Tricks of Fate escrita por Sali


Capítulo 16
"Todos olhavam para mim com choque no olhar."


Notas iniciais do capítulo

~~~~~~~~ISSO NÃO É UM CAPÍTULO NOVO!~~~~~~~~
A fic desconfigurou!
Os capítulos 14, 15 e 16 apagaram-se sozinhos, e eu só percebi agora! Então tenho que respostar TUDO ISSO!
Por favor, vei, não me matem! A culpa não foi minha, foi toda do nyah! T^T
Mas é isso. Cá está o terceiro e último capítulo repostado: Capítulo 15.



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O alarme do meu celular tocou, apontando que já eram seis e quarenta. Às sete o ônibus estaria ali.

Levantei-me ainda sonolenta da cama e praticamente me arrastei até o banheiro. Tirei a calça e o top que eu usava como pijama e tomei um banho rápido.

Voltei para o quarto ainda enrolada na toalha e peguei sobre a pilha de livros um livreto entitulado “Manual do Aluno”. Lá haviam algumas determinações sobre o horário de entrada e saída da escola, proibições e uma parte sobre o uniforme obrigatório.

Eu havia experimentado o uniforme no dia anterior, e não estava nem um pouco animada de vestir aquilo, mas as opções não eram muitas. Deixei o manual sobre a escrivaninha e peguei a pilha de roupas que estava ali.

Joguei a toalha sobre uma cadeira e vesti um par de roupa íntima. Peguei uma saia xadrez vermelha e vesti-a, vendo que ficava pouco acima dos joelhos, e servia perfeitamente em mim. Coloquei a camiseta branca – com o símbolo e nome da escola bordados num bolso sobre o seio esquerdo – e vi que ela era um pouco mais longa e cobria o início da saia, mas mesmo assim não deixava de delinear minha cintura. Havia também um tipo de paletó vermelho, mas estava muito quente para se vestir aquilo.

Calcei também um par de tênis da marca Vans, já que segundo o manual, a escola permitia qualquer calçado. Coloquei os livros na bolsa e saí do quarto.

– Bom dia, Victoria! – Jordan disse-me assim que me viu. Ele tinha uma xícara de café em uma mão e o jornal do dia no outro.

– Bom dia. – Sibilei.

– Já vai para a escola? – Ele perguntou.

– Não… estou indo andar de skate. Sabia que uniforme de escola é super confortável para isso? – Não perdi a oportunidade de ironizar e o vi sorrir como sempre fazia.

Desisti de tomar qualquer café da manhã, então simplesmente saí de casa.

Dei três ou quatro passos na calçada antes de ver Yuri saindo de sua casa ao lado de uma garota. Ela tinha os olhos amendoados, mas tão negros quanto os dele. Seus cabelos eram igualmente escuros, e caíam lisos pelas costas e em uma franja rente ás sobrancelhas. Sua pele também era morena, mas ela era um pouco mais baixa que Yuri e tinha feições delicadas. Definitivamente a garota era muito bonita.

– Ei, Victoria! – Yuri me cumprimentou e eu sorri levemente.

– Olá, Yuri. – Acenei com a cabeça para os dois.

– Essa é a Sienna, minha irmã. – Ele indicou a garota e eu sorri. – E essa é a Victoria, que eu te falei ontem.

– Prazer. – A cumprimentei educadamente com um sorriso que ela retribuiu.

Só naquele momento percebi que Yuri vestia uma calça social preta, camiseta branca como a minha e um par de tênis pretos. Já Sienna vestia um uniforme quase igual ao meu, tendo como únicas diferenças o comprimento da saia – a dela chegava ao joelho – e os sapatos, já que nos pés ela usava um par de sapatilhas vermelhas com cor-de-rosa, que combinavam com o uniforme.

Nós três começamos a conversar enquanto esperávamos o ônibus, e ali eu descobri que Sienna tinha a minha idade, e era apenas um ano mais nova que Yuri. Eles viviam com a mãe, já que o pai falecera pouco antes do nascimento da menina.

