Kuroi Crystal escrita por Luciane


Capítulo 19
Capítulo 18 - Reencontrando uma velha amiga


Notas iniciais do capítulo

Gente, sei que dessa vez o atraso na postagem foi bem maior do que das outras vezes. Mas agora tenho uma boa justificativa pra isso (boa em todos os sentidos rs)

É o seguinte: estou publicando meu primeiro livro, pela editora Léxia. A fic "Guardians", que alguns por aqui já conhecem, vai virar livro! =) E vocês nem imaginam a trabalheira que isso dá! rs Muitos contatos e negociações com a editora, muitos textinhos pra preparar (orelhas, contracapa, resumo, prefácio, agradecimentos, dedicatórias...), a seleção das imagens que vão para o livro... Enfim, passei as últimas semanas muito enrolada com tudo isso, e me afastei completamente das outras histórias.

Mas agora já está quase tudo encaminhado para o volume 1 de Guardians (a história vai virar uma trilogia, olhem que chique! rs), então nesse domingo enfim sobrou um tempinho pra eu voltar pra KC. Consegui terminar o capítulo 18 e dei uma boa adiantada no 19 (se tudo correr bem, irei postá-lo em alguns dias, pra compensar o atraso) Só não deu pra betar (me perdoem por isso ;_; )

Enfim, espero que gostem do capítulo.

Ah, e pra quem quiser saber mais sobre a publicação de Guardians, criei um blog só pra isso, pra manter os leitores informados sobre todo o processo de publicação. Aqui vai o link: http://www.livro-guardians.blogspot.com/

Beijos a todos, e boa leitura! =)



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Capítulo dezoito: Reencontrando uma velha amiga.

 

            Ódio. Era tudo o que seu olhar transmitia àquele homem à sua frente. Ali estava ele, seu inimigo de outra vida, o grande responsável por todas as desgraças que a acompanhavam desde a encarnação anterior, o assassino de sua filha... Bem ali, diante de seus olhos. E ela, ironicamente, apesar de estar com uma arma em mãos via-se impotente.

Nenhuma sensação era pior do que aquela, de ter o assassino de sua filha diante de seus olhos... E não poder fazer nada.

            -O que quer para libertar a menina? – Ela indagou, por fim.

            Shouta sorriu antes de responder:

            -Seu cristal.

            Foi a vez de Maaya rir, irônica.

            -Se você conseguir tirá-lo de meu pescoço, ele é todo seu.

            -Certo... Eu não posso. Mas há alguém que pode. – Ele olhou para o corredor, gritando – Awano!

            E logo o homem moreno de cabelos compridos entrou na sala, trazendo junto a jovem de cabelos e olhos castanho-escuros.

            Maaya olhou confusa para aquela garota, tornando a olhar para Shouta em seguida.

            -O que significa isso? Quem é essa moça?

            Ele não respondeu. Maaya tornou a fitar a adolescente, percebendo o modo assustado como esta a olhava de volta. Havia algo estranhamente familiar naqueles olhos.

Awano parou próximo a Maaya, e soltou as mãos de Sayuri. As duas continuaram a se olhar fixamente.

 

*****

            -Não vou ficar aqui parada! – Gritou Tiemi. Furiosa, abriu a porta do carro e saiu caminhando determinada em direção à casa.

            Yuuhi também saiu de carro e praticamente se jogou na irmã para fazê-la parar.

            -Calma aí, peste! Maaya mandou a gente esperar aqui!

            -E se ela não conseguir salvar a Asami, como fica?

            -Ela vai conseguir! Se formos pra lá vamos acabar atrapalhando! Maaya sabe o que faz!

            -Isso é mentira!

            -Tá, eu sei. ¬¬’ Ela realmente nunca sabe ao certo o que está fazendo, mas sempre dá certo. Exceto na cozinha, claro, mas... Aff, não importa! Temos que confiar nela.

            Tiemi ia continuar a protestar, quando avistou um homem vindo dos fundos da casa, correndo e carregando Asami nas costas. Ao também ver aquilo, Yuuhi não pensou duas vezes: correu até o desconhecido, dando-lhe um forte soco no rosto e tirando rapidamente Asami das suas costas antes que ele caísse no chão. Já ia socá-lo novamente, mas Asami o impediu.

