Ficar acordada durante toda madruga foi melhor do que dormir, e provavelmente ter pesadelos com Jev.

Por mais que meus pensamentos sempre vagassem pela nossa ultima noite juntos — aquela em que finalmente o beijara — eu ainda preferia estar acordada revivendo esses momentos em minha cabeça, do que estar dormindo presa em um pesadelo.

Apesar que minha vida está sendo um pesadelo. Tinha perdido minha vida para os jogos vorazes, perdido meu melhor amigo para os jogos também, e se continuar assim vou perder minha própria vida.

Não era uma coisa tão ruim morrer á essa altura, afinal, já tinha perdido quase tudo mesmo. Eu não conseguiria ganhar sem Jev… Eu não tinha essa capacidade. Ele era o único que me mantinha estável naquela arena. E agora que o perdi, me vejo desamparada. Ainda mais quando tenho dois aliados.

Suspiro. Eu iria fazer de tudo para um deles ganhar aqueles jogos. Nem que eu tivesse que sacrificar minha vida. Ao pensar nisso, lembro de Lynia, minha irmã mais nova. Lembro de Hugo, e de minha mãe. Minha família. Que eu teria que deixar para trás. Sinto um aperto no peito quando penso quando necessidade eles teriam que enfrentar.

— Deveria dormir um pouco… — Murmura Meeh, que aparece de repente do meu lado. Fazendo-me levar um susto.

— Deuses! Meeh! — Exclamo — Eu não quero dormir. E aliás, já amanheceu faz tempo…

Pela posição do sol, deveria ser umas nova horas da manhã. Tinha ficado quase 23 horas sem dormir, e eu não sentia a exaustão.

Depois de Meeh ter acordado, Peter também veio sonolento. Juntamos nossas poucas coisas e fomos em direção a praia. O unico lugar onde sabia que sobreviveria bem.

Caminhamos por um longo tempo. Parecia que nunca iriamos chegar. Estava sentindo a brisa da maresia quando era mais ou menos uma da tarde. O que significava que tínhamos caminhado 4 horas. Também, com Meeh carregando seu tridente sozinha e Peter sonolento, era para pedir para chegarmos bem tarde por lá.

Ao ver grandes coqueiros dando lugar a árvores, percebi que já estavamos bem perto. A vegetação por ali se tornou mais tropical. Assim como os insetos e bichos que se rastejavam por toda parte.

— Estamos realmente seguros aqui? — Pergunta Meeh, que olhava assustada todos aqueles bichos.

Não respondo, pois escuto o barulho das ondas. É então que começo a correr naquela direção. Desesperada para ver o oceano mais uma vez. Logo depois quando tiro folhas gigantes da minha frente, tenho a visão mais perfeita do mundo.

O oceano estava bem a minha frente. Com rochas por toda a parte, dando uma impressão maravilhosa do lugar. Gaivotas voavam por ali, e o sol parecia até mais radiante daquele lado.

Tento agarrar a mão de Jev, quando percebo que aquilo não era possível. Acabo agarrando ao vento. De repente a realidade bate no meu peito… Jev não estava ali para ver aquela vista maravilhosa. Na verdade, ele não iria ver vista nenhuma.

Aquilo me dói tanto, que lágrimas surgem do nada. Tento seca-las quando percebo Meeh ao meu lado, mas é tarde demais.

— Ele deve estar vendo isso com você Rosy… Não fique assim. — Ela afaga meu braço.

Peter sai do meio da floresta, e corre desajeitado até nós. Fazendo areia voar por toda parte. Ele para e observa o lugar, realmente maravilhado.

— Não temos mais tempo a perder, vamos fazer uma fogueira.

Ficamos naquela praia olhando a paisagem até tarde, comendo o resto do esquilo que tinha esquentado mais uma vez. A fogueira nos aquecia bem mais do que nossos casacos. Pois naquele lugar poderíamos deixa-la durante a noite toda. Já que provavelmente nenhum tributo tinha ido até ali.

O anoitecer tinha chegado. A lua já estava brilhando no céu, quando comecei a me preocupar com o sorteio dos tributos mortos. O sorteio deveria acontecer dali a poucos minutos, quando escuto um barulho no meio das folhas.

