Ellie's POV

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Após despertar, me sentei e passei a mão pela areia, na esperança de que a noite passada fora apenas um sonho. Me levantei, enrolei o saco de dormir e passei a observar o rosto de meus colegas semideuses, na esperança de encontrar Ryan. Assim que olhei o último rosto, engoli em seco. Ryan realmente havia partido.

Enfurecida, peguei um pouco de areia e joguei no rosto do filho de Hermes que estava no saco de dormir. Ele acordou tossindo e com os olhos lacrimejando por culpa da terra.

Assim que Theo abriu os olhos, vi que estavam bastante vermelhos.

– Caramba, Ellie - reclamou. - Não precisava me acordar dessa maneira.

Me desculpei e o observei abrir uma garrafinha de água e despejar parte do conteúdo no rosto. Em seguida, comecei a chorar.

– Ellie - chamou Theo -, não sou tão bom com palavras, mas... ah, não sei se devo te contar.

Lancei-lhe um olhar que significava algo como conte ou eu corto sua cabeça. Theo suspirou.

– Fiquei amigo de Ryan por um tempo. Ele confiava em mim, ao máximo do que alguém pode confiar em um filho de Hermes. Um dia, nós fizemos um acordo: ele me ajudava com golpes de espada, algo que eu não domino muito bem, em troca de um favor: depois de sua morte, eu protegesse você.

Senti minhas orelhas esquentarem. Ryan havia, de fato, feito aquilo?

– Naquela noite em que perdemos John e Hélio - Theo continuou -e você estava naquele monte, Ryan me disse o quanto gostava de você. Mas ele pediu para não te contar nada. Bom... eu não jurei pelo Rio Estige - ele eu um sorriso travesso.

Certo, eu deveria ter ficado feliz com tudo aquilo, mas quer a verdade? Isto só me fez chorar mais ainda. Theo apenas me observou, e me deu uma garrafa de água. Bebi um pouco e então avistei um brilho próximo a um pequeno arbusto. Me aproximei e arquejei ao ver o tridente de Ryan caído ali. O toquei. Ao fazê-lo, ele encolheu-se até se transformar numa pequena corrente com o pingente de um tridente minúsculo. Apertei com força o mini-tridente e o de tamanho original surgiu em minhas mãos. Apertei o grande e ele voltou a ser uma mísera corrente. Theo suspirou.

– Esqueci de mencionar que Ryan gostaria que você ficasse com ele.

Alguns minutos depois, todos já estavam despertados. Só então percebi o quão pequeno nosso grupo estava, já que nos restava apenas eu, Theo, Rosie, Chloe, Peter, Mackenzie e Jake. Naquela hora, eu estava limpando minhas armas, que ficaram sujas pelo combate da noite anterior. Peter e Chloe tentavam, sem muito sucesso, fazer flechas explosivas - eu realmente torcia para dar certo. Jake estava observando o lugar em cima de uma árvore. Theo e Rosie estudavam formas de derrotar as górgonas. Mackenzie fazia algo com pequenos gravetos que eu não consegui identificar. Resolvi deixá-los quietos.

Mais tarde, decidimos que era melhor irmos para outro lugar. Arrumamos tudo, pegamos nossas coisas e cuidamos para não deixar nenhum vestígio de passagem por ali - o que foi inútil, já que monstros tem o faro extremamente aguçado.

Logo, havíamos retornado a cidade. Por mim, já estaria em algum lugar matando as górgonas, mas Theo me fez parar e apontou para uma estranha cabana roxa, que passaria invisível a meus olhos se eu passasse sozinha por ela. Peter e Chloe lideraram o grupo, Rosie abriu a barraca com cuidado e Jake foi o primeiro a entrar, seguidos por Theo, eu e o resto do grupo. Assim que coloquei os pés naquela barraca, senti o agradável cheiro de flores. Observei a barraca, que parecia vazia. Havia uma mesa com uma cadeira e um banco para três pessoas a sua frente. Vários tipos de flores enfeitavam um lugar, e uma fraca iluminação era extremamente confortável. Era um lugar extremamente bom.

Aguardamos um momento até alguém bater em um sino, e logo uma garota saiu dos fundos da barraca com um filhote de gato em mãos. Seus cabelos eram castanho-claros, quase loiros, e os olhos bem escuros. Sua pele era pouco bronzeada e ela mantinha o gatinho com pelo amarelo e branco bem seguro em seus braços. A garota parecia uns cinco centímetros mais alta que eu.