            -Para, Yuuhi! Ele me salvou!

            O bad boy deteve-se.

            -Salvou é? O.o Putz, cara, foi mal aí! ^^” – Desculpou-se, estendendo a mão para ajudar Hayao a se levantar.

            Nisso Tiemi se aproximou, abraçando sua irmã.

            -Asami! Tá tudo bem? Eles te machucaram?

            -Tô bem, maninha! Só estou morrendo de fome.

            Enquanto se levantava, Hayao massageou o rosto. Sabia que sua queda tinha sido por mera distração (jamais imaginaria uma “recepção” daquelas do irmão da criança que salvara), mas era inegável que aquele adolescente tinha bastante força. Não era a toa que, na vida passada, tinha conseguido derrotar Hiroshi.

            Deixando aquilo de lado, explicou:

            -A menina não comeu nada desde que chegou aqui.

            Yuuhi olhou por um momento para a irmã, para constatar que esta estava realmente bem. Em seguida tornou a olhar para Hayao.

            -Desculpa mesmo, cara. E valeu por ter salvado a Asami. Te devo uma.

            -Não me agradeça. Apenas saiam daqui. Vou voltar pro meu posto e inventar uma desculpa qualquer pro sumiço da menina.

            E antes que Tiemi ou Yuuhi pudessem argumentar sobre aquilo, Hayao voltou correndo para a casa.

            -“Posto”? Qual é a desse cara, afinal? – Disse Yuuhi. Em seguida olhou para as irmãs – Vocês vão pro carro. Maaya pode estar em apuros por achar que Asami ainda está com eles.

            As garotas concordaram e fizeram o que ele pedia.

Yuuhi afastou-se, seguindo o caminho que Maaya fizera minutos antes.

 

*****

            -Faça o que tem que fazer. – Ordenou Shouta.

            Hesitantemente, Sayuri levou a mão ao cristal transparente que Maaya trazia em seu pescoço. As duas ainda olhavam fixamente nos olhos uma da outra.

            Nesse momento, uma lembrança surgiu na mente de Sayuri.

 

            -Vai sair?

            Parada próxima à porta, a garota fez que sim. Sorrindo docemente, a mais velha pediu:

            -Não demore, sim? Sabe que seu pai fica preocupado.

            -Não irei demorar.

            -Juízo, hein?

            -“Juízo”? – A adolescente riu – Está me pedindo para ter juízo?

            -Foi apenas um reflexo. Sei que não preciso te pedir algo assim. Itteirashai!

            -Ittekimasu!

            Ela já ia sair, mas deteve-se. Voltou-se para a mulher e confessou:

            -Eu amo você.

            A mais velha riu.

            -Por que tem essa mania de “eu te amo”?

            -Para que as pessoas que eu amo saibam disso. Ittekimasu!

            -Itteirashai!

 

            O que era aquela lembrança? Quem era aquela mulher que lhe tratava com tanto carinho? Tendo crescido em um orfanato, Sayuri nunca recebera tal afeto de ninguém. Sendo assim, tal lembrança não tinha como ser real. Era uma estranha e inusitada ilusão. Talvez aqueles dias como prisioneira e as torturas às quais era diariamente submetida estivessem ocasionando algum dano em sua mente. Era isso! Não havia outra explicação.

Mas, sendo assim... Por que em tais delírios a mulher com quem conversava era tão parecida com a ruiva à sua frente? Não fisicamente, mas... Algo lhe fazia ter a certeza de que ambas eram idênticas... Ou a mesma pessoa.

Atordoada, soltou o cristal, ao mesmo tempo em que levava as mãos à cabeça e recuava alguns passos.

            -Não... – Murmurava enquanto se afastava – Não posso fazer isso... Não posso... NÃO POSSO!

            Maaya a fitava, totalmente confusa. Algumas perguntas martelavam em sua mente. Quem seria aquela garota? De onde a conhecia? O que fazia ao lado de Shouta? Por que estava naquele estado?

            Foi nesse momento que Yuuhi chegou correndo na porta do local, gritando:

            -Maaya, já resgatamos Asami!

