Eu e Maddy ficamos apenas abraçadas por algum tempo, até que ela levantou-se e me lembrou que devíamos falar aos meninos também.

– É verdade. – Gemi meio chateada.

Eu não queria ter que dar novamente essa notícia, mas não tinha opção.

Madison pareceu perceber isso, pois passou um braço sobre os meus ombros.

– Não se preocupe, amor. Eu estou aqui com você. – Ela disse e eu sorri. – E sempre estarei.

– Eu sei disso. – Respondi em um sussurro e nós nos beijamos novamente.

– Então... vamos ligar pra eles? – Ela perguntou depois que partimos o beijo. Eu assenti e nós duas ligamos para cada um deles, chamando-os para a praça.

Enquanto esperávamos, Madison apenas me abraçou, respeitando o silêncio que eu estabeleci. Minha garganta estava se fechando de novo, o medo e a dor me apossando.

As lágrimas que eu e Maddy derramamos já haviam secado, e eu não tinha mais vontade de chorar. Mas o sentimento de dor ainda estava lá, e aumentou assim que eu vi os rostos deles.

Kori, Tom, Sean, Louie, Amber… meus melhores amigos, os que haviam me apoiado em todos os momentos da minha vida, e agora eu tinha que me despedir deles.

Nos cumprimentamos normalmente, e eu tentei esconder toda a tristeza. Kori fez algumas piadas para arrancar-nos risos e eliminar a tensão que parecia emanar, mas logo todos se calaram me esperando falar.

– Gente, eu tenho que contar uma coisa para vocês. – Eu disse com uma voz meio formal, que fez que ninguém respondesse nada. – Bom... ontem eu discuti com Jordan e ele descobriu sobre eu e Maddy. – Comecei, vendo as expressões de todos ali.–- E hoje ele deu um comunicado...

Fechei os olhos por alguns minutos ao lembrar do que ele dissera mais cedo e senti um braço de Maddy em minha cintura. Eu temia não conseguir completar a frase, mas respirei fundo e o fiz.

– Ele vai me levar para Miami.

Eu mirei o rosto de cada um ali. Vi suas expressões chocadas, os olhos arregalados.

Amber foi a primeira a expressar reação, correndo para me abraçar com os olhos cheios de lágrimas. Abracei-a de volta e ela começou a me olhar, secando os olhos com as pontas dos dedos.

Os garotos também se aproximaram, me abraçando de forma desajeitada e dizendo palavras de carinho. Mas logo o clima pesado foi substituído por piadas e brincadeiras como sempre fazíamos, deixando-me um pouco menos deprimida e quando eu me dei conta, já estava escurecendo.

– Ai, já são oito e meia. É capaz de Jordan me encher ainda mais. – Comentei após checar o celular.

– Isso tudo já? Vou ter que ir embora! – Amber exclamou, olhando o próprio celular também.

– Eu te levo, então. – Louie disse a ela, abraçando sua cintura e rendendo algumas piadinhas dos garotos. Eu e Madison apenas rimos.

– Ok, então. – Amber sorriu. – Tchau, gente! – Ela se despediu de nós e se virou para mim. – Quando você vai?

– Ainda não sei. Mas tenho certeza que não vai demorar. – Dei de ombros.

– Ok. Mas nos avise, certo? – Ela disse me abraçando, eu assenti e a vi sair andando junto a Louie.

– Acho que já está na hora de ir também. – Tom comentou logo depois que eles saíram, esticando os braços e se espreguiçando. - Tchau aí aos que ficam! E avise mesmo, viu, Inglesa? - Ele sorriu para mim e bateu de leve no meu braço.

– Claro. – Sorri de volta e acenei positivamente com a cabeça, o vendo tomar o caminho para a Rua 6.

Kori e Sean também se despediram e saíram, deixando eu e Maddy sozinhas de novo.

Ela encostou-se em mim e eu a abracei. Toquei seu rosto com as duas mãos e a puxei para mim, tocando nossos lábios em um beijo onde estava contido todo o sentimento que fluía em nós.

