(Percy)

Esse era o meu horário. Todos os dias durante a manhã eu vinha “cuidar” da tal semideusa da profecia. Revezamos os horários,meu horário era durante o café-da-manhã, o de Annabeth era à tarde e Rachel vinha à noite depois do jantar, mas sempre havia uma pessoa que passava o tempo inteiro aqui. Eu fico me perguntando como o Sam não se cansa. Sempre quando ele termina as suas atividades ou tem um tempinho entre elas ele vem aqui e passa todo o seu tempo livre segurando a mão da garota.

Eu não sei por que Quíron me convocou para ajudar a cuidar dela. Tinha tanta gente que ele poderia chamar como: Thalia, Nico,Piper, Leo e muitos outros campistas que dariam até a própria mesada para vir olhar a garota da profecia que cantava We Are The Champions.

Ela aparentava ser uma garota legal. Ela é bem bonita na verdade, mas eu prefiro a minha sabidinha. Ela tem cabelos castanhos e pele clara. Ela briga com um panda enquanto dorme, é bastante engraçado. Tem alguma coisa nela que não me é estranho, só não sei o que é.

Enfim... Ela já estava inconsciente já fazia dois dias. A visita de Apolo, a chegada de todos os heróis, uma caça a bandeira com as caçadoras de Ártemis e, é claro, a chegada da cover do Queen foram as nossas emoções da semana. Desde que Sam saiu à procura dela muita coisa aconteceu.

Uma semana depois que ele já estava viajando, na hora do jantar, quando estávamos todos no refeitório, recebemos uma visitinha.

Lá estava eu na mesa de Poseidon sozinho, só olhando para a mesa de Atena para ver se encontrava Annabeth no meio daquela gente toda. Tinha sido um dia normal como qualquer outro, brigas, lutas, gente ferida por outros campistas, só o normal. Mas do nada um brilho estranho começa a se formar bem ali, no meio do refeitório. Do brilho bizarro surge um cara alto, loiro com óculos Ray-ban com um sorriso tão brilhante que eu não consigo ficar muito tempo olhando.

– Olá meus filhos. - Apolo diz acenando para os campistas que estavam sentados em sua mesa.

Nesse momento uma de suas filhas, Sara, bufa. Ela nunca gostou muito do fato do pai ser um cara que vive na forma de um garoto de dezenove anos que adora um agito.

– A que devo o prazer de sua visita Apolo? - Perguntou Quíron cortando o clima tenso na mesa de Apolo.

– Eu só vim dar a vocês uma notícia e um aviso. A notícia é que eu tenho o prazer de informar que o filho de Atena encontrou a semideusa da profecia.

Apolo estendeu a mão e a abriu, logo uma camada de fumaça se formou e uma imagem surgiu. Dois jovens sentados perto de uma barraca olhando as estrelas. Um deles eu reconheci como sendo Sam,mas tinha uma garota ao seu lado que eu não conhecia, provavelmente a semideusa.Eles estavam em silêncio até que:

– Como é a sua família? –a garota perguntou quebrando o silêncio.

– Por que a pergunta? – Sam perguntou.

– Você é o meu colega de viagem, certo? Você já conhece a minha família, sabe onde eu estudo e sabe onde eu moro. Preciso saber alguma coisa sobre você! – ela falou.

A camada de fumaça se desfez levando consigo a imagem.Alguns campistas da mesa de Afrodite reclamaram pelo sumiço da imagem.

– O meu aviso é bem simples. Vocês vão precisar de ajuda com o treinamento da garota. Precisaremos de todos os semideuses gregos reunidos nesse acampamento. Por isso a minha irmã está enviando as caçadoras. - ele olhou para fora do refeitório olhando para o céu. -Era só isso mesmo pessoal. Agora está na hora de dar tchau. - ele acenou para os filhos e foi embora da mesma forma que chegou, em uma chuva de brilho.

Depois de tudo o que aconteceu no jantar Quíron e o Sr. D foram providenciar o regresso de todos os campistas ao acampamento.Eu estava cansado de tudo aquilo. Terceira grande profecia, a semideusa mais poderosa do século, o regresso de todos os campistas,era tudo muito cansativo. Naquela noite enquanto dava uma volta com Annabeth pela praia notei que ela estava preocupada.