            Ao ouvir tal informação, a ruiva teve o impulso de tornar a apontar a arma para Shouta. Contudo, ele foi mais rápido em agarrar Sayuri pelo pescoço, pegando um revólver e o encostando à cabeça da jovem.

            -Parada! Acredite, você não vai querer que eu mate essa garota!

            Shihara deteve-se, mas manteve-se olhando fixamente para Shouta, tornando a sentir um forte aperto do peito devido ao ódio que nutria por aquele homem. No entanto, desviou os olhos para Sayuri quando ouviu sua voz baixa e assustada:      

-Me ajude... Por favor, me ajude!

Maaya ameaçou se aproximar, mas parou diante da ameaça de Shouta:

            -Para trás! Afaste-se ou eu atiro!

            Vencida, Maaya recuou alguns passos. Levando Sayuri consigo, Shouta começou a caminhar em direção à porta, sendo acompanhado por Hitomi e Awano. A loura tirou um rádio comunicador do bolso e disse nele algumas palavras que nem Maaya nem Yuuhi puderam compreender.

            -Afaste-se você também! – Gritou Shouta a Yuuhi.

            O rapaz olhou por um momento para aquela garota que estava sendo ameaçada com a arma em sua cabeça, olhando para Maaya em seguida.

            -Afaste-se, Yuuhi. – Pediu a ruiva.

            A contragosto, ele obedeceu, indo para perto de Maaya. Shouta, Sayuri, Awano e Hitomi saíram.

 

*****

            -Tá tudo bem mesmo?

            -Já disse que tá, neechan!

            -Mesmo?

            -Mesmo! ¬¬’

            -Mesmo-mesmo?

            -Tiemi-neechan! Já disse que estou bem, não se preocupe!

            A mais velha ia insistir em sua preocupação, quando ambas se assustaram com um forte barulho. Olharam pela janela do carro e se surpreenderam ao avistarem um helicóptero posando a poucos metros delas. Instantes depois, um grupo de pessoas saiu da casa e usou o inusitado veículo como forma de fuga.

            Segundos depois do helicóptero voltar a levantar vôo, Yuuhi e Maaya também saíram do imóvel. Rapidamente, Tiemi saiu do carro e correu até eles, indagando:

            -Você tá armada, Maaya! Por que não atira?

            Olhando fixamente para o helicóptero que se afastava, Shihara respondeu:

            -Se eu atirar, pode explodir.

            -E daí se explodir? Acaba com todos os nossos problemas de uma única vez!

            -Não posso fazer isso.

            Curioso, Yuuhi perguntou:

            -Quem era aquela garota, May?

            -Eu não sei, Yuuhi. Eu não sei...

 

*****

            Kyoto – Japão.

 

            Numa rua residencial, Yuhhi mantinha-se ajoelhado no chão, de frente para a pequena Asami. Antes da despedida, resolveu dar algumas orientações à irmã.

            -Entendeu tudo o que teu mano aqui te explicou?

            A garota fez que sim. Yuuhi sorriu.

            -Então, repassando: Se algum estranho puxar assunto contigo?

            -Ignoro. Não devo falar com pessoas que não conheço!

            -Se esse estranho tentar te puxar à força?

            -Grito e peço ajuda!

            -Se não aparecer ninguém pra te ajudar?

            Ela fechou o punho e socou o ar.

            -Quebro a cara dele! Ò.ó

            -Muito bem! ^^ E, o mais importante: Se algum garoto se meter à besta e vier com papo de namoro ou coisa do tipo?

            A menina suspirou em desânimo, antes de responder:

            -Dou-lhe um chute no meio das pernas...

            -Essa é minha irmã! ^-^ - Yuuhi vibrou, orgulhoso – Deveria aprender com ela, viu Tiemi?

            -Claro! ¬¬’ – Respondeu a mencionada – Agora dá licença que a irmã também é minha, tá sabendo?! – Empurrou Yuuhi, abaixando-se diante da irmã. – Então... Você disse que queria me perguntar alguma coisa, né?!

            Asami fez que sim.

            -Sabe o que é... É que... Tem um garoto...

