Estou Me Desligando escrita por Cassie V


Capítulo 2
História de vida




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Nunca se engane quando dizem que a primeira impressão é a que fica, sou o exemplo vivo de que isso é de verdade. Só de vista, eu já odiava metade da minha classe.

Assim que entrei na terceira sala de um corredor com dez (cinco de cada lado) me deparei com um caos. As garotas conversando alto com as outras sobre o último episódio de Gossip Girl e os garotos falando de como a loirinha mais peituda ficou bonita depois das férias. Havia apenas dois lugares vazios: Os dois primeiros na frente da mesa do professor. Sentei-me na primeira cadeira, ficava de frente para a janela que dava de vista para o jardim e o colégio todo.

Um garoto alto, provavelmente um atleta, com cabelos cor de bronze, olhos de caramelo e suponho, com um cérebro menor que uma azeitona passou por mim com alguns garotos e disse:

- Olha só o que temos aqui! Uma novata. O que vocês acham? - ele cutucou um garoto negro com o cotovelo enquanto ria.

Eu permanecia com o queixo sobre os cotovelos enquanto eles riam da minha falta de beleza óbvia. Estava com mais vontade de observar o pátio do que ouvi-los.

Senti um leve empurrão no meu braço, levantei os olhos e avistei um garoto que - tenho certeza -, acabara de chegar. Ele era magro, tinha a pele cor de mármore, com cabelos cor de carvão jogados para o lado caindo levemente sobre a face leitosa. Ele se virou pra mim meio sem jeito:

- Desculpe, eu estava passando para me sentar ao seu lado e minha mochila bateu no seu braço, né? - ele dizia enquanto sentava-se. Eu o encarei por alguns segundos e reparei que ele tinha lindos olhos cor de céu e lábios carnudos e avermelhados.

Ele era... A pessoa mais bonita que eu já tinha visto.

- Não, tudo bem. Foi só um empurrãozinho - eu sorri enquanto tentava esconder minha perplexibilidade diante dele.

- Apropósito, me chamo Victor - ele estendeu a mão. Eu a apertei e disse:

- Alice.

Eu tentei pensar rápido para criar algo interessante para falar, mas antes que eu abrisse a boca, fomos interrompidos pelo professor.

Ele entrou na sala com uma mochila nas costas e um papel em mãos. Sentou-se na mesa à minha frente. Eu o olhei por algum tempo enquanto ele tirava suas coisas da bolsa. Ele era magro, tinha cabelos lisos e bagunçados. Não soube definir a cor de seus olhos no início, mas depois percebi que eram castanho claro.

Quando me virei para pegar meus livros na bolsa, senti uma mão sobre a minha e imediatamente levei meu olhar até o rosto da pessoa dona daquela mão. Era meu professor. Ele me entregou uma folha de papel dobrada e uma fita adesiva:

- Você pode pendurar no mural pra mim?

Eu acenei com a cabeça, andei até o mural em branco no fundo da sala e abri o papel. Era um pôster da tabela periódica. Concluí de imediato, que ele seria meu novo professor de química. Prendi a tabela no mural, voltei, pus a fita adesiva na mesa dele e me sentei.

Ele sorriu e me agradeceu.

As três primeiras aulas foram normais. Conheci os professores de química, biologia e inglês. Eram simpáticos e inteligentes. Sempre me senti mais à vontade com pessoas mais velhas do que eu. Adolescentes me provocavam arrepios.

Assim que o sinal do intervalo tocou, Victor se virou pra mim e perguntou se poderia passar esse tempo comigo. Eu concordei, mas só consegui pensar: "Céus, o que ele viu em mim pra me querer por perto?"

Nós nos sentamos no fundo do palco e dividimos uns cookies orgânicos que eu havia levado. Conversamos sobre música e comida, até que ele perguntou:

- De onde você veio? Seu sotaque não é daqui.

- Sou de Minas Gerais.

- E qual sua história? - droga, ele fazia péssimas perguntas.

- Eu vim do interior de Minas, meu pai mora na França com outra família. Eu morava com minha mãe. Ela é dona do mercado que mais lucra naquela cidade. Agora moro com meus tios e minha prima aqui. Porque eu queria muito estudar em São Paulo.

- Você mantém contato com eles?

- Com a minha mãe, todos os dias. Às vezes falo com meu pai pela internet, mas não temos contato. Ele tem uma família e eu não quero atrapalhar isso.

Ele me encarou com um olhar meio triste, mas logo ficou radiante, ele sorriu. E aquele sorriso valeu todo o conforto que eu precisava naquela hora.

O sinal tocara e nós nos olhamos por alguns segundos até subirmos em silêncio para mais uma bateria de aulas.

Foi um dia cansativo, eu não estava acostumada com um colégio naquele ritmo. Victor me ajudou na maioria das vezes, me explicando coisas que eu não compreendia como a metodologia de ensino deles, que era muito mais avançada do que na minha antiga escola.

Assim que a última aula tinha terminado, eu estava meio decepcionada por ter que deixá-lo. Eu sentia uma vontade incrivelmente extraordinária de passar o resto do dia com ele. 


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