Duas Histórias De Amor escrita por Kitty


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/222986/chapter/2

1

Koki pedalava mais a frente e completava o cenário entre as flores de cerejeira. Ele tinha dito que queria ir ao Hanami e Kazuya aceitou a ideia porque o sorriso que viu em Koki foi um dos mais largos e entusiasmados que já tinha visto nele até então. Não conseguiu recusar, mesmo que apreciar a primavera não fosse um dos seus passatempos preferidos. Ele nem ao menos se lembrava quando foi a última vez que participou de um piquenique. Talvez tivesse sido quando ainda era criança. No colégio, sempre recusou os pedidos das garotas para assistirem o desabrochar das sakuras por motivo óbvio.

Assim, eles foram de bicicleta para o lugar escolhido pelo músico. Kazuya não fazia ideia de onde seria, apenas desejava que fosse um lugar tranquilo. Não estava com vontade de encarar a multidão, disputar um pedacinho de terra e ter que falar mais alto para a sua voz se sobressair ao burbúrio das pessoas ao redor.

Por sorte, Koki tinha as mesmas inclinações que ele. Aquele lugar era afastado dos pontos principais do Hanami. Ficava próximo de um templo. Kazuya parou de pedalar por um momento para apreciar a paisagem. O lago refletia a luz do sol em pequenos brilhos sobre a água. Havia uma ponte branca e um coreto. Era uma região mais baixa, assim que o gramado em volta parecia com pequenas montanhas cobertas pelos carpetes de sakura.

Eles não foram para o coreto. Kazuya pensou que ali seria um ótimo lugar para o piquenique, mas Koki preferiu um cantinho próximo à ponte, quase debaixo dela, ao lado de algumas pedras. Eles estacionaram as bicicletas e o músico abriu o lençol para eles se sentarem.

Não havia ninguém além deles e era isso o que mais importava para Kazuya. Poderiam aproveitar o momento sem se preocuparem com olhares preconceituosos. E, ele tinha que admitir, aquela paisagem era linda e estava feliz em estar ali.

- Aqui é incrível, Koki! Porque as pessoas não fazem o hanami aqui?

- Porque é mais prático ir aos pontos turísticos de sempre. Lá também existe paisagens incríveis, mas eu gosto mais daqui...

- Sim, eu também prefiro aqui. É tranquilo.

- Não é? E poderei curtir você tranquilamente. – ele o abraçou pela cintura e aproximou seu rosto ao dele. – Meu homem.

- E o que você fará exatamente para “me curtir”? – ele diminuiu ainda mai a distância entre eles, mas não o tocou.

- Posso ficar olhando para você o dia inteiro. – ele riu, sabendo que essa resposta não agradaria ao outro rapaz.

- Penso que seria melhor aproveitado de outra forma! – Kazuya tomou a iniciativa e o beijou, finalmente. – Né, Koki? – ele se afastou um pouco – Eu gosto de você. – disse e, quando sentiu a vergonha, emendou rapidamente: - Eu tô com fome. O que fez pra gente comer? – e começou a vasculhar nas sacolas das comidas.

Koki ficou chocado por alguns instantes, mas, por fim, sorriu e o abraçou, apoiando seu rosto no ombro de Kazuya para observar melhor a expressão do mais novo.

- Eu também gosto de você, Kazu. – e riu, beijando-o por toda a face esquerda.

Sentia-se envergonhado, mas, também estava contente. Kazuya confessou a si mesmo que já não tinha mais volta, algo estava mudado dentro de si, então, era melhor aproveitar.

2

Passaram a tarde todo naquele lugar e já era noite quando decidiram voltar para casa.

- Koki, vamos passar naquela conveniência? Meu cigarro acabou. – Kame pediu.

- Ok.

Aproveitaram que o trânsito estava livre e atravessaram a rua. Deixaram as bicicletas no estacionamento e Kamenashi entrou na frente dizendo que pegaria também alguns onigiris, a geladeira de Koki estava vazia depois do pequeno banquete que ele fizera para o piquenique, ele o lembrou. Assim, eles seguiram para o fundo da loja. Koki passou os olhos pelas revistas, sem nenhum interesse especial, e ficou intrigado quando Kazuya parou de repente.