O medo de partir, a saudade iminente, a tristeza da falta, a subjetividade do futuro, a insegurança da distância...

Uma lágrima inoportuna escapou do meu olho e Madison secou-a com o dedo.

Nos levantamos e começamos a andar de mãos dadas, com muita lentidão pela rua.

– Ah, eu queria ficar mais com você! – Madison reclamou.

– Eu também, meu amor. – Respondi. – Na verdade eu queria dormir com você. – Ela riu.

– Te amo muito, Vick. – Ela abriu um sorriso perfeito e colocou a mão sobre a minha bochecha, já estávamos na porta da sua casa.

– Eu também te amo demais, pequena. – Beijei sua testa e seus lábios. – chau.

– Tchau. – Ela desenhou um sorrisinho bem leve no rosto e entrou em casa.

Consegui ouvir um soluço do outro lado da porta antes de começar a caminhar para casa com um aperto no peito.

A rua não estava muito cheia. O solstício de inverno fez o sol sair mais cedo, e a maioria das pessoas já estava em suas casas.

Dessa forma, eu cheguei rapidamente ao prédio de Jordan.

Fiquei um pouco receosa de abrir a porta de entrada, mas ao o fazer, não encontrei Jordan, e sim Maise. Nós conversamos e eu expliquei-a o que havia acontecido.

Ela me deu um abraço forte, dizendo que sentiria saudades e eu correspondi-a, subindo para o meu quarto logo depois.

Tomei um banho rápido e deitei na cama, caindo em um sono leve.

...

Levei a mão ao criado mudo e peguei meu celular.

Eram uma e quinze da manhã, e eu simplesmente não conseguia pregar os olhos. Havia dormido no máximo por meia hora, e depois ficado rolando na cama. Dessa vez, nem os fones funcionaram.

Resignei-me e levantei da cama, acendendo a luz. Vesti um par de jeans, camiseta e casaco. Peguei as chaves do apartamento, desci as escadas da sala e saí.

Não tinha destino exato, só queria andar por aí, ver se conseguia pelo menos ter um pouco de sono.

Segui uma rua qualquer e percebi que estava indo em direção ao meu antigo bairro. Continuei andando, enquanto praticamente conseguia ouvir os meus próprios passos, até que algo me chamou a atenção.

Vozes e risadas de um grupo de garotos. Eles pareciam ter no máximo vinte e poucos anos, e estavam todos com garrafas cobertas por sacos marrons de papel.

A cada passo eu me aproximava mais deles, até conseguir ouvir suas palavras, direcionadas a mim.

– Olha lá, gente. É a menina que estava beijando uma outra na praça mais cedo! – Um exclamou indicando-me e eu gelei.

– Será que ela só gosta disso é? – O outro perguntou.

Eu vi que estava tremendo e apertei as mãos em punhos nos bolsos.

– Hey, garota! – Um deles me chamou mas eu ignorei.

– Ei, ei! A gente tá falando com você! – Um outro continuou de modo rude e eu ouvi seus passos atrás de mim.

Acelerei o passo e olhei discretamente para trás, vendo três deles me seguirem. Comecei a andar cada vez mais rápido.

Minhas mãos tremiam, meu coração estava acelerado. O medo começava a me invadir, e quando eu dei por mim já estava correndo.

Mais rápido, mais rápido. Eu os ouvia atrás de mim. Seus passos pesados e suas vozes.

Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, e eu ainda corria. Até que uma falha na calçada me venceu, deixando-me no chão.

Gemi ao sentir a dor forte na mão e no joelho, mostrando que eu havia ralado ali. Olhei para trás e os homens se aproximavam.

Apoiei-me no chão para levantar, mas assim que o fiz senti meu tornozelo dar um golpe de dor em meu sistema nervoso. Reprimi um grito e me levantei. A dor era forte, mas eu a tentei engolir e dei um passo.

E assim que o fiz, senti uma mão agarrar meu braço.