Harry Potter e o Círculo Sombrio escrita por JMFlamel


Capítulo 16
A FACE DO MAL




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CAPÍTULO 15

A FACE DO MAL



Darkness

"Um demônio, saído das profundezas do próprio Inferno"

Harry Potter não pôde deixar de sentir um arrepio ao olhar para aquele rosto e, imediatamente, veio à sua memória um trecho de um livro de Sax Rohmer, que havia lido há algum tempo atrás:
“Imagine uma pessoa, alta, magra e felina, de ombros largos, de sobrancelhas como as de Shakespeare e o rosto de Satã, seus cabelos raspados e com longos, magnéticos olhos de um verde como o dos gatos. Invista-o com toda a cruel astúcia de toda uma raça oriental, acumulada em um gigantesco intelecto, com todos os recursos das ciências do passado e do presente e com todos os recursos de um governo bem sucedido que, no entanto, sempre negou qualquer conhecimento sobre sua existência. Imagine tal pessoa horrorosa e terá um quadro mental do Dr. Fu-Manchu, o perigo amarelo encarnado em um único homem”. Era exatamente o que ele via ao encarar o bruxo maligno à sua frente, com um traje semelhante ao de um Mandarim Chinês por debaixo da capa, a encará-lo com divertida curiosidade.

_Admirando a minha aparência, Harry Potter? Saiba que não é a original, mas a que adotei, depois de uma Reformatação Facial Mágica na qual, infelizmente, o Medi-Bruxo precisou morrer depois, a fim de preservar meu segredo. Depois daquilo, protegi minha verdadeira identidade com um Feitiço Fidelius, do qual eu mesmo sou o Fiel do Segredo. Pelo seu olhar, acho que você também deve ter lido “O Insidioso Dr. Fu-Manchu”, de Sax Rohmer. Sim, Harry Potter. Eu li o livro e me encantei pela descrição que o autor fazia do personagem, alguém capaz de inspirar terror com sua aparência ou com a mera menção de seu nome, como era na época em que o livro foi escrito.
_Assim como Voldemort. _ comentou Harry.
_Isso mesmo, Harry Potter. Lord Voldemort já possuía uma aparência assustadora com aquela face viperina, resultado de suas viagens pelo mundo em busca de poder e das Horcruxes que fez. E, realmente, a simples menção de deu nome causava tanto medo que a Bruxidade não o pronunciava, salvo algumas exceções tipo você, Dumbledore e alguns outros, pelo temor de atrair desgraças ou de atraí-lo. Meu nome não causa assim tanto pavor, mas você é um dos poucos que está vendo o meu rosto e continua vivo... por enquanto. Depois disso, li todos os livros que Sax Rohmer escreveu sobre o Dr. Fu-Manchu e cheguei à conclusão de que havia acertado na escolha de minha aparência, a qual irá tornar-se pública quando a Ordem das Trevas reassumir seu poder. Afinal de contas, o Dr. Fu-Manchu dominava as ciências trouxas, mas também possuía conhecimentos de magia.
_Você é louco! Quem seria o líder dessa nova Ordem das Trevas? Não se sabe de nenhum bruxo que possua o perfil para agregar novos seguidores e, além disso, o que vocês farão com os bandidos trouxas?
_Primeiro, Harry Potter, sei de coisas que você não sabe. Portanto, estou absolutamente certo quando digo que esse bruxo existe. Só que ele ainda não sabe disso. Em segundo lugar, você percebeu que a causa das Trevas é, hoje em dia, muito mais uma questão de convicção do que de sangue puro ou sangue-ruim. Se os membros trouxas do Círculo possuem essa convicção, quem sou eu para deixar de acolhê-los? É certo que eles não possuem dons de magia, mas são muito mais versados em tecnologia e nos costumes desse mundo enorme, que a maior parte da Bruxidade ainda encontra dificuldade em compreender. Eles não ocuparão a cúpula da Ordem, mas terão cargos e funções de alto escalão, conforme seu merecimento, sem dúvida. O próprio Voldemort reconhecia o mérito de alguns trouxas, sendo que esse era um dos seus maiores segredos.
_As operações de tráfico, as influências nos governos trouxas, fomentar revoluções e atentados, as atividades do submundo em geral, tudo isso é apenas uma preparação? _ perguntou Harry.
_Exatamente, Harry Potter. E também é preciso lembrar que, neste mundo globalizado, mesmo a Ordem das Trevas precisará ser administrada como qualquer empresa, necessitando de fundos, ainda que esse possa parecer um pensamento mais trouxa do que bruxo. Estamos preparando o terreno, semeando o caos no mundo para que, no final, possamos tomar o poder sem derramamento de sangue... bem, sem muito derramamento de sangue. Afinal de contas, alguns obstáculos terão de ser removidos. Entre eles, você.
_Então, por que já não me lança logo uma “Avada Kedavra” e resolve o seu problema?
_E eu sou besta de me privar do prazer e da honra de brincar com você, até que eu me canse ou que você mesmo me peça para matá-lo, o que eu farei de forma criativa, saboreando cada momento?
_Por que tamanha honra para mim? _ ironizou Harry.
_O fim de Lord Voldemort pelas suas mãos tirou de nós quase que todo o rumo, Harry Potter. Você é um símbolo de tudo aquilo que odiamos e muitos gostariam de estar no meu lugar, tendo-o cativo. Como eu disse, a Ordem das Trevas foi privada do seu líder de direito. E todos aqueles que poderiam assumir tal posto estão mortos ou presos. Isso sem contar aquele traidor ranhoso, Severo Snape, que passou anos sendo o preferido do Lorde e que, no final, estava espionando para Dumbledore durante todo aquele tempo. Mas o maldito seboso encontrará seu destino, em breve. Outro que poderia ser um líder era Lucius Malfoy, o segundo em comando do Lorde. Mas ele está morto, assim como sua sobrinha, Valérie. Seu filho, Draco, seria o escolhido para a sucessão de Lord Voldemort, mas rompeu com a Ordem das Trevas por amor àquela “Trouxa-Que-Virou-Bruxa” e agora sente o peso de nossa vingança. Então, é a nossa vez de providenciar a liderança para os desgarrados. “Sombra & Escuridão” constituir-se-ão nos precursores da Nova Ordem das Trevas.
_Do jeito que você fala, “Escuridão”, até parece que você e “Sombra” é que darão as ordens e o líder será apenas uma figura alegórica.
_Ora, Harry Potter, você já ouviu falar de conselheiros que não tenham influência nas decisões de um príncipe?
_Só que, se esse príncipe tiver lido Maquiavel, ele ouvirá os conselheiros mas decidirá por si mesmo. _ disse Harry, olhando firme para “Escuridão”.
_Sempre o mesmo. Parecidíssimo com seu pai. Língua ferina e diálogos mordazes. Lembre-se do fim que ele teve.
_O fim de um bravo, segundo as palavras do próprio Lord Voldemort, antes de morrer... pelas minhas mãos. _ Harry frisou bem as últimas palavras, para deixar bem claro a “Escuridão” que o bruxo mau não conseguiria intimidá-lo.
_Bem, Harry Potter, vou deixá-lo agora, pois tenho outras coisas para cuidar. Fique à vontade, este quarto onde você está instalado tem várias comodidades. Só não poderá sair dele. Depois pensarei em como vou começar a brincar com você. Pode estar certo de que um de nós irá divertir-se bastante e ambos sabemos qual será. _ disse “Escuridão”, rindo e saindo do quarto. A porta foi trancada a chave e Harry ouviu a voz do bandido dizer: “Colloportus”.