- Koki! Koki! – ele disse, a voz mais baixa e tocando-lhe o braço, sem, contudo, virar o rosto em sua direção. – Ali, não é ele?!

- Ele? – tentou enxergar melhor o rapaz que Kazuya indicava.  – Ele quem?

- Akanishi! Koki, aquele é o Akanishi!! Eh? É bom que você não seja mesmo ciumento sobre artistas porque estamos na mesma conveniência que o japonês mais gostoso que o mundo já teve o prazer de conhecer! Você viu a Anan dele? É o meu livro de cabeceira!

Kazuya estranhou que o rapaz não lhe respondesse e, então, o olhou. Koki mantinha o rosto sério e um olhar duro na direção de Akanishi.

- Koki, você não levou isso a sério, levou? Eu o acho gostoso, mas é como você disse... É coisa leviana e passageira e... Além disso, não é como se eu pudesse transar com ele assim tão fácil e...

Koki não lhe respondeu. Recuou alguns passos e por um momento Kazuya pensou que ele iria embora, mas ele foi até a prateleira das revistas e pegou um exemplar. Ele notou que era uma revista em que Akanishi estava na capa.

- Koki, o que você vai fazer?

Passou pelo amante, ignorando a sua pergunta, e, então se aproximou do artista, que estava escolhendo algumas cervejas.

- Akanishi. – ele disse alto.

Kazuya teve a impressão de que o artista, ainda assim, não o escutou porque ele demorou a demonstrar uma reação. Akanishi se virou lentamente e fitou Koki. A sua expressão incomodou a Kazuya, mas ele não entendeu a razão para isso.

- Poderia me dar um autógrafo. – Koki pediu e sua expressão continuava dura.

- Eu...

- É para o meu namorado. Kamenashi Kazuya, por favor. – e estendeu a revista.

Os movimentos de Akanishi continuavam lentos e ele apenas balbuciava alguma coisa. A sua voz era tão baixa, que Kazuya não foi capaz de escutar o que ele dizia, e Koki apenas respondia com um aceno de cabeça. Aquela cena estava esquisita.

- Obrigado.

Quando Akanishi devolveu a revista, foi o único momento em que seu olhar cruzou com o de Koki. O artista ainda parecia lento e sua mão ficou estendida no ar, mesmo quando Koki já tinha lhe dado às costas e se aproximado de Kazuya com um meio sorriso.

- Guarde o seu pequeno tesouro. – e piscou para o amante.

Foram para o caixa, Kazuya havia se esquecido do seu cigarro e dos onigiris, pagou pela revista e seguiu Koki, que andava apressadamente com as mãos nos bolsos e o rosto baixo.

- Koki, espera!! Koki!! Mas que diabos... – ele correu e o puxou pelo braço. – Que merda, espera!

Ele se virou e o encarou.

- O que foi? Está bravo? Não acredito que está com ciúmes por causa do que eu falei sobre Akanishi?

- Não estou bravo por isso. Se estivesse, não teria ido pedir esse autógrafo estúpido. – disse rápido.

Aquela era a primeira vez que Kazuya o escutava falando de forma tão seca e em um tom de voz acima do normal. O músico estava alterado e ele não podia acreditar que era somente por causa de um comentário idiota da sua parte. Na verdade, não havia sido um comentário idiota. Ele queria ter a liberdade de comentar sobre os artistas que ele achava gostosos. Normalmente era um assunto divertido com um parceiro.

- Então porque está desse jeito?

Koki passou uma mão pelos cabelos e lambeu o lábio inferior. Depois, olhou para Kazuya de forma tão intensa que o mais novo sentiu um arrepio.

- Eu não vou perder para um artista idiota. – ele afirmou, antes de tomar os lábios cor de rosa em um beijo ardente.

3

Kazuya acordou e se viu sozinho. Koki sempre era o primeiro a acordar. Exibiu um grande sorriso ao se recordar do que fizeram antes de dormir e se espreguiçou. Não havia sido uma experiência tão ruim que Koki tivesse ficado enciumado. Se eles sempre transassem da forma como transaram, valia a pena provocar o amante com mais frequência.

