A Capital era incrivelmente grande e bela. Vários prédios altos e brancos com formas diferentes e variadas. As pessoas eram "coloridas" e pelo menos dez de quinze tinha algum sinal de plástica no rosto ou no corpo.

A multidão gritava pelo meu nome e eu sorria constantemente. Esmerald nos levou a um grande prédio. Era a primeira vez que eu ia para um elevador e era incrivelmente emocionante. A impressão de subir era de dar medo.

Chegamos a um apartamento enorme, cheio de janelas e com uma vista incrivelmente bela.

-Aqui - começou Esmerald - Vai ser nosso aposento.

Olhei fixamente para a paisagem pela janela. Esmerald me interrompeu falando:

-Amanhã vocês serão apresentados para suas equipes de preparação e à noite terá o desfile.- Assenti. Esmerald completou - Podem relaxar que eu os chamo para o jantar.

Um Avox me levou para um quarto grande com cama de casal. Imaginei que fosse meu quarto. Tinha uma tela digital na janela. Peguei o controle em cima do criado-mudo e apertei. A cena mudou e apareceu uma floresta. Podia ouvir os pássaros cantarolar. Apertei novamente. Um deserto laranja com uma leve brisa de areia apareceu. Apertei uma terceira vez e resolvi deixar na Capital mesmo.

Entrei no banheiro. Era melhor do que o do trem. Todo branco com o dobro de botões e inúmeros produtos para o cabelo, para a pele, mãos e tudo o que se pode imaginar. Tomei outro banho relaxante e vesti uma nova roupa. 

Deitei na cama e adormeci. Acordei com leve batidas na porta que logo ficaram insistentes. Sentei me na cama e vesti chinelos.

-Já vou!

-O jantar está servido. - Esmerald disse.

-Tudo bem. - eu disse passando por Esmerald.

Sentei a mesa ao lado de Perk, a qual estava com o prato cheio de comida e a saboreando.

O acompanhei com as mesmas comidas. Joseff chegou logo depois. Me encarou e depois encarou Perk.

-Tudo bem, crianças. - ele disse - No treinamento, tentem achar uma habilidade e evitem um pouco as áreas de camuflagem ou cordas, mas pratiquem todas.

Olhei para ele por um tempo e Joseff soltou uma risadinha e completou:

-Não façam desgraças na frente dos carreiristas. Ah, e...

-Tudo bem - eu o interrompo - já entendemos.

-Calma - ele disse sarcasticamente - Não fique zangada comigo.

Já tinha terminado o jantar, então me levantei e sai para meu quarto. Coloquei uma regata e calças cinzas e deitei.

Não consegui dormir. Me levantei e fui a procura de uma janela como as de casa, ou uma varanda.

Achei uma janela como a de casa e sentei na borda, observando o céu. Não era como a do distrito 8, pois a cidade era mais iluminada a noite.Olhei para a constelação da qual Ethan gostava. As lembranças da noite passada veio a minha mente:

–Gosto daquela constelação - ele disse apontando para um lado do céu.

-Por quê? - indaguei.

-Sei lá, foi a primeira que aprendi a identificar.

Pela primeira vez, percebi que consegui identificar uma constelação sem a ajuda de meu irmão. Apenas lembrando dele, consegui me sentir um pouco mais aliviada, sabendo que estava tudo bem com ele.

Um vulto passou atrás de onde eu estava.

-Quem está aí? - perguntei.

Ninguém respondeu e resolvi seguir. Era Perk. Ele foi em direção a cozinha e abriu a geladeira. Pegou uma garrafa de água e começou a beber.

-Não consegue dormir também? - perguntei encostando na porta e cruzando os braços.

Ele se assustou e engasgou. Começou a socar o próprio peito e tossiu um pouco. Limpou a garganta e se virou para mim, colocando a garrafa de volta a geladeira.

-Hã... Nada.

Levantei as sombrancelhas, desconfiada.

É que... - ele começou sentando a bancada da cozinha. Me aproximei dele e sentei no banco da frente dele.

-Eu entendo. -eu disse.

-Entende?

Assenti.

-Sempre que eu não conseguia dormir, subia no telhado da minha casa e observava as estrelas - Ele ficou quieto e me olhou pedindo para continuar - e algumas vezes, meu irmão ficava comigo.

-Você parece ter lembranças boas. - ele comentou.

-É - eu disse pensativa.

-Qual a sua cor preferida? - ele perguntou ingênuo.

 - mas, já que chegamos a meu irmão, me explique melhor.

-O quê?

-Não se faça de desentendido -eu exclamei um pouco alto e reduzi a voz - Por que não o deixou ir?

-Porque- ele começou - seu irmão salvou minha pele.

Me espantei.

-Como?