            -Garoto? Ò.ó – Repetiu Yuuhi, apenas para ser puxado por Maaya pelo braço para longe das garotas – Ei, May... Pera aí que esse assunto me interessa! Ò.ó

            -É conversa entre irmãs, Yuuhi! – Disse Maaya, já parando com Yuuhi próximo ao muro de uma casa.

            Ele resmungou qualquer coisa, voltando seus olhos e ouvidos para a conversa das irmãs.

            Asami continuou:

            -É que... Eu acho que eu gosto dele. Mas... Eu não sei se gosto mesmo, sabe?!

            -Não sabe? ^^ Como o conheceu?

            -Ele entrou na escola há pouco tempo. Quando a gente se viu pela primeira vez, fomos logo brigando!

            -Normal. ^^”

            -Eu achei ele muito mal educado, sabe?! Mas... Depois a gente conversou melhor e eu vi que ele era um menino legal. Mas eu não sei se estou gostando dele de verdade mesmo. Como eu faço pra saber?

            -Bem... Vejamos... Gosta de conversar com ele?

            -Gosto.

            -Ele sempre diz coisas que te fazem se sentir bem?

            -Diz.

            -Sente seu coração disparar quando ele chega perto de você?

            -Sinto.

            -Ele é bonito?

            -É! Muito! *.*

            -Tá apaixonada!!! ^-^

            -NÃO TÁ, NÃO!!! ò.ó

            -Fica quieto, Yuuhi! ¬¬’ – Ordenou Maaya.

            Após deixar uma gota escorrer diante do grito de seu irmão, Asami tornou a olhar para Tiemi.

            -E o que eu faço, neechan?

            -Se declara, ora essa! *.*

            -Acha que eu devo? O.o Eu pensei em escrever uma cartinha pra ele! Que cê acha?

            -Acho ótimo! *.* Ah, Asami... O primeiro amor é uma coisa tão linda! *.*

            -Bah... – Resmungou Yuuhi – “Primeiro amor...” Essas meninas deviam estar brincando de boneca! As duas! Ò.ó Ai, Maaya! Para de me beliscar! Que coisa! ¬¬

            Tiemi prosseguiu:

            -Então, se gosta mesmo dele, vá em frente! ^-^

            -Brigada, neechan! ^-^

            -De nada! Irmãs mais velhas servem pra essas coisas! ^^

            As duas se abraçaram fortemente. Quando se afastaram, Maaya se aproximou.

            -Vamos, Asami? Sua mãe deve estar muito preocupada.

            A menina fez que sim e, após despedir-se de Yuuhi, também com um abraço, segurou a mão de Maaya e ambas atravessaram a rua, indo para a casa da menina.

            Encostados ao carro, Yuuhi e Tiemi observavam enquanto sua irmã se afastava.

            -Ela tá crescendo. – Comentou a ruiva.

            Yuuhi concordou:

            -É! E eu não gosto nem um pouco disso! u.u”

            Tiemi apenas riu.

 

*****

            Sentada no chão da sala, Mitsuki remexia em algumas fotos que estavam dentro de uma caixa. Encontrou uma solta e sorriu, dando uma boa olhada. Havia sido tirada bem de perto, num close dos rostos dos três... Estavam abraçados. A pequena Asami, que devia ter uns sete ou oito anos na ocasião, estava no meio. Ela e Yuuhi faziam caretas, enquanto Tiemi apenas sorria... Pareciam felizes. Mitsuki passou de leve o dedo pelo rosto de sua caçula.

            -Meu bebê... – Suspirou tristemente, enquanto algumas lágrimas começavam a descer de seus olhos.

            Nesse momento, ouviu o portão da casa sendo aberto. Seus pais estavam no quarto... Foram tentar dormir um pouco, já que haviam passado as últimas horas acordados, aflitos com a situação. Sendo assim, Mitsuki se perguntava quem poderia estar chegando. Olhou para a porta e sentiu seu coração disparar quando avistou sua caçula entrando em casa.

            -Tadaima, okaachan! – Anunciou a menina com a maior naturalidade do mundo, como se estivesse chegando de um dia normal de aula.