Ele sentiu o aroma de café e viu o músico apoiado no balcão da cozinha. Levantou-se e Koki, que estava de costas, não o ouviu se aproximar. Koki estremeceu quando o abraçou e virou o rosto em sua direção para cumprimentá-lo com um sorriso. Kazuya o beijou nos lábios e então percebeu que o amante estava lendo os classificados.

- Procurando emprego fixo?

- Você sabe que não dá pra viver pra sempre de bicos ou com música.

- Não está indo bem assim?

- Depende do que você quer dizer com “bem”... Em todo caso, preciso encontrar outro apartamento.

- Porque? Este não é seu?

- Sim, mas estou pensando em colocá-lo para alugar. Ele é velho, mas uma boa reforma o deixaria apresentável. Assim teria uma renda mais regular. Mas, antes disso, preciso pagar a reforma e, como disse, encontrar um lugar para ficar.

Kazuya o beijou no ombro e ficou pensativo.

-... O que você acha?

- A casa é sua, Koki. – ele disse, soltando-o e se aproximando do fogão para desligar o fogo. Depois pegou as xícaras no armário e os serviu. – Você faz o que quiser. Eu não tenho que opinar nada.

- Claro que tem... Eu sei que talvez seja um pouco cedo, mas... Eu o respeito, Kazuya. Eu respeito meus relacionamentos e é uma forma de me respeitar também. Sei que a decisão é minha, mas, no momento, estou dividindo minha vida com você... Não se assuste. – ele riu da expressão do amante, sabia do medo dele sobre relacionamentos. – Não estou jogando responsabilidades em suas costas, mas eu gosto de conversar sobre assuntos importantes com quem eu transo. E é claro que a sua opinião é válida pra mim. Podemos não ter mais nada a ver um com o outro na semana que vem, mas, hoje, agora, você acabou de sair da minha cama. Não é qualquer um.

Ele era mesmo romântico, foi o primeiro pensamento de Kazuya. Depois, ele organizou os pensamentos de forma que ele não desse a impressão de ser romântico também.

- Eu gosto daqui. – ele resumiu. – É um lugar em que eu posso ter só bons momentos e posso escapar um pouco do meu cotidiano. É um lugar em que eu sempre quero voltar para ver Koki. Assim... Não gostaria que se mudasse daqui.

Aquela foi a primeira vez em que ele, mesmo sutil, declarou seus sentimentos a alguém. E se sentiu um pouco constrangido com isso. Por isso, ficou mesmo chateado quando notou a expressão contrariada de Koki e quando ele disse secamente:

- Talvez seja melhor vender esta casa o quanto antes.

Kazuya não entendeu nada. E o olhou se afastar em direção ao banheiro. Ainda estava tentando entender o que teria dito de errado quando escutou o barulho do chuveiro. Por fim, zangou-se consigo mesmo. Não devia ficar chateado com algo desse tipo. Era irrelevante e ele estava parecendo com uma adolescente apaixonada.

Terminou o seu café e ligou a televisão para assistir ao noticiário e tentar se acalmar. Mas tudo o que conseguiu foi transformar a sua mágoa em vergonha. Não acreditava que tinha dito tais coisas para o músico. O que estava querendo dizer com aquilo? Que queria namorar o músico? O músico o tinha apresentado como seu namorado para Akanishi. Mas podia ter sido apenas uma forma fácil de explicar o relacionamento. E o que tinha sido aquela cena com Akanishi, afinal? Na verdade, Koki precisava dizer que ele era o seu namorado?

Não conseguiu organizar suas ideias. Desligou a televisão, vestiu sua roupa e foi embora antes do músico sair do banho.

4

Kazuya se jogou contra a máquina de café, desanimado. E depois se virou com um olhar desalento para o rapaz de cabelos cumpridos e escuros que lhe olhava com reprovação.

- Você tomou um fora, mas, por favor, os outros funcionários ainda precisam do café. – disse, sem se importar com o olhar que recebeu e empurrou Kamenashi para longe da máquina.

- O que você acha que aconteceu, afinal, Yamapi? – Kame retomou o assunto.

Enquanto esperava a máquina terminar de encher o copo plástico com o café, Yamashita olhou para ele e disse, como se fosse a resposta óbvia:

- O seu amante é bipolar, Kamenashi.

- Esse tipo de resposta não me ajuda. Tsc. Eu devia procurar conselhos com outra pessoa. – ele se irritou e teria ido embora se Yamapi não o segurasse pelo braço.

