– O que?! – Pulei da cadeira e gritei a plenos pulmões. – Isso não é possível! Meu pai não existe. Ele é um cara que engravidou a minha mãe e saiu fora. E eu não conheço nenhum Jordan Richards. – Respondi meio gritado, atropelando as palavras enquanto olhava para Robert.

– Victoria, acalme-se. – Ele se levantou e aproximou-se de mim, segurando meus ombros.

– Me acalmar? Como? Um cara desconhecido te ligou dizendo ser meu pai! – Gritei novamente.

– Victoria, se acalme. Ouça-me. – Robert pediu novamente, sem alterar nem um pouco a voz. Minha vontade era sair correndo dali, mas respirei fundo. Eu precisava saber dessa história direito.

– Ok. Ok. Tudo bem. – Respirei fundo umas três vezes e me sentei novamente. – Mas é só um cara dizendo ser meu pai! Como vocês podem ter tanta certeza?

– Ninguém tem certeza de nada ainda, minha querida. Mas as informações que ele nos deu coincidiram com alguns fatos. E o exame de DNA foi marcado.

– E por que ninguém me avisou nada? – Perguntei.

– Bom, se você estivesse em casa, talvez seria possível. Mas você foi dormir na casa de Madison, não? – Ele perguntou e eu assenti. – E além disso, tudo aconteceu faz pouquíssimo tempo.

– Compreendo. Mas onde está esse tal de Jordan? – Perguntei.

– Só um minuto. – Robert pediu e levantou-se, saindo da sala. Comecei a brincar com as minhas unhas e alguns outros objetos da mesa, como uma pequena bandeira dos Estados Unidos.

Ouvi a porta se abrir e me virei, vendo um homem de no máximo 40 anos e cabelos grisalhos. Ele usava uma roupa social, era magro e tinha um sorriso meio... indefinido no rosto. Não era daqueles que te dá nojo só de olhar, mas também não era do tipo simpático que te dá vontade de sorrir junto. Tentei não o encarar muito fixamente, mas ele parecia ter algo familiar para mim.

– Olá, Victoria. – Sua voz ecoou nos meus ouvidos.

Sorri para ele numa tentativa de simpatia, mas ficou mais parecido com uma careta.

– Oi. – Respondi simplesmente.

– Imagino que Robert tenha lhe explicado o que houve. – Ele continuou e eu assenti.

– Sim, ele me explicou. – Respondi com desinteresse. Ou pelo menos tentando demonstrar isso, já que por dentro o que mais havia em mim era a preocupação.

– Você não está feliz em ver seu pai? – O tal Jordan perguntou-me.

– Não sei. É estranho, afinal, depois que minha mãe morreu e não localizaram meu pai, comecei a realmente acreditar que ele não existisse. –Ironizei e ele riu.

– Você é engraçada.

– Hm... legal. – Respondi. Aquilo estava me irritando.

– Victoria, a diretora já lhe liberou, assim como os outros professores. Precisamos que você venha para o teste de DNA. – Robert falou, cortando o clima tenso que havia se formado.

– Tudo bem. Mas eu posso pegar meus materiais? – Pedi.

– Claro, lhe daremos vinte minutos, e depois disso, você deverá estar nas escadas da frente do colégio. – Dessa vez foi Jordan que respondeu e isso me irritou. Eu havia perguntado a Robert.

– Ok. – Assenti. – Com licença.

Saí da sala e comecei a correr para fora daquela sala, deixando as lágrimas rolarem por meu rosto de vez.

Os corredores ainda estavam vazios, e eu agradeci por isso enquanto corria para o banheiro. Até que esbarrei em uma pessoa.

– Vick? – Era Madison. – Vick, tá tudo bem? O que houve? – Ela perguntou-me assim que eu levantei o rosto.

Apenas a abracei e apoiei meu rosto na curva do seu pescoço, deixando as lágrimas caírem em torrentes. Ela me puxou até um banco do corredor e nós nos sentamos ali, eu ainda chorando, abraçada a ela e ela secando minhas lágrimas.

– Ok, agora diz. O que houve?

Contei o que havia acontecido para ela, que levou as duas mãos à boca em surpresa.

– Meu Deus! E agora?