Os irmãos também me contaram que a avó paterna deles era brasileira, e por isso eles falavam português e espanhol além do inglês.

Conversamos até quando o ônibus amarelo finalmente chegou.

Ao entrarmos, boa parte das conversas cessou, e os olhares se voltaram para nós. E continuaram mesmo quando Sienna sentou com duas garotas e Yuri tomou o lugar ao lado de um garoto.

Logo o silêncio foi tomado por um burburinho alto o bastante para que o motorista reclamasse um pouco. E tudo isso enquanto eu andava pelo ônibus atrás de um assento livre.

Acabei por ficar ao lado de um menino de cabelos encaracolados e sardas alaranjadas no nariz. Ele abriu um sorriso metálico assim que me sentei ali.

– Olá! Você é nova no HA né? Veio de onde? É daqui de Miami mesmo? Qual é o seu nome?

Fiquei meio atordoada com tantas perguntas, mas soltei uma risada baixa e me preparei para respondê-las.

– Victoria. E eu sou nova sim. Vim de Fort Lauderdale.

– Hm… Mas e esse seu sotaque inglês? Você não nasceu em Lauderdale né?

Eu ri.

– Na verdade não. Até os onze eu vivi em Liverpool. – Dei de ombros.

– Entendi. – Ele sorriu de novo antes de despejar sobre mim mais uma série de perguntas.

Assim que o ônibus chegou à Haymitch Abernathy, os alunos começaram a sair e se misturar com os demais. E logo eu não conseguia mais ver Yuri, Sienna ou o garoto sardento.

Desisti de procurá-los e comecei a caminhar pelo gramado, observando a construção de paredes de tijolo.

– Olá! – Me sobressaltei ao ouvir uma voz feminina bem perto de mim.

–Oi. – Sorri ao cumprimentar a menina de cabelos loiros e cacheados, olhos verdes bem delineados e um sorriso radiante.

– Eu sou Caitlin, da Comissão de Boas Vindas da HA. Pode me chamar de Cait, se preferir. Qual é o seu nome?

– Victoria. – Respondi simplesmente.

– De onde você veio, Victoria?

– Lauderdale. Eu morava lá.

– Mas não é aqui dos EUA, é?

– Não. Nasci em Londres e vivi em Liverpool. Vim para a Flórida há cinco…

Fui interrompida por uma voz masculina chamando o apelido de Caitlin. A voz veio acompanhada por um garoto de óculos retangulares, que pulou ao lado dela e deu um “oi” rápido antes de tirar uma foto tão rápida quanto o cumprimento de mim.

– Essa é a Victoria. Aluna nova, veio de Lauderdale. – Caitlin apresentou-me. – Esse é Henry. Ele cuida do jornal da escola.

Dei um “oi” tão rápido quanto o dele.

– Victoria? Certo. Vai para o jornal.

Arqueei uma sobrancelha.

– Como assim?

Caitlin riu.

– Relaxa, ele não vai te colocar no jornal da escola se você não quiser. – esse momento o tal Henry já tinha se afastado.

– Ok… Mas por que ele tirou uma foto minha?

– Provavelmente te achou bonita. – Ela deu de ombros e eu ri pelo nariz.

– Ok então.

– Mas como falávamos… Por que atravessou o Atlântico e veio parar logo aqui, tão perto do Equador?

– Minha mãe faleceu nessa época.

Enquanto conversávamos Caitlin me mostrava as áreas da escola. O pátio, os corredores quase vazios de alunos, as salas, a diretoria, enfermaria e secretaria, caso precisasse.

– Ah… Sinto muito.

– Obrigada.

Passávamos pelo refeitório, dando a volta para chegarmos novamente à entrada quando ela me fez a pergunta padrão entre os adolescentes.

– E aí, Victoria. Tá namorando?

Meu olhar foi direto para o chão e eu percebi que as botas pretas de salto que ela usava me faziam lembrar o grupo mexicano Rebeldes.