- Você está mesmo apaixonado por esse cara?

A pergunta direta o desnorteou. Kamenashi piscou algumas vezes e não teve coragem de responder olhando para o amigo.

- Acho que... Que... Uma hora isso acontece com todos... – enfiou as mãos nos bolsos da frente do jeans.

Yamapi o olhou com um sorriso, parecia emocionado e orgulhoso, mas no final, ele apenas riu.

- Eu não acredito que você se apaixonou!

- Ei, não seja escandaloso!

Quando achou que já tinha judiado do amigo por tempo suficiente, Yamapi o puxou para se sentarem na mesa do refeitório. Mais sério, ele pediu para Kamenashi lhe contar mais uma vez a situação. Um pouco em dúvida se devia repetir, Kame contou em palavras rápidas.

- Ele disse que queria a minha opinião e, quando eu dou, ele responde desse jeito... E não me liga há mais de uma semana. Eu não sei o que aconteceu.

- Olha, eu não acho que tenha feito nada de errado. Não se preocupe. Parece que se algo o chateou, não é uma situação que você poderia ter percebido o motivo... Não pelo que me contou. Ligue para ele e pergunte o que tá acontecendo. Não se faça de mulherzinha, ficar imaginando os motivos é pior e é a causa de muitos relacionamentos darem errado.

- Porque eu é que tenho que perguntar? É óbvio que ele também percebeu que tem alguma coisa errada com a gente.

- Bem, não foi ele quem fugiu do seu apartamento.

- Eu não fugi... Eu só fui embora. Porque estava bravo e ele deve ter notado isso, mas não se importou.

- Olha... Você tem duas opções. Fica nessa de esperar ele vir te procurar só pra satisfazer o seu ego, que foi ferido porque recebeu uma resposta mais seca, ou vai lá e encara a situação para resolverem isso logo.

Notando o rosto indeciso de Kazuya, ele continuou:

- Na primeira opção você corre o risco de esperar pra sempre. Na segunda, você corre o risco ouvir algo que não lhe agrade e talvez até mesmo terminem. Mas eu não acho que será tão radical assim. Você vai é descobrir que tudo não passou de bobagem. Então pare de agir como um adolescente assustado. Eu preciso voltar pro meu trabalho. Pare de pensar muito nisso, faça algo.

Kazuya permaneceu no refeitório por mais alguns minutos. No final, ele achou que o conselho de Yamapi era razoável. Na verdade, era um conselho bastante sóbrio e decidiu que o seguiria. Naquela noite, visitaria Koki.

5

Ele sempre estacionava o carro na quadra anterior a que Koki morava porque era mais garantido conseguir vaga. Assim que o resto do percurso ele o fez a pé. Olhava para o ramalhete de rosas vermelhas que estava carregando, sentindo-se bobo por isso. Mas sabia que o músico gostava de flores, em especial as rosas, e queria conseguir ao menos um sorriso do moreno. Fazia-lhe falta o seu riso, o olhar caído e apaixonado.

Um carro preto passou por ele. A janela do motorista estava se fechando quando passou por Kamenashi, mas, ainda assim, ele foi capaz de reconhecer aquela pessoa. Ele o reconheceria mesmo se estivesse com o rosto escondido e apenas os olhos à mostra. Porque aquela pinta ao final do olho direito era uma das partes de Akanishi que Kamenashi mais cobiçava.

Mas o que um artista do nível dele estaria fazendo naquele bairro? Inevitável lembrar-se do encontro que Koki e ele tiveram com Akanishi na loja de conveniência. Ficou intrigado.

Quando chegou diante do prédio de Koki, escutou a sua voz o chamar. Olhou para cima e o viu debruçado na varanda.

- Suba, Kazu. – ele pediu. – As flores são bonitas.

Foi um gesto automático que o fez colocar os braços para trás, como se pudesse esconder de Koki o presente. Um gesto automático e idiota.  Kamenashi se repreendeu por estar agindo de forma que evidenciava a sua ansiedade. Nunca antes se sentiu inseguro a esse ponto. Onde estava o seu orgulho afinal?