– Awwwn... - Mackenzie suspirou e correu em direção ao gato, e o tomou nos braços, enquanto a garota sentava-se na cadeira em frente a mesa. Ela nos estudou por um momento enquanto Mackenzie brincava com o gatinho.

– Sete semideuses, hum... - disse ela. Sua voz era calma, mas firme. Aparentava não ter mais de dezesseis anos. - Poderiam me dizer seus nomes?

Nos apresentamos. A garota fez o mesmo. Seu nome era Sarah Hill, e, como eu desconfiava, tinha dezesseis anos. Contamos uma história enquanto ela nos olhava e assentia. Me sentei num dos bancos, Rosie sentou no meio e Chloe na outra ponta.

– Muito bem. Uma missão. Acho que vocês não vão conseguir nada se continuarem a simplesmente cortar a cabeça delas. Vou fazer-lhes um favor - ela piscou. Quando reabriu os olhos, estes estavam verdes, mas não uma tonalidade verde comum. Era um verde tão brilhante que dava uma iluminação esverdeada em boa parte da barraca. Fumaça, também verde, começou a subir por seu corpo. Ela abriu a boca e foi como se três Sarahs falassem ao mesmo tempo:

Com a terra, as cobras tem a dívida

O fim do mundo, a ave anuncia

Com as forças da terra prometida

A sabedoria nega a cedência

E ganha as boas-vindas de seu primeiro lar

Se um grão de arroz caísse no chão seria audível. Até Mackenzie havia parado de mimar o gatinho, que se confortava em seu colo. Logo, Sarah voltou ao normal, pegou o gatinho e nos deu um conselho:

– Não tentem mudar a profecia.

E nos dispensou.

Para minha surpresa, Theo havia anotado a profecia inteira. Ele fez uma copia para cada um de nós a estudar e começou a falar:

– Com as cobras, a terra tem a dívida... só pode estar falando das górgonas quando se refere às cobras.

– O fim do mundo, a ave anuncia - foi a vez de Peter falar. - Ave... Mackenzie, o símbolo de sua mãe não é uma pomba?

– É - disse ela. - Mas dúvido que tenha alguma relação com Afrodite.

– Com as forças da terra prometida, a sabedoria nega a cedência - Rosie recitou. - Ellie, sua mãe é a deusa da sabedoria. Esta parte da profecia pode muito bem estar falando de você.

Dei de ombros, por mais que estivesse nervosa. Finalmente, decidi completá-la:

– E ganha as boas-vindas de seu primeiro lar, isso deve mencionar sobre a volta de nossas antigas vidas.

– Talvez - disse Jake. Incrivelmente, ele era um filho de Dioniso que conseguia se manter sóbrio e tinha bom senso. Paramos num hotel onde Mackenzie foi persuasiva o bastante para conseguir dois quartos para nós. Eu, Mackenzie, Chloe e Rosie ficamos no quarto 43. Theo, Jake e Peter ficaram no 46, ambos no segundo andar. Deixei minhas coisas do lado da cama e fui tomar um banho, peguei roupas novas no guarda-roupa (sim, e serviam direitinho!) e depois me joguei na cama.

Acordei na manhã seguinte, sonolenta. Me levantei e fui até o banheiro, escovei os dentes e penteei meus cabelos - que pareciam um hamster. Desci para comer alguma coisa e Rosie e Chloe me seguiram. Mackenzie ainda estava terminando a maquiagem.

Na lanchonete do hotel, encontramos os meninos sentados numa mesa comendo cheeseburgers. Logo no café da manhã. Nos juntamos a eles e eu pedi ovos com bacon e uma xícara de chá. Rosie pediu o mesmo. Chloe optou por chocolate quente em vez de chá.

Minutos depois, finalmente Mackenzie desceu. Ela olhou com nojo para Jake, que tinha mostarda e catchup por todo o rosto. Retiro o que disse sobre ele ter bom senso. OK, só um pouquinho. Peguei o papel com a profecia que Theo me entregara e comecei a pensar sobre ela. O que a terra deverá para as górgonas? A terra prometida seria algo como o Olimpo? Seria eu a mencionada "sabedoria"?

Mergulhada em pensamentos, nem percebi uma sombra do lado de fora da lanchonete. Ergui a cabeça e vi três mulheres com um véu preto cada uma nos cabelos e a do meio com óculos escuros. Respirei fundo e arregalei os olhos.

Estávamos cercados.