Duas Histórias De Amor escrita por Kitty


Capítulo 1
Capítulo 1




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1

A primeira vez que o viu era noite de Lua cheia. Kamenashi Kazuya estava voltando sozinho de uma bebedeira. Seus colegas do trabalho haviam se despedido duas esquinas antes. Andava com o paletó jogado sobre um ombro e carregava a maleta com a outra mão. A gravata já tinha sido desfeita logo no início da noite, era uma noite abafada, a gola estava aberta e o início de suas clavículas estava à mostra. O rosto estava erguido, sentindo a brisa noturna afagar seu rosto quente, levemente corado.

Não o viu de imediato. Primeiro, veio-lhe aos ouvidos a sua música. Um som lento e tranquilo interrompeu o silêncio da rua bem iluminada. Seus passos se tornaram tão lentos quanto à música e ele procurou pela origem daquele som. A resposta estava parada no começo da quadra seguinte.

Um rapaz pouco mais alto que ele estava tocando um violino. Aquela figura chamou a sua atenção. Os cabelos cacheados caíam-lhe sobre a face, como se estivessem molhados, a franja quase cobrindo os olhos, que estavam fechados, sentindo a música que tocava O rosto, inclinado sobre o instrumento enquanto o arco era friccionado nas quatro cordas produzindo o som harmonioso e – para Kazuya – envolvente.

Ele vestia roupas simples, uma jaqueta jeans, camiseta branca e calças largas de tecido claro. O tênis estava bastante gasto e Kazuya já tinha se aproximado o suficiente para observar esses detalhes. Mas pensou que aquela apresentação não seria mais bonita se estivesse acontecendo em uma orquestra com o rapaz vestido socialmente. Havia algo de romântico naquele cenário do jeito que estava.

Não era apreciador de música clássica. Na verdade, não conhecia absolutamente nada sobre esse assunto. Nunca tinha escutado aquela música antes, ou talvez já, mas por algum motivo somente agora lhe despertou o interesse. Sentiu-se confortável ali parado escutando a um desconhecido tocar. Sentiu-se aquecido e mais calmo. A noite lhe pareceu mais acolhedora, ele se sentiu bem.

Contudo, o encanto maior vinha, sem sombra de dúvida, daquele rapaz. Os olhos de Kamenashi eram atraídos pelos dedos cumpridos, que orientavam a direção do arco sobre as cordas, mas também pelo pescoço inclinado, deixando um lado à oferta, os lábios de proporções iguais e claros... A maciez de sua pele e de seus cachos... A firmeza em seus gestos que, ao mesmo tempo, eram tão delicados. A atração começava a se tronar desejo, embora ele não soubesse explicar muito bem o que desejava naquele momento. Seus sentimentos eram confusos.

- Diabo.

A voz dele soou baixa, mas como a música havia sido interrompida e o silêncio havia retornado, foi possível que Kamenashi entendesse perfeitamente. Mas não entendeu o sentido.

- O trilo do Diabo. – ele prosseguiu, agachando-se e guardando o instrumento na caixa aberta sobre a calçada. – É o nome dessa sonata. Giuseppe Tartini.

- Não entendo sobre música clássica. – disse, disfarçando o seu constrangimento em admitir uma falha, e esperando com apreensão por algum desgosto por parte dele. Mas o que recebeu foi um sorriso quando o rapaz se levantou e olhou pela primeira vez para o seu espectador.

O olhar penetrante do violinista agitou o seu coração e ele sorriu de volta. Por algum tempo pareceu-lhe que estava sendo analisado. Algo daquele rapaz de rosto delicado, mas malicioso, cuja face era moldurada pelo cabelo liso, tingido de castanho, e cumprido, caindo até o seu queixo em uma franja irregular, enquanto o resto estava preso em um pequeno rabo de cavalo, havia cativado ao músico. A pele branca realçava seus lábios cor de rosa, que agora eram alvos da atenção do  moreno que, ao notar que tinha sido flagrado, desviou o olhar.

- Atualmente, poucos conhecem.

- Mas é uma melodia bonita. – agora Kamenashi se sentia mais confortável, o rapaz parecia aberto a uma conversa.

- Ela tem a sua beleza. – concordou e girou para a direção contrária pela que veio Kamenashi.

- Porque ela tem esse nome? – ele se questionou por breves segundos se deveria acompanhá-lo. Seus passos repetiram o caminho.  

- Porque Tartini sonhou que fez um pacto com o Diabo. E no sonho, ele entregou ao Diabo o seu violino e então teria escutado a sonata mais incrível de toda a sua vida. Era uma sonata que o tinha arrebatado de tal forma que, quando acordou, tentou tocá-la para reter a impressão de seu sonho... Tartini diz que esta música, quando terminou de compô-la, era a melhor que já tinha escrito, mas não fazia jus ao seu sonho. Eu gosto dela. E gosto dessa história também.

- É uma história que chama atenção...

- Sim, principalmente porque não é algo que as pessoas aceitem muito bem alguém admitir ou relacionar algum pacto com o demônio. – ele riu.

- Eu o incomodei de alguma forma?

- Eh? – ele o olhou com surpresa – Porque essa pergunta?

- Você parou de tocar de repente...

- Ah, eu não a toco inteira...

- É uma pena. – disse e não insistiu em descobrir o motivo. Notou a expressão mais séria nele e decidiu desviar o rumo da conversa. – Você sempre toca na rua?

- É o meu palco. – ele riu. – Durante o dia dá pra ganhar alguma coisa.

- Já que mencionou... É um pouco estranho que toque a noite... As pessoas não se incomodam?

- Não é sempre que toco à noite... Na verdade... Toco apenas uma vez por ano.