Deixou esses pensamentos de lado quando alcançou o andar em que Koki morava. Ele o havia esperado com um belo sorriso, que o tranquilizou. As flores tiveram o efeito desejado, pelo menos. Entregou as flores e o rosto do rapaz quando a recebeu poderia compor um quadro que certamente o mais novo manteria em alguma parede do seu quarto. Os cachos escuros entre as pétalas vermelhas, quando Koki apreciou o aroma, fizeram um bonito contraste. As flores formaram com o músico uma imagem elegante, principalmente porque ele usava calças pretas e um casaco branco de lã fina e gola alta. 

- Achei que estivesse bravo. – foi o seu comentário. – Foi embora sem dizer nada...

- Eu estava. Eu estou. Eu sei lá. – e ele olhou para o lado.

- Vamos entrar. – Koki o segurou pelo braço e o puxou para o apartamento.

Sentiu-se um pouco esquisito, desconfortável, mas Kazuya tentou ignorar isso e se focou na situação deles dois. Como explicar a Koki o porque estava zangado quando ele mesmo estava confuso. Decidiu começar pela sua própria confusão.

- Talvez eu tenha apressado um pouco as coisas quando disse que gostava daqui. – ele começou, enquanto o músico estava de costas para ele, tratando de colocar as flores em um vaso. – Eu quero dizer... Não é como se eu estivesse tentando me convidar para morar aqui... Se ficou bravo por causa disso, me desculpe.

- Eu não fiquei bravo. – ele riu.

- Não? Não foi o que pareceu.

- Olha, desculpe se dei essa impressão. – ele se aproximou sorrindo – Eu gostei de saber que você gosta de compartilhar um lugar comigo... Eu gosto que esteja comigo... Também acho que deveríamos ter o nosso lugar. – e ele segurou nos braços do rapaz – Mas não é aqui.

- Porque não? Se foi aqui que começamos?

- Esse lugar não é adequado para nós...

- E tem alguma razão pra isso? – manteve a voz baixa, mas as respostas vagas de Koki o incomodaram.

- Eu tenho um passado, Kazuya. 

- Que bom, porque isso te faz real. Seria estranho que não tivesse um.

-... Mas é aqui que esse passado sempre volta à tona e... Não quero misturar você com esse sentimento. Quero um lugar novo para nós. E eu realmente preciso de uma grana estável... Assim que procurar outro lugar para morar e deixar este para alugar me parece bastante viável.

- É, é sim. – ele concordou e sacudiu a cabeça – Não estava dizendo que não era. Eu só estranhei a sua reação quando comentei que gosto daqui. Mas é claro que é bastante lógico que pense em seu futuro.

- Então foi por isso que foi embora?

- Pensei que de alguma forma pudesse estar invadindo o seu espaço...

- Não é isso... E eu gosto que invada o meu espaço. – disse, abrindo um sorriso malicioso enquanto o abraçava e se aproximava para beijá-lo.

- Eu sei bem que gosta. – disse e correspondeu ao beijo. Suas mãos já puxando a blusa que ele usava.

Koki ergueu os braços para ajudá-lo na tarefa. Kazuya repetiu o gesto com a camiseta cinza que encontrou por baixo e admirou aquele peito. Seus dedos indicador e médio deslizaram pelo centro até o início da calça, mantendo o olhar preso ao do músico.

Koki o tocou em sua nuca e o admirou, depois puxou bruscamente o elático que mantinha os cabelos de Kazuya preso e observou os fios caírem lentamente sobre a face redonda. Passou o dedo pelo nariz carinhosamente e beijou-lhe a testa. Depois, tomou os braços do amante e os colocou sobre seus ombros. Kazuya entendeu o recado e o ajudou, quando ele impulsionou seu corpo para cima, prendendo suas pernas em volta do seu corpo. Beijaram-se e Koki o levou para a cama.

Riu quando ele o deitou e se colocou por cima. Kazuya passou a mão pelos cabelos ondulados, deixando seus dedos presos, então o agarrou com mais firmeza e o beijou mais uma vez, enquanto as mãos de Koki trabalhavam para despi-lo. Em pouco tempo estavam nus e enrolados.

Kazuya trocou de lugar e se colocou por cima do músico, sussurrando sensualmente em seu ouvido que o invadiria exatamente como ele gostava. Usou os dedos para preparar o outro corpo, mordendo os próprios lábios enquanto observava o rosto de Koki esfregando-se contra o colchão. E, então, tomou-o para si.

