- E quem diria que a Bia erra dessas que olha os bilhetinhos dos outros! – Do nada aparece Daniel, zoando a Bia.

Ela faz cara feia, mas depois dá uma risadinha.

- Eu vou deixar vocês sozinhas – ele diz.Quando assinto, ele desaparece.

O resto do dia foi normal e tranquilo. Contei à Bia sobre o Demétrius. Ela se assustou, mas quando eu relatei minha conversa com o Daniel, sobre como ele iria lutar por mim, ela se acalmou, e ficou até impressionada com aquilo. 

- Cara, o Daniel? Lutando por alguém? Demonstrando afeto?

 - É... – eu disse, pensando nele.

- Ele mudou muito.

- Por que será que não o notei nenhuma vez?

- Algumas coisas não são feitas para serem notadas. São descobertas com o tempo.

Fiquei com a fala da Bia ecoando na cabeça. Antes que eu pudesse lhe responder qualquer coisa, se ouve o rangido da porta abrindo. 

- Julie! – meu pai grita. – Cadê você, filha?

- Tô aqui em cima, com a Bia!

- Tá! Era só pra avisar que eu cheguei com o Pedrinho!

- Tá!

Ao receber um SMS, ela checa as horas no celular.

- Julie, tá ficando tarde. Logo, logo, escurece. É melhor eu ir pra casa.

- Ok. Te acompanho até a porta.

Descemos as escadas chegamos à porta. Me despedi da Bia com um aceno, fechei a porta e comecei a subir novamente as escadas, rumo ao meu quarto. De repente, sou parada pelo Daniel.

- Julie. O Demétrius apareceu pra você?

Minhas mãos gelaram e eu senti meu rosto ficando vermelho. Expliquei o que acontecera, mas uma pergunta ainda dava voltas na minha cabeça.

- Você estava me espionando?

- Queria saber o que ia falar de mim pra Bia. E também não queria ficar longe de você.

Eu o envolvo em meu abraço, e logo já estamos nos beijando.

- Sente saudade?

- Todo o tempo. Meu coração dói quando não estou com você.

- Julie! – meu pai exclama lá da cozinha, interrompendo aquele momento lindo entre mim e meu fantasma. – Você tá falando sozinha, filha?

- Tô sim pai! - Me viro para Daniel, agora sussurrando. - Dan, vamos conversar no meu quarto? Aqui tá meio ruim.

- Tá. Mas você vai pro seu quarto de um jeito diferente hoje.

Ele me pegou nos braços e me carregou até o meu quarto.

- Que fofo. Te amo, Daniel.

- Eu te amo mais.

- É nada.

- É sim. Julie, em trinta anos, eu nunca me senti tão vivo quanto hoje, com você.

Fiquei sem palavras. 

Porém, nossos momentos românticos são novamente interrompidos. Desta vez, pelo Félix, que atravessa a porta sem bater antes.

- Opa! Atrapalhei?

- O que você acha? – Daniel o encara, enfezado.

- Só vim te avisar que a reunião anual dos fantasmas é hoje às nove da noite. E você sabe que o chefe da organização dos fantasmas odeia todos que faltam.

- Organização dos fantasmas? - indaguei.

- É, os fantasmas vivem em sociedade, e a sociedade tem um chefe.

- Gente, olha a hora. Faltam só 20 minutos para as nove. É melhor vocês irem. – os aconselho.

- Eu e o Martin estamos te esperando lá embaixo. – Félix se retira.

- É... Melhor você ir.

- Tá. Vou sentir saudade. – ele me beija.

- Eu também. Muito.

- Eu te amo, Julie. E nada nem ninguém vai me impedir de te amar cada dia mais.

- Idem. – sorrio.

- Tchau, meu amor.

- Tchau. Depois me conta como foi a tal “reunião”. Tô te esperando.

Ele assente e desaparece.

P.O.V. Daniel
Se tem uma coisa que eu odeio, é a reunião anual dos fantasmas. Odeio ficar no meio da multidão, odeio todos os chefes da organização, odeio todos os fantasmas, exceto eu mesmo e meus amigos. De resto, todos são chatos ou irritantes. Quanto mais eu ficava naquele inferno, sentado numa mesa com Martin e Félix, esperando a boa vontade dos líderes da sociedade dos fantasmas, mais eu sentia falta da minha Julie. O que será que ela está fazendo agora?
P.O.V. Julie
Sem o Daniel por perto, fiquei meio sem ter o que fazer. Olhando para o vazio, minha mente viaja em pensamentos. Só desperto com o toque do meu celular. “1 nova mensagem. – Nicolas.”