Stole Your Love! escrita por MyLittleTime 3


Capítulo 1
Capítulo 1




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Prometi a mim mesmo que nunca mais me apaixonaria por alguém, depois do sofrimento que carreguei, a minha vida não foi a mesma, já não sentia nada e tudo me era negro. No lugar do coração existia uma rocha inquebrável que não permitia infiltrações, desde aquele dia a minha visão ficou turva e o meu corpo sem alma. Já não sou quem sou, e já não vivo como vivi, em tempos.

Desci para este mundo para esquecer tudo o que aconteceu e há anos que estou aqui, e quando digo anos, refiro-me aos que a morte consegue ceifar. Perdi tudo e ganhei o nada, com um único propósito de proteger alguém, em vez de proteger, levei à sua destruição e agora estou aqui a vadiar como um cão perdido à espera de dono, mas o meu dono desapareceu há séculos.

Estou no mundo em que os humanos são às centenas, e eu sou um deles. As pessoas vêem-me como um rapaz de vinte e um anos de idade, mas sabem lá elas que eu sou muito mais velho que o planeta onde se situam. Mudei-me para este lugar para esquecer o passado, mas as sombras encarregam-se de recordá-lo e então penso se se vale a pena continuar vivo ou então morrer de vez, a minha vida acabou no momento em que a vida dela acabou portanto sou mais um corpo oco do que outra coisa qualquer.

Odeio-me dos pés à cabeça e aquilo que sinto é pior do que qualquer pessoa que recebeu, outrora, traição e das grandes. Tudo o que vejo tem uma cor cinzento-escura mas quando a raiva apodera-se de mim torna-se negro e o céu em vez de azul fica preto.

Tamanha crueldade pregou-se-me nas costas e parece um abismo contínuo. Cada recordação dela seja os olhos ou boca ou de nos termos conhecido ou seja lá o que for aumenta este poço, dando-me o desejo de mergulhar sobre ele até alcançar o fim, o problema é que nem o poço me aceita, o que me obriga a carregar a fatalidade que criei. Às vezes penso «porque é que os malditos dos meus pais me deram à luz» mas o meu subconsciente interfere-se dizendo «o mal está feito e não podes remediar».

Vivo neste mundo como escritor e nos tempos livres pinto paisagens, paisagens pessimistas como diz a minha editora e então digo-lhe «quando uma pessoa é pessimista não pinta passarinhos a voar num céu azul» sim porque a pessoa que sou não vê passarinhos, nem grandes nem pequenos, mas sim sombras e vultos assombrais, mas chega de rodeios, falarei sobre o meu passado apesar de tentar evitá-lo ao máximo.

Tudo começou em Loäre a minha terra natal, um lugar onde todas as criaturas partilhavam a sua presença, era repleto de cores e sentimentos inalcançáveis no mundo humano. Existiam animais encantados como nos contos de fadas excepto unicórnios, e o sítio em si era controlado pela Mãe-Natureza portanto em todo o lado existiam árvores, flores e arbustos com abundância de vida, ao contrário deste planeta que tem uma Natureza tão podre quanto o meu corpo. Loäre era habitada por uma população antiga proveniente de guardiães, qualquer ser que nascesse seja animal ou pessoa era um guardião fosse qual fosse a matéria em questão. Era governada por um chefe, um chefe forte e poderoso, teria de ser o guardião ou guardiã mais forte para governar e ser considerado ou considerada chefe. Com ele existem três ajudantes, digamos que são os braços direitos do líder, consideravam as opiniões do povo e trocavam ideias entre si para depois, mais tarde, serem transmitidas ao superior. O chefe de Loäre era eu, Liamede Sarovit Vernest IV, mas todos me tratavam por Liam, porque tinha o hábito de dizer que este nome me tornava num homem mais velho. Mas quem me baptizara assim foi a mulher que mais desejei ter, mas que no final morreu nos meus braços.

Estava em missão com os meus três fiéis colegas e amigos Petrefic, Lorak e Tgge. Como rei tinha o dever de explorar novas terras e expandir o meu reino, mas mal eu sabia que a minha ganância custaria um preço bastante elevado.

  -Liamede, o que estás a fazer? – Perguntou Lorak.

  -O dever de um rei, não é o que tu dizes? – Respondi-lhe.