– Sim. Com alguns quilômetros de distância na verdade, mas sim.

– Ele ficou em Lauderdale?

– Sim, Madison ficou. – Dei de ombros.

– Mas… Esse é um nome feminino!

Estávamos de volta ao gramado, que agora estava apinhado de gente.

– Eu sei. – Respondi simplesmente e ouvi o sinal tocar.

Deixei Caitlin sozinha e acompanhei a massa que adentrava o pátio e se espalhava pelos corredores.

Enquanto caminhava, comecei a observar os alunos. Todos com o uniforme do colégio, conversavam enquanto mexiam em seus armários.

A maioria das garotas usava muitos acessórios e tinha os botões da gola da camiseta abertos, deixando visível um pouco do decote. Nos pés, apenas sapatos, botas e sandálias de salto altíssimo, e por um segundo eu realmente acreditei que era alguma regra. As que não se vestiam assim, ou usavam tênis esportivos e óculos fundo de garrafa, e eram denominadas “nerds” pelas outras ou eram do estilo de Sienna, mas pela minha observação, esse último grupo não poderia passar de 2% do contingente feminino dali.

A mesma divisão acontecia entre os garotos. Os que não eram esportistas ou simplesmente “sarados”, eram os tímidos e estudiosos “nerds”.

Ao ver aquilo, não deixei de pensar em Esparta da Grécia antiga.

Outra coisa que percebi era que não havia meio termo. Não havia ninguém neutro.

Tive uma leve visualização do inferno.


Passos normais pelo corredor. Eu definitivamente me sentia em uma passarela de moda. As meninas me olhavam com raiva, e ao ver os garotos ao seu lado, era fácil entender por que. Eles não tiravam os olhos da minha direção.

E eu queria apenas ficar invisível entre tanta gente.

Ou se não estar de volta á Fort Lauderdale, na antiga escola, com os professores, alunos, amigos e, principalmente, Madison. Com a nossa vida simples e sem preconceitos ou surpresas desagradáveis.

– E aí, gata. Você é nova aqui no HA, né? Qual é o seu nome? – E falando nisso…

Levantei os olhos e vi um garoto. Mas não era um garoto normal. Podia ser muito bem um dos gladiadores ou guerreiros da minha visão da antiga Esparta, de tão musculoso que era dentro da camiseta meio justa de uniforme. Ele era alto, tinha um rosto meio normal. Seus cabelos eram castanhos e curtos, os olhos verde-musgo e ele exalava um perfume meio enjoativo.

Não era nem bonito nem feio, ou pelo menos era aquilo que eu pensava. As meninas a nossa volta simplesmente não tiravam os olhos dele. Pareciam discordar.

– Sim, eu sou. E meu nome é Victoria. Com licença. – Respondi com secura e já estava pronta para me retirar quando ele ficou na minha frente.

– Nome legal. O meu é Heck. Hector, na verdade, mas não gosto muito desse nome. – Aqui ele riu e eu esbocei um sorriso muito discreto e falso.

– Mas você veio de onde, Victoria?

Naquele momento percebi que não conseguiria fugir dele, então decidi responder com frases curtas e diretas.

– Fort Lauderdale.

– Mas tem esse sotaque sexy. Não é do EUA, é?

–Liverpool.

– Bem longe… Mas isso fica em Londres?

Minha paciência estava se esgotando.

– Londres é uma cidade e Liverpool é outra. Na Inglaterra, caso não saiba.

– É, eu sabia disso. Mas quem se importa, não é? – Ele riu.

Eu não consegui saber se a minha ânsia de vômito veio do comentário ou do perfume, que entrou ainda mais no meu nariz quando ele se aproximou de mim. Recuei um passo.

– Creio que qualquer pessoa com um pouco mais de inteligência que você.

É, a paciência tinha acabado.

– Você é engraçada.

Aquilo me lembrou Jordan, e eu estremeci.