– O que foi? - perguntei tirando seu cabelo do rosto.

– Eu não estou conseguindo entender nada. - ela disse frustrada

Eu a abracei e disse:

– Vai ficar tudo bem. Logo todos nós vamos entender.

Ela se afastou de mim e disse:

– Percy, eu não sei por que, mas essa terceira grande profecia não parece ser o tipo de coisa que só precise de um semideus. Essa garota até pode ser poderosa, mas ela vai precisar de nós.

Eu demorei um pouco, mas acabei entendendo a sua preocupação. Ela tinha medo que nós nos envolvêssemos em mais uma profecia.

Eu a abracei novamente e a beijei.

– Vai ficar tudo bem sabidinha. Nós já sobrevivemos a duas, mais uma não vai fazer a menor diferença.

– Estou contando com isso cabeça-de-alga.

Depois que eu a deixei na frente de seu chalé fui até o meu e dormi da mesma maneira que cheguei.

Eu estava no Olimpo. A sala do trono estava praticamente vazia, Ares, Atena, Afrodite, Apolo e o meu pai, Poseidon eram os únicos que estavam lá. Eu estava presente, mas ninguém pareceu me notar.Depois de um tempo observando eu vi que os deuses não estavam sozinhos. Um bebê que estava, aparentemente, muito concentrado em colocar o próprio pé na boca estava no centro da sala do trono em uma espécie de berço dourado.

– Nós precisamos. - disse Apolo com urgência.

– Como pode ter tanta certeza? - perguntou Atena.

– Eu sou o deus do oráculo. Se eu não tiver certeza ninguém mais terá. - respondeu Apolo com autoridade.

– Já chega. - brandiu Poseidon. - Atena, nós estamos aqui e nos comprometemos a fazer.

– Isso vai contra todos os nossos princípios. - ela falou irritada.

–Ah... Por favor. Que princípios? - Ares se intrometeu.

– Ela será importante. Ela vai ser a nossa salvação. Mas precisamos ser cuidadosos. - informou Apolo.

Eu nunca havia visto Apolo tão preocupado. Ele geralmente parecia ser o mais calmo de todos os deuses. Ele não estava apenas nervoso, também parecia estar mais velho, talvez uns quinze anos.

– Poseidon, você infringiu uma lei, a sua lei, a lei de meu pai, um juramento sagrado. Agora está tentando me fazer errar também. Você sabe o que Zeus fará conosco se descobrir? - Atena parecia muito irritada.

– Será preciso. - disse Apolo.

– Atena, você sabe o que acontecerá se essa menina não for abençoada. - disse Ares.

Ela pareceu refletir por um momento e então falou:

– Espero que valha a pena.

– Vai valer. - disse Apolo ficando mais jovem.

– Para onde a mandamos? - perguntou Ares.

– Para o Brasil. Eu sei de pessoas que estão querendo dar amor.Lá ela será amada e estará protegida. - disse Afrodite com um sorriso olhando o bebê.

Ares estava com um olhar distante e pela primeira vez desde que eu o conheci parecia verdadeiramente nervoso. Ele tinha uma expressão de dor no rosto. Ares se virou para Apolo e perguntou:

– Você tem certeza?

– Sinto muito. - Apolo disse com tristeza.

Pela primeira vez eu vi um lado de Ares que eu não conhecia.Sua dor era tão grande que ele se levantou do trono olhou para o bebê,que no mesmo instante começou a brilhar em um vermelho intenso ao redor de seu corpo, e disse:

– Eu já fiz a minha parte, agora tire-a daqui.

Depois disso Ares simplesmente desapareceu em uma explosão dourada.

– Isso está sendo mais difícil para ele do que para mim, não é? -meu pai perguntou.

– Poseidon, eu nunca vi Ares desse jeito. Sim, é bem mais difícil para ele. - disse Afrodite secamente.

– Vamos logo com isso. Precisamos tirá-la daqui antes que meu pai volte. - disse Atena com urgência.

Depois disso o bebê brilhou tão intensamente que eu tive que fechar os olhos com força para não correr o risco de ficar cego.

