Fecho Os Meus Olhos E Ouço A Sua Voz escrita por MaarySantiago
Notas iniciais do capítulo
Desculpem não ter postado ontem. Vou tentar ser mais frequente. Enfim, boa leitura.
Encontrava-me simplesmente sozinha em casa, à tarde, chorando no sofá. Daniel saíra para ensaiar com Martin e Félix, na tentativa de tirar sua cabeça de tudo o que estava acontecendo tão depressa. Ele até me chamou, mas eu não tive ânimo.
Com os olhos inchados, me viro para o lado, mirando a escrivaninha, e encontro outro pedaço de papel. Simplesmente apareceu do nada. O peguei, relutante, e o li apressadamente.
“Para reencontrar quem ama, há um preço a se pagar
Procure na segunda gaveta, e a resposta irá se revelar
Ponha tudo em uma toalha, à mostra no fundo do quintal
Espere até oito da noite, alguém há de recolher afinal
Ao ouvir um sopro no ouvido, esteja junto de seu querido
O trato será cumprido, seu bem será recuperado
E será suficiente para este fantasma amargurado.”
Não tardei a abrir a segunda gaveta. A única coisa que tinha ali era um livro, cujo título era A Alma De Beatriz. Levou um tempinho até que o tico e o teco batessem o clique.
Era isso o que ele queria? A alma da minha melhor amiga? Mas por quê? E justo a Bia?
Então o jogo era assim? Demétrius me faria escolher entre minha melhor amiga de infância e minha filha?
Eu não tinha a menor ideia de como reagir, mas como ele ainda devia estar por ali, me olhando, peguei uma caneta e escrevi no verso do papel:
“Qual é o prazo?” e soltei a caneta.
Alguns instantes depois, a caneta começa a se mexer sozinha, me deixando mais ou menos em pânico, e a mão invisível de Demétrius ou seria de um de seus capangas?) ia
desenhando vagarosamente finas letras na borda do pedaço de papel velho e amarelado.
“48 horas.”
Suspirei ao ver a resposta. Como dizer à minha melhor amiga que um fantasma queria sua alma, e só assim eu poderia ter de volta minha filha?
Desliguei-me daquelas perguntas horríveis para comunicar o ocorrido a quem se interessava tanto quanto eu, antes de partir para os envolvidos (vulgo, Bia).
Agarrei o telefone e disquei nervosamente o número do celular de Daniel.
Ele atendeu no quarto toque, e à essa altura, eu já estava à beira de um ataque de nervos.
- Alô? – ele começou.
- Vem pra casa agora Daniel. – falei rapidamente, sem vírgulas, períodos ou qualquer pontuação. Eu estava estressada demais para me importar com a gramática.
- O que aconteceu? – ele pergunta, confuso.
- VEM PRA CASA AGORA DANIEL. – repeti rapidamente, gritando.
- Tô indo. – e desligou-se.
Andei de um lado para o outro, relendo o bilhete, pensando, me descabelando.
Ao ranger da maçaneta, vejo luz no fim do túnel.
Mal deixo que Daniel adentre para entupi-lo de perguntas e frases pela metade, tentando, em vão, me explicar. O pânico não me permitia raciocinar com clareza.
- Fique calma, Juliana. – ele exclama. Tão logo me assusto, ele nunca me chama de Juliana.
Suspiro e ele desliza sua mão em meus longos cabelos pretos.
- Tudo bem. Eu estava neste sofá – começo, gesticulando freneticamente. – E de repente um bilhete apareceu. – e mostro-lhe o tal bilhete.
Observo seus olhos correndo pelas letras escritas, e me aproximo, para relê-lo.
- Então – ele conclui. – Ele quer a alma da sua amiga. Para quando?
- Daqui a dois dias. – disse, lhe mostrando o verso do papel. Olho em seus olhos. – O que eu faço agora, Daniel?
- O que nós fazemos agora, aliás. – ele me corrige. – Você nunca estará sozinha, meu amor. Sempre estarei aqui para te ajudar. Não importa o que aconteça.
Sorrio de leve, era impossível ser feliz com minha Samantha nas mãos mortas e gélidas de um fantasma rancoroso.
- A Bia precisa saber. – comento. – Ela tá envolvida nisso.
Lhe envio um SMS, pedindo à ela para comparecer em meu apartamento assim que possível. Ela responde quase que imediatamente.
Depois de uns 20 minutos, o interfone toca e sou informada de sua chegada. Ela sobe e entra em meu apartamento toda animada, alegre, como sempre.
Seu sorriso me deprimiu. Eu sabia que tinha o poder de desfazê-lo. Talvez para sempre.
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