Antes de ir dormir, acabei ouvindo a voz de Misa em soluços, assim como da vez que a consolei. Era coisa da minha cabeça, mas parecia tão real... eu podia ouvir tão perfeitamente.

"Ryuuzaki-kun... ajude-me, ajude-me! Eu preciso de você aqui comigo, agora!"

Eu não parava de ouvir sua voz. Por mais que tentasse, não saia de minha cabeça. Meu coração estava apertado, eu estava tão sensível nesses últimos dias que já tinha vontade de chorar novamente.

"Ryuuzaki... por favor... me console novamente! Eu estou triste!"

Estava começando a achar que tinha enlouquecido. Ouvir vozes, sentir que Misa estava tão perto de mim... o que era aquilo? Será que a tristeza me deixou paranóico? Tapei meus ouvidos com o travesseiro. Não adiantou.

"Ryuuzaki... eu preciso de um amigo... me sinto tão sozinha!"

Não aguentava mais aquilo tudo. O amor estava, definitivamente, me enlouquecendo. Não digo "me matando" porque, por dentro, já havia morrido a muito tempo. Me levantei e fui até a parte mais alta da casa. Watari já estava dormindo, eu estava sentindo que tinha chegado minha hora. Ele não ia suportar minha depressão por muito mais tempo, uma hora se irritaria. Nem eu me suportava mais.

Olhei para baixo e engoli seco. Era realmente muito alto. Pensei um pouco e fechei os olhos. Estava quase certo do que queria fazer. Seria melhor para todos.

"Ryuuzaki, não faça isso... será a maior besteira de todas!"

A voz parecia estar mais alta. Tentei ignorar novamente aquela voz, mas era quase impossível. Cerrei os punhos e abaixei a cabeça. Desculpe-me Watari, Near, Mello, Matt. Ryuuzaki Lawliet está partindo.

"L... não! Eu não vou permitir! Pare de me ignorar!"

– Pare com isso, porfavor! Eu não aguento mais! - Coloquei as mãos em meus ouvidos e gritei. A lua que antes iluminava a casa desapareceu. Me afastei um pouco e cai de joelhos. Continuei olhando pra baixo. A noite ficou fria novamente. - Pare com isso...

Watari me encontrou lá em cima e foi até mim. Fechei meus olhos e tentei bloquear minha mente.

– O que aconteceu? - Perguntou, preocupado. Estava sendo o mais forte que podia.

– Eu quero desistir. Não consigo mais suportar tudo isso. Por favor, entenda. - Abri os olhos e o olhei.

– Não desista assim, Lawliet. Eu já lhe falei, e posso lhe falar novamente: isso é só uma fase. Vai passar.

– É só uma fase? Vai passar? Quando, Watari? Me diga! - Coloquei as mãos em seus ombros e desviei o olhar. - Eu a amo demais... isso não vai passar nunca! Você não entende? Não é uma fase! - Mordi os lábios para segurar as lágrimas.

– Lawliet... - Ele estava magoado também. Nunca imaginaria que seu 'filho' ficaria daquele jeito. Me levantei e fui até a ponta da casa.

– Sabe, Watari, eu sempre quis saber como era pular daqui. Você nunca deixou eu fazer isso. Finalmente, realizarei esse sonho. - Dei um sorrisinho. Ele estava parado, não sabia se me impedia ou se chorava.

"Ryuuzaki, não!"

Senti os braços de Misa me abraçando. Dei alguns passos pra trás e me arqueei, olhando pra trás. O abraço apertava cada vez mais. Era um abraço carinhoso, típico da Misa.

– Pare com isso, eu já pedi! - Gritei com agonia. Watari se assustou. - Pare, pare, pare!

– Você está enlouquecendo... - Watari segurou meus braços e tentou me puxar pra dentro. - Vamos entrar lá dentro...

– Não! Não! - Me joguei no chão. - Eu não estou enlouquecendo! Pare de dizer isso! - Minha cabeça estava doendo. Watari me arrastou e me trancou no quarto. Para garantir que eu não ia fazer nada, colocou madeiras nas janelas e milhares de cadeados em minha porta.

"Desculpa, Ryuuzaki..."

Soquei a porta. Eu queria sair dali a todo custo, aquilo só estava piorando. Watari ouviu e conversou comigo do outro lado.

– O que você deseja? - Ele tentou parecer calmo. Comecei a socar a porta denovo.

– Eu quero sair daqui... porfavor, me tire daqui, eu não aguento mais... - Me escorei na porta. - Eu estou implorando pra você, Watari... isso é tortura pra mim... pai... - Não costumava chamar ele de pai, então ele ficou surpreso.

– Não posso tirar você daí. Você vai fazer bobagens. - A voz dele estava mais nervosa.

– Você está vendo seu filho sofrer e não faz nada, que pai ruim que você é... - Aquelas palavras praticamente não eram mais minhas. Eu nunca falaria isso pra Watari. Eu estava fora de mim. Ele ficou em silêncio.

"Ryuuzaki, o que aconteceu com você?"

Tremi e me aninhei no chão. Watari abriu uma fresta da porta e viu meu estado: olhos inchados, tremedeira, olhar maníaco. Fechou a porta em seguida.

[...]

Narrado por: Misa

Eu passeava pela rua, sentindo como se uma nuvem negra estivesse acima de mim. Meu namorado tinha terminado comigo, meu mundo estava acabado. Fui em uma banca de revistas e me deparei com a notícia da capa:

"O famoso e admirado detetive L está em seu apartamento trancado, uma fonte confiável afirma que ele está enlouquecendo cada dia mais. Não fomos informados da causa dessa provável loucura."

Pude sentir meu coração parar por um período. Ryuuzaki, enlouquecendo? Por que? Como? Peguei o jornal e li a matéria toda. Não tinha foto alguma de Ryuuzaki, afinal, sua aparência sempre foi um mistério para a maioria das pessoas. O que eu ia fazer agora? Não tinha certeza se seria bem vinda na casa dele. Aquilo tinha me deixado confusa e, de uma certa forma, tocada.

Ryuuzaki já me ajudou uma vez, quando Raito morreu, não é? Misa deve ajudar ele também! Quem sabe ele não melhora? Eu posso ser a solução!

Guardei o jornal em minha bolsa e corri até a casa de Ryuuzaki. Watari me atendeu, seus olhos expressavam dor.

– Watari-kun, posso ver o Ryuuzaki? - Perguntei, preocupada. Ele respirou fundo e me olhou.

– Ele não se encontra em condições para visitas. Desculpe. - Watari manteu a seriedade na voz.

– Eu quero vê-lo, por favor! - Fiz bico. Ele suspirou e desviou o olhar.

– Certo, entre. Mas não faça muito barulho e chegue delicadamente no Ryuuzaki. Ele pode se assustar. - Watari abriu a porta e me chamou para entrar.