Kamenashi o olhou com surpresa, tentado a perguntar sobre o motivo, mas sabia que estaria indo longe demais com uma pessoa que ele nem sabia o nome.

- Então quer dizer que foi a minha noite de sorte? – ele disse com bom humor.

- Não sou pretensioso a esse ponto. – ele riu e Kamenashi achou que ele ficava ainda mais bonito.

- Eu não sou uma pessoa romântica... – ele começou e notou o olhar interessado e confuso do violinista. – Mas esse encontro acontecer... Não é algo curioso? Quero dizer... Qual a probabilidade de encontrá-lo tocando essa sonata na rua à noite?

- O que está insinuando? Algo como o destino?

Eles pararam para aguardar o farol mudar para verde para atravessarem a rua e Kamenashi se adiantou e se virou para o violinista, mantendo uma expressão divertida e atrevida de quem estava se divertindo em paquerar de forma sutil. Na verdade, o violinista pensou que se as palavras eram sutis, a expressão dele não era. Para completar, ele lambeu o lábio superior rapidamente, mas tempo suficiente para que o gesto fosso observado.

- A verdade é que eu não sei bem explicar o que senti... Mas apenas não consigo parar de olhar para você. É muito bonito.

O violinista riu.

- Obrigado, mas não acha arriscado dizer essas coisas para alguém que não se conhece?

- Kamenashi Kazuya. – e ele retirou um cartão de sua pasta para entregá-lo.

O rapaz aceitou e leu pelo tempo suficiente para ser educado. Descobriu o nome de seu admirador e que ele trabalhava em uma empresa mundialmente conhecida de cosméticos. Isso explicava a argola de prata com uma pequena pedra brilhante em sua orelha esquerda e as roupas de marca. Ele parecia novo e era bem sucedido profissionalmente, de acordo com o cartão em suas mãos. O violinista guardou o cartão em sua carteira.

- Desculpe, não tenho cartões de apresentação. – ele disse. – Tanaka Koki. Músico de rua durante o dia e gato romântico durante a noite. – fez uma pequena mesura, colocando a mão direita no peito e se curvando.

E Kamenashi desejou naquele momento que o violinista se curvasse um pouco mais. Na verdade, que ele se ajoelhasse e puxasse o zíper da sua calça enquanto mantinha o olhar para cima, para os seus olhos. Depois que o encanto romântico do violino terminou, Kamenashi pode enxergar o que normalmente via nos homens que chamavam a sua atenção: sexo. E Tanaka Koki era um homem que lhe pareceu bastante atraente.

Mas afastou a imagem sensual em sua mente, pois havia entendido que Tanaka era romântico e certamente não seria tão rápido que faria sexo com ele.

- Como poderei te encontrar de novo se não tenho seu contato?

- Não se preocupe, Kamenashi-san. – ele disse e foi sua vez de mostrar uma expressão divertida. – Se é o destino, com certeza nos encontraremos de novo. – ele disse e seguiu na frente pra atravessar a rua. – Além disso...  – ele se virou para o rapaz sem deixar de andar - O seu contato está no cartão que me deu. – e então ele lhe deu as costas mais uma vez para ir embora.

Kamenashi permaneceu onde estava, rindo. Não costumava deixar que o outro tivesse o controle da relação, mas, quem sabe, desta vez, não poderia ser mais divertido dessa forma?

2

A segunda vez que o viu foi uma coincidência que deixou Kamenashi impressionado por duas razões. A primeira era o fato óbvio de que não esperava vê-lo tão cedo – apenas três dias desde aquela noite – e de modo casual. Acreditava que Tanaka lhe telefonaria ou enviaria um e-mail. A segunda era que certamente ele jamais teria cogitado – nem em suas melhores fantasias – que o encontraria... Pelado. Não tão rápido.

O convite para ir a um banho público partiu do seu melhor amigo Ueda Tatsuya. Ele estava em Tokyo por alguns dias e eles tinham marcado de jantarem após o banho. Era abril, mas o tempo ainda era bastante frio, assim que irem para o ofurô pareceu a Kamenashi uma ideia bastante agradável.

Escolheram o mesmo lugar de sempre. Kamenashi gostava do ambiente tranquilo que as cores claras e as vozes baixas e educadas dos atendentes proporcionavam.

- Avisei ao Maru e ao Junno que você tá na cidade. – Kame disse enquanto retiravam os sapatos e guardavam nos armários. – Eles pediram pra marcar algo durante o fim de semana.

- Hum... Tá certo. E como eles estão?

- Bem. Maru foi promovido à gerente na loja e o Junno começou o mestrado.

- Eh~... Quem diria? Junnosuke sempre foi bom na escola, mas nunca pensei que ele fosse levar a vida acadêmica tão a sério...

Kamenashi concordou e a conversa foi interrompida quando chegaram ao balcão de atendimento.

- Boa noite, os senhores conhecem os procedimentos da casa? – a simpática atendente perguntou.

- Sim, somos clientes habituais, obrigado. Vamos querer toalhas.

- Está certo. Por favor, peguem as pulseiras. – e ela entregou pulseiras feitas com fios telefônicos e um cadeado de plástico com o número dos armários para guardarem as roupas.

Atravessaram a sala em que havia uma grande televisão e sofás e alcançaram a área masculina. Passaram pelo primeiro corredor de armários e encontraram os que usariam.

- Você ainda está com Ryo? – Kamenashi perguntou enquanto puxava a sua blusa de frio.

- Não, terminamos há alguns meses. – Ueda respondeu. – Namoro a distância não dá certo.

- Deve ser difícil mesmo, ainda mais com o temperamento daquele cara. Ryo é muito ciumento.