Assim que “Escuridão” saiu do quarto, Harry começou a estudar o ambiente e a planejar seus próximos movimentos (“Bem, já estou dentro. Realmente, ‘Escuridão’, um de nós vai divertir-se bastante, mas não será quem você pensa. Se meus cálculos estão corretos, o avião desaparatou no Mar de Mármara e aparatou em Amsterdam, pois eu ouvi o piloto pedir permissão à Torre de Controle do Aeroporto de Schiphol. Já posso avisar a Mi pelo meio que combinamos. Eles levaram meu celular, mas deixaram meu relógio. Foram tão patetas que nem deram-se ao trabalho de verificar se havia alguma coisa especial nele. Bem, é o preço a pagar pelo excesso de confiança”, pensou o bruxo).
Olhou para seu relógio (enfeitiçado, para não entrar em pane em um lugar com muita concentração de energia mágica) e apertou um botão. Ele e Miep haviam combinado aquele sinal, que significaria que ele estava dentro e o plano seguiria como combinado. Como não poderia utilizar meios mágicos de comunicação, um meio eletrônico era o ideal. O relógio emitiu um sinal curto, em uma freqüência pré-estabelecida. Se alguém do Círculo estivesse monitorando freqüências de rádio, o que Harry achava pouco provável, captaria uma curta estática e seria incapaz de rastreá-la até a sua origem. Naquele exato momento, Miep Van de Vries estava em casa e recebeu o sinal, através de um ponto eletrônico que usava na orelha direita (“Harry já se infiltrou e agora está por sua conta. Que Deus e Merlin o ajudem”, pensou a bruxa Vidente que, por mais que se esforçasse, não conseguia um vislumbre premonitório sobre os fatos a ocorrer).
Harry deitou-se na cama e preparou-se para, novamente, liberar seu corpo astral e explorar o edifício. Não quis assistir à TV pois, assim que a ligou, percebeu um código subliminar na programação, que outra pessoa com uma mente menos poderosa não notaria e acabaria por deixar-se influenciar (“Ponto para mim, ‘Escuridão’. Não vão me pegar com isso”, pensou ele). Logo em seguida, seu corpo astral levitava acima da cama, ligado ao físico pelo Cordão de Prata. Atravessou a parede e viu-se no corredor. Percebeu a existência de apenas um Sensor de Atividades Mágicas, localizado no alto do edifício, confundindo-se com as antenas de rádio e TV (“Prioridade: reprogramar esse Sensor. E isso eu posso fazer mesmo em forma astral. Ainda bem que o Prof. Mason me ensinou como fazê-lo utilizando a telecinese, como eu fiz quando evitei aquele atentado a Snape, quando eu estava no sexto ano”, pensou Harry). Após reprogramar o Sensor, percorreu todo o interior do edifício que ocultava a base de operações do Círculo Sombrio em Amsterdam. Percebeu também que não havia nenhum bruxo ou trouxa com habilidades sensitivas no local. Aquilo deixou-o satisfeito, pois poderia realizar novas viagens astrais para investigar o local.