  -Sim, Meu Líder, mas esta terra não é habitada por Sárfias?

  -Talvez sim…ou talvez não. Como ainda não vi nenhuma é impossível dizer se vivem aqui, não achas, Tgge?

  -Concordo perfeitamente, Liamede.

  -Tenho a mesma opinião. – Ripostou Petrefic.

  -Vês és o único que está preocupado, Lorak. – Afirmei.

  -Se vocês pensam dessa maneira não vou contrariar.

  -Assim é que se fala, meu bom homem. – Sorri.

Tínhamos atravessado vastas florestas e despertado a curiosidade a numerosas criaturas animalescas. Realmente era um lugar mágico o que possibilitava a existência de Sárfias, o que era um grave problema para nós. Na conquista aos territórios considerava-mos uma única lei: se o território tiver ocupado por seres que vagueiam em duas patas, então não será reclamado como nosso. Era uma lei obedecida por todos os líderes, desde os mais novos aos mais velhos, dos mais bondosos aos mais gananciosos, ninguém desobedecia à lei explícita pela Mãe-Natureza, se não era aplicada a morte imediata.

Continuamos a nossa busca quando ouvimos sons desconhecidos e alertantes, escondemo-nos por entre os arbustos e inspeccionamos. Estavam duas mulheres a colherem frutos, uma de estatura média e a outra um pouco mais alta, estavam a falar uma com a outra e a acariciar o focinho de veados. Ambas tinham vestido um manto que lhes tapava o corpo, escondendo as suas cabeças com o carapuço, estavam alegres pois ouviam-se risadas no ar. A menina de estatura média projectou a sua mão para apanhar o fruto que se situava num ramo mais alto, ao pôr-se de bicos de pés o carapuço escorregou e revelou um cabelo ruivo cor do crepúsculo, e a sua pele cor de neve, assustada ergueu as mãos para agarrar no gorro virando-se e foi nesse instante que pude ver os olhos dela, eram verdes claros, tinham uma cor ancestral e calculei que seria uma Sárfia.

Surgiu-me à cabeça um pensamento: «esquece já a ideia de mandares neste lugar» e como se me tivesse lido a mente, a menina fixou os seus olhos nos meus, arregalando-os e de seguida sorriu-me. Fiquei estupefacto pensei que iria avisar ­que alguém estava a expiá-las mas não disse uma única palavra, habilitou-se a apanhar frutos como outrora fez.

  -Estás a ver aquilo, Liamede? São Sárfias. – Disse Petrefic.

  -Parece que sim…

Estava espantado com a beleza infinita destes seres, eram mulheres diferentes daquelas que via, tinham uma grande fonte de poder que transbordava o corpo e os olhos encantavam até ao âmago os homens. Mas havia algo diferente naquela Sárfia, as Sárfias normais geralmente têm cabelo loiro e os olhos azuis, a pele era pálida mas bela, mas esta rapariga era diferente. A sua aparência era totalmente diferente às das outras, tinha um cabelo ruivo comprido, os olhos, pelo que vi, eram verdes-esmeralda e à semelhança das outras Sárfias, esta tinha uma pele branca o que dava a sensação de pureza quando tocada.

  -Estás a ver aquela? – Perguntou Tgge. – É diferente, não acham?

  -Sim. Não tem nada a ver com aquela que está ao seu lado, excepto a pele que é pálida à mesma. – Replicou Lorak.

  -É estranha, mas bonita à mesma. Até acho que seja mais bonita que a Sárfia que está ao lado. – Opinou Petrefic.

  -O que é que achas, Meu Senhor? – Perguntou Lorak.

A única coisa que achava, ou melhor, que desejava era falar com aquela criança. Não devia de ter pouco mais de mil anos, o que neste mundo equivale a quinze, ou seja, era nova de mais para mim mas como não tinha segundas intenções não dei importância. Queria conhece-la, queria saber mais sobre a sua espécie, não haveria problema nenhum, pois não? Foi o que eu pensei, mas a ganância levou-me aos extremos e se eu soubesse do que iria acontecer, ficaria solitário como um monstro.

  -Quero conhecê-la. A menina. – Informei.

  -O quê? – Disseram os três ajudantes em uníssono.

  -O que foi? Um homem não tem direito de conhecer uma mulher?