– E Agora eu não sei, Maddy! Mas se esse tal Jordan for meu pai mesmo, ele tem todo o direito sobre mim. – Respondi com a voz embargada, segurando-me para não chorar mais. – E pode fazer o que quiser, inclusive me tirar de Fort Lauderdale e me levar pra cidade que ele mora, seja lá qual for! – Joguei as mãos para cima e deixei-as caírem no meu colo. – E Robert nem pode falar um “a”, já que ele tem minha guarda apenas pois eu não tenho mais nenhum familiar. – Dei de ombros.

Maddy arregalou os olhos mas não falou nada. Apenas abraçou-me. E assim ficamos.

– O que houve? – A voz de Sean interrompeu-nos. O corredor, antes vazio, agora estava cheio de alunos andando de um lado para o outro. Soltei-me de Maddy e sequei mais uma vez o rosto.

Eu sabia que não conseguiria falar, então olhei para Maddy.

– Um cara que diz ser o pai dela queria falar com ela lá na diretoria. E se for mesmo, corre o risco dele levar ela para longe de Fort Lauderdale. – Madison respondeu.

– Oh, isso é mal. – Acho que era Louie.

– Muito mal. – Sean.

– Isso é péssimo, gente! – Madison se levantou e eu fiz o mesmo.

– O que a gente vai fazer? – Kori.

– Vocês, nada. – Falei. - Eu sim. Tenho... – Olhei meu celular. – Dez minutos para pegar minha bolsa e ir encontrar os dois lá fora para ir fazer o teste de DNA. E depois disso, eu resolvo. – Completei.

– Mas Vick... e se ele sei lá... não aceitar? Se ele quiser te tirar daqui? – addy perguntou.

– Eu vou dar um jeito, meu amor. Não se preocupe. – Acariciei o rosto dela e dei um delicado selinho em seus lábios antes que víssemos a diretora chegar perto de nós.

– Victoria, eu já sei de sua situação, então pode ficar. – Ela disse-me. – E vocês... – Olhou para os quatro á nossa frente. – Entendo que estejam preocupados com sua amiga, mas peço que dirijam-se para suas salas.

Maddy abraçou-me novamente, sussurrando um “boa sorte” em meu ouvido antes de seguir Kori, Louie e Sean pelo corredor quase vazio.

Segui para o meu armário, tirando de lá minha bolsa e o que mais eu precisaria. Fui até o banheiro e lavei o rosto. Respirei fundo e segui para a saída da escola, dando de cara com um Camaro prata.

...

Hospitais sempre me incomodaram. E qualquer coisa relacionada a eles também. Em especial a clínica que eu estava naquele momento.

O branco das paredes, mesas, balcão, chão e cadeiras fazia minha cabeça girar, e aquele cheiro típico de hospitais me enjoava. Robert estava a minha esquerda, e Jordan a minha direita, e se não fossem os fones nos meus ouvidos, os sons já estariam me desesperando. Eu batia os pés no chão no ritmo da música para tentar liberar um pouco da ansiedade.

– Jordan Richards e Victoria Mitchell! – Uma mulher chamou e nós três nos levantamos. – Acompanhem-me. Apenas os dois. – Ela fixou Robert e ele sentou-se novamente. Eu e Jordan começamos a caminhar para dentro do corredor que levava a salas igualmente brancas.

Logo apareceu uma moça loira que acompanhou-me até uma das salas, enquanto Jordan ia com a primeira para outra.

A moça sorriu e me cumprimentou antes de fazer algumas perguntas básicas que eu respondi rapidamente. Depois ela me pediu para sentar em uma cadeira em frente a uma mesa igualmente branca. Ela sentou-se do outro lado e começou a fazer os procedimentos para a retirada do sangue em meu braço.

Eu não tinha nenhum problema com sangue, por isso observei sem maiores problemas o líquido vermelho sair da minha veia e ir direto para a seringa.

Até minha mente começar a lembrar-me o motivo para fazer aquilo. E com isso meu estômago deu um pulo. Senti-o se embrulhar e a ânsia de vômito veio com tudo.

Tentei me concentrar na mão habilidosa que retirava a agulha do meu braço e colocava um adesivo circular no lugar, mas não deu muito certo.

– Por favor, onde é o banheiro?