Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 28
Não


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, tentei escrever mais rápido, então não sei se ficou muito bom.



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Dor instantânea e familiar preenche o meu corpo antes que a adrenalina possa agir no meu sangue. Tento respirar fundo, mas meu pulmão não me obedece. Giro para o lado no momento em que uma mão esmaga a grama em que eu estava a segundos em um soco. Observo o tributo durante um segundo, é um menino alto e magrelo, mas – infelizmente – forte.  Me levanto em um pulo, porém ele é mais rápido e eu sinto suas mãos agarrando meu braço e forçando-o em um ângulo errado. Eu grito e dou um chute em suas costelas, a mão dele afrouxa por um milésimo de segundo, apenas o suficiente para que eu gire e imobilize seu braço.

Faço-o ajoelhar no chão, ele tenta me chutar, mas me desvio dos golpes com uma facilidade surpreendente. Continuo girando o braço dele até ouvir um “clack”. Ele grita, fazendo meus pelos se arrepiarem.  Então, de repente, ele se levanta com uma rapidez incrível e para não ser esmagada, me agarro em suas costas.  O que não adianta muita coisa. Ele desequilibra com o meu peso e cai para trás. Minha garganta emite um gemido de dor involuntário.  Aproveito a única chance que tenho de não ser mais esmagada ainda e rolo para cima dele com toda a minha força.  De repente estou ajoelhada em cima dele. Não tenho tempo de pegar um dardo nem nenhuma arma.  Percebo que os olhos dele procuram ao redor qualquer coisa que possa me causar uma morte dolorosa.  Sinto meu sangue fervendo dentro de mim, já estou suando. O que será que esse menino estava pensando ao nos atacar sem sequer ter uma arma? Não tenho tempo de pensar em um resposta, pois um grito corta meu raciocínio.

Eu estremeço, esse é o grito de Haymitch. Haymitch não grita, não normalmente. Então escuto um estrondo, como algo atingindo o tronco de uma árvore com muita força. O menino tenta aproveitar minha preocupação para me derrubar, sem vitória. Aquilo só me fez ficar mais atenta na luta, se Haymitch está perdendo, então sobreviver a está luta se torna uma necessidade, já que há possibilidades de não haver ninguém para me salvar dessa vez. Meu coração martela minhas costelas com esse pensamento.  O garoto começa a se remexer, tentando me desestabilizar, mas continuo firme. Vejo que meus dedos estão com os nós brancos pela força com que me agarro na grama ao redor. Ele emite uma espécie de rosnado para mim.

- Não tem coragem de me matar de uma vez? Sua vad... – ele não teve chance de terminar as palavras. Minhas mãos voam com uma rapidez que eu nem sabia que tinha para o pescoço dele.  Seus olhos se arregalam. Empurro sua traqueia para baixo com toda a força e vontade que tenho. Minhas mãos escorregam com o suor, mas continuam no pescoço dele. Sinto meu rosto de transformar em uma máscara de ódio. Ele se mexe desesperadamente e eu sinto uma pontada de culpa no fundo do meu coração. Eu sei como é ser sufocada. Aperto com mais força ainda. Não tenho escolha. Continuo assim até os olhos dele revirarem para trás e se fecharem. Não sei se está morto ou apenas inconsciente. De algum jeito, sinto que aquilo não está certo. Foi fácil demais.

 Me levanto, colocando um pé no peito dele, apenas para garantir. Quando me viro meu coração encolhe. A garota está pronta para abaixar uma faca no peito do Haymitch que está semi inconsciente, apoiado em um tronco de árvore quebrado. Um desespero diferente de tudo o que já senti toma conta de mim, sinto minhas mãos tremerem e meu coração disparar enlouquecidamente.

- Não! – meu grito agudo e desesperado é tão alto que faz até a garota se desorientar e virar para me encarar – Por favor, não. – peço desesperadamente, mesmo sabendo que é ridículo.

O rosto dela paralisado em uma expressão incrédula – Por favor? Você não deve estar falando sério.

Nesse momento duas coisas acontecem: o menino embaixo do meu pé engasga e eu piso nele com mais força, porém seu peito continua a se mover desesperadamente a procura de ar. Ele não está morto afinal. E Haymitch também prova que não está morto, tossindo sangue no chão. O que me traz alívio e desespero ao mesmo tempo. Aproveito o momento e tiro um dardo da bolsa atrás das costas, enquanto giro. Seguro o braço bom do garoto, obrigando-o a se levantar, o dardo apontado para o pescoço. A garota cerra os olhos para mim.

