. Era tão bonito que minha vontade de ir embora desaparecia... Não. Eu precisava ser forte. L escolheu ir embora, apesar de eu não conseguir deixá-lo nem por um segundo.

Minhas chances de tê-lo de volta já estavam fora de alcance,  mas meu coração continuava a doer... Dei meu primeiro passo para sair daquele lugar que tanto me lembrava da pessoa que eu mais amei enquanto olhava para cima e desfrutava o resto daquele céu que a cada passo ia se apagando. Nem me dei conta de que estava prestes a esbarrar em uma das árvores e acabei batendo a testa. Caí para trás, porém me sentei imediatamente com uma das mãos acariciando o local machucado. "Acho que não iria doer muito se eu ficasse mais um pouco... Apenas para me curar da dor na minha testa, certo? 

Fechei meus olhos e encostei minhas costas no tronco da árvore onde me machuquei, aproveitando a calmaria do lugar como costumava fazer há 2 anos. Era tudo tão igual... Até conseguia sentir a presença de L ao meu lado, mas eu sabia que não era real... Não até os mesmos dedos gelados encostarem dos meus, tentando entrelaçá-los. Suspirei, mas não ousei abrir os olhos. Talvez minhas memórias estivessem se tornando em um sonho em minha mente fértil. Os dedos apertaram os meus e meu coração parou.

- Não devia ter ido embora, Yeollie... Por isso não vou agora.

Meus olhos continuaram fechados, mas senti lágrimas se formarem por baixo das palpebras. Afinal de onde ele surgiu? Minha mente deve ser muito fértil. Mas eu estava tão desesperado por ele... Abri meus olhos e confirmei a presença de L. Ele realmente estava ali, do meu lado, segurando minha mão... E ele parecia horrível...

- O que houve com você?! - Perguntei imediatamente.

- Eu... Não durmo direito há 2 anos... 

Ele sorriu para mim da mesma maneira que costumava sorrir há 2 anos e aquilo fez meu coração voltar a bater com tamanha força que a qualquer momento ele poderia pular do meu peito. Eu continuei a olhar para ele com a testa franzida enquanto a boca abria algumas vezes para falar, mas logo se fechava pois não conseguia. L levou uma de suas mãos ao meu rosto, como ele costumava fazer, e acariciou com as pontas dos dedos. Olhou profundamente em meus olhos, os quais já estavam cheios de lágrimas, e aproximou seu rosto sem perder o contato visual por um segundo.

- Yeollie, está tudo bem agora. Eu pensei muito nesses dois anos e sabe... Ficar com a agonia de não saber se eu iria te encontrar de novo... De saber que não iria mais poder te segurar nos meus braços, eu só... Eu não conseguia... Eu te amo... SungYeol, eu te amo.

Eu não poderia descrever meus sentimentos naquele momento, pois eram tantos... Mas sentir os lábios de L nos meus novamente foi o melhor sentimento de todos. Tê-lo de volta em meus lábios, em meu coração, sabendo que o que ele falava era verdade pois L nunca mentiu para mim, sabendo que eu poderia amá-lo de volta e para sempre... 

Meu coração parou de doer e começou a aquecer.