            Mitsuki levantou-se do chão e correu até a garota, abraçando-a com força, como se temesse que ela lhe escapasse novamente.

            -Asami! Minha filhinha! Meu bebê!

            -Bebê não, manhê! u.u”

            Parada próxima à porta, Maaya sorriu, observando enquanto Mitsuki abraçava fortemente a pequena filha. Sabia exatamente a felicidade que um reencontro como aquele ocasionava. Apenas lamentava ainda não ter tido a oportunidade de abraçar Karin, como desejou fazer durante os anos em que estiveram separadas.

            Ao notar a presença da ruiva ali, Mitsuki se afastou da filha e curvou-se, agradecida, diante de Maaya.

            -Obrigada! Muito obrigada por trazer minha Asami de volta. Eu morreria se algo acontecesse a ela.

            -Posso imaginar – Maaya também se curvou levemente – Sou Shihara Maaya.

            Mitsuki sorriu.

            -Kawamoto Mitsuki. – Olhou novamente para Asami – Filha, seus avós estão no quarto. Vá falar com eles.

            A menina fez que sim e correu para o quarto dos avós, deixando Maaya e Mitsuki sozinhas na sala.

            -Obrigada novamente. – Disse a dona da casa – Acho que vou passar a vida inteira te agradecendo.

            -Não tem o que agradecer. Também sou mãe. Posso imaginar o desespero que sentiu.

            Mitsuki assentiu, mudando de assunto:

-Seu nome não me é estranho. – Pensou por alguns segundos, até se recordar – Você é a dona da república onde meus filh... Onde minha filha e meu enteado estão morando!

            -É, sou eu.

            -E... Eles não vieram contigo?

            -Vieram, mas preferiram esperar no carro. Não quiseram entrar.

            Mitsuki sorriu tristemente.

            -Tiemi está magoada comigo, não é?!

            -Ela está um pouco sentida, mas isso passa! Tiemi é uma ótima garota. Deve ter orgulho dela.

            -Tenho, muito! Ela, Asami e Yuuhi são a minha vida!

            -Gosta muito do rapaz também, não é?!

            -Com o mesmo amor que tenho por minhas filhas.

            -Posso entender. Bem, eles me esperam no carro. Preciso ir! Até breve!

            Após a despedida, Maaya virou-se para sair. Porém, voltou-se para Mitsuki quando a ouviu chamá-la:

            -Espere!

            -Pois não?

            A expressão de Mitsuki, agora, parecia séria e um pouco incrédula. Levou alguns segundos até que, de maneira hesitante, perguntasse:

            -Shiawase May?

            Instintivamente, Maaya recuou um passo, numa atitude defensiva com relação à surpresa que tivera. Como aquela mulher poderia saber seu nome na outra vida? Mil coisas se passaram em sua cabeça... Talvez ela se tratasse da reencarnação de mais um inimigo... Talvez a mulher que sequestrou Asami e entrou em contato com ela tivesse contado sobre o passado deles... Talvez Mitsuki estivesse sendo controlada, ou mesmo chantagiada a tentar alguma coisa contra ela...

Sua mente continuou a levantar inúmeras hipóteses, até que Mitsuki sorriu docemente. A incredulidade em seu rosto deu lugar à felicidade pela comprovação de sua dúvida, e ela exclamou:

-May-chan!

 Maaya conhecia aquele sorriso. Em outra época, em outro rosto... Mas o mesmo sorriso.

 Não poderia ser de nenhuma outra pessoa...

 

            Estava ajoelhada no chão do pequeno cômodo, ao lado do futon onde sua amiga enferma dormia. Com cuidado, colocou uma das mãos em sua testa... A febre ainda estava alta.

            Apenas o leve toque foi o suficiente para despertá-la.

            -May-chan?- Sussurrou, assim que abriu os olhos.

            -Psiu! Descanse, Yui!

            -E... E as crianças?

            May afastou-se um pouco e apontou para o lado onde, sobre o tatami, quatro crianças dormiam como verdadeiros anjos. Ambas sorriram.

-Só dão sossego quando dormem. – Comentou May, tornando a olhar para a amiga.

Porém, o olhar de Yui tornou-se triste.