Em Londres, Gina estava em frente a uma cabine telefônica meio depredada, em uma rua de pouco movimento. Entrou na cabine e teclou 6-2-4-4-2. Imediatamente, uma voz ouviu-se:
_Bem vindos ao Ministério da Magia. Por favor, informe seu nome e motivo da visita (a ruiva havia preferido usar a entrada de visitantes).
_Virgínia Ginevra Molly Weasley Potter. Vim ver meu pai, o Ministro da Magia.
Um crachá prateado saiu pela abertura de devolução de troco, no qual via-se escrito: “Virgínia Potter, encontro com o Ministro”. O chão da cabine começou a afundar e logo ela estava no Átrio. Entregou sua varinha ao guarda e dirigiu-se ao gabinete do Ministro. Aguardou na sala de espera até que a pessoa que estava em audiência com ele saísse e a secretária anunciasse sua chegada.
_Gina, minha querida! _ disse Arthur Weasley _ Que bom vê-la!
_Muito ocupado, papai? _ perguntou a ruiva.
_Nem tanto que não possa almoçar com minha filha. Ainda que seja no refeitório do Ministério. Tenho apenas de terminar de despachar alguns documentos e logo estarei livre. Sente-se e espere só um pouco.
Naquele momento, Rony entrou no gabinete.
_Pai, aqui está o ofício que o senhor quer mandar para o Ministro da Magia da China, sobre o intercâmbio de jogadores de Quadribol. Agora é só assinar e enviar. Cho já está esperando por esse documento. Ela está fazendo um excelente trabalho, desde que deixou de jogar e passou a dirigir a Divisão de Quadribol do Ministério Chinês. Sem contar que os produtos licenciados e sua imagem, que Donovan administra, deixam a família em uma situação bastante confortável. Oi, Gina. Tudo bem?
_Tudo bem, Rony. Ou melhor, quase tudo. Sabe que Harry está fora há cerca de três semanas, em uma investigação. Ele estava seguindo uma pista que poderia inocentar Draco, mas não fez contato.
_Nem com os Aurores, segundo o que Kingsley me disse. _ comentou Rony.
_Mas o que a preocupa, minha filha? Harry já ficou fora de casa por bastante tempo em investigações anteriores. Não é novidade.
_Ele fez contato comigo por correio-coruja, há uns vinte dias e, depois disso, nada mais. Ele disse na carta que não faria mais contato para não prejudicar as investigações.
_Gina, você sabe que isso é uma rotina de investigação. Um procedimento que Harry segue à risca. Não é novidade nenhuma. _ disse Rony _ Ele disse onde estava?
_Não, mas eu descobri. Ele estava em Istambul.
_Como é que você sabe? _ perguntou Rony.
_Citando Hermione, é óbvio. Vejam, aqui está o pergaminho no qual Harry escreveu a carta. _ Gina tirou o pergaminho da bolsa e Rony o pegou.
_ “Chuva de estrelas”? Mas do que ele está falando?
_Me dá isso aqui, seu xereta! _ Gina pegou o pergaminho das mãos de seu irmão, corando como um tomate _ Se vocês perceberem, o pergaminho tem um aroma bem característico.
_E muito gostoso. _ comentou Arthur _ Mas qual a relação com Istambul?
_Bem, esse aroma é uma combinação de especiarias e perfumes que ficam em suspensão no ar e acabaram por impregnar o pergaminho. Tal variedade de fragrâncias só pode ser encontrada em um lugar.
_Qual? _ perguntou Rony.
_No Kapalicarsi. _ Gina respondeu.
_O Grande Bazar de Istambul. _ disse Rony _ Sabe, mana, talvez você devesse deixar de ser Medi-Bruxa e entrar para a Academia Européia de Aurores.
_Não, mano, já passei da idade para me inscrever. Bem, continuando, entrei em contato com aquela nossa amiga, Haradja.
_A filha de Ali Karin Bey, o Superintendente de Operações da InterSec em Istambul? Lembro-me de que ele fez um intercâmbio em Hogwarts, na época dos pais de Harry. _ perguntou Arthur.
_Ela mesma. Não a víamos há mais ou menos uns quatro anos, a “irmã caçula desaparecida” de Harry. Seu pai casou-se de novo.
_O que houve com Nashra? _ perguntou Rony.
_Morreu, há uns dois anos. Câncer de mama.
_Por Merlin! E o que foi que Haradja disse?
_Bem, quando mencionei o nome de Harry, a maior parte do que ouvi foi totalmente impublicável, a maior coleção de palavrões em turco e árabe que eu já ouvi na minha vida. _ disse Gina, que não pôde deixar de rir ao lembrar-se da indignação de Haradja Karin Bey pela lareira.
_Por que isso? _ perguntou Rony, rindo juntamente com a irmã.
_Parece que Harry sedou a garota, para impedi-la de ir com ele a uma missão, um encontro com um contato do Círculo Sombrio na Pasa Disco.
_Uau! A Pasa Disco é um dos clubes mais badalados do bairro de Ortakoy! A freqüência é selecionadíssima, a música é da melhor qualidade e não acontece nenhuma confusão por lá.
_Por que, Rony? _ perguntou Arthur.
_O senhor precisa ver os “armários” que eles têm como seguranças. Vi um documentário sobre a vida noturna de Istambul, no qual apareciam os seguranças da Pasa Disco. Tem um que, sem exagero, deve ter mais da metade do tamanho de Hagrid. E Harry foi encontrar-se com um contato lá, mana?
_Foi o que Haradja me disse, depois de esgotar seu estoque de palavrões. E, depois disso, nenhum contato, nenhum sinal de vida, nada. Os seguranças disseram que o viram entrar, pois Harry é facilmente reconhecível pela cicatriz. Mas ninguém o viu sair.
_E isso foi há quanto tempo? _ perguntou Rony.
_Vinte dias, como eu lhe disse, mano. Estou muito preocupada, pois Harry pode ter caído em uma armadilha (“E eu fico ainda mais preocupada porque ele bloqueou o nosso elo telepático”, pensou a ruiva).
_Vou falar com Kingsley e ver o que ele pode fazer. _ disse Arthur Weasley. Naquele momento, Percy chegou.
_Bom dia, pai. Bom dia, Rony. Gina! Estava com saudades de você, garota! Veio almoçar conosco?
_Sim, Percy. Como está Penélope? Há tempos não a vejo.
_Ela está bem. Whitney e Daryl estão cada vez mais... Weasleys.
Todos riram, pois sabiam que o casal era terrível, assim como todos os outros “anjinhos” da família.
_Estou imaginando como é que vai ser quando essa turminha estiver toda ela em Hogwarts. _ disse Rony _ E falando em Cho, lembrem-se de que será bem provável que Sun-Li também receba as cartas para estudar aqui, na Grã-Bretanha.
_A escola jamais será a mesma. _ e foram para o refeitório, a fim de almoçarem.