Quando abri os olhos eu estava na minha cama e o brilho do sol invadia o meu chalé e batia em meu rosto.

Aquele deveria ter sido um dos sonhos mais bizarros que eu já tive, e olha que eu já sonhei com muita coisa. Foi um sonho muito estranho, eu não consegui entende-lo, então preferi sair do chalé e ir contar tudo a Quíron.

Fui até a casa grande e contei tudo para ele. Quíron ouviu tudo atentamente. Depois de contar tudo ele disse:

– Você viu o passado, Percy. Eles não te notaram porque você não estava lá. Você viu o momento em que a menina recebeu as bênçãos.

– Mas por que eu sonhei com isso? - perguntei confuso.

– Eu não sei. - ele falou simplesmente.

Depois de minha animadora conversa com Quíron fui tomar café-da-manhã. Não estava com cabeça para nada, só ficava pensando no rosto de Ares marcado pela tristeza. Pela primeira vez, e espero que a última, eu estava sentindo pena de Ares.

Durante os dias seguintes o acampamento foi ficando cada vez mais lotado. Tinham inclusive semideuses novos que estavam presentes,mas o divertido foi à chegada das caçadoras de Ártemis. A caça abandeira de tradição foi realizada durante a noite. Os times eram: Atena,Poseidon, Hefesto, Hermes, Hécate, Nêmeses, Nike, Hebe e Hades contra Deméter, Ares, Apolo, Ártemis, Afrodite, Dionísio, Iris, Hipnos e Tique.

Nunca tivemos uma caça à bandeira com tanta gente. Eu e Annabeth lideramos o grupo. Hades, Nêmeses, Nike, Hebe e Hermes ficariam na defesa enquanto Atena, Poseidon, Hefesto e Hécate ficariam no ataque. Assim que o jogo começou Annabeth colocou o seu boné e desapareceu, Nico criou um exército de mortos vivos e dormiu ali mesmo no chão, os filhos de Hefesto correram na frente espalhando armadilhas,as poções que os filhos de Hécate jogavam tinham um cheiro tão forte que os meus olhos começaram a lacrimejar. Por fim eu corri em direção uma árvore alta para tentar encontrar a bandeira. Do alto da árvore vejo varias batalhas acontecendo ao mesmo tempo, uma das que mais me chamou atenção foi à da filha de Dionísio, é ele tem uma filha recentemente descoberta. Larissa, que lutava com os filhos de Hermes que guardavam a nossa bandeira deixando-os no chão um a um. A bandeira do outro time não estava muito longe dali, eu chegaria fácil se uma caçadora de Ártemis não tivesse atingido uma flecha de raspão em meu braço me fazendo cair da árvore.

Acabou que as caçadoras venceram de novo. Fui levado para a enfermaria por Annie e Nico ainda sonolento. Devo ter ficado bastante tempo ali. Quando sai da enfermaria no dia seguinte todos estavam muito tensos, pois esse era o dia esperado para a chegada da tal semideusa. Já pela parte da tarde enquanto ia ao pinheiro da Thalia para fazer um pouco de companhia a Peleu, eu os vi.

Sam estava andando apressadamente colina acima com uma garota em seus braços, sua blusa estava ensanguentada e logo atrás dele vinha Pérola cavalgando.

– Percy. - ele gritou quando me viu.

Eu fui até ele e o ajudei a segurar a garota.

– Essa é a...?

– É, é ela. Precisa de um filho de Apolo agora. - ele berrou.

Nós a carregamos até a casa grande e em pouco tempo estávamos sendo seguidos por uma multidão.

– Sam! O que aconteceu? – perguntou Annabeth que tentava nos acompanhar empurrando o pessoal atrás de nós.

– Eu não sei. Alguma coisa bateu em nós e ela caiu. - ele disse melancólico.

Ao chegarmos à casa grande colocamos a garota em uma maca na varanda e logo Quíron apareceu para nos ajudar.

– Will Solace. Por Favor, será que você poderia examiná-la? -Quíron perguntou olhando para a multidão de campistas atrás de nós.

Em pouco tempo Will apareceu sendo empurrado por todos e com dificuldade conseguiu chegar. Ele a olhou atentamente por não mais que poucos segundos e disse:

– Ela quebrou duas costelas, o braço e sofreu uma rachadura no crânio. Como ela fez todo esse estrago?

