Ouvi o canhão. A garota sorriu friamente e seus aliados correram ao seu encontro:

–Era o único? - um deles perguntou.

–Acho que sim. - a garota respondeu - vi a garota do 5 correndo para cá e... qual o nome dela mesmo?

–Shine - a outra respondeu.

–Isso. Mas depois que vi a garota do 3 sendo assassinada por ela...

–É melhor tomarmos cuidado com ela- disse Walter.

–Concordo. - disse a garota do 1.

–Pra lá tem um rio - comentou o garoto do 1 apontando para trás.

–Fale baixo, Wide.

–Por quê? - Wide indagou.

–Deve ter alguém por aqui.

–Então vamos matar! - sugeriu a a garota do 1 animadamente.

–Não, Glossy. - disse Walter - vamos esperar. Provavelmente vão morrer desidratados antes de chegarmos.

Fênix chutou o corpo do garoto morto e riu junto com os seus aliados. Os outros o acompanharam na trilha e desapareceram na mata.

Consegui respirar direito depois que estavam em uma distância que eu não ouvia mais.

–Connor - eu sussurrei cutucando-o - Connor, acorde.

Ele acordou sobressaltado e eu o segurei para não cair.

–O que foi? - ele cochichou perguntando para mim.

–Os carreiristas acabaram de matar o garoto do 7.

Apontei para o chão e ele fez uma careta ao olhar.

–Eles estão por perto, então.

Assenti.

–Acamparam ao lado de um rio, eu acho.

–Precisamos ir para lá.

–Vamos amanhã. Provavelmente vão "caçar crianças" durante o dia.

Ele assentiu e voltamos a dormir. Ou pelo menos tentar dormir. Fiquei com as imagens dos tributos mortos na cabeça e que Perk havia feito na minha frente.

Consegui dormir um pouco, o suficiente para me sentir com energia.

Minha garganta estava seca, como se eu tivesse comido areia até não poder mais. Connor ja estava acordado, arrumando as coisas.

Descemos silenciosamente da árvore e comemos um pouco de carne seca.

Seguimos até a direção a qual os carreiristas apontaram e encontramos o rio.

A garota do 4 estava no acampamento, guardando as coisas. Eu poderia matá-la apenas com duas facas, mas não tinha coragem. Connor fez isso por mim. Chegou por trás dela com sua grande faca curva de duas pontas e enfiou nas costas da garota. Não deu tempo dela gritar. Morreu de olhos abertos, de bruços. Ouvi o canhão

Enchemos rapidamente os cantis e pegamos algumas coisas do monte deles, como armas boas e vários mantimentos.

Connor pegou um arco, mas não deu tempo de pegarmos as flechas, pois os carreiristas corriam em nossa direção.

–Mandy! - gritou Walter.

Deduzi que Mandy era a garota a qual Connor matara. Consegui correr por um quilômetro e meio, seguindo o rio, mas não aguentei. Peguei o cantil e o abri. Dei alguns goles para aliviar sede.

–Conseguimos - consegui dizer sorrindo.

–É. Foi fácil. - Connor disse.

Me encostei em uma árvore e guardei o cantil na mochila. Não quis comentar sobre o que ele fez com a garota, pois achei que ficaria nervoso ou envergonhado.

–Vamos nos afastar mais. - ele sugeriu.

Seu sorriso era tímido e suas bochechas eram rosadas. Tinha cabelos pretos e olhos cinzentos. Connor era magro e sua pele era meio bronzeada. Nos levantamos e andamos por mais algum tempo.

Nossas conversas eram descontraídas e relaxantes. Ouvimos outro canhão durante o caminho. Fiquei com um aperto no coração, imaginando que era Perk. Pensei em outra coisa para afastar esse pensamento

Não vi nenhum aerodeslizador, então imaginei que fosse do outro lado da floresta.

Durante o dia, não ouvimos mais nada. Nesse dia, apenas três pessoas morreram.

Esperamos o dia passar, tentando caçar animais e outras coisas. Connor fez flechas com galhos e me contara que no seu distrito, ia caçar animais na floresta de lá. Tinha uma boa mira, e sabia fazer armadilhas grandes e pequenas.

Conseguimos um coelho bem gordo e suculento. Enchi mais os cantis e subimos nas árvores para dormir.

Vi no céu, o rosto de Mandy, o garoto do 7 que fora morto bem no começo do dia, e o garoto do 6.

Perk não estava morto. Isso me aliviava em parte, mas ainda estava decepcionada com ele. Me perguntava se ele ainda me considerava uma "irmã".

Encostei na árvore e dormi.

Acordei com alguém me cutucando. Dei um grito fino, quase inaudível e acordei por completo. Connor estava preocupado e me chamando pelo nome. Voltei a realidade.

-O que aconteceu? - eu perguntei espantada.

-Os carreiristas quase nos descobriram. Precisamos fugir.

Saímos o mais rápido possível da árvore e corremos por um bom tempo. De repente, trombei com alguém destraído.

Me levantei rapidamente e peguei uma faca. O garoto do distrito 5 fez a mesma coisa com a lança. 

Eu estava para lançar a faca no garoto.

-Espere - ele segurou minha mão. Apesar de ser magro, era muito forte e meu pulso começou a doer - Espere, por favor.

Recuei meu pulso, mas ainda com a faca em mãos.

-Não vai nos matar? - perguntei.

-Não. - ele respondeu decidido e se apresentou- Clever.

Olhei desconfiada, e respondi ao cumprimento, assim como Connor.

-Mackenzie.

-Connor.

O garoto olhou para os lados, nervoso.

-Precisamos nos esconder.

Nos escondemos em cima de uma árvore e perguntei:

-O que está acontecendo?

-Estava fugindo de Shine. Ela está completamente louca. - ele disse pegando seu cantil e dando uns goles -  Estávamos conversando e ela começou a gritar comigo e rosnar. Shine tinha pegado o machado dela e me ameaçado. Éramos aliados, mas ficou estranha e brava de repente.

-Dizem que algumas pessoas surtam durante os Jogos. Como aquele caso em que um tributo começou a virar canibal - comentou Connor.

-É exatamente o que estou com medo.

Clever estava tenso e com medo. Não parava de tremer e gaguejar enquanto falava.

-Vocês eram amigos, não é? - deduzi.

-O quê? - ele olhou para mim com seus grandes olhos castanhos.

-No seu distrito. Antes da colheita. Vocês eram amigos, né?

Ele assentiu tristemente.

Nossa aliança começou meio mal, mas foi melhorando quando Clever começava com suas teorias e planos malucos. Ele era engraçado de um jeito diferente, sem querer ser.