Uma das situações mais difíceis para Harry estava sendo fingir ser uma vítima indefesa de “Sombra & Escuridão”. O bruxo maligno já havia tentado o Veritaserum, mas Harry lhe passara apenas informações inúteis, já que o Antídoto Universal Granger/Snape ainda estava fazendo efeito e ele também tinha tomado doses da Poção de “Centelha Arco-Íris”, em forma desidratada. Mesmo tendo sido revistado, conseguira esconder as preciosas cápsulas nos lugares mais inusitados, tais como no interior de seu relógio, na barra de suas calças e em compartimentos secretos que não haviam sido localizados, nos saltos de seus mocassins. Ainda tinha cápsulas suficientes para mais umas duas semanas, embora não planejasse passar tanto tempo assim sendo “hóspede” daqueles bandidos. Já havia formado um quadro mental do que poderia ocorrer e, segundo as suas suposições, logo ele seria alvo de coisas ainda piores (“Preciso obter logo a informação de que necessito. Se bem que eu acredito que terei de levar o meu plano até os últimos limites. ‘Escuridão’ não parece estar disposto a abrir a boca e está a fim de fazer um jogo de gato-e-rato comigo. Bom, pois quero levá-lo ao ponto de querer fazer comigo algo que será o meu passaporte para fora daqui... e com tudo aquilo que eu preciso saber. Só espero que seja logo, pois eu estou ficando cansado desse jogo”, pensou Harry). O bruxo passou a mão pelo rosto, no qual a barba começava a crescer novamente. Pelo menos deixavam-no barbear-se de vez em quando.
A porta do quarto abrindo-se tirou Harry Potter de suas reflexões. Por ela passou “Escuridão”, acompanhado de uma bruxa que mantinha seu rosto encapuzado.
_ “Sombra”. Finalmente estou conhecendo você mais de perto. Sabe, foi muito bom você ter vindo. A companhia de “Escuridão” estava começando a ficar meio enfadonha.
_Muito engraçado, Harry Potter. _ respondeu a bruxa, tirando o capuz e olhando para ele. Seu rosto era bonito, com cabelos e olhos castanhos, aparentando uns trinta e poucos anos mas, logicamente, aquela não era a sua verdadeira aparência. “π” havia dito que “Sombra” mudava freqüentemente a aparência e mantinha seu Ki rebaixado. Era tão perigosa quanto “Escuridão” e bastante inteligente e esperta, segundo as informações que “π” lhe havia passado _ Vamos ver se o seu bom humor irá manter-se, depois de nos divertirmos um pouco. Temos tempo de sobra. Diga-me, “Escuridão”, já obteve algum tipo de informação dele?
_Não, “Sombra”, nada de importante. Das duas uma, ou ele não teve conhecimento de nada importante ultimamente ou então deve ter tomado algo que lhe nublou a mente de foma seletiva.
_Tipo a Poção Obnubilata? Soube que os Aurores costumam utilizá-la para proteger informações importantes e que seu efeito é bastante prolongado. Acho que teremos de ser mais drásticos. Já tentou a Maldição Imperius?
_Já tentei e não adiantou absolutamente nada. Se bem que eu já esperava isso. Harry Potter é imune à Maldição Imperius, desde os catorze anos de idade.
_E quanto à Maldição Cruciatus?
_Ainda não tentei, mas é uma opção interessante. Vamos para a sala de interrogatório, para vermos o que conseguimos.

Depois de ser submetido à maldição Cruciatus por algumas vezes, Harry foi levado para seu quarto e deixado no chão, deitado e transpirando profusamente. Cerca de quinze minutos depois, um rapaz entrou no quarto e foi verificar as condições do bruxo. Quando foi tocar no pescoço de Harry, a fim de verificar a pulsação da carótida, levou o maior susto, ao ter seu pulso agarrado por uma mão que tinha a força de uma torquês.
_Calma, Harry. _ sussurrou o rapaz _ Sou eu, “π”. Como você está?
_Só meio dolorido. Aprendi a resistir também à Maldição Cruciatus, eliminando a maior parte da dor, reduzindo-a a um nível suportável, como o de uma contusão forte. Dá trabalho, exige um grande esforço mental, mas adianta. Vejamos quem é você, hoje... Ora, vejam só. James Dean. Está muito bem de “Rebelde-Sem-Causa”.
_Obrigada. Harry, parece que a paciência de “Escuridão” está se esgotando.
_Estou contando com isso, “π”. _ respondeu Harry.
_Mas você sabe muito bem o que eles pretendem. Você me disse que tem como neutralizar, mas eu ainda não faço idéia de como vai fazê-lo.
_Vou manter a surpresa, “π”. Se eles estão chegando a esse ponto, quer dizer que logo “Mantis” terá de se expor.
_Cuidado, Harry. Você sabe o que foi que ele fez com Anya.
_Sim, sei. E acredito que “Escuridão”vai querer repetir a dose. Ele não quer apenas informações sobre as operações dos aurores ou mesmo tentar saber se eu sei algo sobre os “Camaleões-Fantasmas”. Ele quer, por alguma razão, ver Draco e a mim no fundo do poço.
_Parece que sim, Harry. Derrotando Voldemort você tirou tudo da Ordem das Trevas e, atualmente, as operações dos Aurores e as atividades da Fundação Narcisa Malfoy prejudicam as ações do Círculo. O que você vai fazer agora?
_Eu vou apenas esperar, “π”. Eles que façam o próximo movimento.
_Torno a dizer, Harry,que será perigoso. Ambos sabemos o que “Escuridão” está planejando.
_Na verdade, “π”, eu estou contando com isso. Ele pensará que venceu, as seu excesso de confiança será sua ruína. Serei eu quem sairá daqui com informações importantes.
_Vai continuar fazendo surpresa sobre o que pretende, não é?
_Sim. Só quero que, quando for o momento, você entre em contato com a Mi. Ela já sabe o que terá de fazer.
_OK, Harry. Eu confio em você. Agora tenho de ir, para que não desconfiem.

Depois que “π” saiu, Harry aproveitou-se de que não haviam câmeras nem Cristais de Armazenagem no quarto e entregou-se à meditação, levitando e curando seus ferimentos, com a força do seu Ki. Precisava estar no melhor de suas condições para obter êxito naquilo que planejava. E o momento não iria demorar muito mais.