- Sim... Mas já não estava dando certo antes. – e o comentário continha algo de desânimo.

- Bem, como dizem, você está na pista outra vez! Aproveite!

- Não gosto dessa sua filosofia, obrigado. – ele retirou as calças e em seguida a cueca boxer preta. – Quando você vai procurar um relacionamento sério?

- Não tão cedo...

- Você já fez a curva para os trinta. Não é mais criança!

- Ei, eu só tenho 26!

- Exatamente. Já pode usar cremes contra envelhecimento há um ano. – e ele riu quando o amigo tentou ser discreto em olhar seu rosto no espelho na porta do armário a procura de rugas. – Eu estou apenas brincando. – disse e bateu no traseiro branco do outro rapaz.

Kamenashi fez um bico rápido e o seguiu. A porta automática se abriu e ele entraram na área do banho. Kamenashi pegou o seu balde de madeira e encheu de água, jogando sem aviso prévio em seu amigo, que estremeceu. Em seguida, ele molhou o próprio corpo, ignorando o olhar irritado de Tatsuya e foram para as duchas.

Depois que eles se sentaram no banco de madeira e começaram a se ensaboar, Ueda retornou ao assunto.

- Mas está saindo com alguém?

Kamenashi manteve o olhar fixo em sua tina de madeira, até que ela atingisse o nível de água que queria e então fechou a ducha. Molhou a sua esponja ali e depois despejou o sabonete líquido, esfregando seu pescoço.

- Não.

- Vire-se, vou esfregar suas costas. – esperou até que ele se endireitasse e tomou-lhe a esponja. – Kazu... Houve alguém em sua vida que foi importante para você?

- Eh? Que tipo de pergunta é essa?

- Às vezes fico preocupado... Você não tem medo de terminar sozinho?

Ele não tinha esse medo. Justamente porque Tatsuya se preocupava a esse ponto, ele sabia que não terminaria sozinho. É claro que ele não poderia esperar – e ele não esperava – de amigos a cumplicidade e o apoio de um parceiro, mas, por outro lado, ele não era uma pessoa que colecionava amizades. Ele tinha poucas e muito valiosas amizades. Assim que sabia que poderia contar com eles quando realmente precisasse.  

- Não é algo que me preocupa. – ele respondeu sinceramente – Não vou correr atrás de um parceiro por causa disso. Conseguir alguém para viver o resto dos meus dias por causa de um motivo assim... Não é o mesmo que terminar sozinho?

-... Tem razão. – teve que admitir a coerência em suas palavras – Mas eu espero que você consiga um bom relacionamento... Viver só de sexo é bom, mas você deveria experimentar coisas diferentes em sua vida... O amor é uma boa experiência.

- Ah, essa conversa está ficando muito esquisita! – ele se virou e tomou a esponja do amigo.

Tatsuya lhe deu as costas e Kamenashi passou a esponja. Tatsuya podia ser pequeno, mas ele tinha um corpo bonito. Seus braços eram musculosos porque ele gostava de praticar boxe. E ele estava mais moreno desde que passou a morar no interior, trabalhando no campo.

Terminaram o banho e seguiram para o primeiro ofurô. Era um espaço retangular com a temperatura a 38º graus. Eles sentaram na lateral, no nível mais baixo, deixando a água cobrir até o peito.

- Ahhh... Que gostoso! – Kamenashi fechou os olhos e se deliciou.

- Fazia mesmo algum tempo desde a última vez em que viemos aqui, não?

- Uns dois anos, provavelmente. Não foi daquela vez em que você voltou porque estava deprimido no interior?

- Não caçoe de mim. Não foi fácil me acostumar... Trabalhar numa fazenda é muito diferente de um escritório. Achei que não daria certo... E todos estavam contando comigo, era muita pressão.

- Mas agora você já está bem adaptado. É o que importa.

O segundo ofurô era uma área um pouco mais estreita e com hidromassagem. Também havia televisões pequenas presas à parede transmitindo os programas de entretenimento daquele horário.

- Esse é o melhor banho que existe! – Kamenashi exclamou, seguindo para a hidromassagem em que poderia ficar deitado.

- Olha, não é o ídol que você curte? Fazendo sucesso no exterior?

- Hum? Ah, sei... Akanishi, não é?

- Sim. Ele é bonito e tem uma voz incrível.

- O corpo dele é incrível! – Kamenashi passou a língua automaticamente pelos lábios – Você viu quando ele saiu na Anan? – e pela expressão no rosto de Ta-chan, soube que o amigo também tinha gostado. – Mesmo em fotos que simulam que ele seja hetero, tenho certeza de que ele gemendo com a sua voz incrível debaixo de mim seria muito mais atraente.

- Acha que ele é gay? Ele teve um filho há poucos meses.

- É um viado enrustido. Ele tem uma cara triste e tenho certeza de que é porque é mal comido.

- Será? – Ueda pensou por um momento, mas logo este assunto sumiu da sua cabeça quando outro convidado apareceu no programa. – Hum... Quem é esse cara? Ele é bonito também.

- Ah... Mukai Osamu. Tá estourando em doramas ultimamente. Lembra do Eita? Ele está trabalhando como maquiador na TBS e me conta sobre essas coisas.

- Na TBS? Sua empresa também trabalha com a produção de lá, não é?

- Sim, fornecemos os produtos de beleza.

Ficaram em silêncio, Ueda assistindo ao programa e Kamenashi, de olhos fechados, relaxando com a água borbulhante. Quando ele os abriu, pensando em sugerir a Ueda que fossem para o próximo banho, as palavras se perderam porque aquele rapaz estava entrando no ofurô.