6

Teve um sonho bom que foi interrompido com a voz alterada de Koki mandando que ele fosse embora. Levou algum tempo para sair do mundo dos sonhos e a voz de Koki continuava a repetir aquela ordem. Kazuya abriu os olhos, confuso, e não o encontrou na cama. A luz do apartamento estava acessa e a janela próxima da cama o deixou saber que ainda era noite do lado de fora.

- O que você está fazendo aqui? Em que realidade você vive?

- Ele está aqui?

- Ele quem?

- O seu namorado.

- Está. Então faça o favor de ir embora.

Com quem Koki estaria falando? Pensou que era melhor ficar na cama e esperar que, seja lá quem fosse, partisse antes de ir questionar o namorado sobre quem era. Da cama, ele não podia enxergar a porta por causa do biombo, mas pode notar que era a voz de outro homem. E era uma voz conhecida.

Em certo momento, as vozes ficaram mais baixas e Kazuya não entendeu mais o que eles estavam falando e, subitamente, o biombo caiu. Ele piscou diversas vezes para o rapaz, cujos braços ainda estavam na posição em que tinha derrubado o biombo e que parecia muito zangado. E depois piscou para Koki, que mantinha uma expressão de alarde e segurava o rapaz pelos braços para que não avançasse em Kamenashi.

O que era mais inacreditável, para Kazuya, era que aquele rapaz era ninguém menos que Akanishi Jin. Kazuya não conseguiu registrar que Akanishi Jin estava vindo em sua direção. E o socou.  

7

- Itte, itte, itteeeeeee!

- Gomen ne, Kazuya! – Koki pediu e, pelo que Kazuya se lembrava, era a décima quinta vez que ele se desculpava.

O músico segurava um pano com muitos gelos sobre o olho do namorado e o olhava com aflição. Kazuya estava deitado na cama – de onde nem se atreveu a sair depois que foi atingido – e tentava entender o que tinha acontecido. Depois de ser agredido, Akanishi disparou vários xingamentos e acusações que não tiveram o menor sentido para Kamenashi e depois, com muito esforço por parte de Koki, que havia avançado pra cima do cantor com uma zanga maior do que a que Kazuya já tinha presenciado, e conseguiu expulsá-lo do apartamento. Eles ainda ficaram discutindo no corredor, pode escutar as vozes alteradas, por mais alguns minutos e então Akanishi se foi.

Koki retornou para o apartamento já pedindo desculpa. Foi para a cozinha pegar os gelos ainda se desculpando. Voltou para perto de Kamenashi repetindo gomen diversas vezes. E nenhuma explicação. Por isso Kazuya segurou seu pulso e o olhou seriamente – ou o mais próximo disso com um olho inchado – e lhe perguntou o que diabos tinha sido tudo isso.

O músico suspirou. E depois resmungou:

- Eu disse que esse lugar não é bom para nós... Que meu passado sempre volta aqui.

- Sim, mas eu não podia imaginar que você estava falando literalmente! – disse com alguma irritação – E... Seu passado é Akanishi?

Ele assentiu, com a boca cheia de ar, chateado com aquela situação e um pouco contrariado em falar sobre esse assunto. Mas Koki sabia que devia uma explicação para Kazuya.

- Nós namoramos por alguns anos...

- Quantos anos?

- Dez anos...

- DEZ ANOS?

- Talvez uns doze... – ele inclinou a cabeça para o lado, pensativo. – Depende de qual data você levar em consideração... A do namoro oficial ou a de quando começamos a trocar algumas carícias e...

- Isso é uma vida!

- Por sorte, não engravidamos.

- Não faça piadas! – e ele se sentou na cama. – Eu quero saber melhor sobre isso... Há quanto tempo terminaram? Quem terminou? Porque ele se acha no direito de vir aqui cobrar alguma coisa? Quem era o passivo?

Diante da última pergunta, Koki lhe mostrou uma expressão irônica. Kazuya sacudiu os ombros e se justificou dizendo:

- Eu apanhei nesta noite sem entender coisa alguma, o mínimo que pode fazer é me dar um bônus e me contar como é comer ou ser comido pelo japonês mais gostoso do universo. E me desculpe, mas vou continuar achando ele gostoso. Ainda mais com esse temperamento meio... Selvagem. – e riu de canto.