  -Ter tem, mas queres conhecer alguém daquela idade? Se ainda fosse a mulher que está ao lado dela, perceberia, mas agora a miúda? Ou estás com falta de mulheres a dormir ao teu lado, ou então mudaste de gosto e na minha opinião foram os piores. – Disse Tgge.

  -Não me interessa se os teus gostos são melhores ou piores que os meus, nem quero saber da tua opinião, se tiver o direito de conhece-la, conheço-a e ponto final. – Ripostei.

  -Concordo com a Vossa Alteza, mas conhecer uma criança? – Perguntou Petrefic.

  -Já chega! Eu conheço as mulheres que quero, sem objecção.

  -Quem está ai? – Perguntou a mulher Sárfia.

  -Estamos feitos. – Praguejou, Lorak.

Erguemo-nos dos arbustos e revelámos os nossos corpos. Olhei para a Sárfia mais velha que apontava uma flecha na nossa direcção.

  -Quem são vocês? E o que fazem aqui?

  -Somos guardiães de Loäre, eu sou o líder e estes são os meus ajudantes. Viemos à conquista de território, mas desiludimo-nos porque a terra já estava ocupada. Pedimos perdão.

  -Guardiães de Loäre? Vieram conquistar as nossas aldeias? Para quê, não vos chega as terras que tendes? – Disse empertigada a mulher.

  -Calma, Sofiare. – Disse a rapariga mais nova.

  -Mas…Lianna…estes homens…querem-nos tornar impuras. Querem o nosso poder!

  -Calma lá, ninguém vos disse que seriam violadas! – Exclamou Tgge.

  -Cala-te, Tgge! Desculpe a impertinência do meu soldado. É verdade o que ele diz, ninguém vos violará. Este território não será ocupado pelos nossos pés, porque já é ocupado pelos vossos é a nossa lei.

  -Vês, Sofiare. Não é necessário o pânico controlar o coração. – Disse, Lianna.

  -Não confio nestes homens.

  -Levará o seu tempo, minha querida. Meus senhores poderão revelar os vossos nomes, por favor? – Disse a pequena Sárfia.

A minha alma encantou-se com a voz, aquela voz delicada era adequada para uma rapariga daquela idade. Prometi a mim mesmo que nunca mais iria esquecer aquele timbre.

  -Chamo-me Liamede Sarovit Vernest IV, estes são os meus generais Petrefic, Lorak e Tgge.

  -Muito prazer, chamo-me Lianna e esta é a minha amiga Sofiare. Somos Sárfias e como não estamos acostumadas a visitas fomos um pouco rudes. Perdoem-nos.

Lianna curvou-se ao pedir-nos desculpa, o que me surpreendeu, pois nós é que deveríamos de nos desculpar.

  -Não a culpa foi nossa, espiamos as vossas acções, não é necessário desculpar-se. – Informei-lhe.

  -É meu dever. Como forma de conciliação, peço-vos que venham connosco, para celebrarmos a vossa visita juntamente com as outras Sárfias. – Pediu Lianna.

  -Aceitaremos com todo o prazer.

Caminhámos por entre as ervas até chegarmos a uma aldeia cheia de mulheres e crianças do mesmo sexo. À nossa frente estava uma pedra gigante com um epitáfio inserido, aproximei-me dele e estudei-o mas não entendia a sua linguagem.

  -É deveras complicado perceber um epitáfio quando não se sabe a língua a que foi escrito. – Disse Lianna. – Quer que lhe leia a mensagem?

  -Seria pedir muito a um desconhecido? – Perguntei.

  -O senhor não é nenhum desconhecido.

  -Desculpe-me, menina Lianna, será um incomodo pedir-lhe um favor? – Perguntou o intrometido do Lorak.

  -E que pedido seria esse? – Disse, delicada a Sárfia.

  -É que as senhoras estão a observar-nos de uma forma…digamos um pouco estranha.

  -Tem toda a razão, avisar-lhes-ei.

  -Muito obrigada – Proferiu Lorak.

Lianna avisou as companheiras da nossa presença e informou que não haveria qualquer perigo. As aldeãs voltaram aos seus afazeres e a menina voltou-se para nós. Perguntei-lhe se por acaso seria a rainha delas, mas disse que não.

  -Não sou nenhuma rainha. Não gosto de mandar em ninguém. Somos todas deusas de si próprias. – Sorriu.



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