Ele estava descendo os primeiros degraus e não tinha notado a sua presença. Os cabelos negros estavam jogados para trás, molhados, escorregando pela nuca, e Kazuya pode ver melhor o seu rosto desta vez. E confirmar que era um homem atraente.

Os olhos rasgados de Kamenashi desceram mais um pouco e encontraram um torso bem trabalhado. Ainda pode observar com grande satisfação o quadril e o seu sexo. Um sorriso de canto e os olhos brilhantes de Kamenashi voltaram para o rosto do rapaz. Notou que ele tinha parado por um momento, observando o mesmo programa que Ueda e ele estavam assistindo, e depois baixou o rosto e procurou por um espaço vago na hidromassagem que ficava de costas para a televisão.

- Oh. – e foi quando ele o viu. – Se não é o meu espectador noturno!

Kamenashi gostou do sorriso que recebeu.

- Eh? Nos encontramos de novo, então.

-... Sugere o destino de novo?

- Não sou um stalker. E penso que Tanaka-san também não seja... Assim... Como mais podemos explicar esta segunda e feliz coincidência?

Ueda olhou para Kamenashi e reconheceu a expressão em seu rosto. Ele estava em um momento de caça. Olhou para a nova vítima, era um rapaz bonito, mas naquele momento parecia cansado e seu sorriso, mesmo sincero, parecia que lhe custava muito em exibi-lo. Mas Kazuya parecia não ter tido a mesma impressão.

- Este é meu amigo Ueda Tatsuya. Tanaka Koki-san é violinista.

Eles se cumprimentaram e Ueda demonstrou interesse na profissão do rapaz, que deu respostas curtas, mas educadas, às perguntas.

-... Mas como não dá pra sobreviver com música por enquanto, também trabalho.

- O que Tanaka-san faz? – Ueda lhe perguntou.

- Bicos. O que tiver para ser feito. Faço qualquer coisa.

- Qualquer coisa? Essa resposta é perigosa. – Kamenashi disse e não conteve o risinho.

- Qualquer coisa moralmente aceita. – ele explicou – E que possam ser remuneradas. O imoral é para os finais de semana e de graça. – piscou de forma divertida.

- Gostaria que nosso próximo encontro por coincidência pudesse ser durante um fim de semana.

Ueda ergueu uma sobrancelha. Havia sido esquecido totalmente por seu amigo. Quando o assunto era sexo para Kazuya não havia mesmo como disputar. Vencido, ele pediu licença e se adiantou para o ofurô seguinte. Hesitou por um momento porque Akanishi começou a cantar a sua música, preferida.

- Ueda-san tem razão... Porque não vamos para o próximo banho? – ele fez em tom de pergunta, mas Tanaka se adiantou para sair do ofurô.

Kamenashi esperou que ele subisse os degraus propositalmente, podendo, assim, analisar de um ângulo perfeito o traseiro arredondado e de proporção perfeita do violinista.

- A sua sorte é que estamos tomando banho e ele não pode distinguir o que é a água do ofurô ou a sua baba. – Ueda lhe sussurrou e depois também saiu.

Ele não se ofendeu. Porque era verdade, seu desejo pelo violinista era grande e, após este encontro, passou a ocupar seus pensamentos diariamente.

3

Depois do ofurô, Tanaka ainda jantou na companhia deles. Mas ainda se recusava a lhe dar o seu contato. Kamenashi teve que lidar com angustia em não saber se o violinista lhe mandaria um e-mail ou lhe telefonaria e, ainda, quando o veria de novo durante os dias que se seguiram. Não era somente um rapaz bonito, era interessante e bem humorado, durante o jantar manteve uma conversa agradável. E, claro, a imagem do corpo de Tanaka entrando no ofurô era a que mandava na cabeça de Kamenashi.

Não era apenas o rapaz em si, Kamenashi precisava admitir. O primeiro encontro havia sido fundamental para construir em seu imaginário um cenário perfeito. Aquela áurea que parecia existir em torno do violinista, um misto de mistério, fragilidade e tristeza, era atraente. Ele queria possuí-lo e descobrir seus segredos e seu passado. Porque parecia ser interessante. E também porque existia aquela hipótese em ser o responsável por retirá-lo desse mundo a parte. Em outras palavras, em ser alguma espécie de salvador de Tanaka e esse tipo de personagem era o que mais agradava Kazuya.

Isso era o que lhe restava, na realidade. Apenas fantasiar enquanto esperava por alguma atitude daquele que deveria estar sob o seu domínio. Ele fantasiava demais.

O olhar tranquilo, mas curioso, do violinista era algo atraente quando estava deitado em sua cama, apoiado sobre os cotovelos para manter o tronco erguido e enxergá-lo enquanto ele avançava sobre o seu corpo. Usando apenas uma calça jeans – com que Kamenashi se divertiria quando a retirasse –, o torso visível e encoberto pela luz solar que invadia o ambiente através da enorme janela do telhado daquele sótão, como se fosse o refletor de um palco de show.

Seus movimentos eram sempre vagarosos no começo, gostava de brincar com a ansiedade de seu amante, e notar a sua respiração começar a se agitar. Seus beijos começavam no umbigo, mordia-lha e então subia por todo o corpo em direção à boca enquanto as mãos acariciavam o membro enrijecido.

Os beijos são interrompidos para apreciar o rosto entregue do moreno. Os cachos caíam sobre os olhos fechados, a boca entreaberta deixava escapar pequenos gemidos de prazer.

O telefone em sua mesa o trouxe de volta para os contratos que deveria revisar antes de encaminhar para o pessoal de marketing. Pela bina, pode identificar que quem o chamava era Yamashita Tomohisa, responsável pela equipe de criação.

