Na Toca Da Raposa escrita por Nyuu


Capítulo 3
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos reviews, espero que continuem gostando.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/222532/chapter/3

Não me lembro de muita coisa com clareza, porque depois que ouvi meu nome e subi no palco, foi como se minha audição tivesse sido desligada. Notei que um menino subiu depois de mim e ficamos parados encarando a multidão enquanto uma mulher no meio de nós dois falava algo ao microfone. Eu via seus lábios se mexendo, mas só ouvia silêncio. Olhei no rosto dos moradores. Muitos olhavam para mim de volta, outros olhavam para o menino , alguns pareciam estar distantes e outros simplesmente olhavam para outra direção, como se olhar para o palco doesse demais e eles não conseguissem aguentar.

A mulher finalmente parou de falar e foi como se minha audição tivesse sido ligada de novo, com uma sensibilidade muito maior, pois eu conseguia ouvir cada respiração, cada batimento cardíaco naquela praça.

- Andem, apertem as mãos! – a mulher disse.

Então eu percebi que estava de boa aberta ainda fitando a multidão, e que o menino estava olhando diretamente para mim, tentando manter a expressão forte, mas pude notar que havia lágrimas em seus olhos, que não tinham permissão para cair. Ele era alto, relativamente forte, com olhos, cabelos e sobrancelhas bem pretos. Era bem moreno, o que contrastava com a alvura do meu corpo. Ele estendeu a mão e eu estendi a minha também. Demos um rápido aperto e soltamos. Eu não tinha interesse em manter relações com ele, nem como amigos, nem como aliados. A única relação entre nós era a mesma procedência.

Despedi-me de meus pais e meu irmão rapidamente numa salinha no prédio da justiça. Eles me abraçaram e disseram que acreditavam na minha chance de vencer. Meus pais não pareciam muito seguros do que estavam falando. Mas meu irmão sim. Ele olhou nos meus olhos e disse:

- Você não terá nenhuma chance de lutar corpo a corpo com nenhum deles. Mantenha distância dos outros tributos, principalmente dos carreiristas. Você não precisa lutar. Seja mais esperta que eles. Seja mais rápida, seja mais ágil. Seja invisível e imprevisível. Seja uma sombra, não perca nada. Mas não deixe que lhe vejam por perto. Você tem chances, irmãzinha. Eu acredito em você. Boa sorte. E volte viva.

Depois que todos saíram da sala, fiquei alguns minutos a mais sentada no sofá. Ninguém mais veria me ver. Eu não tinha nenhum amigo além do meu irmão. Ele me ensinou tudo o que eu sabia e eu devia ser eternamente grata a ele. Ele foi o único amigo que eu tive em toda a minha vida e desempenhou esse papel muito bem. Eu não tinha nenhuma grande aspiração. Não tinha nenhuma causa para defender que precisasse de mim viva. Mas eu não iria aos Jogos para simplesmente deitar e esperar a morte. Se eu quisesse algum motivo para sobreviver e ganhar, esse motivo seria meu irmão. Eu venceria por ele.

Fui conduzida à estação de trem e lá tive um último vislumbre do meu irmão. Corri até ele e o abracei com força. Ele retribuiu com o carinho que sempre teve comigo. Então eu disse:

- Eu vou vencer. Vou vencer por você. É uma promessa.

- Então a cumpra. - ele disse - Cumpra e me deixe orgulhoso.

Embarquei então no trem rumo a Capital. De dentro do vagão, acenei para ele. Foi a última vez que o vi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!