Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 27
Derrubada


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora ç.ç
Espero que gostem



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- Maysilee! Acorde! – uma voz me chama, mas meus olhos parecem grudados. Sinto o tronco áspero da árvore machucar as minhas costas por trás e solto um gemido. Não quero acordar. Meu nariz capta o cheiro de grama, nenhum cheiro de sangue. Isso é bom. Abro os olhos de vagar e tenho a minha visão ofuscada por um raio de luz que vem bem na minha direção.

- Já está na hora? – pergunto, ouvindo a minha voz rouca e fraca.

- Não – Haymitch me responde calmamente.

Eu o encaro incrédula, tentando acalmar uma raiva repentina que surge em mim.

- Como não? - percebo que ele está encarando o chão – Se nem deu a hora, por que você me acordou? – pergunto irritada. Com o sono que eu estava, poderia ter dormido por três dias. Mas pelo jeito não dormi nem por oito horas.

- Antes que você me mate: só faltam quinze minutos para a hora de te acordar. Só te acordei antes porque você parecia estar tendo um sonho péssimo. Estava murmurando coisas e se mexendo bem mais que o normal.

Bem mais que o normal. Então eu sempre digo coisas enquanto durmo? Porque ele nunca me contou nada? Ignorando Haymitch, passo a mão pelos meus cabelos, que estão molhados de suor. Ótimo, além de estar falando e me mexendo durante o sono, agora eu também estava suando frio. Não consigo me lembrar desse sonho, ou teria sido um pesadelo? Dou um suspiro. Sendo mais provável um pesadelo nesses últimos dias, estou feliz por não me lembrar de nada.

Dez minutos depois, nós já estamos caminhando novamente. Tento não ligar para as minhas pernas doloridas. Essa foi a quarta noite depois da morte de Ayse, três dias haviam se passado e as mortes estão aumentando. Agora todo dia morre pelo menos uma pessoa. Tenho quase certeza que somos menos de quinze tributos agora. E durante esse tempo, eu e Haymitch continuamos nossa caminhada infinita e não chegamos a lugar nenhum, o que me irrita cada vez mais. Não fomos atacados, apesar de termos chegado bem perto de um tributo na segunda noite, mas ele morreu atacado por bestantes antes que pudéssemos lutar.

Cada dia que passa sinto que as coisas estão calmas demais para o nosso lado e que isso deve mudar a qualquer instante, dependendo dos idealizadores. Minha mão vai automaticamente até a bolsa onde está presa a zarabatana e os poucos dardos que restam, mas sou desviada do pensamento ao tropeçar em um buraco e cair de joelhos no chão, ralando a pele onde a calça está rasgada. Hay me lança um olhar impaciente, que faz meu sangue ferver, mas depois me ajuda a levantar.

- Foi só um buraco – digo mau-humorada, enquanto me livro de sua mão que segura meu cotovelo por trás. Ele estampa um sorriso irônico no rosto. Não, Maysilee, você não pode matá-lo, repito várias vezes mentalmente.

 Continuamos a andar. Meu joelho arde, apesar do sangue já ter coagulado. Sinto como se tivesse amarrado cimento nos tornozelos. Começo a perguntar à Haymitch para onde estamos indo novamente. Ele me ignora. Eu insisto. Ele me ignora. Eu insisto mais um vez, é minha ultima tentativa. Ele me ignora novamente.

- Você tem que me contar para onde estamos indo! – exijo parando de andar e o encarando com um olhar desafiador. Ele me encara e depois ri, como se eu não passasse de uma criança mimada.

- Não sei para onde estamos indo, Maysilee. – ele fala com um tom sarcástico, mas percebo que não está mentindo. Meu sangue ferve de raiva.

- Então você não sabe para onde está indo e mesmo assim insiste em ir? – pergunto indignada. Ele apenas sente com a cabeça e recomeça a andar, mas dessa vez eu não vou atrás. Ele para depois de alguns passos ao perceber que eu continuo imóvel.

- Maysilee. Vamos. Agora. – ele fala dando um pausa em cada palavra.

- Não. – digo decidida – Não vou a lugar nenhum até você me contar.

- Te contar o que? – ele diz, um pouco alto demais. Olho para os lados alarmada, mesmo sabendo que não há ninguém por perto.

- Por quê estamos fazendo isso? – pergunto calmamente.

- Porque esse lugar tem de acabar em algum ponto, certo? – ele diz abaixando o tom de voz – A arena não pode ser interminável.

Eu abro a boca para falar alguma coisa, mas desisto. Esse é um ponto no qual eu nunca tinha pensado antes. A arena precisa acabar em algum lugar. Mas Haymitch estava esquecendo um pequeno detalhe: os idealizadores. Esse não é um jogo justo. Ser mais esperto não vai te tornar o preferido por aqui, pelo contrário. Eles não querem um tributo esperto que use o cenário contra o próprio jogo. Eles querem sangue, custe o que custar.

- O que você espera encontrar? – pergunto curiosa.

- Eu não sei. Mas, de repente, tem alguma coisa que a gente possa usar.

Eu dou ombros e continuo a caminhar. É tudo o que eu posso fazer. Ele tem bons argumentos. Caminhamos por um bom tempo, vou cantarolando bem baixinho, de modo que apenas alguns tordos podem escutar e repetir a melodia. Já estou na quarta ou quinta música quando percebo que os tordos estão silenciosos, em vez de repetir a melodia, apenas olham de um lado para o outro. Meu coração começa a bater mais rápido. Quando vou avisar Haymitch, que está alguns passos na frente, fico paralisada no meio da palavra. Um barulho. Um barulho nítido de um galho quebrando. Depois um grito, um grito de uma menina que surge de repente. Ela é enorme, tanto de altura quanto de peso. E derruba Haymitch no primeiro golpe, antes que eu possa fazer alguma coisa.

Tudo bem, tento me acalmar. Ela é apenas uma, nós somos dois, vamos acabar com isso em um minuto. Mas nesse momento algo surge por trás de mim e me puxa para o chão com uma força incrível. Eles são dois afinal. Xingo um palavrão um pouco alto demais, antes do meu corpo atingir o chão num impacto doloroso.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? =)