-Eu estava na oficina de costura - ele começou - e sem querer eu quebrei a máquina. Um pacificador perguntou o que aconteceu, e eu estava nervoso, sem resposta - Perk ficou tenso - o pacificador ia cortar minha mão,como um sinal de que não deveria quebrar nada, e seu irmão disse que ele havia usado a máquina antes e a deixou quebrada. Era seu primeiro dia lá. O pacificador havia dito que daquela vez passava. Seu irmão apenas olhou para mim e voltou a trabalhar. Nunca trocou uma palavra comigo. Nem sabia seu nome.

-E como sabia que era ele?

-Reconheci pelo rosto.

Não falei mais nada. Me levantei e virei as costas, deixando-o coma a cabeça baixa, olhando para os dedos sobre a mesa. Me virei e olhei para ele.

-Azul.- eu disse.

-O quê? - ele perguntou olhando para mim.

-Minha cor preferida.

Ele riu e eu sai da cozinha. Voltei para meu quarto e dormi na hora.

Acordei antes das batidas de Esmerald na porta. Me troquei rapidamente e fui para a mesa de café-da-manhã. Esmerald sorriu:

-Oh, querida!- ela exclamou -que bom que chegou! Estava explicando sobre o desfile agora mesmo! Sente-se.

Me sentei ao lado de Perk. Fingimos que nada aconteceu a noite e ouvi as explicações de Esmerald.

Durante o dia, fiquei em uma sala que parecia um consultório médico.

Três pessoas da Capital, minha equipe de preparação, me deixou totalmente nua. Me depilaram inteira. Não era comum no distrito 8, depilar as pernas, pois não nos importávamos com isso ou também por que não tínhamos dinheiro.

A equipe de preparação me levantou e me deixou parada, de pé. Uma mulher magra e jovem, um pouco alta com os cabelos presos em um coque, me examinou com os olhos verdes.

Usava uma calça boca-de-sino e uma blusa branca de abotoar com as mangas dobradas. Usava um salto preto social e uma leve maquiagem.

-Então -ela disse me encarando - essa é a garota.

Ela rodeou pelo meu corpo e eu a segui com os olhos até quanto pude.

-Certo -ela disse parando de me examinar e parando na minha frente- Vista esse roupão e vamos discutir seu vestido.

Ela me levou até uma sala pequena, mas confortável e fez um sinal para que eu sentasse.

-Seu nome é Mackenzie, certo?

Assenti.

-Prazer. Henoria.

Ela estendeu a mão e cumprimentei. Sua mão era gelada e ossuda. Ela recuou a mão e preparou a caneta na prancheta.

-Bom, seu distrito é praticamente o distrito das roupas - ela disse sorrindo - então pensei, você tem livre espontânea vontade de escolher, certo?

-Acho que sim... - eu respondi um pouco indecisa.

-Errado! - ela exclamou - eu e Senny, o outro estilista, então pensamos, têxtil, lembra agulha e agulhas são pontudas.

-Está querendo dizer que vamos nos vestir de agulhas?

Henoria riu histericamente.

-Você tem um ótimo senso de humor, Mackenzie - ela comentou.

Henoria se levantou e foi até um canto onde estava um cabide coberto com uma capa. Era um vestido com uma saia até os pés, toda rodada. O vestido era prata com algumas agulhas com fios coloridos presas nelas. Henoria apertou um botão e a saia começou a rodar e os fios se entrelaçaram e formaram um lindo vestido de seda. A estampa era azul como o céu do distrito 8 cheio de estrelas grandes e pequenas formando nuvens cintilantes.Henoria percebeu meu largo sorriso e disse:

-Ouvi dizer que o céu do distrito 8 é maravilhoso.

Na hora do desfile, vi Perk com um terno igual ao tecido do meu. Subimos numa limusine grande e preta. Henoria e Senny sentaram no banco virado para a gente.

-Tudo bem. - Senny disse - Sorriem e acenem. Assim que saírem, apertem esse botão - ele mostrou na minha alça e na manga do terno de Perk - e tentem causar boa impressão.

Assenti ao mesmo tempo que Perk e saímos do carro.

Os outros tributos estavam preparados em seus carros. Como sempre, o distrito 1 estava extremamente bonito.

Quando chegou nossa vez, senti um impulso na saída do carro, mas me equilibrei. A platéia começou a vibrar e gritar. Apertei meu botão ao mesmo tempo que Perk.

Caesar Flickerman narrava mas eu não estava afim de ouvir. Meu vestido se transformava em céu estrelado e a torcida vibrava a cada vez que eu mandava um beijo ou acenava. Chegamos ao final do desfile e esperamos os outros tributos.

O desfile foi bem rápido, comparado ao tempo que passou. Voltamos ao apartamento e eu estava exausta.

Cheguei ao meu quarto e procurei algo que removesse maquiagem. Havia um creme de algodão chamado demaquilante. Passei sobre meu rosto. A sensação era relaxante e refrescante. Retirei o creme com água e vesti uma camisola de seda regata e logo adormeci