- Já estou encaminhando os contratos. – foi logo dizendo.

- Boa tarde para você também, Kamenashi. – o outro o cutucou. – Os novos produtos chegaram, você quer dar uma olhada?

- Ok, estou descendo.

Recolocou o telefone no gancho e terminou o café – agora gelado – e seguiu para o corredor. Cumprimentou as recepcionistas e seguiu para as escadas de emergência. A equipe de marketing, apesar de ser ligada à equipe de comunicação, ficava no andar anterior. Quando chegou no andar, notou que a porta da área dos elevadores estava aberta e algumas caixas ainda estavam por ali. Os produtos tinham, de fato, acabado de chegar. Ele seguiu para a sala de Yamapi e não acreditou naquela coincidência.

Vindo pela direção contrária, usando um macacão azul e uma camiseta branca, Tanaka Koki parecia pouco surpreso com aquele encontro. E Kamenashi, então, se lembrou de que o rapaz tinha o seu cartão, assim que ele sabia que aquela era a empresa em que trabalhava. Antes que se alcançassem no corredor, Kamenashi ainda avaliou que aquele macacão caía muito bem no rapaz. Podia imaginar algumas situações e algumas maneiras de como retiraria aquele traje. 

- Konnichiwa, Kamenashi-san.

- Nos encontramos mais uma vez...

- Sim... Parece que talvez exista algo nos atraindo. – ele riu. – Não acreditei que teria um bico para trazer essas caixas neste escritório... Não era o andar que está escrito no seu cartão, mas...

- É a mesma empresa. – ele completou, animado, e se aproximou. – Por que não toma uma cerveja comigo depois do seu expediente?

- Ah... Bad time. – respondeu no mesmo tom baixo do rapaz. – Tenho outro carregamento para entregar, mas não é nem um pouco perto daqui.

- O convite fica de pé para quando estiver disponível.

-... Não sei se será em breve...

- Leve o tempo que precisar... Preciso ir. Mas foi bom revê-lo. – ele disse, batendo uma mão no ombro do outro rapaz.

Ele seguiu para a sala de Yamashita com o humor renovado.

4

Eles ergueram as canecas de chopps e brindaram. Kamenashi tomou um longo gole, satisfeito com o reencontro com seus melhores amigos. Era um dia frio e o bar, pequeno e aquecido, era aconchegante. Repousou seu copo na mesa e olhou para Ueda e Nakamaru, sentados à frente, e depois para Junnosuke, que estava sentado com a postura correta e os óculos pequenos e retangulares. Ele tinha a impressão de que alguns anos tinham retornado.

- Vai ficar quantos dias na cidade? – Nakamaru perguntou para Ueda.

- Penso que pelo menos mais uma semana... Estou aqui para acompanhar a venda de uma das nossas casas. Vamos ficar apenas com a próxima a estação de trem, que vai ser alugada.

- Uma renda mensal a parte dos negócios da fazenda é um bom negócio. – Junnosuke aprovou.

- Prove este espete, é uma delícia. – Nakamaru indicou quando o prato com os espetos chegaram. Ele pegou um e estendeu para Ueda.

Ueda aceitou e concordou com o amigo, era delicioso. Kamenashi riu de canto, para si mesmo. Ele não saberia dizer o que era pior: o jeito exagerado de Nakamaru quando estava com Ueda ou se o fato do boxeador não perceber os sentimentos do amigo de infância. Em todo caso, não seria ele quem lhe diria.

A atenção deles foi desviada para a televisão do bar quando alguém pediu para aumentar o volume. Era um plantão sobre a situação de Akanishi Jin. Kamenashi tinha escutado a notícia por cima, o rapaz teria passado mal e dado entrado em um hospital há dois dias.  Agora, segundo a jornalista que estava na bancada dando as últimas notícias, parecia que ele tinha recebido alta e estava voltando para casa. A imagem o mostrava saindo do hospital, acompanhado da esposa Kuroki Meisa, que também era famosa.

- Ele passou mal de novo? – questionou Maru – Mês passado não foi a mesma coisa?

- Sim. Dizem que a saúde dele é bastante frágil... – comentou Kamenashi – Está sempre gripado.

- Drogas. – definiu Junnosuke – Esses artistas não sabem a hora de parar.

- É? Será isso mesmo?! – Ueda refletiu – Em todo caso não deve ser uma vida fácil...

- Eu não sei, mas que esse cara seria uma boa transa, ele seria!

- Ok, Kazuya. Todos sabem que você é um fãboy de Akanishi. – Maru comentou sem muito entusiasmo.

- O que? Vai dizer que nunca bateu uma com esse cara? Aquela Anan... – suspirou com saudades enquanto deslizava seu dedo pelo copo e mantinha um sorriso sacana.

- Pare de sonhar. Você nunca vai chegar perto desse cara. – Junnosuke o lembrou, rindo.

- Você podia ser menos realista, Junno, na boa. E eu bem me lembro que você ficava a bicha excitada quando assistia os doramas do Kimura.

- Ah... Kimura-sama~...

- E o Ta-chan, pelo Masuda.

- Ele tem um sorriso fofo!

- O nosso único sóbrio em relação a Johnnys é o nosso cético Nakamaru... Vocês acham que ele é imune aos rapazes da Johnnys ou será que ele tem algum ídolo secreto?

- Você pode não acreditar... Mas tem sim um desses caras que... Acho atraente. – ele disse e, quando percebeu os olhares que recebia, logo se corrigiu: - Ok, eu acho que ele é gostoso pra caralho! Nagase. E tem também o Matsuoka.

- Ehhhhhhhhhhhhhhhhh?

