Estava jogado na cama com o rosto afundado no travesseiro, o cobertor escondia meu rosto e eu chorava baixo. Até os homens que aparentam ser fortes - ou que são fortes mesmo - choram alguma vez. Afinal, ninguém é de ferro.

Me senti uma criança naquele momento. Encolhido, abraçado em um cobertor e chorando de dor. Meu corpo não estava machucado, mas eu estava sentindo aquilo. Eu soluçava e engolia minhas lágrimas sem querer, me sentia mais infantil do que nunca. Estava com medo que alguém me visse naquele estado. Minha cabeça começou a doer também. Acho que eu já tinha chorado tanto que precisava descansar.

Eu estava triste, magoado... ferido. Ouvi alguém entrar no quarto que eu estava. Tranquei minha respiração por um período e tentei fingir que estava dormindo. Não consegui ver quem tinha entrado, mas pude ouvir que estava mexendo na gaveta que tinha meus doces.

– Não encoste um dedo em meus doces, ser que está em meu quarto. - Falei com a voz chorosa, quase em um murmuro. - Faça o favor de sair daqui.

A pessoa se aproximou de minha cama e se sentou, tentando tirar os cobertores de cima do meu corpo. Comecei a tremer - não de frio, mas sim de medo - e ela parou. Por que não falava nada? Eu poderia reconhecer sua voz na certa se falasse alguma coisa. Senti suas mãos em meus cabelos, que foram afagados no mesmo momento. Aquele carinho me fazia ficar tão tranquilo... aquele toque era tão suave. Queria muito me virar para ver quem era, mas meu rosto estava cheio de lágrimas...

Se deitou em cima de meu corpo e sussurrou alguma canção de ninar em meu ouvido. Eram quase sopros, então não identifiquei a voz. Minhas pálpebras ficaram pesadas, o corpo da pessoa esquentava o meu. Consegui ouvir o barulho da chuva que havia chegado no momento. A cortina voava e o vento batia nas costas da pessoa que estava em cima de mim.

– Quem está aí? - Gaguejei, minha voz mostrava que eu havia chorado e eu ainda soluçava. - Por que está fazendo isso?

Não obtive uma resposta. Ela se levantou e passou a mão em minhas costas, logo caminhando até a janela. Fechou o vidro e as cortinas e se dirigiu a porta, segurando o trinco e me fitando por alguns segundos. Em seguida, saiu do quarto e me deixou sozinho novamente.

Me enrolei mais nos cobertores e tentei dormir. Eu ainda sentia muita vontade de chorar, mas Misa ainda morava aqui perto e Watari morava na mesma casa que eu.

Epa. Tudo começou a se encaixar.

As únicas pessoas que ainda ficavam perto de mim eram Misa e Watari, ou seja... foi um deles que me fez tudo isso.

Depois que Raito morreu, Misa ficou muito triste e eu tentei consolá-la. Desde que a conheci queria ser seu namorado. Viramos melhores amigos e, quando eu estava quase conseguindo, ela arranjou um garoto no qual descreve "gentil, sexy e amoroso", o que é totalmente o contrário de mim. Depois dessa notícia, quem ficou muito triste foi eu. Mas Misa estava ocupada demais sendo feliz com o namorado em vez de me consolar.

Se passou um mês e eu não aguentava mais segurar as lágrimas. Eu pensava que, se eu chorasse, não seria mais tão forte. Eu queria parecer ser forte, queria ser que nem o namorado de Misa, porém nem chegava perto. Fui até Watari e desabafei tudo com ele e, finalmente, chorei em seu ombro. Ele compreendeu e tentou me ajudar com algumas palavras, mas de nada adiantou.

De fato, só Misa faria meu coração voltar a ser o que era antes.