Harry foi levado novamente para a sala de interrogatório, imaginando que seria novamente submetido a uma sessão de Maldição Cruciatus, mas o que esperava por ele na sala era algo diferente. “Sombra”  também estava ali, pronto para presidir mais uma sessão de tortura, mas havia mais alguém sentado à mesa, com a barba por fazer e uma aparência não das melhores.
Nikolas Pieterzoon.
Vendo o agente da InterSec ali, Harry deduziu que o momento da verdade aproximava-se.
_Sente-se, Harry Potter. _ disse “Escuridão”. Acredito que você conheça o Sr. Nikolas Pieterzoon, da Divisão de Repressão aoTráfico da InterSec. Ele já é nosso hóspede há alguns dias, desde que resolveu bancar o Jack Bauer e caiu em nossas mãos.
Então pegaram você, Pieterzoon. _ e virou-se para “Escuridão” _ Boa tentativa, bruxo mau. Mas não me engana.
_Sim, Potter, me pegaram. _ disse Pieterzoon _ Mas não da maneira que você está pensando. Na verdade, me pegaram há cerca de cinco anos atrás.
Pieterzoon levantou-se e, sem o menor jeito de quem houvesse sido torturado, aproximou-se de Harry.
_Então minhas suspeitas estavam certas. Você vendeu-se ao Círculo Sombrio, como o reles traidor que eu sabia que era. _ disse Harry, olhando firme nos olhos de Nikolas Pieterzoon.
_Mas que coisa mais feia para se dizer, Potter. Digamos que o Círculo me fez uma oferta que eu não pude recusar. Além disso, sou grato a “Escuridão” por uma coisa que recuperei.
_E o que era? _ perguntou Harry.
_Meu passado. Sabe, Potter, é muito bom saber quem se é e de onde se veio. Ajuda a compreender muitas coisas. Cresci sem saber quem eu era, até que minhas memórias foram totalmente recuperadas por “Escuridão”. E o que eu descobri foi muito, mas muito interessante, mesmo. Eu, na verdade, não sou o que pensava ser, pois me foi revelado que eu não sou um trouxa, mas sim um bruxo abortado. Todas essas lembranças foram apagadas quando eu era criança, por um bruxo das Trevas, meu próprio pai.
_Seu pai?
_Sim, Potter. Na realidade eu não sou Holandês de nascimento, mas sim Alemão. De Stuttgart, para ser mais exato. Meu pai era um bruxo das Trevas, um Death Eater que, por sinal, foi capturado por você, logo que formou-se na Academia Européia de Aurores. O nome dele era Helmut Rommersdorf.
_Lembro-me dele. Resistiu o quanto pôde, mas acabou sendo levado para Azkaban. Morreu, na mesma rebelião em que Lucius e Valérie Malfoy também foram mortos.
Pois é, ele era meu pai. Quando nasci, ele achava que eu seria a esperança da família, o representante de uma nova geração de Death Eaters, mesmo que na época ainda fosse apenas o seu pequeno Dieter. Mas, quando completei onze anos e meus dons de magia não afloraram, ele ficou em uma dificílima situação. Por um lado, ele temia pelo que poderiam fazer com seu amado filho, caso descobrissem que era um bruxinho abortado. Pelo outro, havia a potencial perda de credibilidade junto aos círculos de Voldemort. Então ele optou pela saída menos traumática para todos.
_E qual foi ela?
_Forjou a minha morte, me aplicou um forte Feitiço de Memória e internou-me em um orfanato trouxa, na Holanda.
_Em outro país? Tudo para que os outros Death Eaters não pudessem localizá-lo?
Sim, Potter. Foi o que garantiu a sobrevivência da família, pois Voldemort não os pouparia se soubesse que nela havia uma tal mancha. Ainda mais porque o meu avô havia sido um grande bruxo das Trevas, aliado de Grindelwald, nos dias da II Guerra Mundial e um de seus melhores agentes, trabalhando infiltrado entre os Maquis. Ele foi responsável pela destruição de várias células da Resistência e pela captura e posterior execução de muitos elementos. Um currículo de respeito entre os Death Eaters.
_Já vi que a inclinação para o mal é coisa de família...
_Engraçadinho. Quero ver se vai rir tanto quando encarar o que temos preparado para você.
_E como foi que você acabou fazendo parte dessa corja do Círculo Sombrio, Pieterzoon... ou melhor, Dieter Rommersdorf?
_Passei a minha vida sendo Nikolas Pieterzoon, Potter. Não será agora que eu deixarei de ser. Meu nome é este, desde que um advogado trouxa me adotou e me criou como seu filho natural. Tomei gosto pelo Direito e fiz a Faculdade, especializando-me em Direito Criminal. Depois de uma breve carreira como advogado, fui aprovado para a Interpol, embora meu grande desejo sempre tivesse sido a InterSec, a Agência de Segurança Internacional. Prestei o concurso por seis vezes seguidas e, na sétima, acabei sendo aprovado. Mas o que ninguém sabia era que eu já estava trabalhando para o Círculo Sombrio, no início como informante e, depois, como um agente mais ativo e sob um codinome.
_Deixe-me adivinhar. _ disse Harry _ Não seria...
_ “Mantis”. _ disseram os dois, ao mesmo tempo.
_Finalmente você descobriu aquele por quem estava procurando há tanto tempo, Harry Potter. _ disse “Escuridão” _ Pena que não levará essa informação aos seus superiores da InterSec.
_Na verdade, “Escuridão”, eu já tinha algumas suspeitas sobre Pieterzoon, as quais foram confirmando-se com o passar do tempo. Veja bem, primeiro ele não demonstrava nenhum conhecimento sobre o mundo bruxo, o que significava que ele era um agente de escalão mais baixo. Seu progresso foi muito rápido e, depois de seis tentativas frustradas, foi aprovado para a InterSec. Ora, isso revela que houve alguma ajuda, pois contrariava quaisquer expectativas. Depois ele começou a revelar muito rapidamente conhecimentos sobre a Bruxidade, mais rápido do que qualquer instrutor de Assuntos Bruxos poderia ensiná-lo. Mas houve um fato que simplesmente fechou o diagnóstico, como dizem os médicos e Medi-Bruxos.
_E qual foi ele, Potter? _ perguntou Pieterzoon.
_Você ter mencionado o mistério da minha mudança de aparência durante a Batalha de Avalon, contra Lord Voldemort, como se tivesse sido publicado em um volume de “Hogwarts, Uma História”. Aquilo JAMAIS foi publicado no livro. Eu mesmo só fui saber algum tempo depois e, assim mesmo, porque Dumbledore resolveu me contar. Todos eles haviam assumido o compromisso de não revelarem aquele fato, quando foram entrevistados sobre a batalha, para que fosse parte do volume. Portanto, você somente poderia ter tomado conhecimento daquilo através de um Death Eater, já que os terroristas da Al-Qaeda tiveram suas memórias apagadas, inclusive Osama Bin Laden. E já que os Death Eaters remanescentes que os Aurores não capturaram acabaram por fazer parte do Círculo Sombrio, a conclusão lógica era de que você fazia parte deles e que era quase que 100% certo de que você só poderia ser “Mantis”. Além de traidor, assassino! Matou Anya lentamente, viciando-a em heroína, depois provocando-lhe uma Overdose e jogando-a no Rio Amstel. _ antes que qualquer um pudesse reagir, Harry conseguiu chegar perto de Pieterzoon e atingiu-o com um soco que o fez recuar uns dois metros e cair sobre a mesa, com um filete de sangue escorrendo do canto da boca _ Este foi por Anastasia Ivánovna Artamonov, seu desgraçado! Ela ia casar-se depois daquela missão!
Foram precisos quatro bandidos do Círculo para tentar segurar Harry. O bruxo estava verdadeiramente indignado e desvencilhou-se deles, quase chegando a alcançar Pieterzoon.
_ “Impedimenta”! _ a Azaração de Impedimento lançada por “Escuridão” fez com que Harry recuasse _ Fique calmo, Harry Potter. Vocês terão muito tempo para se acertarem. Mas pode ter certeza de uma coisa: agora que tem conhecimento do segredo de “Mantis”, você não poderá permanecer vivo. Eu poderia lhe lançar um Feitiço de Memória, mas não posso correr o risco de que ele possa ser desfeito por algum outro bruxo poderoso. Por outro lado, eu quero acessar muitos dos segredos dos Aurores dos quais você deve ter conhecimento, a começar pelas identidades de “Tigershark, Banshee e Hawkeye”, os três maiores “Camaleões-Fantasmas” que vivem melando os nossos planos.
_E acha que eu, mesmo que soubesse, iria lhe revelar essas informações numa boa? Você não me parece ser assim tão ingênuo. _ ironizou Harry.
_Ora, Harry Potter, já sei que não vai dar para utilizarmos meios convencionais com você. A Maldição Cruciatus não o amolece o suficiente. Desde a adolescência você é imune à Maldição Imperius. Acredito que você deva ter tomado uma dose reforçadíssima de Poção Obnubilata, portanto tomar Veritaserum será o mesmo que tomar cerveja amanteigada.
_E o que pretende fazer quanto a isso?
_Tudo a seu tempo, Harry Potter. Tudo a seu tempo. _ e “Escuridão” saiu da sala. Harry foi conduzido de volta para seu quarto e, ao passar por Pieterzoon, este lhe disse, apertando contra o lábio inchado uma bolsa de gelo conjurada por “Sombra”:
_Isso não vai ficar assim, Potter. Ainda terei o prazer de vê-lo o mais por baixo possível. Espero que “Escuridão” me proporcione a satisfação de ajudá-lo nisso.
Deixado em seu quarto, Harry foi depois visitado por uma bruxa que havia sido encarregada de levar-lhe o almoço. Até aí, nada de especial, exceto pelo fato de que a bruxa tinha o rosto de Cameron Diaz.
_Só mesmo você, “π”. _ disse Harry, preparando-se para se servir.
_Achei que depois daquele episódio você precisava de uma visão mais agradável. _ a bruxa sorriu para ele _ Harry, eu consegui gravar tudo aquilo em um Cristal de Armazenagem. Gostaria que eu o mandasse para os Aurores?
_Não, “π”. Podem haver espiões no Ministério que certamente providenciariam o sumiço do Cristal. Sua varinha é autorizada, portanto não irá disparar o Sensor de Atividade Mágica. Empreste-a para mim, um pouco. _ “π” emprestou a varinha e Harry apontou-a para o Cristal de Armazenagem, que logo desapareceu.
_O que você fez?
_Um Feitiço de Teletransporte de Longa Distância, que aprendi com a Mione. O Cristal já está em segurança, no meu cofre.
_Mas e se você não sobreviver?
_Que falta de fé na minha pessoa, “π”. _ brincou Harry _ Tem idéia de quando eles vão usar o golpe final em mim?
_Acho que hoje mesmo, se você não lhes der nenhuma informação. Eles vão pegar pesado.
_Assim que eles o fizerem, avise a Mi, para que ela fique de prontidão. E eles irão livrar-se de mim daquele modo, quando eu não tiver mais utilidade?
_Exato, Harry. “Escuridão” e “Mantis” não querem cometer o mesmo erro que cometeram com Anya.
_Outra coisa, “π”. Tente localizar aquele elfo doméstico que trabalhava para Anya.
_Pooka? Mas por que?
_Ele também pode estar correndo perigo e os elfos não são assim tão resistentes a interrogatórios. Tente providenciar proteção para ele... de repente em Hogwarts. Sim, lá ele poderá estar em segurança.
_Farei isso, Harry.
_OK. E eu acho que sairei daqui com tudo o que eu preciso.
_É o seu Uttegae em andamento?
_Exato. E ele está prestes a tornar-se um Shicho. “Escuridão” pensa que tem tudo sob controle. Mal sabe ele.
_Pode servir-se, Harry. Eu verifiquei a comida e não tem nenhum veneno ou droga.
_Mesmo que tivesse, não adiantaria. Tudo corre de acordo com o que eu planejei.
_Você se arrisca muito, mas parece ter tudo sob controle. Como desenvolveu essa característica?
_Não fique espantada, “π”, mas isso eu aprendi com Voldemort. Ele fazia como Napoleão, procurando não deixar nenhum detalhe ao acaso e raciocinando como se todas as chances lhe fossem adversas. _ Harry terminou de comer e “π” foi embora. O bruxo repassou mentalmente os detalhes de seu plano e ficou satisfeito.