- Você é um pervertido.

A verdade era que Kazuya preferia usar de humor para camuflar o que estava realmente sentindo naquele momento. Ciúmes. E o sabor amargo da derrota, que insistia em continuar em sua boca justo com o gosto metálico do seu próprio sangue. Porque ele sabia, embora não gostasse de admitir, que ter Akanishi como rival era uma batalha perdida. E o fato daquele homem ter invadido o apartamento para agredi-lo quando era um homem casado e com um filho apenas provava esse fato. O amor de Akanishi por Koki era intenso e tempestuoso. Não sabia por que estavam separados, embora imaginasse, afinal, Akanishi era famoso demais para um relacionamento escandaloso como aquele, mas Akanishi era passional o suficiente para abrir mão de tudo e invadir o apartamento do ex-namorado durante a madrugada.  

- Em todo caso... Me conte. Me conte tudo. – pediu, dessa vez de forma mais séria.

- Tudo?

- Tudo. – assentiu.

Koki suspirou mais uma vez e depois de ajeitou na cama, apoiando as costas na cabeceira. Ele dobrou uma perna e colocou um braço nela, pensativo. Quanto tempo se passara desde a última vez em que ele remexeu dessa forma em suas lembranças? Ele evitava ao máximo relembrar. Era perigoso. Porque junto das lembranças estavam os sentimentos.

- Me conte tudo, Koki.

- Nós somos amigos de infância. – ele explicou – Crescemos no mesmo prédio, estudamos nas mesmas escolas... Mas Jin estava um ano na minha frente, ele era o meu senpai. E o meu protetor. Eu lembro vagamente, mas ainda lembro, do dia em que nos conhecemos. Eu sofria ijime. Eu tinha só dez anos, mas as crianças sabem ser cruéis. O meu obentô era sempre roubado pelos alunos mais velhos, mais velhos até do que Jin... Só que o Jin não tem muito respeito pelas hierarquias e muito menos noção da realidade. Eram três alunos e mesmo assim ele os enfrentou. Disse algo sobre ter assistido em algum anime que não era certo judiar dos mais fracos. – ele riu – Ele sempre foi infantil... Mas ele fazia judô e mesmo aos onze anos ele já era bom nisso. Ele conseguiu derrubar um deles e foi a coisa mais incrível que eu já tinha visto até então. Enquanto ele estava no chão, parecia que o tempo ficou congelado porque nenhum dos outros dois reagiu. Acho que todos estavam surpresos, inclusive o próprio Jin, pelo que tinha acontecido... Depois disso, os amigos de Jin apareceram. Eles também eram mais velhos... Sabe, Jin tinha facilidade em fazer amizades. Acho que ele conhecia todo mundo do colégio. Enfim... Eles chegaram e aqueles caras foram embora. Jin devolveu o meu lanche e eu passei pra turma dele.

Kazuya pensou que Koki levou mesmo a sério o seu pedido para que lhe contasse tudo. Agora teria que ouvir. O problema era que ele estava se irritando com os sorrisos e o olhar nostálgico que o músico exibia. Começava a suspeitar que os sentimentos confusos não eram somente por parte de Akanishi.

- Quando vocês começaram a namorar?

- Namorar? Isso só foi bem lá pra frente... Acho que tínhamos entre dezessete e dezoito anos por aí... Mas o primeiro beijo aconteceu quando eu tinha quinze anos. Foi bem natural e acho que por isso demoramos a assumir alguma coisa. O Jin estava triste porque tinha tomado um fora de uma garota. Eu agi por impulso porque ele parecia que ia começar a chorar na minha frente e eu não sabia exatamente o que fazer para impedir isso... Eu só o beijei. E ele respondeu. Não ficou nenhum clima estranho e nem houve cobranças de nenhum lado. E as coisas foram acontecendo e aumentando com o tempo... Aí começamos a namorar e... Aí... Dez anos se passaram.

- Quem terminou?

- Ele. – e para Kazuya, essa foi uma péssima resposta.

-... Porque?

- Disse que tinha se apaixonado pela esposa. Terminamos e no mês seguinte ele a engravidou. E casaram. E foi aquela muvuca que toda a imprensa japonesa testemunhou. 