-O que serão de meus meninos, May? Não tem nem um ano que perderam o pai e... E agora...

-E agora nada! Descanse, Yui-chan! Vai ver como amanhã estará bem melhor, e...

Yui impediu que ela continuasse o que dizia, segurando com força a sua mão.

-Cuide deles por mim?

May forçou um sorriso.

-Nem pensar! Quem vai cuidar deles é você!

-Por favor, May-chan... Sei que você não vai deixar meus filhos sozinhos.

-Não vou, nem você! Te ajudo no que for possível, mas os filhos são seus e você irá criá-los, Yui-chan. Você ainda é jovem. Sempre disse que queria ter pelo menos três filhos, lembra? Pode se casar novamente e dará mais um irmãozinho para Natsu e Yuurei e... – Ela passou a mão pelo rosto, secando uma lágrima. Em seguida forçou um sorriso – E eu espero que não seja tão levado quanto esses dois!

-Acho que isso não será possível, May.

-Claro que será! E, fora isso, você ainda tem muito o que fazer por eles dois! Vai vê-los crescer e... Vão casar e te darão netos. Já pensou nisso? Já se imaginou vovó?

-May-chan...

-Certo, não precisa imaginar, ainda falta muito pra isso. Mas, quem de nós duas você acha que vai ser avó primeiro? Eu acho que será você! Porque, apesar de Hinoky ser mais velho, Yuurei tem jeito de que será um grande conquistador quando crescer. E as nossas meninas? Já reparou em como se dão bem? Tenho certeza de que se tornarão grandes amigas! Quando crescerem mais um pouco, vão passar a ficar de um lado para o outro, cheias de segredinhos, que nem nós duas quando éramos meninas, você se lembra?

Yui sorriu de leve.

-Lembro.

-Você não vai querer perder isso tudo, vai?!

-Promete que cuidará deles?

-Yui, acho que você ainda não entendeu! Vou precisar repetir tudo de novo?

-Por favor, May-chan.

May fechou os olhos e respirou fundo. Quando tornou a abri-los, resolveu que deveria dar à amiga a resposta que esta tanto precisava ouvir:

-SE... ALGUM DIA... Acontecer algo com você... O que NÃO vai ocorrer... Prometo que cuidarei deles.

Yui sorriu, começando a fechar lentamente seus olhos.

-Obrigada, minha amiga. – Sussurrou.

May continuou ao seu lado pelo restante daquela noite. Aquela fora a última vez que ouvira a voz de sua amiga. Ao amanhecer, Yui não tornou a abrir os olhos.

 

            -Yui? – Sussurrou Maaya, ainda incrédula.

            E, sem aguardar por qualquer reação da outra, foi mais rápida em se aproximar e abraçá-la. Uma pouco sem graça, Mitsuki riu de tal ato. Aquela era sua amiga May, dona de atitudes regidas totalmente pelas emoções, e até um tanto impróprias para a sociedade japonesa, ainda mais há dois séculos. Perdendo a timidez inicial, permitiu-se corresponder ao abraço daquela que, em outra vida, fora sua amiga desde a infância. Sua amiga de uma vida inteira.

            -Por Kami, Yui! Quando foi que você...

            Maaya não precisou terminar a pergunta para que Mitsuki respondesse:

            -Essa noite eu tive um sonho... Uma lembrança. Achei que fosse um absurdo, mas... Quando te vi tive certeza. E, de repente, tudo voltou a minha mente, como se sempre tivesse estado aqui.

            -Minha amiga! Fico feliz que seu destino nessa vida tenha sido diferente do da anterior!

            -E eu fico feliz que você tenha cumprido sua promessa, mesmo nessa vida.

            As duas se afastaram e sorriram novamente. Maaya a segurou pela mão, começando a puxá-la em direção à porta.

            -Precisa contar aos meninos!

            Mitsuki soltou-se, e informou:

            -Não quero contar a eles, May.

            -Por que não?

            -Está tudo bem como está... Porque mexer? Além do mais... Eles não estão querendo falar comigo agora. Em algum outro momento, quem sabe, a gente converse sobre isso.

            -Se você prefere assim...

            Mitsuki abaixou a cabeça, com um olhar triste, distante.    

