O ar de São Paulo parecia puro enquanto eu caminhava para dentro do meu novo colégio. A brisa gelada de uma manhã paulistana me arrepiava a espinha e eu podia sentir meus dentes quase se chocando.

Alice Machado, 16 anos. A aluna mais esperta, a caipira bonitona, a apaixonada por literatura que saiu do fim do mundo para estudar num dos melhores colégios de São Paulo.

Eu era tudo isso, mas o que eu era de verdade, poucos conheciam.

Lise bolotinha, 16 anos e 9 meses. A única neta de 9 homens, que nasceu num fim de mundo do interior de Minas Gerais chamado Lagamar (um lugar que eu odiava tanto quanto podia imaginar), aquela que bateu o pé para estudar em São Paulo principalmente para sair daquele buraco e que era motivo de chacota nas reuniões familiares por ter sido gordinha por toda a infância.

O mundo parecia mágico quando cheguei a São Paulo. Era natal e a cidade brilhava de um modo que eu nunca vira.

E agora, eu respiro fundo o ar gélido e ponho meu pé portão a dentro do Instituto Educacional Joaquim Pereira Neto. Logo de entrada você dava de cara com um jardim enorme e alguns bancos em torno dele, à esquerda havia um palco e um espaço cobertos. Atrás do palco havia uma quadra e à direita um prédio de dois andares com 20 salas distribuídas por piso.

Enquanto caminhava ao lado do jardim, todos os alunos do ensino médio me encaram com um ar de desconfiança. Eu andava a passos largos, com a cabeça baixa e uma raiva por estarem todos me olhando.

Nunca conseguiria me enturmar com aquelas meninas. Eu não era do tipo esguia, com cabelos lisos e brilhosos. Nunca fui do time de vôlei e não ia às festas por que não era convidada.

Confesso que tenho uma parcela de culpa nessa exclusão, eu sou ariana e arianos não batem ao entrarem, dizem tudo o que pensam sem se importar se estão agradando a maioria. Mas mesmo assim eu não era e nunca fui bonita o suficiente para me destacar na multidão. Eu tinha 1,63m, pesava 55kg, usava óculos, meu rosto não era perfeito e tampouco era simpática (ou falsa) todo o tempo. Então me diga você: Seria meu amigo se eu entrasse na sua vida do nada?

Após ter escolhido um banco no fundo do vasto pátio, sentei-me e joguei minha mochila no chão à minha frente. Fiquei observando cada rosto, cada pessoa que entrava pelo portão que estava a metros de mim. E tentava em vão, encontrar uma pessoa que talvez, eu pudesse confiar. Nada.

Por fim, o sinal da primeira aula tocara, eu respirei fundo, olhei uma última vez para o portão, pus a mochila nas costas e andei em direção as escadas do prédio.