- Eu lembro disso... Você sente raiva?

- Não.

- Não? Como pode não...

- Porque ele fez isso por mim. – e exibiu um sorriso amargo – Eles o pegaram e eu não pude fazer nada para protegê-lo. O Jin apenas me protegeu. Como sempre.

- Não entendo...

- Houve uma época em que o Jin brigou com a sua agência para que pudéssemos continuar juntos. Ele lutou por isso até que eles permitissem. Eu fui idiota em acreditar que isso terminaria dessa forma. E que tudo poderia continuar bem. Que viveríamos juntos pra sempre... Eu me descuidei. Eu estava feliz porque finalmente alguém tinha notado o meu talento. Eu acreditava que tinha talento. E não percebi a armadilha até que fosse tarde demais.

A expressão dolorosa do músico fez o coração de Kamenashi doer e ele não saberia explicar os seus sentimentos. Estava morrendo de ciúmes e, mais do que antes, imaginava que o final daquele relato não seria bom para ele. Koki ainda amava Akanishi, ele temia. Mas queria consolá-lo, ele parecia sofrer tanto...

- O que aconteceu? – perguntou e sua voz saiu tão fraca que ele não teve certeza se Koki teria ouvido.

- Me ofereceram um contrato. Alguém estava interessado em me agenciar. Eu fiquei feliz e pensei que as coisas podiam finalmente acontecer para mim. Profissionalmente falando. Mas tinha sido apenas uma chantagem. Sem que soubesse, encurralaram o Jin. Para que eu pudesse alcançar meu sonho, ele teria que se afastar... O mundo erudito é mais rigoroso que o meio em que Jin vive. Ele poderia superar o escândalo de um relacionamento homossexual, mas disseram a ele que eu não seria capaz. Porque é um mercado restrito e se ficasse mal falado logo no começo, jamais teria outra chance.

- Koki...

- Eu só descobri isso bem mais tarde...  Quando o filho de Jin estava pra nascer. Soube que era a Johnnys quem estava por trás dos agentes que queriam me contratar. Pedi demissão. Sei que o Jin fez foi com a melhor das intenções e uma das maiores provas de amor que alguém poderia receber, mas... Eu não consegui conviver com o fato de que o meu sonho foi o motivo que nos destruiu. Não tive forças para isso.

- Você... Não tentou...

- Voltar com Jin? Já não era possível. Não quero roubar um pai de família.

Ficou em silêncio. Aquela era uma triste história de amor que o fez se sentir como um intruso no relacionamento. E, o que era pior, era que nenhum dos três tinha culpa por isso. Não podia condenar Akanishi por ter decidido tudo sozinho porque ele agiu assim apenas porque o seu amor era grande o suficiente para isso. Abriu mão do relacionamento deles porque sabia que Koki não o faria. E privar o namorado de viver o seu sonho, isso parecia a Kazuya mais egoísta do que tomar uma decisão sozinho.

Não era justo que Koki e Jin estivessem separados agora, Kazuya percebeu, não sem se doer por isso. Não era justo também que Koki não seguisse com sua vida. Não era justo Jin cobrar por um relacionamento que já não existia mais. Não era justo que Kazuya não pudesse ter uma história com Koki. 

- Né... Koki?

- Diga.

- Aquela noite em que te vi pela primeira vez... Quando você estava tocando aquela sonata...

- O Trilo do Diabo é a música preferida de Jin. Sempre tocava para ele em seu aniversário. Agora... Toco somente no dia em que terminamos. E nunca a toco por inteira.

- Isso...

- Esse foi o último pedido que ele me fez. Gomen ne, Kazuya... Esse é o meu passado.

O pedido de desculpas Kazuya entendeu bem a razão. Koki estava dizendo que manteria aquela promessa. Provavelmente pra sempre. Ele entendeu que jamais teria o músico para si por inteiro. Ainda assim, ele se ergueu e fitou o moreno. Inclinou-se em sua direção e Koki aceitou o beijo e ainda acariciou a nuca do amante por baixo dos cabelos tingidos. Depois, Kazuya se acomodou e eles permaneceram abraçados pelo o resto da madrugada. Nada mais foi dito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Duas Histórias De Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.