- Uma troca. O seu pelo meu. – peço

Ela ri. – E depois o que? Simplesmente iremos embora? Não é assim que as coisas funcionam por aqui, e você sabe disso.

Sinto o pânico subindo pela minha garganta. Não, não, não. Ela não pode matar Haymitch. Simplesmente não pode.

- Você não se importa que eu mate o seu aliado? – perguntei, me surpreendendo com a frieza na voz.

- Não – ela deu ombros, fazendo a lâmina da faca reluzir e meu estômago se embrulhar em um buraco negro. Posso sentir o coração do garoto bater rapidamente.

- Não? – ele perguntou, sua voz era quase inauditível. Um sussurro assustado. – Mas você...

- Eu menti – ela comentou sem aparentar remorso, se virando para examinar Haymitch – É o que as pessoas fazem para sobreviver, elas mentem e matam...

O desespero dentro de mim se torna insuportável. Não posso perder Haymitch. Sentindo que essa é a deixa para enfiar a faca no coração dele, ajo mais rápido e o corpo do garoto cai aos meus pés, sangrando. Ela me encara atônita por cinco segundos, enquanto o som do canhão enche os nossos ouvidos.

- Se você o matar, será a próxima – ameaço, com um dardo já mirado nela.

Ela sorri de um jeito feroz.  – Te matarei primeiro.

- Pode me matar, contando que não o mate. – digo sem pensar e engasgo depois de ouvir minhas próprias palavras. Eu devo estar enlouquecida, mas sei que não. Não depois do sonho que tive essa noite. Pela primeira vez, desejo estar louca.

- Você está blefando comigo? – ela me encara desconfiada – Esse não é um jogo para amar, garota, esse é um jogo para sobreviver. Pode dizer o que quiser, mas porque não matar ele e você? Quer dizer, somos apenas dez...nove, sem ele – acenou com a cabeça na direção do menino morto – Sem este – virou-se para Haymitch- Seremos oito e sem você, apenas sete. Tão perto. Não vejo porque perder a oportunidade.

Eu estremeço. Ela não podia estar falando sério. Eu e Haymitch tínhamos feito as contas, deveríamos ser uns treze. Não nove. Mas ela parece muito certa de si e aquilo faz meu coração se encolher.  Eu grito, não de medo, mas de raiva.Estou cansada de sentir medo.

 Avanço para cima dela, que não tem tempo nem de abaixar a faca em Haymitch. Rolamos no chão, um emaranhado de unhas, armas e cabelos.  Uma dor aguda atinge o meu ombro. Sinto o sangue escorrer pela pele. Eu rolo e ela se coloca em cima de mim, me forçando para o chão enquanto se levanta. Tento me livrar, mas ela é muito pesada.  A garota consegue se levantar por fim, e pisa com força na minha mão para se certificar de que não vou me levantar.  Meus olhos se enchem de lágrimas. “Clack” é o barulho dos meus dedos se partindo. Ela gira a faca na mão, que quase escorrega por estar molhada de sangue, e a ergue. Fecho os olhos, esperando a morte, mas o que eu escuto é algo se sufocando.

Abro os olhos apenas para ver a garota com os ombros encolhidos, caindo de joelhos. As mãos tentando inutilmente parar o sangramento que sai por um buraco no peito. Giro para o lado, antes que ela possa cair em cima de mim. E vejo Haymitch de pé, sangue escorre do seu nariz, da sua boca e de outros ferimentos. Mas me sinto aliviada por vê-lo e ao mesmo tempo envergonhada por ele ter escutado as minhas palavras. Ele me ajuda a me levantar, me encarando com uma expressão confusa, como se tivesse me vendo ali pela primeira vez.  Engulo em seco, tentando mexer meus dedos quebrados, sem muito sucesso.

 Observando a silhueta de Haymitch sobre o sol, entendo que não devia ter dito aquelas coisas, por mais pânico que tivesse sentido. Ela estava certa: aquele era um jogo para se sobreviver e não para se amar. Limpo as lágrimas com as mãos sujas de sangue, tentando apagar da minha mente o meu último sonho, que tinha me deixado tão irritada: eu e Haymitch assando pães em uma fogueira, no distrito 12. 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?