-Pelo visto, eles estão envolvidos novamente com esses cristais, não é?!

            Maaya fez que sim.

            -É o destino deles. Parece mais um karma!

            Mitsuki suspirou tristemente. Sempre soube do perigo que aqueles cristais representavam nas vidas de seus filhos. Mas, como Maaya mesmo havia dito, aquele era o destino deles. A ela, cabia apenas aceitar e rezar para que, dessa vez, essa história não tivesse um desfecho trágico.

            Sorriu novamente para Maaya.

            -Melhor ir, eles estão te esperando.

            -Cuide-se.

            -Você também! E sei que não preciso te pedir para que olhe por meus meninos.

            -Sabe que não. Sinto como se eles fossem um pouco meus também.

            -E são.

            Elas se abraçaram brevemente mais uma vez, e Maaya foi embora.

 

*****

            Tóquio – Japão.

 

            -Olhe só pra isso.

            -Dear God! O.o

            Na escada, as duas observavam por uma pequena fresta na porta. No quarto do sótão, Karin dormia, completamente alheia ao fato de estar sendo observada. Depois de fazerem uma “análise” do local, as duas desceram, parando no corredor, próximas à escada.

            -Dá pra acreditar nisso? – Questionou Manami, revoltada.

            -No! Why? – Indagou Miyu – Por que ela tem um quarto só pra ela?

            -Eu achei que a situação dela por aqui iria piorar depois daquilo, mas tudo saiu o contrário do que eu queria. Agora ela tem regalias por parte da Maaya, a Tiemi a defende... E o Yuu-chan nunca mais falou mal dela. Pelo contrário! Acho que ele até briga comigo se eu disser alguma coisa. Que ódio, que ódio!

            -Acalme-se, baby! Não quer ficar com rugas antes do tempo, não é?! Nós vamos pensar em alguma coisa pra acabar de vez com essa monstrinha.

            -E temos que pensar bem, para que não dê tudo errado como da outra vez. Mas... E a sem-sal brasileira? Já começou a colocar seu plano em prática?

            -Ainda não! Mas... Nesse final de semana eu começo.

            -Você ainda não me contou o que vai fazer.

            -Oh, no? Então te conto agora!

            E Miyu começou a contar a Manami sobre o plano que tivera.

 

*****

            -Sabe o que eu quero fazer, Sayuki?

            -Hã?

            -Isso.

            Num súbito movimento, ele contornou o braço pela cintura de Karin, puxando o corpo dela para junto do seu. Em seguida colou seus lábios aos dela e a beijou.

 

            Deitada sobre a cama, Karin fitava o teto, totalmente perdida em lembranças. Quase que sem se dar conta, passou de leve o dedo indicador pelos lábios.

 

“Acho que... Se não fosse pela Akemi... Eu poderia dizer que estou começando a me apaixonar por você.”

 

            -Baka... – Sussurrou.

            Em seguida sentou-se na cama, pensativa. Aquele quarto tinha vindo bem a calhar... Sentia que precisava ficar reclusa por uns tempos, o mais distante possível dos outros. Já imaginava que todos já soubessem sobre o acontecido e sabia bem como as pessoas podiam ser cruéis. Não que alguém lá dentro tivesse algo a ver com sua vida, mas realmente não estava a fim de ouvir comentários a seu respeito.

            Porém, não podia ficar lá dentro a vida inteira. Olhou para o relógio. Pelo horário, boa parte dos moradores daquela república ainda não deviam ter chegado. Pensando assim, levantou-se e saiu do quarto. Ao chegar ao corredor, acabou tendo a infeliz surpresa de dar de cara exatamente com aquelas duas... Não gostava delas! Elas a olhavam com um ar de superioridade que a irritava!

Notou que elas se calaram assim que perceberam sua presença. Como sempre, não lhes deu a mínima confiança. Passou direto, descendo as escadas. Foi para a varanda, onde se sentou num degrau. Poucos minutos depois, o portão se abriu. Surpreendeu-se ao ver Yuuhi, Tiemi e Maaya entrando por ele.