Maru girou os olhos, entediado porque tinha previsto a reação exagerada daqueles palhaços que ele considerava seus amigos.

- É esse o tipo do nosso Nakamaru? – Kamenashi se inclinou sobre a mesa, os braços cruzados e mordendo um polegar. – Posso imaginar o tipo de sexo que teria com eles...

- Tá, mas não me imagine no meio disso! – Nakamaru exigiu – Respeite a privacidade das minhas fantasias.

- Não se preocupe, não imaginaria. Imaginá-lo nu é algo que me brocharia de imediato, Maru. – comentou com um sorriso irônico e recebendo uma careta como resposta. – Sabem que eu não imagino nada com amigos. É contra as regras!

- Regras de quem? – perguntou Maru.

- Não se alarme, essas regras são minhas e não do Ta-chan! – ele piscou e riu da expressão preocupada que surgiu em Maru, seguida de um vermelhidão. Depois de lançar um olhar furioso a Kazuya, ele olhou preocupado para o rapaz ao seu lado.

Mas Ueda estava entornando o seu copo e assistindo a televisão. Ele voltou à conversa quando notou o silêncio e que todos o olhavam.

- O que? O que foi? – ele perguntou, olhando de Maru para Junno e por fim para Kamenashi. – O que você falou de mim?

- Eu não falei nada. Por que sempre sou o suspeito? – a sua pergunta apenas recebeu olhares irônicos, aos quais não deu muita atenção porque sentiu seu celular vibrar. – Não conheço esse número. Já volto.

Ele se levantou e foi atender próximo ao banheiro, onde estava mais tranquilo. Não reconheceu a pessoa de imediato, mas, quando soube quem era, seu coração deu um pulo e ficou mais animado.

- Kamenashi-san? Tanaka desu. Se estiver bem para você... Podemos nos encontrar daqui a pouco?

Era claro que estava tudo bem para ele.

5

Deu a desculpa que conseguiu inventar na hora, mas Kamenashi sabia que nenhum deles acreditou e que imaginavam a sua verdadeira razão. Mas ele sabia também que seus amigos não se importavam com isso. Assim, cerca de meia hora depois da ligação de Tanaka, ele estava dirigindo debaixo de uma forte chuva para o endereço que o violinista lhe passou.

No meio do caminho, a razão caiu sobre si. Era uma loucura que ele estivesse dirigindo para um lugar que não conhecia para ter sexo com uma pessoa que ele viu apenas três vezes. E era justamente isso o mais excitante! Logo deixou a razão de lado e aproveitou aquele sentimento, deixando sua mente viajar para um sexo antecipado ao som da sonata que – ele estava pasmo com isso – ainda estava perfeita em sua mente.

Chegou diante de um edifício velho, mas bem conservado. Tanaka o havia orientado para que subisse pelas escadas – o elevador estava quebrado, mas não era um prédio com muitos andares – e que não havia porteiro. Kamenashi subiu os três lances de escada e se viu no último andar. Percorreu o corredor correndo, a ventania estava jogando a chuva contra as portas dos apartamentos.

Tocou a campainha e esperou a porta de madeira ser aberta. O violinista o recebeu usando uma camisa social branca aberta até a metade e jeans. Estava descalço. Exibiu um sorriso cansado e seus olhos estavam quase fechados. Estava bêbado.

- Kamenashi-san veio. – ele disse e não parecia que estava falando com Kame. Parecia como se estivesse contando este fato a alguém ou a si mesmo. – Arigatou. – e abriu a porta, recuando alguns passos para o visitante entrar. – Me dê o seu casaco.

Kamenashi entrou e deu uma rápida olhada no lugar. Era espaçoso e apenas no banheiro haviam paredes para dividir o cômodo. A cozinha, a sala e o quarto era o mesmo espaço separados por móveis como o balcão da cozinha. A cama ainda era protegida por um cumprido biombo de madeira escura e papel cor de creme. E aqui Kamenashi não pode evitar o rápido pensamento de como o sexo ficaria sensual com as sombras se projetando pelo biombo.

A iluminação era precária, o ambiente estava escuro. Ele notou rápido a cama de casal porque ela destoava dos outros móveis. Era enorme e parecia ser o objeto de maior valor naquele lugar. Mas Kamenashi deixou isso de lado e olhou para o violinista.

- Eu fiquei surpreso com a ligação de Tanaka-san...

- Desculpe chamá-lo repentinamente.

- Não se incomode por isso... Eu fiquei surpreso, mas estava esperando por uma ligação.

- Eu penso que estava. – não havia arrogância em sua postura ou mesmo em seu tom de voz, Koki estava apenas concordando com os fatos. Kamenashi queria que ele ligasse e ele queria ter ligado antes. – Espero que não se importe com a minha humilde casa... Como bem sabe, não tenho um emprego fixo.

- Como se eu fosse reparar em algo assim. – ele riu. – Não se preocupe com essas coisas. Você mora aqui há muito tempo?

- Alguns anos... Na verdade... Eu não morava aqui, apenas vinha passar algum tempo... Fugir um pouco da realidade... Mas cerca de três anos passei a morar. É mais barato aqui do que onde eu vivia antes. Me acompanha no vinho ou quer beber outra coisa?

- O mesmo que você.

- Por favor, sente-se.

Kamenashi obedeceu e agora que estava no centro do apartamento, ele pode observar melhor o lugar. Acompanhou Koki se dirigir a uma pequena adega, que, assim como a cama, não combinava com o resto do ambiente. Aos poucos, ele começou a observar alguns detalhes que tornavam aquela casa um tanto curiosa. A pobreza e algumas evidências de riqueza coexistiam ali. Perguntou-se se Tanaka já tinha tido algumas posses e teria perdido seu dinheiro por algum acaso do destino. Talvez fosse viciado em jogos ou algum parente o afundou em dívidas. Algo assim. Ele notou garrafas vazias de Dom Perignon num canto do chão.