– Pô, Heck. Deixa a menina em paz! – A outra voz masculina me fez revirar os olhos. Era o quarto desconhecido que vinha falar comigo naquele dia. Um recorde.

– Quanta moral você tem, Nick. – Hector zombou e o tal Nick riu enquanto se aproximava.

Eu já planejava uma saída estratégica, prevendo a “brincadeira” de socos e tapas que os dois iam trocar logo, logo. Mas não deu muito certo.

– Oi! Seu nome é Victoria, né? – Assenti. – Prazer, Nicholas. Ou Nick, se preferir.

Ele estendeu a mão e eu apertei levemente.

– Como sabe meu nome, Nick? – Perguntei.

– Ouvi Cait falar. – Ele deu de ombros.

– Certo…

O sinal tocou, para o meu alívio.

– Com licença. – Murmurei e me afastei dos dois, seguindo a direção da sala que Caitlin me apontara, a do primeiro horário.

Me sentei em uma das cadeiras do lado direito. Não era tão no fundo, mas cumpria bem o meu desejo de não chamar muita atenção.

Uma pena que isso foi por água abaixo quando o professor entrou e me pediu para levantar e dizer meu nome e algo sobre mim. Ficou meio sem sentido.

– Meu nome é Victoria Mitchell, tenho 15 anos. Vim de Fort Lauderdale, mas nasci em Londres.

– Veja só, temos uma Inglesa na sala! – Ele comentou com entusiasmo e eu sorri levemente antes de me sentar. – Seja bem vinda, Victoria. Meu nome é Frank e eu sou professor de Filosofia.

Acenei positivamente com a cabeça e ele se voltou para a sala.

– Bom, alunos. O assunto da aula de hoje será o preconceito, suas formas e como ele afeta a sociedade. Por favor, quero quatro alunos para darem sua opinião sobre isso.

Três braços se levantaram.

– Certo. Fale você primeiro, Celine.

A garota de cabelo liso e platinado abaixou a mão e começou a falar.

– Para mim o preconceito é algo relativo. Tem diferenças entre alguém não gostar de um tipo de pessoa e ter preconceito com esse tipo.

Revirei os olhos.

– Ok. – O professor não demonstrou muita reação. – Pode falar, Ryan.

O garoto ao meu lado tomou a palavra.

– Eu discordo de Celine. Não dá para sabermos a personalidade de alguém só por ela estar dentro de algum estereótipo.

Sorri levemente.

– Muito bom, Ryan. Agora, Lively.

Uma menina de cabelo loiro-escuro chanel e sardas soltou a voz esganiçada.

– Acho que não, Ryan. Para mim é diferente. Vamos tomar por exemplo os “homossexuais”. Eles já mostram ser errados. Isso de “amar alguém do mesmo sexo” é apenas uma ilusão, não existe. Não é natural. E podemos ter um conceito formado sobre isso.

Foi tudo muito rápido. Em um minuto eu ouvia a tal Lively, e noutro eu estava de pé, as palavras saindo dos meus lábios.

– Isso não é verdade. Não é possível escolher quem amamos. E não há nada de errado nisso. Não é ilusão. Eu tenho certeza disso. E não tem como rotularmos alguém por quem ela ama. É como julgar pela roupa que alguém veste ou pelo corte de cabelo. Não tem como sentenciar alguém, dizer que essa pessoa é normal ou não, natural ou não.

Assim que terminei, apoiei as mãos na mesa. Elas tremiam, minha respiração estava irregular. Me sentei.

Todos os alunos, sem exceções, olhavam para mim com choque. Inclusive Lively, mas essa também tinha algo como despeito no olhar.

Sussurrei um “me desculpe” direcionado ao professor, esperando que ele me chamasse atenção ou me mandasse para a sala da diretoria.

O silêncio na sala demonstrava que eu não era a única a esperar por isso.

Mas o que aconteceu foi um pouco diferente.


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Notas finais do capítulo

Novamente, é isso.
Aguardem capítulos novos logo!