Respirei fundo, tentando controlar a emoção. O nó na garganta era incomum, que sensação mais bizarra, a de ser reconhecida. Sorri de lado e torto, não era boa nisso, me senti desconfortável; todos me olhavam. Levantei da cadeira e fui até o pequeno palco. Minha mão começou a suar... Mais que porra! Sequei-as na calça jeans, ajeitei meus cabelos e peguei o violão que estava com o dono do bar. Novamente tentei sorrir, ele apenas inclinou a cabeça.

Acomodei-me. Sentia o pessoal ansioso, até que aquele silêncio me acalmava. Dedilhei por alguns instantes o violão, porém me lembrei de uma música bem melhor. Deixei o violão de lado e fui até o piano.

Não era muito boa como o Kaito, porém aquela música iria conseguir.

( Música: https://www.youtube.com/watch?v=CWd_qNgcXDA )

“ Por que o meu coração está tão cansado de chorar ?
Por que eu me odeio tanto ?
As pessoas que passam estão sorrindo
Eles estão rindo de mim ?
Por que eu estou respirando?
Se eu pudesse apenas parar de respirar sem dor “

Por um momento, tudo estava esquecido. O show. Vocaloid. As músicas. Os clipes. Tudo estava se tornando apenas um filme velho e esquecido no fundo do meu inconsciente. Dedilhava as teclas do piano, cantando com os olhos fechados... meu coração estava acelerado.

Uma segunda voz preencheu a minha. Ouviu um barulho repentino no bar. Abri os olhos, era o Kaito ao meu lado.

“ Alguém me ajude
Meu coração grita em solidão
Mesmo que eu finja ser forte
Eu quero que alguém me encontre logo

Por que mesmo assim meu coração se sente tão solitário ?
Por que eu tento tanto me distanciar das pessoas ?
Se eu fosse desaparecer deste mundo amanhã
Aposto que não haveria ninguém que choraria por mim
Quero alguém importante para mim, que chore e ria ao meu lado
Meu outro eu está suspirando e gritando “

Ele cantava com os olhos fechados. Logo me entreguei e cantávamos juntos. O nó na garganta, fazia com que a minha voz as vezes falhasse. Porém, o Kaito sempre preenchia esses partes, e logo a música tornou-se algo completa. Estávamos desabafando.

E até fazendo as pazes. Senti a mão dele sobre o meu ombro, não desviei, era confortante.

“ Agora mesmo, eu estou hesitando
Temendo até mesmo tocar em um pequeno interesse
Você não pode virar o verdadeiro eu
Você secretamente desejou que fosse desse jeito
Está na hora de você acordar e dar um basta nisso,No reflexo do coração das pessoas
Eu serei encontrado sorrindo lá ?

Apartir de agora. Por favor se adiante-se
Por que mesmo depois que eu desaparecer Sempre estarei cuidando de você. ”

Quando a música terminou, ouve uma chuva de aplausos, fechei os olhos por mais um tempo, me deliciando com o momento, depois sorri e abrir os olhos. Kaito estava na frente, me levantou e me pegou no colo. Ri um pouco e segurei nos ombros dele, que me rodou por alguns instantes e depois me colocou no chão.

– Viu? Somo uma dupla perfeita.... – Piscou, dando um beijo na minha testa. Agradeci mentalmente por não ter sido na boca. – Podemos ainda cantar nos bares.

Encolhi os ombros. Estava em êxtase. Não conseguia falar, apenas sorrir.

Cantamos mais duas músicas, uma até famosa dos Vocaloid – o dono do bar havia pedido e eu acabei aceitando – Cantarella, eu até gostava do ritmo. Quando terminamos o pequeno show, tudo que consumimos foi pago como agradecimento.

Aproveitei a boca livre e jantei, junto com o Kaito, que não desgrudava.

– Agora sim... valeu a pena vir.

– Não tinha valido por eu vir junto?

Encolhi os ombros e mordi o hambúrguer. Era um dos mais gostoso que já havia comido.

– Larga de drama, infeliz.

– Não é drama... é amor. – ele fez beicinho. Ah, lá vem...Encarei. – Pensou na minha proposta?

– Não. – Seca. Sem sentimentos... Queria encerrar o assunto, mas a praga era complicada para entender as coisas.

– Por que?

– Vamos para o hotel? Estou cansada e amanhã é o show.

Acenei para o dono do hotel e depois sai, sem olhar para trás. Sabia que ele iria me seguir e foi o que fez. No caminho para o hotel, lembrei de um fato que iria me vingar – não sei de que – do Kaito. Ia ser divertido.

– Kai.

– Oi? – Ele tinha ainda esperança na voz. Hora de mudar o rumo disso.

– Sabe o quarto que estamos?

– Claro que sei neh, além de você ter reclamado, fui eu que....

– Cala a boca e ouve... – Virei e fiquei séria, de frente para ele. – Ouvi um barulho estranho. A porta se fechou e depois abriu... Perguntei para o vizinho. Ele disse que uma mulher havia sido assassinada ali... e que seu espirito – O olhar apavorado dele foi a melhor visão do mundo. Continuei, mas séria que podia, apesar de querer rir. - ... seu espirito, vaga por ai.

– Se-sério? – Ele tremia. Tentei não rir.

– Muito sério.

– Bom. Eu vou dormir do seu lado, então nada vai me fazer mal.

Encolhi os ombros e abri a porta do nosso quarto. Olhei para trás, fiz um drama e uma expressão bem séria. Por dentro, estava gargalhando.

– Nunca se sabe, Kaito. – Pisquei. Percebi que ele havia estremecido.

– Para Mei... odeio quando faz isso, sabe que eu tenho medo de fantasmas.

Apenas sorri e me joguei na cama. Larguei o celular e a carteira do lado e fui pro canto. Estava até sem vontade de fumar, fiquei de barriga para cima, mirando o teto. Minha mente estava inquieta.

Kaito deitou do meu lado e suspirou.

– Sério mesmo que você não pensou?

– Aham.

– Mas... ainda podemos nos agarrar neh?

– Kaito! – Dei um chute nele, que gemeu e se encolheu.

– Poxa.

– Não..

– Por favor.

– Não!

– Só uma rapidinha, e não encho mais o seu saco.

Virei para bater novamente nele, porém o mesmo agarrou meus braços e me beijou. Fechei meus olhos, mas a imagem que veio a minha mente não foi dele, e sim dela. Que diabos ela queria comigo? E porque havia falado comigo no bar? Suspirei.

Quando dormimos, sonhei. E no sonho, Luka sorria e acenava para mim, me chamando; “Mei-chan”.