Koki se aproximou com outra taça e a garrafa de vinho do porto. Entregou uma taça ao visitante e depois deixou a garrafa e a sua taça na mesa baixa. Depois voltou também com alguns pedaços de queijo cortados em cubos.

Ele se sentou ao lado de Kamenashi e se acomodou com os pés em cima do assento. Brindaram. Sorrisos significativos.

- Sei que não entende sobre música clássica, mas se importa se eu colocar um pouco? Não tenho outro tipo de música.

- Não, tudo bem. Eu estou mesmo querendo conhecer um pouco mais sobre isso. – mas a expressão de Kazuya denunciava o que ele realmente estava querendo conhecer.

O músico levantou-se mais uma vez e caminhou até a estante. Kazuya ficou surpreso porque havia uma vitrola ali. Não imaginava que ainda existisse algo assim e que muito menos alguém ainda teria em sua casa.

A música começou sutilmente, Koki ainda permaneceu algum tempo apoiado na estante, apreciando aquele som. Kazuya não pode deixar de admirá-lo. Ele era algo precioso perdido num tempo caótico do mundo moderno. Como uma ave exótica ou um animal em extinção. Não pode evitar o sentimento de possuí-lo e preservá-lo apenas para si. E naquele momento, devido ao êxtase do novo sexo, Kazuya não cogitou o perigo em se envolver com alguém que era visivelmente romântico. Os românticos se prendem à pessoa amada de tal forma que muitos anos se passam até que elas consigam superar um romance frustrado. Às vezes, nunca superam. Kazuya nunca esteve interessado em se envolver em um relacionamento assim. Até agora.

Ele se levantou e se aproximou vagarosamente do músico. Pode notar o seu arrepio – e se deliciou com isso – quando o tocou na cintura e sussurrou em seu ouvido.

- Que música é?

- Ópera. – ele respondeu, puxando as mãos de Kame para a sua barriga, aceitando o abraço. - Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagani.

- Tem um tom triste...  – Kazuya apoiou o rosto sobre o ombro e aspirou o perfume do músico. Conhecia cosméticos. Ele conhecia aquele cítrico amadeirado. Ele gostava dessa marca. Ferrari. Ferrari Black. Cara demais para o músico de rua. Mas isso não importava naquele momento... O calor e o perfume do outro corpo amoleciam o seu raciocínio. 

- É sobre um triângulo amoroso... – Koki se libertou do abraço e se colocou de frente para ele. Observou os olhos de Kamenash, praticamente fechados, um sorriso malicioso nos lábios entreabertos. – Uma mulher casada se envolve com um rapaz mais novo. – tocou o rosto entregue com a mão direita, o polegar deslizando pelos lábios cor de rosa. – Um soldado. O marido desafia o rival em um duelo e o mata.

- Trágico. Mas deve ter valido a pena... O adultério... É sensual... – ele agarrou-se à gola do músico e pode finalmente provar do seu beijo.

Os pés escorregaram pelo carpete, a estante balançou quando seu dono foi prensado contra ela. A ópera sendo entrecortada pela respiração cada vez mais alta e os murmúrios incompreensivos de ambos.

Os lábios de Koki eram macios e sua língua mais exigente do que Kazuya havia imaginado. Ele parecia tímido e romântico, mas isso não o impedia de demonstrar o que queria. Houve uma pausa, somente. Depois do primeiro beijo houve um momento em que eles se olharam, Kazuya sorrindo satisfeito e entusiasmado, Koki, contente em ceder aos desejos do rapaz e aos próprios. Kazuya mexeu na franja encaracolada e deslizou a mão pelo rosto dele, admirando o seu prêmio. E depois o virou de costas e abaixou as suas calças, apertou as suas nádegas, esfregando sua mão pela pele quente e a deixou percorrer por aquele corpo até encontrar o sexo de Koki, enquanto beijava-lhe a nunca, perdido entre os fios enrolados.

Estava, finalmente, satisfazendo o seu desejo.

6

Quando acordou, Koki estava vestindo a sua camisa social novamente. Apenas ela. Estava sentado na beirada da cama, uma perna dobrada em posição de índio e a outra apoiada no chão. A visão da perna dobrada era tentadora. Kazuya deixou seus olhos seguirem um pouco mais pra cima, mas o alvo do seu desejo estava coberto pela camisa.

- Ohayou. – o músico lhe sorriu.

- Ohayou. – respondeu, enquanto se espreguiçava. Sentou-se e então notou a bandeja com a comida. Havia frutas e pães doces. Leite e café.  – Oh! Café da manhã pra mim?

- Precisa recuperar um pouco da energia antes de ir trabalhar. E pode usar o banheiro primeiro. Hoje só vou sair de casa no período da tarde. – disse e se inclinou em busca de um beijo.

Kazuya estava sonolento e não se incomodou com um pouco de carinho. Havia sido uma noite incrível e julgou que merecia retribuí-lo de alguma forma, então aceitou o romantismo daquela manhã.  Até mesmo porque Kamenashi sentia vontade de repetir a transa com o músico pelo menos mais duas ou três vezes.

7

O sexo se repetiu durante dois meses. Os encontros aconteciam noite sim, noite não. Kamenashi não conseguia explicar aos seus amigos – e nem para ele mesmo – o que estava acontecendo. O violino de Koki devia ser mágico. As notas daquela sonata na noite em que se conheceram devia ser algum encanto poderoso. Ele só podia ter sido enfeitiçado. Só isso explicaria a necessidade que ele sentia de estar frequentemente na companhia daquele rapaz.