Naquela tarde, Harry percorreu o edifício, acompanhado por “Escuridão”.
_Nosso disfarce é perfeito, Harry Potter. Este edifício é um centro empresarial, mas esconde uma poderosa unidade de refino e embalagem, de onde a heroína é despachada por vários meios, para empresas pertencentes ao Círculo e, por fim, aos distribuidores, nas ruas das cidades da Europa e América. Veja como trabalham.
Através de uma vidraça, Harry viu a refinaria, onde o ópio entrava e no final saía a heroína, embalada em pacotes que eram acondicionados no interior de bonecas e outros brinquedos, tubos de creme dental, potes de cosméticos e vários outros objetos de aparência insuspeita. Esses eram colocados em caixotes e enviados por rampas e esteiras, até as unidades de transporte, a partir das quais eram carregados em vans e caminhões que percorriam uma estrada subterrânea cuja saída ficava bem distante dali. O bandido bruxo parecia orgulhoso em mostrar ao Auror cativo o desenvolvimento da organização.
_Quando eu e “Sombra” assumimos o Círculo Sombrio, após a morte do Planejador, a organização estava um tanto sem rumo e então nós a reestruturamos. Resolvemos desviar nossos esforços para atividades mais lucrativas, tais como drogas e órgãos para transplante, embora não tenhamos nos descuidado das outras atividades, que também representam um bom ganho e são tradicionais, como a proteção, a prostituição, o contrabando de armas e outras. Mas, como eu lhe disse, tudo será para garantir lastro financeiro e criar a instabilidade sócio-política que precederá a nova ascenção da Ordem das Trevas. _ enquanto percorriam os corredores, “Escuridão” contava a Harry como era a rede de distribuição da heroína para a Europa e a América. Harry ficou admirado com a penetração do Círculo Sombrio na indústria, comércio e mesmo em governos de vários países. Quando a Ordem das Trevas, segundo “Escuridão”, assumisse o poder, o terreno já estaria preparado e a transição seria quase imperceptível.
_Com você e “Sombra” como eminências pardas do regime e uma carismática figura de proa posando de “D. Voldemort II”, não é? Eu já imaginava algo assim da sua parte.
_A política e a guerra acabam por confundirem-se uma com a outra, Harry Potter. E os fins acabam justificando os meios.
_Alguém andou lendo Maquiavel e aplicando para o mal os seus princípios.
_Ele era trouxa, mas suas lições são válidas para ambos os mundos. Levem-no para o seu quarto. Teremos um decisivo encontro hoje à noite.