Os três pareciam animados, mas calaram-se ao vê-la. Maaya foi a única que sorriu. Cumprimentou-a docemente, como sempre fazia, antes de entrar em casa. Tiemi a seguiu.

Ficando a sós com a “bad girl”, Yuuhi sentiu-se subitamente sem-graça. Fazia dias que não a via, mesmo morando sob o mesmo teto. E tinha algo importante para dizer a ela. Sendo assim, aproveitou o momento e sentou-se ao lado dela, no degrau da escada. Percebeu que mantinha o olhar abaixado, distraído. Então, tentou puxar um assunto:

-Ficou legal.

Ela o fitou com o canto dos olhos.

-O quê?

-Seu cabelo. Maaya comentou que tinha dado uma ajeitada nele, mas eu ainda não tinha visto. A gente mora na mesma casa, mas às vezes passa dias sem se ver.

-Aham.

Ele respirou fundo, forçando-se a ir direto ao que tinha que dizer:

-Escuta, Sayuki... Eu queria mais uma vez te pedir desculpas.

-Pelo quê?

-Por aquele beijo e por tudo que eu disse. Depois de conhecer um pouco da sua vida, eu entendi o quanto aquelas minhas palavras foram totalmente inadequadas.

-Já tô acostumada com isso.

-Não deveria.

Eles permaneceram em silêncio por alguns instantes. Até que Karin, por fim, fez um pedido inusitado:

-Fale sobre sua Akemi.

Ele a fitou sem compreender.

-Por que quer que eu fale sobre ela?

-Curiosidade. Todos falam tanto dessa garota...

-Todos quem?

-Você, a Shihara, o filho dela...

            -O que quer saber sobre Akemi?

            -Como ela é?

            Ainda sem entender o motivo da pergunta, Yuuhi desviou os olhos para o nada, perdendo-se em lembranças. Até seu tom de voz mudou, quando começou a contar:

            -Akemi era a garota mais maravilhosa desse mundo. Não sou só eu que digo isso, todos que a conheceram concordam comigo. Ela era o tipo de pessoa que cativa a todos num simples olhar. Os olhos dela passavam verdade, fragilidade, pureza...

            Karin reparou no brilho dos olhos do rapaz enquanto falava sobre a tal Akemi. Também notou que ele se referia a ela sempre no tempo passado... Dava a impressão de que estava falando sobre alguém que já havia morrido.

            Fazendo uma pausa no que dizia, ele olhou para Karin, e os olhos dos dois se encontraram. Ele sorriu de leve.

            -Akemi tinha os olhos castanhos, um pouco parecidos com os seus.

            -E o que mais? – Perguntou ela, ainda sustentando o olhar do rapaz.

            -Era linda!

            -Como sua garota atual?

            -Não! Tinha uma beleza natural. Uma beleza que não se limitava à aparência exterior... O olhar cativante, o jeito frágil, a voz delicada... Tudo isso se misturava e faziam dela uma garota realmente encantadora. É isso! Akemi era linda em todos os sentidos. Não há no mundo outra como ela.

            -Aham... Certo...

            Ela levantou-se e, sem dizer mais uma única palavra, entrou novamente em casa. Sabia que, se continuasse a insistir naquilo, conseguiria arrancar alguma informação útil de Kawamoto. Só que, não entendia os motivos daquilo, mas não queria continuar ouvindo aquele rapaz falar sobre a tal Akemi. Sentia-se mal ouvindo aqueles elogios... E  não conseguia entender porque se sentia assim.

            Subindo as escadas para o segundo andar, esbarrou novamente em Manami. Continuou com seu caminho e já chegava ao corredor quando ouviu aquela garota gritar histericamente o nome de seu namorado. Subiu as escadas para o sótão e finalmente chegou ao seu quarto.

            Foi até a janela, olhando para baixo e observando enquanto Manami e Yuuhi se beijavam no quintal. Mais uma vez, sentiu aquela mesma sensação que sentira quando ouviu o rapaz falar sobre Akemi.

            -Baka... – Sussurrou mais uma vez.

 

*****

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Capítulo feito às pressas (por isso perdoem os erros!), mas com muito carinho.

Espero que tenham gostado. Logo-logo virá o 19 (ainda essa semana, espero!)



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