Não era a primeira vez que ele se envolvia com alguém romântico. Já tivera dores de cabeça por causa disso em relações anteriores, mas era a primeira vez que as palavras doces o faziam se arrepiar. O sorriso e o olhar devoto que encontrava no músico aquecia o seu coração e seus próprios gestos se tornavam mais carinhosos, sua voz soava rouca durante a intimidade e seus beijos, mais longos e lentos.

Naquele velho apartamento, Kamenashi havia encontrado algo caloroso e, ao mesmo tempo, tranquilo. Um lugar em que ele podia fugir do estresse do seu cotidiano e receber apenas carinho, sexo e atenção. Entre taças de vinhos e uma boa comida. O músico também era um bom cozinheiro.

Ele não conseguia reconhecer a si mesmo. Às vezes se pegava pensando que um relacionamento estável não poderia ser tão ruim. Que Ueda talvez estivesse certo... Ter alguém em quem confiar e se apoiar... Pudesse ser algo positivo. Ele tinha que admitir. Estava apaixonado pelo músico.

Os encontros não mais se resumiram a sexo. Jantares, bares e cinema começaram a se tornar comum. Kamenashi descobriu que mesmo alguém com gosto tão elitizado quanto os de Koki poderia também se matar de rir em uma boa sessão de comédia americana. E que tinha medo de filmes de terror. E lagrimejava em filmes românticos ou dramáticos. Descobriu que o músico era um bom dançarino das músicas eletrônicas que podia seduzi-lo muito bem no meio de tantas pessoas em uma pista cheia de fumaça e luzes coloridas e que o romântico violinista não se importava em transar no banheiro sujo da danceteria.

E os momentos de intimidades não físicas também estavam aumentando. Andar à noite com ele, depois de um bom jantar francês – e Koki sabia muito bem a etiqueta de um chique restaurante ocidental – estava fazendo o espírito de Kamenashi se sentir em paz. Eles caminhavam próximos a um parque cujas árvores de cerejeiras estavam todas desabrochadas.

A noite estava bem gelada e seu lindo violinista estava usando um cachecol branco e uma japona negra. Os cabelos ondulados caíam por baixo de uma toca de tricô cinza. O coturno que usava o deixava bem mais alto, mas Kamenashi não se incomodou com isso. Na verdade, orgulhava-se do homem bonito que havia oferecido o seu braço quando reparou que ele estava com muito frio para que eles pudessem andar juntos. Não somente havia se permitido a experimentar um pouco de romance com Koki, mas também já não fazia questão de ser sempre o homem que comandava a relação. Koki o fazia se sentir bem e seguro.

Eles riam alto de uma cena do filme americano que tinham assistido antes do jantar e estavam caminhando para o estacionamento buscar o carro de Kamenashi.

- Gosto desse ator. Ele sempre faz uns papéis interessantes e é lindo.

- Ele é o seu tipo, então, Kazuya?

- Bem, meu tipo idealizado. Tem o corpo perfeito, um rosto de anjo e parece tão obediente. Mas não fique com ciúmes... O nosso ideal nunca é posto em prática! Perderia a graça!

Koki apenas riu.

- Como se eu pudesse ficar com ciúmes de um artista que trabalha a milhares de quilômetros de distância.

- Não é? Casais heterossexuais costumam ter essas discussões idiotas por causa de artistas.

- E você acha que casais homos não têm esses problemas?

- Não sei, mas eu presumo que esses ciúmes infantis costumam vir das mulheres, não acho que gays tenham esse tipo de problema.

- Eu acho que ser infantil vai da personalidade e não do sexo.

- Mas as mulheres tendem a ser mais infantis.

- Não sei, não conheço muito sobre as mulheres. – ele riu. – Não fazem o meu tipo.

- E, ei Koki! Você disse que não teria ciúmes de um artista porque é de outro continente. E se fosse um artista japonês, então?

- Também não tenho problema. Porque quem quer seja o artista, não estará próximo o suficiente para te fazer gozar como eu faço. – ele sorriu e tocou seu queixo para um beijo rápido. Era noite e as ruas estavam praticamente vazias para que alguém se escandalizasse.

- Quanta confiança! E o violinista pode falar coisas vulgares de vez em quando?

- Por que sei que meu amante gosta disso... Mas se prefere que seja romântico posso colocar de outra forma. – ele se soltou e adiantou alguns passos, como se fosse começar a interpretar um personagem ou recitar uma poesa – A minha confiança é porque sei que qualquer artista não passa de sakuras, como estas acima de nossa cabeça. – ele parou e puxou uma de um galho mais baixo. – São extremamente lindas... E temporárias na vida de qualquer pessoa. E o que eu posso oferecer é muito mais do que um doce e efêmero sonho. – e soprou a flor contra o rosto de Kazuya, que riu.

- Isso foi bastante brega! – caçoou e Koki também riu – Mas... Por alguma estranha razão... Eu gosto da sua breguice.

Koki não disse nada. Foi até Kazuya e o abraçou, esmagando seu rosto contra seu peito e beijando-lhe a face e a orelha, a qual mordeu de leve. Escutou o riso tímido e satisfeito do amante e então o libertou. Kazuya era um homem bonito e cuja confiança excessiva o tornava muito atraente, mas, para Koki, eram nesses raros momentos de timidez que aparecia a verdade beleza dele. E Koki pensou que poderia passar o resto de sua vida observando essa imagem.

E que Kazuya talvez pudesse finalmente libertá-lo da sua prisão... 


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