Em seu quarto, Harry Potter apenas esperava pelo momento de colocar em prática seus planos e continuar enganando os bandidos. Muitas das informações que ele queria já estavam em seu poder e faltava muito pouco para que ele pudesse dar um definitivo golpe na Conexão Amsterdam do tráfico de drogas do Círculo Sombrio. Um ruído de chave girando na fechadura tirou o bruxo de seus pensamentos. Dois bruxos do Círculo, armados de varinhas, apareceram para escoltá-lo.
_Harry Potter, queira nos acompanhar. Nossos líderes esperam por você.
Harry acompanhou os dois até a sala de interrogatórios. Sentados em cadeiras de espaldar alto, encontravam-se “Sombra & Escuridão”.
_Vou lhe dar uma última chance, Harry Potter. _ disse “Escuridão”, olhando para ele _ Diga-me o que quero saber.
_Não sei o que você quer saber, “Escuridão”.
_Quem é que lhe passa informações de dentro do Círculo?
_Não faço a menor idéia do que você está falando. _ disse Harry, com ar entediado.
_Quais são os planos dos Aurores para tentarem desmascarar “Mantis”?
_Que planos?
_Quem são os três maiores “Camaleões-Fantasmas”, os Aurores que vivem frustrando nossas operações? Onde estão os três volumes do Necronomicon que vocês tiraram de nós? Bem, pode desconsiderar esta última. Tenho certeza de que devem estar em poder daquele patético bruxo gagá, Alvo Dumbledore.
_Você não é nem uma fração de Alvo Percival Wulfric Brian Dumbledore, seu assassino! _ exclamou Harry, indignado.
_Torno a perguntar: Quais as identidades de “Hawkeye”, “Banshee” e “Tigershark”?
_Quem? – perguntou Harry, divertindo-se com a irritação de “Escuridão”.
_Harry Potter, não seja tão intransigente. Não tem chance alguma contra nós, do Círculo Sombrio. Por que não junta-se a nós?
_Vá para o Inferno!
_Eu já esperava por essa sua resposta, Harry Potter. _ disse “Escuridão”, após um suspiro _ Sr. Pieterzoon, queira vir até aqui, por favor?
_Pois não, chefe. O que deseja? _ perguntou “Mantis”, de uma maneira que lembrava Pettigrew.
_Parece que o Sr. Harry Potter está relutante em colaborar.
_E o que o senhor deseja que eu faça?
_Utilize seus talentos, da mesma maneira que fez para convencer a Srta. Artamonov a colaborar conosco.
_Terei o maior prazer nisso, chefe. Potter, prepare-se para a maior viagem da sua vida.
_Como assim? _ perguntou Harry, fingindo ignorância.
_Não se faça de bobo, Potter. Sabe muito bem o que está para acontecer daqui a pouco. _ disse Pieterzoon, pegando algumas coisas de dentro de uma maleta: um bico de Bünsen, conectado a um mini-botijão de gás, uma colher de sobremesa, uma seringa descartável dentro de seu envelope, com sua respectiva agulha e um envelope, contendo um pó branco que Harry logo adivinhou o que era. De dentro do seu bolso, Pieterzoon tirou uma ampola de água destilada e quebrou-a, despejando seu conteúdo na colher. Abriu o envelope e despejou o pó por sobre a água, levando a colher até o bico de Bünsen, que já estava aceso e começando a aquecer a mistura. Depois de julgá-la adequada, pegou a seringa, conectou nela a agulha e aspirou o líquido da colher. Verificou o nível e aproximou-se _ Se você já tiver assistido “Operação França II”, saberá o que o espera, igual a “Popeye” Doyle.
_Maldito! Foi o que você fez com Anya? _ disse Harry, olhando fixamente na direção da seringa.
_Ora, Potter. Você parece estar meio resistente. Poderá até não querer agora, mas eu garanto que você vai, no futuro, gostar muito e pedir por mais. Com a Srta. Artamonov foi a mesma coisa. Dez dias e ela começou a nos revelar tudo o que sabia. Aliás, você deveria ver as coisas que ela fazia por mais uma dose. _ disse Pieterzoon, com um brilho diferente nos olhos _ Mas não se preocupe, Potter. Você não é o meu tipo.
_Você é doente, Nikolas Pieterzoon. Está bem à altura desses malditos assassinos. _ todo o tempo Harry não tirava os olhos da seringa _ Mas receberá tudo aquilo que merece.
_Virou Vidente, Potter? _ disse Pieterzoon, preparando-se para injetar o nocivo conteúdo da seringa no braço direito de Harry, que já estava garroteado, quando foi interrompido por “Escuridão”.
_ “Mantis”, não se esqueça de que Harry Potter é destro. Injete no esquerdo, para que fique parecendo que ele mesmo o fez.
_Sim, chefe. Não cometerei com ele o mesmo engano que cometi com a Srta. Artamonov.
Harry debatia-se, contido por quatro membros do Círculo, todos eles seus velhos conhecidos: Montague, Bole, Derrick e Flint. Quatro sonserinos, todos oriundos da equipe de Quadribol, ágeis e fortes. Derrick segurou seu braço e Pieterzoon aproximou a seringa, à procura de uma veia. Encontrando a basílica, sorriu e cravou a agulha, vendo o sangue refluir. Desamarrou o garrote e, lentamente, injetou o conteúdo da seringa. Harry revirou os olhos e, com um gemido, pendeu a cabeça para o lado e eles fecharam-se.
_Ele está dopadinho! _ exclamou Flint _ A droga fez efeito na hora.
_ Sim. _ disse “Escuridão” _ Do jeito que está, poderia ser pisoteado por um hipogrifo que nem ao menos sentiria.
_Ótimo! _ exclamou Pieterzoon, dando um forte soco no rosto de Harry. Imediatamente os lábios incharam e um fio de sangue escorreu deles.
Você aí, leve Harry Potter para o seu quarto e cuide desses ferimentos. Eu o quero inteiro... por enquanto. _ disse “Escuridão”, apontando para uma velha bruxa com uniforme de faxineira, que acabara de chegar _ Pode ir.