– Caiu de cabeça de uma distância de cinco metros. - disse Sam triste.

Quando ele falou isso à multidão fez aquele clássico barulhinho de um “ooh”.

Quando Will pegou o braço da garota ela soltou uma espécie de grito, mas foi um grito engasgado como se sua voz estivesse presa.

– Deuses. Eu não posso curá-la desse jeito, tenho que colocar os ossos no lugar antes de usar magia. - disse Will.

– Você não tem nada que possa fazê-la parar de sentir dor? -perguntou Sam com certo desespero.

– Eu curo, não anestesio. O néctar e a ambrosia iriam curá-la com os ossos tortos e teríamos que quebrá-los todos de novo!E as poções dos filhos de Hécate já foram usadas com o pessoal que saiu machucado da caça a bandeira. -respondeu Will.

– Se vocês querem fazer ela não sentir dor eu tenho a parada certa. - berrou Travis Stoll que empurrava freneticamente a multidão.

Quando ele chegou perto de nós ele abriu o sorriso mais sacana que eu já havia visto na minha vida e disse:

– Paraguai, trás a mercadoria.

Um garoto, Roberto, um dos mais velhos filhos de Hermes veio correndo pela escada da varanda com uma pequena caixinha na mão.Quando ele a abre fica a mostra uma flor comestível.

– Isso não é permitido. - repreendeu Quíron.

Sam se virou para ele e implorou baixinho:

– Quíron, por favor. Precisamos salva-la!

Quíron acabou concordando. Travis arrancou a flor das mãos de Roberto e a entregou a Annabeth que tentou fazer com que a garota comesse a flor sem sucesso. Thalia apareceu do nada com o seu escudo fazendo com que todos abrissem espaço para ela. Ela pegou a flor da mão de Annabeth e fez com que a garota a engolisse socando a flor garganta adentro.

O que aconteceu a seguir foi à coisa mais engraçada que eu jávi na vida. A garota abriu um sorriso bobo e começou a murmurar coisas.

– O que ela está dizendo? - perguntei curioso.

Sam aproximou a orelha da boca da menina e logo depois ele deu um sorriso e disse:

– Ela está cantando We Are The Champions.

Eu nem preciso dizer que todo mundo começou a gargalhar depois que ele disse isso. A menina parecia pegar ar quando gargalhávamos porque ela começou a cantar cada vez mais alto.

We are the champions, my friends

And we'll keep on fighting

'Till the end

We are the champions

We are the champions

No time for losers

'Cause we are the champions of the world

Depois disso Will conseguiu colocar os ossos da garota no lugar e curá-la com magia sem ouvir gritos.

Quando ele terminou ela parecia bem melhor e já havia parado de cantar. Em algum momento ela apertou a mão de Sam, sim ele estava segurando a mão dela, tentou abrir os olhos sem muito sucesso e disse:

– Onde estamos?

– No acampamento. - ele respondeu com um sorriso.

Ela abriu um pouco os olhos, os fechou e disse:

– Acho que não estou vendo direito.

– Por quê? - Sam perguntou curioso.

– Eu estou vendo umas quinhentas pessoas aqui. - ela disse com um sorriso bobo.

Sam riu e disse:

– Você está vendo direito. Está é a minha família.

– Ela é grande. - observou.

– Enorme. - Sam concordou.

– Mas eu ainda acho que não estou vendo direito. – ela disse.

– Por quê? - Sam perguntou novamente.

– A não ser que haja um panda gigante por aí, então eu não estou vendo direito.

– Você bateu a cabeça com força. - Sam informou.

Ela virou a cabeça para o lado e disse antes de cair no sono:

– Boa noite panda.

Enquanto eu me lembrava dos dias malucos que tivemos nessa última semana não havia percebido que a garota deitada na maca estava acordando. Ela abriu os olhos devagar, olhou ao seu redor desconfiada e por fim seus olhos pousaram em mim.

– Quem é você? - ela perguntou confusa.

– Meu nome é Percy Jackson. Bem-vinda ao Acampamento Meio-sangue.