Me levanto em um salto, mirando uma flecha presa na linha naquela direção. Não sabia quem estava por ali, pois a escuridão atrapalhava minha visão. Meeh já estava a posto do meu lado, com o tridente a mão. Enquanto Peter permanecia atrás de mim, ansiando para poder ajudar.

Estou prestes a me sentar de novo, quando percebo um brilho mortal no meio das folhas. O brilho da ponta de uma flecha, sendo iluminada pela luz da lua.

— Corram!

Nesse exato momento em que me mexo, uma flecha passa do lado do meu rosto. Fazendo um corte perto do olho direito. Sem pensar duas vezes, atiro uma flecha naquela direção enquanto corro pela areia. Sinceramente, não é uma coisa muito fácil de se fazer.

Escuto um gemido de dor, e aquilo é o bastante para me fazer correr mais ainda em direção a beira da floresta.

Shanni e Zaccy tinham nos seguido até ali, com certeza. Então aquela vadia queria mesmo acabar com a minha vida. Ótimo, não via a hora de dar de cara com ela.

Ainda estamos correndo, querendo sair daquela floresta tropical, quando o céu se ilumina. Nenhum tributo tinha sido morto naquele dia. E então rapidamente o sorteio dos tributos mortos começa. Vejo de relance as fotos passando rapidamente. Até que por alguma ironia do meu maldito destino, a foto de Jev começa a piscar no céu.

Eu já sabia exatamente o que iria acontecer.

— Subam em alguma árvore! — Grito.

Meeh desvia seu caminho e some com habilidade em um grande coqueito envergado para o lado. As frestas que existiam naquela palmeira permitia que subíssemos rapidamente. Eu tinha escalado rapidamente em um, enquanto observava aflita Peter subir lerdamente um coqueiro velho.

Olho para baixo e, vejo Shanni correndo freneticamente, subindo em uma árvore a frente da minha. Seus olhos mortais grudados aos meus. Vindo correndo ofegante logo depois, vem Zaccy. Que tem ferimento de flecha no braço esquerdo. Então eu tinha acertado ele. O garoto me observa por um instante, até fixar seus olhos em Peter. Ele deve ter visto o panico nos meus olhos quando observa Peter, pois ele da um sorriso malvado.

Zaccy ergue uma longa lança, e mira na direção do pequeno Peter que está em cima do coqueiro. Quando o garoto lança a arma mortal, nesse exato momento ergue uma onda gigantesca. Uma inundação por toda a arena.

Aquela onda atinge Zaccy me cheio, e logo ele se perde naquele mar. Escuto o barulho aflito de algo caindo na água. Quando me viro, vejo que Meeh ainda está ali. Só que olha agoniada na direção do coqueiro de Peter.

Me viro e sinto o desespero. O menino não estava mais lá. Deveria ter caído na água.

— PETER! PETER! — Grito freneticamente.

O garoto não emerge em lugar algum. E parecia que quanto mais eu gritava, mais a correnteza aumentava. Até que uma das piores noticias se confirma. A foto de Zaccy brilha do céu. Ele estava morto. E junto com ele, Peter. Com seu rostinho pequeno, brilhando pela primeira e ultima vez no céu na arena.

Escuto Shanni ri. E aquilo é o bastante para me tirar do sério.

— Cala a boca sua vadia estúpida! — Grito, quase fazendo meus pés se desprenderem no coqueiro.

Shanni se vira para mim, ainda com um sorriso perverso no rosto. O cabelo negro pendendo pelo rosto, dando uma impressão ameaçadora que me faz ter medo por alguns segundos.

E antes que possa reagir, ela lança uma de suas flechas com a mão na minha direção. A flecha atinge minha mão, e perdendo o equilíbrio, caio no meio de toda aquela inundação. Sentindo a água do mar entrando pela minha boca, e a correnteza me puxando para longe. Escuto o grito desesperado de Meeh, e o riso enlouquecido de Shanni. Num instante tendo me livrar de toda aquela água que parecia me puxar para baixo. Só que não tinha mais forças.

Vi minha vida passar por meus olhos, e então a água toma minha visão. Toma talvez, minha vida.