A faxineira levou Harry para o quarto e colocou-o na cama. Moveu a varinha e sua aparência mudou: estava agora com a cara de Brenda Song. Pegou no bolso um lenço e levou-o aos lábios do bruxo, espantando-se quando ele abriu os olhos e olhou para ela, não com o olhar vago de alguém que tinha uma dose de heroína na corrente sanguínea, mas com a expressão de sempre nos olhos verde-esmeralda, sóbria e alerta.
_Caracas, que soco! _ disse Harry _ Eu não sabia que Pieterzoon tinha uma mão assim tão pesada.
_Harry! M-mas como é que pode?
_Achou que eu estaria chapado, “π”?
_Mas eu vi o material todo na mesa, com a aparência de que havia acabado de ser utilizado! _ disse “π”, espantada _ Você deveria estar totalmente sob o efeito da droga.
_E o que a faz pensar que o que eles me injetaram era heroína?
_Como assim, Harry? “Episkey”! “Tergeo”! _ disse “π”, enquanto usava magia para desinchar os lábios de Harry e limpar o sangue _ A não ser que... espere aí, Harry. Você conseguiu, de alguma forma, substituir o conteúdo daquela seringa por alguma coisa inofensiva!
_Exatamente. Eu assisti várias vezes “Operação França II” e “Sem Limite Para Vingar”, além de “Christiane F”. Então eu sei o necessário para fingir o comportamento de alguém que está tornando-se um dependente químico. O que eles me injetaram não era heroína e sim um complexo de vitaminas. Da mesma forma que eu enganei Lord Voldemort e Lucius Malfoy em Azkaban, quando eu estava no sexto ano, enganei “Escuridão” e “Mantis” agora. E continuarei enganando, mesmo que eles ainda queiram livrar-se de mim daquela forma. Aliás, “π”, garanta que eles irão utilizar EXATAMENTE aquela maneira para que meu corpo seja encontrado.
_Mas, como você conseguiu substituir a heroína por complexo de vitaminas na seringa sem uma varinha? A não ser que...
_Exatamente o que você está pensando, “π”. Exatamente isso. Bem, agora vou mandar embora estes dois Cristais de Armazenagem. _ e Harry providenciou o envio dos dois Cristais de Armazenagem que tinha, escondidos, para seu cofre. _ Só mesmo as marcas das picadas e a flebite que virá depois é que irão me incomodar um pouco. Mas não será nada que um pouco de Essência de Murtisco não resolva.
Diante dele, “π” estava boquiaberta. Era a primeira vez que a bruxa via um bruxo jovem fazer aquilo. Geralmente era uma coisa que somente bruxos mais velhos eram capazes de fazer e, assim mesmo, com um certo esforço, a não ser que fossem... mas era quase impossível que Harry Potter, com trinta anos, tivesse atingido um tal nível de poder que tivesse tornado-se um...
_ Eu faço uma idéia do que deve estar passando pela sua cabeça neste momento, “π”. E é isso mesmo que eu me tornei.
_Então você... _ disse a bruxa, com o rosto da atriz Brenda Song quando adolescente, olhando emocionada para Harry e segurando suas mãos.
_Eu não sou mais dependente da varinha para fazer uso da magia, “π”.
Graças a Deus e a Merlin! _ disse ela, abraçando Harry Potter, lágrimas correndo pelo seu rosto.


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